Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1970 > Foto do álbum do Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70] > Foto s/nº > "Uma irmãzinha de Amílcar Cabral", segundo o testemunho do sr. Teófilo com quem ele terá trabalhado, antes da guerra... Amílcar nasceu em 12/9/1924, em Bafatá, filho de pais caboverdianos. Juvenal Cabral, professor primário, e Iva Pinhel Évora, doméstca. A família regressa a Cabo Verde em 1932.
Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.
Guiné-Bissau > Bafatá > 2001 > Busto do fundador do PAIGC, Amílcar Cabral (Bafatá, 12/9/1924 - Conacri, 20/1/1973), engenheiro agrónomo, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1950. Era filho de Juvenal Lopes Cabral, professor primário, caboverdiano, e de Iva Pinhel Évora, doméstica, guineense. Irmão, pelo lado paterno, de Luís Cabral (Bissau, 1931- Torres Vedras, 2009), o primeiro presidente da Guiné-Bissau (1973-1980).
Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados
1. Mensagem de Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; é arquiteto, e vive no Porto; foto atual à direita]
Data: 2 de Dezembro de 2013 às 01:38
Assunto: Sr. Teófilo
Luís: Já várias vezes sugeriste que eu dissesse algo sobre o sr. Teófilo, por ter morado junto da casa dele. Nunca cheguei a dizer nada sobre o controverso senhor porque realmente não tinha muito a contar.
Efectivamente, durante os dois anos de comissão [, 1968/70], quase todos os dias, ao fim da tarde e à noite estava com ele, sentados na esplanada, a ver passar o pessoal, de, e para a tabanca da Rocha. Foi também aí que muitas vezes vi chegar autênticas caravanas de burros, todos engalanados, trazendo a mancarra para o celeiro.
Claro que muito conversamos mas nunca sobre assuntos de "guerra". Como que havia um acordo tácito entre nós no sentido de não entrarmos em mútuas confidências. Talvez tenha sido eu a forçar essa nota, dadas as minhas funções, de informações, no Comando de Agrupamento [nº 2957]. Não queria de forma alguma fazer transparecer fosse o que fosse referente ao que se passava na "nossa guerra", quer em relação às NT, quer ao IN. Não tendo qualquer desconfiança em relação a ele, nunca lhe contaria nada que pudesse vir a pôr em perigo alguém das NT.
Se eu nunca cometi qualquer inconfidência, considero que ele por duas vezes não se conteve.
Último poste da série > 30 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12369: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (6): O café do sr. Teófilo (Parte II): um homem amargurado que sabia demais? (Manuel Mata)
Data: 2 de Dezembro de 2013 às 01:38
Assunto: Sr. Teófilo
Luís: Já várias vezes sugeriste que eu dissesse algo sobre o sr. Teófilo, por ter morado junto da casa dele. Nunca cheguei a dizer nada sobre o controverso senhor porque realmente não tinha muito a contar.
Efectivamente, durante os dois anos de comissão [, 1968/70], quase todos os dias, ao fim da tarde e à noite estava com ele, sentados na esplanada, a ver passar o pessoal, de, e para a tabanca da Rocha. Foi também aí que muitas vezes vi chegar autênticas caravanas de burros, todos engalanados, trazendo a mancarra para o celeiro.
Claro que muito conversamos mas nunca sobre assuntos de "guerra". Como que havia um acordo tácito entre nós no sentido de não entrarmos em mútuas confidências. Talvez tenha sido eu a forçar essa nota, dadas as minhas funções, de informações, no Comando de Agrupamento [nº 2957]. Não queria de forma alguma fazer transparecer fosse o que fosse referente ao que se passava na "nossa guerra", quer em relação às NT, quer ao IN. Não tendo qualquer desconfiança em relação a ele, nunca lhe contaria nada que pudesse vir a pôr em perigo alguém das NT.
Se eu nunca cometi qualquer inconfidência, considero que ele por duas vezes não se conteve.
Primeira: Estava para se realizar uma grande operação dentro do Senegal, assunto que estava a ser tratado no Agrupamento com a chancela de "secreto". Pois bem, um ou dois dias antes da operação, o Sr. Teófilo falou-me, e eu só ouvi, dessa grande operação. Num aparte direi que nunca o considerei nem ligado ao IN nem à PIDE. No meu entender o que se passava é que ele era muito observador e ouvia todas as conversas dos militares que passavam pelo seu restaurante.
Uma outra vez, próximo do fim da minha comissão, princípios de 1970, em determinada altura vira-se para mim e diz:
Uma outra vez, próximo do fim da minha comissão, princípios de 1970, em determinada altura vira-se para mim e diz:
– O Sr. Alferes sabe que na noite passada andaram, naquelas tabancas para lá da pista, elementos do IN?
Mais uma vez não manifestei qualquer reacção. Acrescentarei que a partir dessa data nunca mais fui à caça à noite, como sempre tinha ido. Passei a ir só de dia e acompanhado.
Sobre estas duas situações, claro, que ao chegar ao quartel fiz seguir superiormente as minhas duas únicas informações de toda a minha comissão, penso que classificadas de B-2 (a letra de A a E referente à fonte da notícia e o algarismo de 1 a 5 relativo ao grau de verosimilhança da notícia).
Com o Sr. Teófilo as conversas sempre foram sobre trivialidades. Aprendi a tornar tenras as chocas (perdizes) que caçava e que até aí as achava duríssimas. Era só tirar-lhe a pele. Aprendi com a esposa dele a fazer uma boa cachupa, que ainda agora fazemos regularmente cá em casa. Aprendi com ele a eliminar uma verruga com auxílio de uma crina de cavalo.
Para terminar, uma tarde vira-se para mim e diz-me;
Sobre estas duas situações, claro, que ao chegar ao quartel fiz seguir superiormente as minhas duas únicas informações de toda a minha comissão, penso que classificadas de B-2 (a letra de A a E referente à fonte da notícia e o algarismo de 1 a 5 relativo ao grau de verosimilhança da notícia).
Com o Sr. Teófilo as conversas sempre foram sobre trivialidades. Aprendi a tornar tenras as chocas (perdizes) que caçava e que até aí as achava duríssimas. Era só tirar-lhe a pele. Aprendi com a esposa dele a fazer uma boa cachupa, que ainda agora fazemos regularmente cá em casa. Aprendi com ele a eliminar uma verruga com auxílio de uma crina de cavalo.
Para terminar, uma tarde vira-se para mim e diz-me;
– Aquela que ali vai é irmãzinha do Amílcar Cabral...
O mesmo Amílcar Cabral, com quem ele trabalhou na "Agrária" de Fá e por quem tinha, nessa época antes da guerra, muita consideração.
Não deixei de tirar uma foto à Senhora que junto envio.
Um abraço
Fernando Gouveia
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Não deixei de tirar uma foto à Senhora que junto envio.
Um abraço
Fernando Gouveia
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Nota do editor:
Último poste da série > 30 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12369: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (6): O café do sr. Teófilo (Parte II): um homem amargurado que sabia demais? (Manuel Mata)
5 comentários:
Caríssimos amigos,
Fernando Gouveia e Luís Graça.
Com a devida vénia, serve o presente para sugerir a correcção da data de nascimento do Amílcar Cabral referida na legenda da foto.
Onde se lê 21.01.1924, deve-se ler 12.09.1924.
Um abraço,
Jorge Araújo.
Caro Camarada Fernando Gouveia.
Eu sem querer "desmancha prazeres" e na realidade sem certeza absoluta a mãe de Amílcar Cabral e irmãos salvo erro Pedro Cabral e Luís Cabral viviam em Bissorã em 1972 um deles o Pedro Cabral até vivia muito confortavelmente uma vidinha de menino rico sendo que em 1973 nos seus finais até se tornou criador de frangos (chamados os pintos do dia)com a colaboração de alguns civis Libaneses.Era até um pouco reparado a sua conduta pois que já tinha o moto ou motorizada Honda moda da época para os meninos "bem" e mais até se dava muito bem com um agente da PIDE/DGS que era relativamente jovem e desfrutava daquelas mordomias que os PIDEs tinham na altura em Bissorã.
Já agora e como se tem falado dos PIDEs,lembro que na altura todos ou quase todos os militares especialmente do Quadro Permanente colaboravam com esses agentes ora fossem obrigados ,ou por vontade própria e na maior parte dos casos que eu tenho conhecimento eles actuavam essencialmente na recolha de informação sobre as actividades inimigas.No entanto conheci em Bissorã um agente da DGS que se "pavoniava" como se fosse o dono e senhor da localidade( era uma raposa velha ) que após o 25 de Abril nó militares tivemos alguma dificuldade em proteger o dito até ser detido e enviado para o Cumeré juntamente com os restantes agentes e alguns informadores.Sinceramente que não foi muito agradável de se ver.
Não tenho muito a haver com esses agentes e pese embora o facto que próximo do final da comissão vários de nós milicianos fomos contactados pelo comando do batalhão para sermos recrutados para a PIDE mas, só por vontade própria o que eu naturalmente recusei e foi completamente aceite a minha vontade.
Portanto e em minha opinião a PIDE/DGS na Guiné tinha um papel de alguma importância para o decorrer da guerra daí eu considerar que há muito bom cidadão que na altura de uma forma ou outra esteve envolvido nas acções da PIDE/DGS.
uM abraço
Henrique Cerqueira
Irmãzinha do A.Cabral?
Irmãos em Bissorã? Um dos quais,rico
e amigo do pide? Manifesto as minhas
dúvidas.Cabrais sim, existiam alguns
entres os quais,este...
J.Cabral
Caro Henrique:
Reafirmo o que o Sr. Teófilo me disse naquele fim de tarde, antes de uma grande chuvada: "Aquela mulher que ali vai é irmãzinha do Amílcar". Nada mais posso acrescentar.
Um abraço.
Fernando Gouveia
Caro Fernando Gouveia.
Olha que o meu comentário foi só isso um comentário participativo ao teu artigo. Como saberás na altura e em todos os lugares era "mais as nozes que as vozes".Eu naturalmente e como relativamente pouco interessado em certos assuntos ouvia determinadas afirmações e dava-lhe a importância que para mim merecia.Hoje em dia e quando vamos "blogando" por aqui vai-se comentando aquilo que achamos saber , principalmente porque vamos comunicando com os nossos camaradas que nos une a nossa vivência passada na Guiné.
Um abraço para ti e um para o J.Cabral
Henrique Cerqueira
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