sábado, 4 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13691: Notas de leitura (638): Algumas considerações às perguntas deixadas por Rui A. Ferreira no seu livro "Quebo - Nos Confins da Guiné" a propósito da retirada do Guileje (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do dia 27 de Agosto de 2014 do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª na situação de Reforma (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73):

Há dias tive conhecimento da publicação do livro QUEBO - NOS CONFINS DA GUINÉ, cujo Autor é o nosso Camarada RUI ALEXANDRINO FERREIRA, a quem felicito por nos deixar mais uma excelente obra sobre a guerra da Guiné.

No último capítulo, o Autor formula várias perguntas, das quais se transcreve a que se refere à Retirada de Guilleje: 

"7. Porque não se realizou. relativamente ao abandono de Guileje, o julgamento de Coutinho e Lima? Quais os motivos para uma amnistia, tão rápida? Porque não prosseguiu o julgamento todo o caminho que lhe faltava? Quem tinha medo que a verdade não correspondesse à sua?"

Sobre estas interrogações, entendo fazer algumas considerações.

O meu julgamento não se realizou e não prosseguiu todo o caminho que lhe faltava porque, em 10MAI74, a Junta de Salvação Nacional (JSN) mandou publicar o Decreto-Lei n.º 194/74, que amnistiava vários crimes, entre os quais aqueles de que era acusado e, em consequência, o processo que me foi instaurado, foi arquivado.

Os motivos para uma amnistia tão rápida só poderiam ser esclarecidos pelo Sr. General António de Spínola, Presidente da JSN ou, eventualmente, outros elementos da mesma Junta.

Quem tinha medo que a verdade não correspondesse à sua?

Antes de arriscar uma resposta, vou dar as informações que se relacionam com o assunto.

O Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné teve conhecimento, pelo menos, em 27DEZ72, das intenções do PAIGC sobre Guileje.

Com efeito, consta do Anexo VI - Extracto do Relatório de Interrogatório - 27DEZ72 (pág. 410 do meu livro - A Retirada de Guileje, este interrogatório foi efectuado, nessa data, ao nativo, Mário Mamadu Baldé, de 25 anos, natural de Cacine), o seguinte:

"INTENÇÕES DO IN
...........
2. NA FRONTEIRA SUL: Refere que o IN pretende fazer um ataque com bastante força a GUILEJE, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos  de pessoal no corredor de GUILEJE. Para isso, ficaram em KANDIAFARA alguns elementos que vieram recentemente dum estágio de Artª. na Rússia, para futuros reconhecimentos na área de GUILEJE e preparar a acção."
..........

Só tive conhecimento deste importante documento quando tive acesso ao processo que me foi instaurado.

É INACREDITÁVEL que não me tivesse sido dado conhecimento deste documento, quando fui nomeado Comadante do COP 5, em 8 JAN 73.

Em 15MAI73, teve lugar no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, sob a presidência do Sr. General António de Spínola, uma reunião de Comandos, na qual participaram os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Amadas - Exército, Marinha e Força Aérea, o Sr. Comandante Adjunto Operacional, o Sr. Chefe de Estado-Maior do Comando Chefe e  os Senhores Chefes das Repartições de Informações (REP/INFO) e de Operações (REP/OPER).
A acta dessa importante reunião, com 63 páginas, encontra-se no Arquivo Histórico-Militar e já foi difundida no nosso blogue.

Dessa acta, transcrevo, a seguir, algumas declarações-

O Sr. Comandante Adjunto Operacional - Sr. Brigadeiro Leitão Marques, afirmou:

"..............
No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o IN está a preparar as necessárias condições de destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica - isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.
Quanto às vantagens para a manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa.
..............
Assisti ao pressionamento psicológico ao povo americano, por causa dos seus prisioneiros no Vietnam do Norte durante quatro anos e senti em toda a sua profundidade o efeito desmobilizador desse pressionamento, o qual, em larga medida, juntamente com o elemento económico, levou à agitação interna das massas e à capitulação , apesar de todo o poderio militar americano.
O que acontecerá se tivermos de enfrentar situação semelhante?
................."

Nota - Os sublinhados são meus.

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/INFO ( Sr. Ten Cor. de Infª. Artur Baptista Beirão), transcreve-se:

"...........
No imediato, julga-se que o IN:
..........
_ intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra GADAMAEL, GUILEJE e/ou BURUNTUMA, tirando partido da vulnerabilidade destes pontos a este tipo de acções e visando o aniquilamento ou captura das guarnições;
..........
Num futuro próximo, prevê-se que o IN, partindo do clima de denso agravamento que a sua actividade imediata proporcionará:
 _ temte a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções isoladas de tipo convencional;....
...........
Resta referir , a finalizar, ....não permitem, como desejaria, uma melhor adjectivação das zonas preferenciais de esforço do IN...
...e apenas pode concluir-se por uma situação na qual todo o T.O., sem qualquer exclusão, acaba por constituir uma vasta área de preocupação, na qual dificilmente se podem, no momento, visualizar priorizações.
..........."

Ainda, relativamente às intenções do IN, no âmbito da REP/INFO, transcrevo parte da pág, 40 do meu livro:

"Em 09MAI73, a CCAÇ 3556 (EMPADA), enviou a mensagem 499, comunicando a existência de um grupo In na fronteira, com carros de combate que pretendiam atacar GUILEJE; a mesma Companhia rectificou esta mensagem através de outra - 507/73, referindo a presença nas matas de GUILEJE de um grupo de 35 cubanos e dois grupos de 45 elementos cada, preparados para atacar e aguardando ordens de "NINO".
Em 15MAI73, a CCAÇ 6 (BEDANDA) informou, através da mensagem 586/C, a chegada em 10MAI,  de 4 grupos vindos da REP. GUINÉ e a chegada a KANDIAFARA de cerca de 50 cubanos. Esta mensagem não foi enviada ao COP 5".

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/OPER (Sr.Ten Cor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida), transcreve-se:

".............
Se não forem concedidos os reforços solicitados  as armas que permitam às NF enfrentar o IN actual...
julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se considerem essenciais e que permitam, à luz de outras concepções de manobra, desencadear mais tarde acções ofensivas de grande envergadura para recuperação das posições enfraquecidas, ou estruturar uma manobra de feição caracterizadamente defensiva baseada na implantação de um certo número de pontos de apoio a sustentar a todo o custo. Mas neste caso, as missões actualmente dadas às NF, em termos de protecção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contra-subversão centrado na manobra sócio-económica, teriam de ser revistas.
...........
A ameaça de utilização, pelo IN, de carros de combate, em golpes de mão sobre as guarnições de fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permitam a sua defesa anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça."

Lembra-se que, na data (15MAI73), em que se realizou  a Reunião de Comandos, já estava em curso, desde 08MAI, o ataque do PAIGC a GUIDAGE: É bastante estranho que, na acta da referida reunião não apareça nenhuma alusão a tal acontecimento.

As transcrições atrás indicadas,  merecem-me os comentários seguintes.

Acerca da intervenção do Sr. Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional que, em 22MAI73, foi nomeado, pelo Sr, General Comandante-Chefe para proceder a auto de corpo de delito contra mim.
Se eu tivesse conhecimento desta acta de Reunião de Comandos, quando fui por ele ouvido, em 31MAI73, perante a última pergunta:

"Quando decidiu retirar tinha ponderado os altos prejuízos para a Nação resultantes desse procedimento?"

Certamente, ter-lhe-ia respondido com a pergunta seguinte:

"Pensou bem na hipocrisia desta  pergunta, face às suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73?"

Acerca das declarações do Sr. Ten. Cor. de Inf.ª Artur Baptista Beirão, Chefe da Repartição de Informações, teria formulado as seguintes perguntas:

- Quais as diligências que mandou efectuar, relativamente ao Relatório de Interrogatório, feito em 27DEZ72, ao nativo Mário Mamadu Baldé, tendo em vista a verosimilhança e fiabilidade desse relatório e a que conclusões chegou?

- Porque não me foi dado conhecimento desse relatório, depois de eu ter sido nomeado, em 08JAN73, Comandante do COP 5?

- Porque julgava que o IN intentasse, no imediato, "uma acção tipo convencional, com carros de combate, contra GADAMAEL, GUILEJE,...", quando esta comunicação da Companhia de EMPADA, em 09MAI73, foi rectificada por outra mensagem da mesma Companhia?

- Porque não foi enviada ao COP 5, em 15MAI73, a mensagem 586/C da Companhia de BEDANDA, informando a chegada em 10MAI, de 4 grupos vindos da REP. GUINÉ e a chegada a  KANDIAFARA de cerca de 50 cubanos?

- As mensagens das Companhias de EMPADA e BEDANDA, associadas a outras eventuais informações que a REP/INFO tinha, não eram suficientes para prever, com grande probabilidade um ataque do IN a GUILEJE?

Acerca das declarações do Sr, Ten. Cor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida Chefe da Repartição de Operações, teria feito as seguintes perguntas:

- Nas suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73, quando referiu que era necessário reforçar guarnições... que se considerasssem essenciais, estava a pensar na guarnição de GUILEJE? Se a resposta for SIM, que propostas fez para que esta guarnição  fosse reforçada?

- Tendo afirmado que era necessário dotar com meios de defesa anti-carro, as guarnições que a REP/INFO considerasse mais susceptíveis de ataques desse tipo e tendo esta Repartição indicado GUILEJE como uma das mais ameaçadas, no imediato, que propostas fez para que GUILEJE fosse dotada de meios de defesa anti-carro?

Para concluir e atendendo às considerações feitas, atrevo-me a afirmar que quem tinha medo que a verdade não fosse a sua, seriam o Sr. Comandante-Chefe, o Sr. Comandante Adjunto  Operacional ( que, da maneira como conduziu o auto de corpo de delito, não teve como objectivo primeiro a procura da verdade) e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações.

Com os meus cumprimentos
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Coronel de Artª. Reformado
Ex-único Comandante do COP 5, em GUILEJE)

************

OBS: O nosso pedido de desculpa ao Coronel Coutinho e Lima pela demora na publicação desta sua mensagem.

O editor
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13685: Notas de leitura (637): “Do Outro Lado das Coisas", do Embaixador João Rosa Lã (1) (Mário Beja Santos)

14 comentários:

antonio graça de abreu disse...


Como o coronel Coutinho e Lima bem sabe, e sabemos nós todos, além de Guileje nenhum mais aquartelamento (em 225 existentes no território)foi entregue ao IN em 11 anos de toda a guerra da Guiné. ou abandonado em fuga. Apesar dos prognósticos que o nosso coronel Coutinho e Lima continua a debitar exaustivamente para mostrar a incapacidade das tropas que comandou (ou dele?), face ao "enorme poderio bélico" à superioridade do PAIGC, a História, feita por todos nós, não o absolverá.

Saudações amigas

António Graça de Abreu
CAOP !, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74

Anónimo disse...

Caro camarada A.G.Abreu

Por imperativo de consciência repudio completamente as afirmações que fazes, nomeadamente " a história,feita por todos nós,não o absolverá.

Em primeiro lugar,não te nomeei e julgo que ninguém mais,para seres nosso representante e julgares de forma abusiva.

Tens todo o direito à tua opinião..mas será sempre só tua.

O sr. Coronel C.e Lima tem todo o direito a defender-se e aquilo que revela não é nada que não se suspeita-se.

A culpa morre sempre solteira..e quanto a culpados..melhor seria começar pela cúpula da cadeia de comando.

Para terminar..meu caro camarada A.G.Abreu...que terias feito se estivesses em Guilege na altura dos acontecimentos.

Um alfa bravo

C.Martins

José Botelho Colaço disse...

Até ao momento dos que lá estavam eu só tenho conhecimento de uma voz discordante pela opção tomada.
Mas opiniões todos somos livres de a ter independente de ela ser ou não a melhor, mas englobar todos nós não me parece correcto.

Um alfa bravo.
Colaço.

Anónimo disse...

PS

Onde se lê..suspeita-se..é suspeitasse.

C.Martins

Anónimo disse...

Olá Camaradas
António Graça Abreu, O VENCEDOR, no seu melhor!
É como eu digo: não nos púnhamos a pau ainda ganhávamos "aquilo".
Não passei pela situação mas imagino-a dentro das experiências que tive e das que pude recolher de quem as viveu.
Foi em Guileje. E se tivesse sido em Guigage? E porque é que Guigage foi defendida e apoiada e Guileje não?
Nunca o saberemos...
Um Ab.
António J. P. Costa

Vasco Pires disse...

...mais de quarenta anos passados, ao menos conceda-se ao Sr.Coronel o "sagrado" direito de defesa. Respeitemos uma decisão de comando que só ele tinha o direito e o dever de avaliar. VP

Carlos Vinhal disse...

Não são as nossas afirmações pessoais, hoje, baseadas em convicções bacocas porque infundadas, que se podem sobrepor aos acontecimentos de 1973. Disse uma vez ao Coronel Coutinho e Lima que ele fez o que achou melhor, naquele tempo e naquelas circunstâncias, para preservar a sua tropa e a população que estava sob a sua protecção.
Claro que há hoje muitos heróis, alguns de secretaria, que se estivessem então, no lugar do Cor Coutinho e Lima, tinham desafiado o Nino Vieira, mesmo que ficassem com mortos e feridos amontoados no Guileje à espera de melhores dias, se os viesse a haver, para se efectivarem as evacuações.
Se o Cor Coutinho e Lima recebesse dos seus pares, militares de carreira, comentários menos abonatórios à sua retirada de Guileje, ainda se compreendia, mas de civis temporariamente armados (?), não aceito condenações. Julgar Coutinho e Lima? Quem e com que fundamentos? Palpites? Pontos de vista? Ideologia? Nem nos resta a História, porque essa mesma pode ser pintada com as cores com que cada um a vê e a conta.
Já agora, alguém pensou que o Cor Coutinho e Lima não hesitou em deitar a perder toda a sua carreira militar, retirando? Não fora o 25A que lhe teria acontecido? Na prisão já estava.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

António Martins Matos disse...

Como disse o Rei de Espanha, “E POR QUE NÃO SE CALAM”?

Este assunto já foi apresentado, re-apresentado, re-reapresentado, visto, revisto, re-revisto…..
O Sr. Cor Coutinho e Lima já expressou os seus pontos de vista, seja nas inúmeras apresentações do seu livro, seja em inúmeros textos aqui reproduzidos, seja em respostas/diálogos com todos os que não partilham as suas ideias.
Desta vez traz-nos mais um punhado de opiniões que nada acrescentam ao tema, na linha da sua habitual “defesa”, elaborar opiniões em detrimento de factos.
Um facto que gostaríamos de saber e nunca respondido:
Como era feita a defesa próxima e afastada do quartel?
Uma coisa está clara desde o inicio, tem os seus apoiantes e os seus opositores, tanto uns como outros já há muito formularam os seus juízos de valor.
Não concordo com o julgamento do AGA, mas também não concordo com a maior parte dos restantes comentários, alguns jocosos, outros a justificar o injustificável.
A HISTÓRIA faz-se de factos e não de opiniões.
Penso ser um assunto esgotado, a quem o quiser rever basta fazer uma leitura pelos inúmeros Posts do Blog dedicados ao Guileje.

Termino como comecei…

E POR QUE NÃO SE CALAM?

Abraços

AMM

Carlos Vinhal disse...

Porque aqui no Blogue toda a gente tem direito a falar e não estamos felizmente sob nenhuma ditadura latio-americana. Pelo menos para já.
A propósito da expressão, um já não manda calar ninguém e o outro já não deita faladura.
Abraço
Carlos Vinhal

José Botelho Colaço disse...

Carlos Vinhal atenção: Eu já fui bastante criticado por ter usado a expressão (os heróis que não estavam lá).
E não lhe chamei heróis de secretaria!
Mas mais uma vez digo não passei credencial a ninguém para falar em meu nome.
Já me chega até à ponta dos cabelos o Passos Coelho.

Um alfa bravo
Colaço.

jpscandeias disse...

O Julgamento foi feito no Depósitos de Adidos em Bissau quando o General Spínola na parada e perante todos, oficiais, sargentos e praças arrancou os galões ao Major Lima. Nesse dia e nesse momento não se levantou uma só voz, foi o silencio total. Não sei durante quanto tempo o Major por lá permaneceu nessa situação humilhante.
João Silva, CCaç 12, 3404, 72/74
Mas tenho que concordar com António Graça, só Guileje caiu assim.
Que foi uma machada nas nossas tropas, foi.
Que a moral já era baixa, penso que nunca foi alta, só me posso referir de 72 a 74 e mais baixa ficou.
Que a queda de Guileje no contexto da época não faz sentido, em termos militares, tendo em conta o poderia das forças e os meios bélicos disponíveis pelo PAIGC e pelo exercito português. A pergunta deve ser feita é - Porque a cúpula militar decidiu cair Guileje. Em minha opinião só pode ser politica. Quem capitalizou com a situação? Spínola, tinha escrito um livro, regressou a Lisboa e foi pelos militares eleito presidente da republica.

Anónimo disse...

Sabe-se que Spínola passou os últimos dois ou três anos a pressionar a capital imperial no sentido de se engendrar uma solução política para aquela estúpida guerra. Precisou do caso Guiledge para demonstrar a justeza da sua tese, junto do poder?
Certo é que, depois disso veio o seu o regresso a Lisboa e a publicação do livro que muito ajudou a fermentar o 25 de Abril.
Se tivesse sido possível evitar o abandono de Guiledge, isso garantia a altamente provável repetição de outros casos? Na verdade, a probabilidade de ocorrer casos semelhantes aos de Guiledge tinha já produzido mudança de planos ou de estratégia por parte de grandes nomes como Costa Gomes e Bettencourt rodrigues: retração do aparelho militar com o abandono das populações da periferia. As pessoas não perceberam (ainda) que estas guerras não são para ganhar, mesmo quando se dispõe de dinheiro, gente e tecnologia como os Estados Unidos.
Quem se atreve a julgar o Coutinho Lima? Só os seus subordinados, naquela circunstância, o podem julgar e destes, 99,9% acharam aquela a melhor solução. Respeitemos aquela gente que, com o seu gesto, terão dado um grande contributo para o 25 de abril.
Um abração
Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Caros camaradas

Apelo ao bom senso de todos.

O mais importante é a dignidade e a honra de cada um.

Como ex-combatente e tendo vivido e sentido no corpo e na mente a dureza da guerra,não me sinto em condições de fazer juízos de valor em relação aos comportamentos de cada um..com uma excepção..a traição de camaradas..que não é o que está aqui em discussão.

Cada um de nós terá a sua opinião sobre este assunto.

A minha é que o Sr. Coronel Coutinho e Lima foi e é um Homem digno, mas é apenas a minha opinião.

Obedecendo por respeito e consideração ao nosso camarada General A.M.Matos..vou calar-me.

Um alfa bravo para todos

C.Martins

Valdemar Silva disse...

Então, o que se passou em Madina do Boé, Cheche e Beli, também não foi um abandono por grandes dificuldades em manter a nossa tropa nessas terras ?
Em que é que Guilege foi diferente ?
Um abraço
Valdemar Queiroz