por J. L. Mendes Gomes
[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; jurista, reformado; autor do livro de poesia "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013, 232 pp., preço de capa;: € 14; encomendar aqui]
Como um cavador da alvorada,
Eu vou para o campo,
Abro a cancela,
Meu cão de guarda
Salta da casota,
Sempre ofegante,
Vem ter comigo,
Se me atira ao peito.
De olhos luzindo.
Digo-lhe adeus
E parto...
Como um cavador da alvorada,
Eu vou para o campo,
Abro a cancela,
Meu cão de guarda
Salta da casota,
Sempre ofegante,
Vem ter comigo,
Se me atira ao peito.
De olhos luzindo.
Digo-lhe adeus
E parto...
Enxada ao ombro.
Bebendo do ar,
Que me fumega ao vento.
Os tamancos secos,
Ao pisarem o chão,
Acordam o passaredo alegre
Que me esvoaça à frente.
Miro as ramadas.
- Como vai o vinho?...
- Aquelas oliveiras....
De tão carregadas,
Parecem gemer.
Quase chegam ao chão...
E aquelas tronchudas gordas
Que me cobrem o quintal....
Se desdobram em graça,
Aquelas folhinhas verdes,
Com bacalhau cozido,
Esperando o Natal...
Atravesso a ribeira fresca.
Como corre mansa.
Até as luzidias rãs,
Soletrando rans,
Me saltam ao caminho
Para me dizer olá...
Como um franciscano,
Dou bom dia aos ramos.
Que me escondem a lua.
Oiço os passarinhos
Que já querem ir brincar.
Levo no bornal,
Um naco de broa.
Com azeitonas das pretas.
Uma bilha de água
E outra maior de vinho...
Pode estar salgado
O bacalhau às postas,
O derradeiro carinho
Da minha patroa...
Antes de se ir deitar...
Aí vou andando
Até ao fim da aldeia.
Foi aquela leira de bênção
Que eu herdei dos meus...
Donde eu tiro pão.
Com a graça de Deus!...
Bebendo do ar,
Que me fumega ao vento.
Os tamancos secos,
Ao pisarem o chão,
Acordam o passaredo alegre
Que me esvoaça à frente.
Miro as ramadas.
- Como vai o vinho?...
- Aquelas oliveiras....
De tão carregadas,
Parecem gemer.
Quase chegam ao chão...
E aquelas tronchudas gordas
Que me cobrem o quintal....
Se desdobram em graça,
Aquelas folhinhas verdes,
Com bacalhau cozido,
Esperando o Natal...
Atravesso a ribeira fresca.
Como corre mansa.
Até as luzidias rãs,
Soletrando rans,
Me saltam ao caminho
Para me dizer olá...
Como um franciscano,
Dou bom dia aos ramos.
Que me escondem a lua.
Oiço os passarinhos
Que já querem ir brincar.
Levo no bornal,
Um naco de broa.
Com azeitonas das pretas.
Uma bilha de água
E outra maior de vinho...
Pode estar salgado
O bacalhau às postas,
O derradeiro carinho
Da minha patroa...
Antes de se ir deitar...
Aí vou andando
Até ao fim da aldeia.
Foi aquela leira de bênção
Que eu herdei dos meus...
Donde eu tiro pão.
Com a graça de Deus!...
Ouvindo Wagner, Cavalgada das Valquírias,
Berlim, 19 de Dezembro de 2013, 6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Passinhos, visto de Candoz > 30 de março de 2013 > O amanhecer no campo...
Foto: © Luis Graça (2013). Todos os direitos reservados
Berlim, 19 de Dezembro de 2013, 6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Passinhos, visto de Candoz > 30 de março de 2013 > O amanhecer no campo...
Foto: © Luis Graça (2013). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12400: Blogpoesia (362): Homenagem a Nelson Mandela (1918-2013): Invictus, de William Ernest Henley (1849-1903)
Último poste da série > 6 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12400: Blogpoesia (362): Homenagem a Nelson Mandela (1918-2013): Invictus, de William Ernest Henley (1849-1903)
5 comentários:
"Levo no bornal,
Um naco de broa.
Com azeitonas das pretas.
Uma bilha de água
E outra maior de vinho..."
Almoço gourmet mediterrânico?
Esta receita já o velho alentejano e beirão não ensinaram aos netos para uma eventual crise na vida.
Mas pelos vistos, Mendes Gomes, genial, ensinou aos netos dele.
Ainda me lembro, no início dos anos 60, quando começou o êxodo rural, ainda me lembro dos pobres ganhões do Alentejo, fugidos da miséria dos campos, acabados de chegar à cidade grande, a pedir na rua, ao transeunte, a pedir-me a mim, puto, 5 tostões para comprar pão e azeitonas... São memórias que nos ficam gravadas quando ainda somos adolescentes e sensíveis... Pão, azeitonas e vinho mata(va) a fome à pobreza...
Caro Joaquim Luís M. Gomes
Caros Camarigos
Elevamo-nos na Poesia, o coração irrompe no Ser e liberta-se na consciência e na sensibilidade, o encantamento e a saudade do tempo e do lugar onde floriram os sonhos da criança e do adolescente, que frutificaram, feitos valores, no homem de hoje.
Esse "chão", quase sagrado, tornado a Pátria,amada e bela, de todas as memórias gratificantes, onde sempre se regressa, buscando o sustento do espírito.
Esta Terra que amamos e queremos nossa, com muitas fragilidades e misérias, mas que suplanta em beleza, bondade e humanidade, a grande e poderosa pátria de Wagner.
Um forte e caloroso abraço, com votos de um Santo e Feliz Natal e melhor Ano Novo.
JLFernandes
Caríssimo Amigo J. L. M. Gomes
O eterno encanto da Terra Mãe!
Ainda há pouco acabei de falar sobre o meu torrão Natal, que me acompanha permanentemente, e venho aqui encontrar outro desabafo idêntico.
É sem dúvida, como tão bem diz o amigo JLFernandes, "o chão quase sagrado, tornado a Pátria amada e bela, de todas as memórias gratificantes, onde sempre se regressa, buscando o sustento do espírito".
Caros amigos, como me é gratificante ler as vossas palavras, descobrindo sentimentos comuns, partilhados, sentidos!
A cor da terra, das pedras, o vento, as árvores, o sol e a chuva, as vozes, as palavras escutadas, o tempo que voou...
Feliz Natal para todos!
Abraço fraterno
Felismina mealha
Grandes verdades em todos os comentários que antecederam o meu, assim só me resta dizer que gostei muito do poema.
Um grande abraço para o Autor assim como para os outros camarigos comentadores.
Adriano Moreira
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