quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15731: Documentos (29): Ata da reunião do CEMGFA, Costa Gomes, com os comandos do CTIG, Bissau, 8/6/1973 (José Matos, historiador independente)





Cópia de documento de 4 páginas, do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), de 15/6/1973, com o relato de uma reunião com os comandos militares do CTIG em 8 de junho de 1973.   Francisco da Costa Gomes (1914-2001) foi CEMGFA de 5/9/1972 a 13/3/1974.   Visitou o CTIG,  de 6 a 9 de junho de 1973.



1. Mensagem, com data de ontem, do José Matos, 

[ O nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.

Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74).]

Olá, Luís

Mando-te um documento [, de 4 pp.]  interessante sobre a reunião que Costa Gomes teve na Guiné, quando foi lá em Junho de 1973, de 6 a 9.

Ab, Zé

2. Comentário do editor:

Obrigado,  Zé. Os antigos combatentes da Guiné, e não apenas os investigadores, têm direito a conhecer estes "documentos para a história"...

 O documento que reproduzimos, com data de 15/6/1973, ontem "muito secreto, hoje "desclassificado", à guarda do Arquivo de Defea Nacional, para consulta dos estudiosos e historiadores,  fala por si, mas tu tens aqui no blogue vários postes teus  que ajudam o nosso leitor  a compreendê-lo melhor, a partir da sua  contextualização histórica, geoestratégica, política e militar.

Julgo que pode este documento pode (e deve) ser visto como complemento à série Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, aqui publicada há menos de 4 anos (*), da autoria do Luís Gonçalves Vaz [, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74, e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]. (*)

Na realidade, em 8/6/1973, o que o CEMGFA fez, foi um "briefing" com os todos os comandos militares do CTIG. Recorde-se,  citando o poste P9639, do Luís Gonçalves Vaz (*), que três semanas antes,  “em 15 de Maio de 1973, pelas 10h30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos",  respectivamente:

(i) Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné;

(ii) Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné;

(iii) Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional;

(iv) e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.

____________

Nota do editor: 

18 comentários:

Antº Rosinha disse...

Este documento de 8/6/73, relata bem o esforço que o IN decidiu fazer de uma vez por todas acabar com o impasse do "chove não molha".

Ou seja, naquele período, friso, 8 de Junho de 1973, já tinha em Março surgido o Strella, Guilege em Maio, e Guidage no mesmo período, e pouco mais tarde, não sei a data certa, misseis sobre a cidade de Bissau, e ninguém pergunta porque só ao fim de 13 anos de Guerra do Ultramar, o IN (Cuba e URRSS) resolvem atacar com toda a força e com meios modernos.

Eu, pessoalmente, espero que continuem a surgir documentos como este, pois que cada vez tenho menos dúvidas que havia algo ou alguém que impedia que os Russos e Cubanos demorassem tantos anos a atacar com todos os meios, até já vem neste documento acusar a existência de MIGs em Conacry em 8 de Junho.

Pois bem, quem é que impedia aquela grande potência russa e os revolucionários castristas de acabar de uma vez por todas com aquela "brincadeira" da Guiné Melhor spinolista? E em Angola já quase não havia guerra e Moçambique já tinha sido construída Cabora Bassa?

Havia de facto alguém a complicar e era precisar acabar com esse alguém que era um empecilho.

Esse alguém não seria Amílcar Cabral? assassinado em Janeiro desse ano?

Esta é a minha ideia desde 14 de Novembro de 1980 quando vi os carros de combate russos a passear em Bissau sob o olhar de militares russos e abastecidos e lubrificados por eles.

Espero mais outros documentos desclassificados para ajudar a convencer os familiares de Amílcar Cabral.

antonio graça de abreu disse...

Claro que o PAIGC estava mais forte com os Strella,a fuga de Guileje, o apoio cubano e russo, e tudo era possível em termos de adivinhação. Mas as previsões do Costa Gomes não se cumpriram. A História faz-se com factos, com o entendimento da realidade, com o que verdadeiramente aconteceu. Ando há uns tantos anos a lutar por isso neste blogue, veja-se a minha polémica há uns anos atrás sobre guerras perdidas, guerras ganhas, ou melhor na minha humilde opinião, uma guerra nem perdida nem ganha, polémica com o especialista e entendido Mário Beja Santos, defensor da guerra perdida.
Eu sei pouco, mas estava lá, Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar 1972/1974.E dei testemunho do que ia acontecendo no meu Diário da Guiné,(atenção que há mais dois livros, com o mesmo título, posteriores ao meu Diário da Guiné!)
Quanto irrealismo e cagaço transparece nestes documentos!...
Quantas perspectivas erradas sobre o evoluir do conflito que só terminou por abandono de umas das partes em Maio de 1974!Quanto subestimar do valor e coragem das Nossas Tropas, 40.000 homens, face a 5.000 guerrilheiros, instalados maioritariamente fora do território da Guiné-Bissau!
Registo o medo, o cagaço do Costa Gomes para se "evitar o aniquilamento das guarnições de fronteira".Exceptuando a fuga de Guileje, nenhum aquartelamento NT foi aniquilado em onze anos de guerra na Guiné.São factos, é a nossa História.
Registo o medo, o cagaço do Costa Gomes face à "supremacia aérea" do IN, com "8 Migs 17 e 6 Migs 19 na Guiné-Conacri", aviões que posteriormente ninguém viu, registo o medo face à "extrema gravidade de que se revestirá um ataque aéreo a Bissau", etc.
Claro que muita coisa poderia acontecer, mas não aconteceu até Abril de 1974. Na altura as Forças Armadas Portuguesas detinham o esmagador controlo do território da Guiné. Esta a realidade.Esta a História.
Agora, podemos entender estes textos como um recado político (baseado em pressupostos irrealistas e alarmistas) dado a Marcelo Caetano, às autoridades obsoletas que governavam Portuguesas incapazes de arranjar uma solução para as guerras de África. Mas isso é outra conversa.
Abraço,

António Graça de Abreu

Unknown disse...

Pergunta que não quer calar:
Afinal,havia MIGS?
Forte abraço.
VP

Antº Rosinha disse...

António Graça de Abreu, não podemos negar que o esforço cubano/soviético evoluiu, naquele período após o desaparecimento de Amílcar em Janeiro de 1973, como podemos aqui no blogsforanada comprovar por todos os relatos. (Strella,Misseis especiais que atingiram Bissau, perto da Dicol e da Central eléctrica e noutro ponto que não me lembro, Guidage e Guilege, Gandembel)

Porque a guerra real no terreno, a guerra do coração e da razão, já os povos diversos tinham escolhido de que lado ficaram.

AGA, temos que tal como a Rússia ver aquela guerra em toda a sua dimensão: Angola, Moçambique e Guiné, e noutros pontos africanos.

AGA, a guerra estava bem definida de uma maneira incrível, com a Guiné melhor, em Angola até parecia escandaloso a incapacidade dos movimentos, e Moçambique só bem no Norte é que havia alguma actividade, e havia suspeitas de «diálogos inconvenientes» Amílcar/Senghor.

A Rússia tinha que inverter os acontecimentos.

E inverteu mesmo, em todos os sentidos.

Para mal dos guineenses, angolanos, 30 anos de guerra estuporada, e moçambicanos 15 anos de guerra sem fim.

AGA, milhões de africanos de Angola, Moçambique e Guiné, de quem nós "tugas" eramos aliados, esses sim, perderam a guerra, nós apenas desistimos.

Que apareçam os historiadores.

Anónimo disse...

A minha alma está parva.
Como foi possível, que responsáveis de topo na hierarquia militar estivessem tão mal informados sobre o então IN.
O que é que fazia o serviço de informações militares..nada..apenas tinham suposições.
Na altura eu tinha quase a certeza..hoje apenas confirmo.
O IN tinha armamento mais sofisticado que nós..!!! qual armamento ?
Para além dos misseis terra-ar e peças de artilharia de longo alcance mas de eficácia quase nula e que era operada por cubanos..tudo o resto era e é uma questão de opinião..será que a AK era, é melhor que a G3 ?
Quanto há aniquilação das guarnições de fronteira !!..pessoalmente sinto-me insultado..logo eu que era contra a guerra..mas tinha sentido de responsabilidade de dignidade e honra, apesar ser muito jovem.
É verdade que a vontade de combater da nossa parte era quase nula, mas o IN não estava melhor..coisa que as altas individualidades desconheciam.
Vi...vivi..constatei..eu estava lá.."porra".

C.Martins

Luís Graça disse...

Rosinha, davas um bom historiador, tens um raciocínio sinóptico e, coisa rara nos homens, um "sexto sentido" que te leva a explorar pistas interessantes: perguntas, e bem, (i) quem estava interessado na morte de Amílcar Cabral ?; e (ii) por que é que a escalada da guerra se verifica depois do assassinato de Amílcar Cabral ?

Eu não estava na Guiné nessa altura, pelo que me coibo de opinar sobre a situação político-militar que se lá vivia... Ouço, com respeito, as opiniões (todas as opiniões) dos camaradas desses tempo... Para mim, não basta ler os documentos da época e, muito menos, os historiógrafos que têm escrito sobre esse período... Infelizmente, de parte a parte, muita documentação já se perdeu ou foi intencionalmente destruída...

Tenho, como bom princípio, respeitar a memória dos nossos "mais velhos", que já não estão cá para se defenderem das acusações dos "chez les vivants", dos que estão do lado de cá do rio de Caronte... É um princípio por que me tenho batido neste blogue... Amílcar Cabral, 'Nino' Vieira, Salazar, Marcelo Caetano, Spínola, Costa Gomes, etc., são hoje "personagens da história"... Respeitemos esse estatuto, o que não quer dizer que eles estão acima de qualquer juízo crítico de nós, que ainda estamos por cá, vivos... Podemos e devemos fazê-lo, mas sempre com elevação...LG

antonio graça de abreu disse...

Ah, grande Rosinha, é isto mesmo quando dizes "Milhões de africanos de Angola, Moçambique e Guiné, de quem nós "tugas" éramos aliados, esses sim, perderam a guerra, nós apenas desistimos".
E obrigado C. Martins pelo teu testemunho. Aguentaste como um bravo, com os teus homens em Gadamael 73/74, aquartelamento de fronteira, e não viste nenhuma superioridade militar do PAICG. São os factos mas muito gostam os portugueses de dizer mal de si próprios.E temos sempre(no blogue há alguns) uns tantos que se pavoneiam falsificando a nossa História.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

A guerra do ultramar só se fez para conservar Angola.
Claro que o regime tinha que defender todas as outras colónias para justificar esta.
Não sou a favor das teorias de conspiração ...mas será que o regime ponderava abandonar a Guiné com uma suposta "derrota" militar?
Esta dúvida tem cabimento ou não ?
Ninguém estava interessado na Guiné..os "abutres" esperavam pacientemente por Angola..só que devido às divisões na cúpula dos ditos movimentos de libertação e também às acções das NT..a coisa estava preta ou melhor branca...a actividade IN era quase inexistente.
Então era de toda a conveniência..uma derrota militar na Guiné..ou será que a teoria da conspiração..esqueçam..sou eu que estou a delirar..coisas da p.d.i.

C.Martins

Luís Graça disse...

Gadamael, 1973/74, presente !

Sê bem vindo, C. Martins. Já tínhamos notado a tua ausência (mais tática do que estratégica). LG

Luís Graça disse...

Qual foi a “arma secreta” de Amílcar Cabral que, essa, sim é que deixou o governo de Marcelo Caetano (e por extensão as NT no CTIG) de “calças na mão” ? Não foi o Strela muito menos o “bluff” dos MiG, mas sim… a diplomacia. Cito aqui um artigo, já antigo do A. E. Duarte Silva, assessor do Tribunal Constitucional, e que conhece bem a Guiné-Bissau:

O litígio entre Portugal e a ONU (1960-1974). "Análise Social", [Lisboa], vol. xxx (130), 1995 (1.°), 5-50. Disponível aqui: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223379275O6tBL0an1Az23CC9.pdf

Aqui vai um excerto... LG
_________________


(…) 5.2. O ANO DE 1973

A visita da missão especial à Guiné e o correspondente relatório, além de
comprovarem a viabilidade interna e internacional da declaração unilateral de
independência que o PAIGC preparava, tinham tido vastas consequências
jurídicas e políticas — sobretudo no isolamento internacional do governo
português e no reconhecimento dos movimentos de libertação. Em 20 de
Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado, mas o «andamento» (como
gostava de dizer) do processo de independência manteve-se e em 24 de
Setembro de 1973 era solenemente proclamada a República da Guiné-Bissau.
Durante a xxviii sessão da Assembleia Geral, a independência da Guiné-
-Bissau foi a questão central dos trabalhos relativos aos territórios não autónomos.
Ao todo, foram aprovadas cinco resoluções com incidência directa
sobre os territórios portugueses:

a) Uma resolução única na história da ONU e do direito da descolonização:
depois de intensa discussão, em 2 de Novembro, por 93 votos contra 7
e 30 abstenções, a Assembleia aprovou a resolução 3061, onde, além do
mais, «reconhecia» a independência da República da Guiné-Bissau;

b) Uma resolução com alguns antecedentes, mas formulada em termos
inovadores: em 16 de Novembro, através da resolução 3067, a
Assembleia convidava a República da Guiné-Bissau (e não apenas o
PAIGC) a participar na Terceira Conferência das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar;

c) Uma resolução talvez surpreendente: ao aprovar os poderes das delegações
dos Estados membros, a Assembleia precisou expressamente, a 17
de Dezembro, que aprovava os poderes da delegação de Portugal, «tal
como ele existe no interior das suas fronteiras na Europa», e que esses
poderes não se estendiam «aos territórios sob domínio português de
Angola e de Moçambique», nem à «Guiné-Bissau, que é um Estado
independente»;

d) A 12 de Dezembro já a Assembleia votara duas outras resoluções sobre
os territórios portugueses: a resolução 3113, através da qual aprovou
o relatório da Comissão de Descolonização sobre os territórios portugueses
(que já não abrangia a Guiné, por se entender que passara a ser
um Estado independente), e a resolução 3114, que constituía uma
comissão de inquérito aos massacres de Moçambique;

e) Quanto ao estatuto dos movimentos de libertação, e além das implicações
resultantes das resoluções citadas, a Assembleia aprovou novamente
a respectiva participação na IV Comissão, na qualidade de observadores,
e as propostas de afectação de um crédito suplementar destinado
a cobrir as despesas inerentes e adoptou, através da resolução 3103, os
princípios de base respeitantes ao estatuto jurídico dos combatentes
contra a dominação colonial e estrangeira e os regimes racistas.
Não parece, pois, nada exagerado concluir que este conjunto de resoluções
«não deixa de ser um sintoma evidente do elevado grau de deterioração
a que havia já chegado a imagem de Portugal na ONU» (...)

Luís Graça disse...

Mas é rpeciso começar pelo princípio... O artigo, do Duarte Silva, começa assim:



PAZ FRIA: 1956-1960

1.1. DE 1956 A 1960
A entrada de Portugal na ONU foi atrasada pelas peripécias da guerra fria
e, vetada pela URSS a adesão em 1946, só se verificou em 14 de Dezembro
de 1955, através do package deal que permitiu superar o beco sem saída a
que haviam chegado Ocidente e Leste quanto à admissão de novos membros.
No mesmo dia foram também admitidos a Albânia, Bulgária, Camboja,
Ceilão, Finlândia, Hungria, Irlanda, Itália, Jordânia, Laos, Líbia, Nepal,
Roménia e Espanha.

Conforme prática corrente, em 24 de Fevereiro de 1956 o Secretário-
-Geral enviou ao governo português (e aos demais 15 Estados recém-admitidos)
uma carta perguntando «se administra territórios que entrem na categoria
indicada no artigo 73.° da Carta?». A nota foi estudada por Salazar e
pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, e a resposta, oito
meses depois, em 6 de Novembro, também é curta: «Portugal não administra
territórios que entrem na categoria indicada no artigo 73.° da Carta.»
Considerando que Salazar, com esta resposta, «assume uma posição, coerente
no plano interno, que desafia a corrente política mundial» e, no plano
internacional, «rompe as coordenadas em que se está movendo a comunidade
das nações», Franco Nogueira recorda não ter sido recebida ou enviada, a este
propósito, mais nenhuma correspondência e acrescenta, numa interpretação
extensiva resumindo bem a próxima futura política portuguesa sobre a matéria:
«Nesta simples troca de notas, todavia, Salazar acaba de tomar uma
decisão de profundo significado, das mais sérias implicações e extensas
consequências. Que querem dizer a atitude de Salazar e a resposta do governo
de Lisboa? Indicam às Nações Unidas que as províncias ultramarinas portu-
guesas não têm vocação para a independência separada; sublinham que o
governo português se arroga o exclusivo de interpretar e aplicar a sua ordem
constitucional e que neste domínio não admite interferências alheias; afirmam
que Portugal não submeterá a sua administração ultramarina a qualquer sistema
de censura internacional e que, portanto, não transmitirá quaisquer informações
à comunidade dos países; finalmente, notificam as Nações Unidas de
que, se se respeita a letra do artigo 73.°, é repudiada a prática política e
processual que à sombra deste a ONU fora estabelecendo gradualmente1.» (...)

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223379275O6tBL0an1Az23CC9.pdf

Luís Graça disse...

À atenção do José Matos e dos nossos camaradas que comentaram este poste:

(i) faltam "peças" a este documento que resultou de um "briefing" do CEMGFA, em Bissau, em 8/6/1973; (há referência a pontos e anexos anteriores);

(ii) todos sabemos hoje, e isso tem vindo a ser reforçado pelos testemunhos dos nossos camaradas que estiveram nos últimos dois anos no CTIG (1973/74), e que temos vindo aqui a publicar no nosso blogue ao longo dos anos, que a situação militar, no terreno, não se vai agravar depois dos 3 G (Guileje, Gadamael, Guidaje), em maio/junho de 1973;

(iii) não está em causa o patriotismo, a abnegação, a valentia das NT; se calhar o moral das NT em 1973/74 não era melhor nem pior do que no meu tempo (1969/71) ou do que em 1963/65...

(iv) nem podemos, de ânimo leve, passar um "atestado de incompetência" aos nossos comandantes militares nem ao chefe da 2ª Rep que, se calhar, nunca saiu de Bissau: em todo o caso, escrever, por exemplo, que o PAIGG tinha 9 a 10 mil combatentes e armamento muito superior parece-me que não é "intelectualmente honesto"; mas os burocratas, mesmo não decidindo, gostam de influenciar as decisões tomadas pelos chefes;

(v) não sabemos se o próprio Spínola estava empenhado, conscientemente ou não, em pintar o quadro com tons mais carregados, para obter mais dividendos, "político-militares", junto do poder em Lisboa; ou se manipulava (ou mandava manipular) a informação apenas para poder sair em grande e ser glorificado, no futuro, pela história...

(vi) quem tem de decidir (escolher entre duas ou mais alternativas) precisa de muita informação; e sobretudo de informação de qualidade; o que pressupõe liberdade para recolher e tratar a informação, e muitas competências (que os nossos serviços de informção, e muito menos a PIDE/DGS, não possuíam); se calhar, este foi um dos nossos pontos fracos, o serviço de inteligência militar; o nosso exército (e as suas chefias) podiam ser bons no plano tático e operacional, mas não estratégico...

(vii) reparem no caricato da situação: Costa Gomes vai ao CTIG,em 6 de junho de 1973, com um "staff", reduzido a um coronel!... (Arménio Nuno Ramires de Oliveira, já falecido, há menos de anos, com o posto de general (1925-2013), transmontano, tal como Costa Gomes)...

E para acabar, estamos a falar do passado, não para nos autoflagelarmo-nos, mas para percebermos melhor o texto e o contexto da guerra para a qual, aos 20/22 anos, fomos chamados em nome da Pátria.

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, será que não conseguiremos ter acesso um dia aos discursos na ONU de Paulo Cunha e Franco Nogueira, praticamente mensais, desde que em Angola em 1961 se meteu Kennedy e Krutchev?

Sabemos das "merdas" que a ONU fez, no mundo inteiro, sob o domínio da URRSS, EUA, França e Inglaterra, durante a guerra fria.

Os nossos ministros na ONU, indirectamente já denunciavam os Estados petrolíferos nas mãos de cipaios neo-colonizados.

Será que Amilcar Cabral, que também via, escrevia, sobre essas barbaridades criadas em África,não terá tentado contrariar "aqueles ventos da história" e já nem a independência a 24 de Setembro na ONU pretendia?

(Amílcar batia na tecla do neo-colonialismo bárbaro, como um pesadelo que queria evitar)

Essa independência, 9 meses após o seu assassinato, não seria algo que o próprio Amílcar Cabral, pretendia preparar e até adiar?

Claro que o processo de Amílcar Cabral já tinha sido assumido pelos cubanos russos e suecos, e Amílcar já tinha perdido o controle.

Luís Graça, já deve haver coisas desclassificadas, mesmo de Angola e Moçambique que é preciso trazer para completar o puzle.





Luís Graça disse...

Rosinha em relação à Organização Mundial da Saúde (OMS), que é um organismo especializado das Nações Unidas, a que Portugal pertence desde a sua fundação (em 1948), ainda antes mesmo de entrar para a ONU, temos acesso às intervenções da delegação portuguesa às assembleias mundiais de saúde, que são todos os anos em maio, em Genebra. Estou com a mão a massa, e tenho os pdf, em inglês, das intervenções dos nossos delegados, nomeadamente desde os finais de 1950 (o nosso ministério da saúde foi criado em 1958) até ao 25 de abril. Com tempo, posso tentar recuperar e traduzir algumas dessas intervenções mais "quentes" por causa do problema ultramarino... Em relação à ONU, também deve haver registos.. Vou procurar, ando à volta destas coisas porque tenho um trabalho em mãos sobre a evolução da saúde pública e da medicina tropical durante o Estado Novo... LG

antonio graça de abreu disse...

"Em 24 de Setembro de 1973 era solenemente proclamada a República da Guiné-Bissau."

Coisas da História, falsa e mal contada, em que meio mundo acreditou e ainda hoje as boas almas acreditam. Sabemos, sem sofismas nem paixões, que a proclamação da República da Guiné Bissau aconteceu fora do território da Guiné-Bissau, por uma razão simples, os proclamadores e governantes da República da Guiné-Bissau não controlavam um território e exerciam quase nenhum poder numa pátria que haviam acabado de declarar independente. Assim se enganou mais de meio mundo. Eram os "ventos da História". Mas os anos passaram, distanciados das paixões da época, apetece dizer "chega de aldrabices."
Mas os povos da Guiné-Bissau tinham todo o direito a libertarem-se do poder colonial, a serem donos do seu próprio destino, a construirem uma sociedade melhor e mais justa, Infelizmente tal jamais aconteceu, e não foi por culpa de Portugal e dos portugueses.

Abraço,

António Graça de Abreu

Manuel Luís Lomba disse...

Para este tema, vou dar de barato o direito do povo bissau-guineense à sua emancipação política de Portugal, remetendo-me à condição de soldado, enquanto servidor de Portugal na Guiné.
Baldeados de Bula para Fulacunda, do Oio e Morés para Buba, para o Cantanhez, Cafine e Cufar, daqui para Madina do Boé, Beli, Buruntuma, etc, carregando sacrifícios, sofrimentos e acumulando decepções, cedo nos apercebemos andar investidos numa guerra de "estado-maior", impossível de resolver àquela moda, táctica e estratégica. E como o PAIGC já apregoava, controlar dois terços da Guiné, a partir de Conacri, menos Bissau e Safim, a minha simples Companhia de intervenção, podia, pela mesma razão, gabar-se de controlar toda a Guiné,partir de Bissau e da jangada de João Landim! O nosso Exército Português era o fundado por D. Afonso Henriques, o do futuro "25 de Abril" e não outro - aquele do 26 de Abril...

Sabe-se tudo e todos os que mataram Amílcar Cabral e nada se sabe do mandante?! Já foi dito no blogue que ele se opunha ao guerrear pelo extermínio, que se opunha às idiossincrasias de Sekou Touré, que andava a meter a mão na "massa" oriunda da Suécia e dos outros dadores, no armamento soviético que aportava a Conacri e lhe complicava a manobra de introduzir "aviões diplomáticos" à sua luta, que encetara negociações com Portugal e que diligenciava para se transferir para o Senegal...
O general Costa Gomes foi inspeccionar a Guiné no rescaldo do abandono de Guileje e da crise dos três G´s. A acta divulgada pelo ilustre companheiro José Matos cinge-se ao CTIG, ou seja, ao Exército, não ao Comando marítimo nem ao Comando Zona aérea - e faz transparecer o elevado "coeficiente de cagaço" da avaliação dos efectivos e da força aérea do PAIGC.
O general Costa Gomes terá sido o mais talentoso comandante dessa guerra, havendo a sua equipa (Bethencourt Rodrigues, Passos Ramos e outros) asfixiado a guerra de Angola e iniciado a asfixia da guerra em Moçambique - reconhecimento de Samora Machel, no discurso proferido nas cerimónias da independência. Para ele e sua equipa, a Guiné era defensável - na base da subtracção as guarnições fronteiriças ao alcance do morteiro 120 e aos obuses 140, estes exclusivamente fixos além fronteiras e exclusivamente operados por russos. Ante o potencial do armamento do IN - abrigar, abrigar!E recomendou o general Bethencourt para render o "derrotado" general Spínola, que o MFA de Bissau derrotará, em 26 de Abril.
Um precursor da Guerra do Ultramar terá sido o então senador democrata John Kennedy, ao abonar 100 mil dólares em mão a Holden Roberto, a financiar o genocídio da sua UPA no norte de Angola, a preceder a sua presidência dos USA, um garoto segundo Salazar e um flácido playboy, segundo o líder da URRS Nikita Kroutchev, com o seu à vontade, depois de lhe haver apalpado o pulso, com as crises do "muro de Berlim" e dos "mísseis de Cuba" - impensáveis na presidência do respeitado general Eisenhower.
E para concluir, Portugal e os povos do seu Ultramar terão tido o azar de o "muro de Berlim" ter caído com 14 anos de atraso...

Manuel Luís Lomba disse...

Por qualquer razão técnica (ou decorrente do factor PI), só me apercebi da extensão do documento do José Matos depois de publicar o comentário - falha penitencial. Os comandos da Marinha e da Força Aérea participaram e concordaram com a visão da guerra defensiva do general Spínola e do brigadeiro Leitão Marques, como manobra para aguentar a demora da "solução política". Enquanto o Exército andava atemorizado, exorbitando o efectivo, a artilharia e os MiG do IN, a Marinha não debitava temor e a Força Aérea mostrava apenas preocupação pela sua reduzida capacidade da defesa anti-aérea.
A História demonstra que a derrota de Guileje foi demérito do Alto-comando: teve medo de reocupar e segurar a povoação e o aquartelamento - o comando do PAIGC seguiu-lhe o exemplo...
Vitaminou o IN, ao não lhe cortar a retaguarda, quando do ataque a Gadamael: O comando do PAIGC ousara aproximar a sua artilharia desse seu objectivo e retirá-la ao lombo de carregadores humanos, já na época das chuvas...
O sucesso alcançado em Guidaje e em Gadamael resultou do ataque à origem, como a melhor defesa...
Que a poderosa artilharia do PAIGC não era causadora de baixas significativas...
Que os temíveis aviões MiG nunca apareceram - eram invisíveis...
Que perdera 50% dos seus blindados (tinham 2) no cerco e ataque a Pirada: tiveram pela frente um punhado de malta que os obrigou a retirar a tiro de morteiro de 60, matando-lhe o comandante...
Que o PAIGC não repetiu a aventura dos 3G´s sobre Buruntuma, porque a malta do ar de Bissalanca ousara fixá-lo previamente em Koundara...
Que os Strella haviam perdido a virtude de abater aviões...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Ciclicamente, não apenas neste blog, mas principalmente, revisitam-se enublados mitos: um deles, o papão dos strella e nexos de causalidade nunca ou mal demonstrados; ou, quando demonstradas as manobras de bastidor e as inerentes falácias propagadas por quantos lhe interessa sustentar a tese da "guerra perdida" (porque) "guerra injusta", etc etc que desaguou no carmo onde caiu a trindade, têm-se-lhes seguido ensurdecedores silêncios.
Ao momento da reunião supra documentada (08Jun73), já o CEMGFA e tb o CCFAG/vice-rei da Guiné, estavam ambos de candeias às avessas com o regime, além do que na Metrópole fora iniciada a agitprop castrense contra o designado 'Congresso dos Combatentes', com o subsequente bruá entre a oficialidade "de Bissau", prenúncio, contaminado, para o avanço do proto-MFA.
Analisar aquele 'doc' apenas à luz da "crise dos mísseis" (?!) e da cegada "de Guileje-Gadamael", abstraindo o que se passou nas retaguardas abandonistas (quer em Lisboa quer em Bissau), é não só redutor em termos de apreciação historiográfica, como persistir na adopção do permanente argumentário ideológico que sustenta este regime (o da III República), o qual apenas admite como de interesse para a 'curricula' tudo quanto "valide" a tal "guerra injusta".
Mais poderia escrever; mas fico-me por aqui.
Cpts,
JCAS