Amadora > RI 1 > 1968 > CCAÇ 2402, em formação > De pé e da esquerda para a direita, o Raul Albino, o Francisco Silva e o Medeiros Ferreira, aspirantes milicianos. [Os dois primeiros são membros da nossa Tabanca Grande.]
O João Bonifácio, ex-furriel mil SAM, CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) e que vive no Canadá, evocou aqui no poste P1592, o exemplo do Medeiros Ferreira que, como é publicamente sabido, não compareceu ao embarque, para a Guiné . Ele é, das nossas figuras públicas, talvez o mais conhecido dos desertores da guerra colonial.
Na foto acima, o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Mário Soares (I Governo Constitucional, 1976/78), historiador e professor universitário (FSCH/NOVA), já falecido, José Medeiros Ferreira (Ponta Delgada, 1942 - Lisboa, 2014), aparece assinalado com um círculo a vermelho. Foi também um dos principais dirigentes estudantis durante a crise académica de 1962.
Foto: © Raul Albino (2006). Todos os direitos reservados.
Cartaz do Colóquio O (as)salto da memória", 27 de outubro de 2016, FSCH / NOVA, Lisboa
1. Reprodução de excerto, com a devida vénia, de notícia da Lusa, publicada no DN - Diário de Notícias, de ontem, "Mais de oito mil soldados desertaram da Guerra Colonial"
(...) O número de militares do Exército Português que desertaram entre 1961 e 1973 ultrapassou os oito mil, segundo uma investigação dos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins que vai ser apresentada num colóquio sobre deserção e exílio.
"Este número, baseado em fontes militares, é um número que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre o pessoal já incorporado", disse à Lusa Miguel Cardina, um dos autores da análise histórica sobre o fenómeno da deserção da Guerra Colonial.
Miguel Cardina antecipou à Lusa algumas das conclusões do estudo que será apresentado na próxima quinta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas [da Universidade NOVA de Lisboa], em Lisboa.
"Tínhamos algumas referências a números mas eram parcelares e faziam eco de um certo tipo de deserções. O que nós vamos mostrar é que a deserção é um fenómeno mais complexo do que aquilo que se considerava", explicou.
Os historiadores do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, vão apresentar os dados finais do estudo no colóquio "O (as)salto da memória: histórias, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio", que se realiza na quinta-feira, no qual será também apresentada documentação inédita sobre desertores da Guerra Colonial.
De acordo com os investigadores, o número definitivo do novo estudo sobre militares que desertaram da Guerra Colonial "pode pecar por defeito" porque ainda não é possível contabilizar os dados referentes a todos os territórios e o estudo tem como base apenas fontes do Exército.
O Código de Justiça Militar definia como desertor aquele que não comparecia na instalação militar a que pertencia num prazo limite de oito dias.
Segundo Miguel Cardina, para compreender o fenómeno da recusa de ir à guerra, além dos militares que desertaram, é preciso também considerar os refratários - jovens que faziam a inspeção mas que fugiam antes da incorporação - e os faltosos, que nem sequer faziam a inspeção militar.
"Temos dados que indicam que entre 1967 e 1969 cerca de dois por cento dos jovens que são chamados à inspeção foram refratários. Este número é certamente superior ao número dos desertores. Os faltosos são aqueles que nem sequer se apresentam à inspeção. Dados de 1985 do Estado-Maior do Exército indicam que cerca de 200 mil terão abandonado o país. Na década de 1970, cerca de vinte por cento dos jovens que deveriam fazer a inspeção já não se encontravam no país", indicou o historiador do CES.
Para Miguel Cardina, o "processo de afastamento e fuga" da estrutura militar deve ser estudado com profundidade e, por isso, o estudo começa pelos desertores - porque não existiam números conhecidos até ao momento - mas frisou que é preciso considerar as outras categorias: os refratários e os faltosos.
"Temos de colocar estas três categorias na mesma equação, sabendo que elas são diferentes e têm uma ligação com o fenómeno da guerra, também ela diferente. É natural que, no quadro dos faltosos, a guerra possa estar presente mas não tem o mesmo peso que tem nos refratários e também nos desertores", explicou.
Segundo o historiador, o "fenómeno dos faltosos" cruza-se com o fenómeno da emigração, sendo que uma boa parte destes jovens não estavam a "fugir da guerra" mas também da falta de perspetivas de futuro, ou seja, "a guerra podia ser" uma das motivações para o ato de emigrar.
A primeira conclusão do estudo indica, sobretudo, que a Guerra Colonial tem ainda aspetos de natureza historiográfica que é preciso aprofundar e torna evidente que a temática do exílio, da deserção e da recusa da guerra precisa de ser estudada. (...)
Sobre os militares que desertaram, Miguel Cardina indicou que "todas as histórias de fuga são individuais" e que, por isso, devem ser tidos em conta os portugueses que vão para a África e que desertam das colónias, refugiando-se em Argel ou na Europa, assim como os africanos incorporados nas forças portuguesas.
Cardina frisou que, nos anos finais do conflito colonial, há um fenómeno de africanização das tropas, "porque havia pouca gente e, por isso, havia necessidade de soldados para a guerra", verificando-se que muitos africanos incorporados na tropa portuguesa constituem, em muitos casos, um fluxo específico de deserção.
O colóquio é organizado pela Associação dos Exilados Portugueses (AEP61-74) [, tem página no Facebook, aqui], Centro de Documentação 25 de Abril, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) e Instituto de História Contemporânea.
Vão estar presentes, além de Miguel Cardina e Susana Martins, os historiadores Rui Bebiano, do Centro de Documentação 25 de Abril, Victor Pereira, da Universidade de Pau, em França, e os historiadores Irene Pimentel, Sónia Ferreira, Sónia Vespeira de Almeida e Cristina Santinho.
O presidente da Associação de Exilados Políticos Portugueses, Fernando Cardoso, disse à Lusa que a questão dos desertores da Guerra Colonial (1961-1974) deve ser "analisada com profundidade" porque ainda divide a sociedade portuguesa. (...)
2. Recorte do Expresso, com data de ontem > Centro de Documentação 25 Abril divulga material sobre desertores da Guerra Colonial
(...) O Centro de Documentação 25 de Abril está a preparar documentação inédita sobre desertores da Guerra Colonial para divulgar durante o colóquio sobre a deserção, na próxima quinta-feira, em Lisboa.
“Basicamente, são documentos, muitos deles pessoais e de organizações que se destinavam a apoiar politicamente e pessoalmente os desertores, e que não são conhecidos. Muitas destas organizações resultaram de circunstâncias que já passaram e que só existiram enquanto foram necessárias”, disse à Lusa Rui Bebiano, historiador e diretor do Centro de Documentação 25 de Abril.
O historiador é um dos participantes no colóquio “O (as)salto da memória: história, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio”, que vai decorrer na próxima quinta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa.
A divulgação inicial de material respeitante à deserção da Guerra Colonial (1961-1975) - através do site do Centro de Documentação 25 de Abril - está integrada nos trabalhos do colóquio e organiza documentos pessoais e de material de países estrangeiros que apoiavam os movimentos de libertação nas antigas colónias portuguesas, assim como os militares que decidiram desertar.
“Nós temos o espólio de organizações de apoio aos desertores na Suécia, na Holanda e em França e temos materiais que nos foram cedidos por exilados e desertores, e é isso que vamos apresentar nesta exposição virtual”, acrescentou Rui Bebiano.
Além da apresentação do material de arquivo, o diretor do Centro de Documentação 25 de Abril vai também fazer uma comunicação que levanta a interrogação sobre se os desertores da Guerra Colonial foram heróis ou traidores.
“Pretendo refletir sobre esta divisão entre aquelas pessoas que consideram os desertores como heróis e aqueles que vêm os desertores como traidores. Há aqui duas vertentes: há pessoas que pensam que o desertor abandonou o teatro de guerra por medo, porque não queria morrer ou ficar ferido. Essas pessoas continuam a pensar da mesma maneira, ainda hoje”, referiu Rui Bebiano, sublinhando que a sociedade portuguesa ignora os motivos da deserção assim como a realidade vivida pelos exilados e desertores antes de 1974.
“É preciso desfazer a ideia de que o desertor ia para uma bela vida no estrangeiro porque, na verdade, foi uma vida de dificuldades e de privações”, afirmou o historiador.
“A animosidade em relação aos desertores – que perdura nos dias de hoje - deve-se à ausência de memória. Não se conhecem as razões que levaram as pessoas a desertar e desconhece-se como foi a vida que essas pessoas levaram a partir do momento em que escolheram não combater, e isso é muito importante. É por isso que este colóquio faz todo o sentido”, disse Rui Bebiano, considerando que se trata de um assunto “esquecido” pela sociedade portuguesa. (**)
“O importante é a compreensão, quer em relação àqueles que decidiram desertar como também em relação a todos os que quiseram combater”, concluiu. (...) (***)
(Excerto reproduzido com a devida vénia...)
________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho
(*) Vd. poste de 14 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho
(...) [João Bonifácio:] Pessoalmente, acho que cada um de nós tem o direito a demonstrar o seu ponto de vista, mesmo que negativo. Depois do 25 de Abril, penso que todos os que foram obrigados pelo antigo regime de Salazar e Marcelo Caetano, a refugiar-se em certos países da Europa, puderam todos, ou quase todos, regressar a Portugal e restabelecer as suas vidas junto aos seus familiares.
Por isso, penso que este tema, por muito complicado que seja, deverá ser discutido abertamente por todos os que sintam ter as suas ideias quanto aos chamados desertores. Hoje, e depois de ler neste blogue que o Amigo Luís em tão boa hora iniciou, ter lido das dificuldades de tantos militares, que por pouco não foram apanhados à mão e até fugiram para o mato, para não falar do abandono total por parte dos chefes da guerra em abandonar estes nossos irmãos, até já fiz a pergunta se eu não deveria ter feito o mesmo. (...)
(...) [Paul Raposo:] Quem fugiu, foi por medo, conveniência, comodismo, etc. Uma coisa é certa, por política é que não foi. Esta de, à ultima da hora, vir dizer que se era antifacista, não cola. Se havia assim tantos, então no tempo da outra senhora onde andavam? Andavam a mamar à custa do regime e, para se branquearem, viraram resistentes para aranjarem novos tachos. Cambada de oportunistas.
Atenção, não me compete criticar ninguém, mas galos e perús não são todos uns. Bem me custou o embarque, fugir era mais fácil. (...)
(...) J. L. Vacas de Carvalho:] Uma parte da minha consciência diz que não devemos fazer juízos de valor sobre as causas que levaram um português a desertar. pode ter sido por razões familiares, razões de consciência ou por outras razões que não me compete a mim julgar ou criticar. Outra parte de mim diz-me que eles simplesmente fugiram, tiveram medo, acobardaram-se. Ponto final. Admiti-los no nosso blogue é uma traição a quem lá esteve e que por quem lá morreu. No entanto o nosso Presidente no seu mais alto critério assim o decidirá.(...)
(**) "Desertores" é um dos temas fraturantes do nosso blogue, que é um blogue de combatentes, dos que cumpriram o dever como portugueses, independentemente das reservas ou objeções (políticas, ideológicas, religiosas, morais, etc.) que podia, ter ou não em relação àquela guerra.
Temos, mesmo assim, cerca de meia centenas de referências com o marcador "desertores"... Em prosa,. em verso: vd. por exemplo poste de 2 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13680: Manuscrito(s) (Luís Graça) (40): Selfies /autorretratos: o meu amigo F..., pintor, e eu... Queria que fôssemos, a salto, até Paris, em 1965...
Temos, mesmo assim, cerca de meia centenas de referências com o marcador "desertores"... Em prosa,. em verso: vd. por exemplo poste de 2 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13680: Manuscrito(s) (Luís Graça) (40): Selfies /autorretratos: o meu amigo F..., pintor, e eu... Queria que fôssemos, a salto, até Paris, em 1965...
(***) Último poste da série > 21 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16510: Recortes de imprensa (82): A notícia da morte de Amílcar Cabral e as cinco razões apresentadas para uma eventual explicação do crime, dadas pelo "Diário de Lisboa", de 22/1/1973, jornal vespertino conotado com a oposição democrática ao Estado Novo. que se pubicou entre 1921 e 1990
29 comentários:
desertor | adj. s. m.
Convenhamos que a palavra é feia, tem uma forte "carga" negativa, denotação e conotação, na nossa língua... Mas os desertores também têm direito à palavra, como nós, ex-combatentes...Se não aqui, noutros sítios...
____________
de·ser·tor |ô|
(latim desertor, -oris, aquele que abandona)
adjectivo e substantivo masculino
1. Diz-se de ou militar que deserta.
2. Que ou quem abandona um partido para se filiar noutro.
3. Que ou quem deixa de ser assíduo.
Palavras relacionadas: trânsfuga, tornadiço, barrachel, tornilheiro, prófugo, fugitivo, foragido.
"desertor", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/desertor [consultado em 22-10-2016].
Camaradas:
Como já contei aqui no blogue (poste P12628), também fui refratário. Como muitas vezes referi, tive sempre muita sorte na tropa e na guerra. Como disse no tal poste o ter sido refratário proporcionou-me concluir dois anos do meu curso, um antes de saber que estava nessa situação e outro quando esperava que me chamassem novamente.
Até à próxima.
Fernando Gouveia
Conheço pessoalmente quem desertou
Conheço quem desertou e depois regressou para ser incorporado
Orgulho-me das suas amizades.
Também ouvi falar dos sacrificios e das constante perseguições, a que eram sugeitos em terras estranhas ou quando regressavam na clandestinidade.
Tenho ideia de que na altura os que fugiram antes ou desertaram após a incorporação, não
eram odiados como hoje.
Falava-se deles há boca pequena, ( há boca pequena sim, pois era preciso cuidado em falar disso e de outras coisas, em voz alta) com um misto de inveja, pois eles tinham tido a coragem de afrontar o regime, que não se lembram, era praticamente odiado por todos.
A falta de memória ou a sua reconstrução tem destas coisas. Constroem-se estas, como de fatos há medida, pois os daquele tempo já não nos servem.
Uns escolheram fugir, outros regressar, ou embarcar, mas a maioria como no meu caso deixaram que escolhessem por eles e fomos lamentando ter que ir.
Quanto muito estávamos curiosos e esperávamos, que a "taluda" de voltar sem uma perna ou as duas, ou mesmo encaixotado, não nos calhasse e assim voltarmos para as famílias, namoradas e a vida sonhada tantas noites, no mato ou nos postos de reforço.
Um abraço
Olá Camaradas
Desertor é o militar "que deserta". Isto é, o que foi incorporado, está nas fileiras e as abandona, ao fim de algum tempo.
Ponho à consideração do blog que "puxe pelas memórias" e tente lembra-se de quantos militares desertaram nas unidades a que cada um pertenceu. Creio que o número de desertores "na frente de batalha", foi absolutamente residual, creio que por falta de confiança no "tratamento" que o inimigo lhes daria. Podemos lançar um inquérito "à Luís Graça" com a pergunta quantos camaradas desertaram na minha unidade no TO daquela PU? As cinco hipóteses: nenhum, um, dois três, mais de três. Não se aceitam respostas do não sei/não me lembro, uma vez que um caso de deserção numa companhoa era um caso muito falado. Será de excluir a deserção dos naturais da PU? Ou deverão ter um tratamento estatístico à parte?
No fundo, estavam nas mesmas condições dos que desertavam nas unidades metropolitanas. Há também o caso dos que desertavam "para trabalhar". Tive vários casos de homens que desertavam - ausentavam-se por mais de 8 dias se eram prontos ou mais de 15 dias na recruta - para irem trabalhar nas colheitas e outros trabalhos agrícolas e depois, finda a tarefa, voltavam.
(continua)
Cá estou eu outra vez!
Este tipo de deserção levanta a questão do "patriotismo" do nosso povo. É um conceito escorregadio que se poderia medir pelo número de "voluntários". No fundo, "aquilo da tropa era uma chatice". Pagavam uma miséria, davam comida que até podia ser em quantidade mas, às vezes, não era assim tão boa e era muito diferente da de "lá de casa".
(A questão da comida é/era) importante).
O ambiente do quartel (caserna e refeitório) tinha muito que se lhe dissesse...
Ensinavam(?) coisas que não interessavam para nada e até mandavam fazer ginástica que só servia para cansar e chatear. Ukék eutouakiafazer? Uké isso da pátria?
Este tipo de desertores era frequente e, quando punidos pelo crime, não entendiam o que tinha passado e alegavam que não tinham cometido crime nenhum e até diziam:
- Eu não fugi. Precisava de ir para sustentar a família.
A legislação sobre "amparos" era e tinha de ser muito restritiva. E tudo acabava no embarque para o TO de alguma PU.
Desertores "ideológicos", nas unidades territoriais era poucos. Poderemos lançar mais um inquérito, pois assistimos a casos de deserção sem regresso e, na minha opinião, são estes os verdadeiros desertores, os que se recusaram a fazer a guerra e preferiram deixar o país definitivamente e reiniciar a vida noutro país. Claro que a consulta Às ordens de serviço das unidades não permite destrinças entre as diferentes situações.
Para ser sincero, desconfio um bocado do número de desertores, se for aplicada a definição exacta dos regulamentos.
À consideração superior
Um Ab.
António J. P. Costa
Tenho alguns amigos de Juventude que desertaram e alguns simplesmente não se apresentaram para o serviço militar obrigatório.
Todos eles na altura desertam por motivos políticos ,pois que faziam parte de um grupo de intervenção "revolucionária" eu diria Contestatária . Só que nessa época contestar fosse o que fosse já se era "Comunista Subversivo ".E como todos nós embalados pela contestação dedicamos algum tempo a fazer um Jornal mais ao menos contestatário e algumas acções interventivas de aspecto revolucionário nas zonas mais pobres do Porto e diga-se de passagem apoiados por algumas figuras mais adultas e já referenciadas nos arquivos da PIDE.
Daí aqueles mais corajosos e quiçá mais aventureiros tomaram a decisão de fugirem para França ficando lá a depois de Abril de 1974.
Tenho a certeza que nada teve a ver com cobardia de ir ou não para o Ultramar. Penso até que começou a ser até uma espécie de "moda contestatária" ao regime.Que aliá trouxe grandes problemas aos familiares especialmente quando tinham casas camarárias ou empregos ligados ao estado.
Bom este foi o meu comentário á situação da altura que na verdade o tempo veio a dar razão aqueles que resolveram desertar ou faltar ao serviço militar fossem qual fossem as suas razões.
Os outros que somos nós. Fomos á tropa , fomos á guerra e ficamos mais "Homens" como se dizia na altura.
Um abraço.
Henrique Cerqueira
Só desertaram, ou se negaram a ir, apenas aqueles que não faziam falta absolutamente nenhuma.
Na maior parte dos casos até seriam as famílias-bem que punham os seus meninos-prodígio a salvo em Berna, Paris, Estocolmo etc.
Ao menos os que foram para os "bidonville" até ainda mandavam as remessas de pedreiro, que Salazar recebia como se de um esforço pela pátria, se tratasse.
Recentemente vinha nos jornais, que estava preparada uma pequena força de Comandos tugas, para embarcar para a República Centro Africana, a terra do Imperador Bokassa, imitador africano de Napoleão, de um país independente desde 1960.
Ora, aqueles que foram desertores ou refractários nunca compreenderão a razão da ida agora de "tugas" para aquela república centro africana, nem compreendem nem querem saber, mas a nós ex-tugas, dá-nos volta ao estômago.
O nosso esforço, ainda vai ser um dia compreendido (na Europa e em África) internacionalmente pela história.
Mas como disse António J.P.Costa, era interessante um inquérito interno para cada qual apontar o número de desertores dentro das suas unidades e daí fazer uma extrapolação possível.
Como digo sempre, só faziam falta os que lá estávamos.
Olá Camaradas
Parece-me que estamos a referir como "desertor" qualquer homem que fugiu ao serviço militar, quer tenha fugido adolescente - antes de "dar o nome" - quer o tenha dado e tenha fugido quando a incorporação se aproximava. Estes números são muito consideráveis, mas creio que não sejam determináveis com grande exactidão. Julgo que os serviços não os controlavam, nem para efeito de estatística, o que poderia medir a impopularidade da guerra ou patriotismo do povo. Este resultado poderia ser decepcionante para os "guerristas".
Para se ser desertor - naquele tempo e hoje - é necessário ter-se sido incorporado. Era, nos termos da lei do tempo, um crime "essencialmente militar", ou seja, um crime que só os militares podiam cometer. Hoje a legislação mudou e não existe este tipo de crimes.
Se se não era incorporado era-se civil e, quanto muito, deixava de se cumprir "um dever de cidadania" como se diz hoje.
Neste âmbito, considerando que os membros do blog são ex-militares, teremos de tomar como verdadeiros os elementos fornecidos pelos investigadores, relativos àquelas duas situações. Seria bom que eles indicassem o seu método de trabalho, técnica de interpretação de elementos disponíveis e fontes consultadas.
Aqui, era interessante consultarmos as histórias das unidades, onde as deserções em face do inimigo deverão vir assinaladas e, talvez, personificadas.
O tal inquérito sobre esta matéria seria interessante...
Para a maioria dos membros do blog, dada a curta permanência na "metrópole", será difícil fornecer números de desertores nas unidades do continente e ilhas.
Um Ab.
António J. P. Costa
Parece que os historiadores Miguel Cardina e Susana Martins baralharam a designação de "desertor" com as de faltoso e refractário. 8.000 desertores em 1961-1973 ? Não acredito. Se alguém consultar um livro de quatro generais (1977), o Gen. Silvino Silvério Marques, com base em fontes oficiais, diz que entre 1961 e 1969, somente desertaram, em Angola, Moçambique e Guiné, 103 militares (incluindo os efectivos do recrutamento local). Apenas não refere os desertores no Continente português, que não terão maior percentagem que naqueles Teatros de Op.s, pois cá o que sucedia era serem faltosos ou refractários. Se a versão destes historiadores fosse verdade, em 1970-73 teriam que ter desertado mais de 7.500, o que não é minimamente credível.
Tó Zé, também as minhas reserva aos "oito mil ou mais desertores"... Eu sei que a guerra durou quase década e meia, e pelos vários teatros de operaçõe passaram mais de um milhão de homens (incluindo os do recrutamento local)...
Mesmo assim, oito mil é menos de um porcento... Pessoalmente tinha fixado um número, os 3 mil, também já não sei qual é a fonte, a par dos tais 200 mil refratários... Mas se vocês, tropa, Forças Armadas, três ramos, e em especial exército, não têm estes números, ninguém mais os terá...
Desertores, copnfesso que não conheci nenhum nem na tropa nem na Guiné, no meu tempo (europeus ou africanos)... Não sei qual é a "metodologia" usada pelos investigadores, e muito menos as "fontes"...
Era importante poder discriminar a origem dos desertores e o local de deserção: houve quem desertasse na véspera do embarque ou no meio da comissão, na altura das férias, quando vinha à metrópole... Ou então se estava em missões ao estrangeiro: tenho 3 amigos, que foram oficiais da Marinha, que desertaram, em França, quando o seu navio fez escala num dos portos atlânticos franceses... São os únicos que pessoalmemnte conheço (um infelizmente já morreu, o Marcelino Henriques, com quem trabalhei nos "tempos heroicos" da informatização da "máquina fiscal")...
Não sei se os investigadiores estão a contabilizar milícias, por exemplo... Por outro lado, e nomeadamente em Angola e Moçambique, deve ter havido casos de deserções de pânico, por parte do pessoal do recrutamento local, no "final da guerra"... Não sei se houve "deserções em massa", como acontece no final das guerras...
Agora faltosos (à inspeção militar) e refratários (, mancebos que foram às sortes e que ficaram apurados para o serviço militar e que entretanto se puseram na alheta...) são outra coisa... Técnica, legal, semântica e concetualmente falando, são "figuras" distintas... Ou não ? Às vezes mete-se tudo no mesmo saco: "deu o salto para França, foi desertor"...
Tenho conterrâneos, amigos ou conhecido, que foram refratários: ou porque os pais já estavam em França, ou por que o papá, em Portugal, tinha "teres e saberes", pondo o rebento a bom recato, em França, na Alemanha, na Suécia...A guerra haveria de acabar um dia, e tudo se resolveria... E depois há sempre aq possibilidade da família se reunir: Paris era mais perto do que Guileje ou Madina do Boé; a Suécia era mais perto do que Moçambique ou Angola...
E depois para os "universitários" não era preciso "desertar", bastava não sairem fora dos "carris", uma vez "doutores" ou "engenheiros", poderiam inclusive ser "mobilizados", mas não iam parar a atiradores...
Julgo que os desertores no TO da Guiné, independentemente das "razões" por que desertaram (, das mais "nobres" às mais "mesquinhas"...) contam-se pelos dedos....Consulte-se, a esse respeito, o Arquivo Amílcar Cabral e outros arquivos, disponíveis no portal Casa comum / Fundação Mário Soares...
http://casacomum.org/cc/pesqArquivo.php?termo=desertores
Há 55 referências em todos os arquivos da Casa Comum, só metade (26) são do Arquivo Amílcar Cabral... 10 do arquivo Carlos Antunes / Isabel do Carmo, e 7 do arquivo do angolano Mário Pinto Andrade...
Tenho um "feeling" a este respeito: refratário e desertor, não foi quem quis, mas sim quem poude (tinha alguma liberdade económica, tinha contactos, redes de apoio, etc.).
Luís e demais camaradas:
Em tempos, no poste P4637, descrevi a história de um condutor de uma "Fox" do EREC, ao nosso lado, em Bafata, que desertou quando veio de férias.
Abraços
Fernando Gouveia
Também se podia fazer um estudo sobre os mancebos que estavam emigrados e vinham a Portugal para cumprir o serviço militar. Conheci alguns na Caldas da Rainha, um deles emigrado em Paris. Na minha Companhia, um dos nossos mortos (este por acidente) estava emigrado na Venezuela.
Carlos Vinhal
Sim, Carlos, já temos falado desses casos aqui no blogue.. Lembro-me de uma história comovente, aqui contada pelo nosso saudoso capitão SGE ref Zé Neto (1929-2007), o nosso primeiro grã-tabanqueiro a inaugurar o nosso cantinho com os nomes dos que, amigos e camaradas, "da lei da morte se foram libertando"...
Vê aqui a história do "Francesinho" que veio morrer a Guileje... "pela Pátria"!... Nunca saberemos quantos foram os vieram de longe, da emigração, os faltosos e os refratários, que voltaram à Pátria "para pagar o imposto de sangue"... Não há historiadires que se interessem por estes portugueses sem voz, sem lóbi, sem imprensa, sem blogues nem páginas no Facebook... Obrigado, Carlos, por teres-te lembrado deles!... É também esse o nosso papel de editores, estarmos atentos aos pequenmos detalhes da história... Um bom domingo. LG
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search?q=Francesinho
Aqui vai a história, bem humorada, contada pelo Fernando Gouveia, num poste já antigo que merece ser revisitado:
3 DE JULHO DE 2009
Guiné 63/74 - P4637: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (8): À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/07/guine-6374-p4637-guerra-vista-de-bafata.html
(...) Vou contar, sim, o que aconteceu, de forma mais simples, mas de certo modo idêntico, com o material à carga no Esquadrão de Rec Fox 2350 instalado ao lado do Comando de Agrupamento de Bafatá, em 1969.
Os três Alferes (às vezes 4 ou 5) do Agrupamento iam comer ao Esquadrão, daí que assisti a todas as fases desta estória caricata.
Em determinada altura um condutor duma auto metralhadora Fox veio de férias à Metrópole e não voltou, desertou. (Não me lembro se já tinha acontecido aquela emboscada em que um rocket IN perfurou a blindagem duma Fox e carbonizou os seus dois ocupantes).
Correu o respectivo auto de deserção. Já depois do auto concluído alguém se lembrou que esse condutor tinha uma pistola distribuída. Todos os responsáveis directos entraram em pânico. Havia que resolver a situação.
Os Alferes do Esquadrão, Rodrigues, Sena, Grosso e Amaral, depois de discutirem vários dias como resolver esse berbicacho decidiram que se daria baixa da pistola no próximo ataque IN a Piche (Dien Bien Piche como também era conhecido dada a quantidade de ataques lá verificada, e por similitude com Dien Bien Phu no Vietname), onde tinham um destacamento.
Ao fim de pouco tempo o ataque deu-se e para os nossos cavaleiros o assunto parecia ter sido resolvido em beleza.
Puro engano, alguém descobriu que o desertor possuía um armário fechado e lá dentro, entre outros pertences, que aliás também deveriam ter sido discriminados no auto, estava, a agora, famigerada pistola.
Muito nos divertimos, os Alferes do Agrupamento, com esta última situação criada. Era ver os Aferes do Esquadrão a não quererem, cada um, nas suas mãos a dita pistola. Parecia que queimava.
Passados quarenta anos não recordo como resolveram este último problema, mas das duas uma, ou alguém se presenteou com uma pistola que já não estava à carga ou então tiveram que esperar por um novo ataque a Piche e fazer um novo auto do achamento de uma pistola. (...)
Em 2007, debatemos com paixão e frontalidade a "fraturante" questão dos desertores e do seu eventual "estatuto" na nossa tertúlia... Publicámos pelo menos uns 13 postes sobre o tema... O Jorge Cabral veio serenar os ânimos com esta belíssima peça de antologia que, de certo modo, passou a "fazer doutrina" no nosso blogue (ou não fosse ele, o "nosso alfero Cabral" um homem sábio, independentemente de ser também um especialista em direito penal):
(...) Há quarenta anos nós jovens optámos. Informados ou desinformados fomos e lá estivémos. Partilhámos medos, sofrimentos, tristezas, alegrias.
Hoje resta-nos a memória desses tempos. E é essa memória corporizada na Tertúlia, que nos une.
A Tertúlia é, e deve continuar a ser, um Fórum de Camaradas, que em pé de igualdade, informam, relatam e recordam.
Quantos desertaram na Guiné? Porquê? Que fizeram depois? Deram informações?
Colaboraram com o Inimigo? Desconheço, mas não lhes atiro pedras. Não me peçam, porém, para os enaltecer, glorificar ou incensar. (...)
17 DE MARÇO DE 2007
Guiné 63/74 - P1606: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (13): Jorge Cabral
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/03/guin-6374-p1606-debates-da-nossa.html
A deserção, tal como o suicídio, pode ser contagiante, sobretudo quando os nossos chefes deu o exemplo... Isso aconteceu, infelizmente, em alguns casos (seguramente raros). Lembromo-nos da CCAÇ 3489 CCAÇ 3489 (Cancolim, 1972/74) e do nbosso pobre Zé Rodrigues,,,
Ainda até há pouco tempo estava muito arreigada na memória do pessoal daquela companhia a imagem (estereotipada e injusta) do Zé Rodrigues como "desertor".
O Rodrigues tinha um "comportamento antisssocial", era agressivo, imprevisível, indisciplinado, "bicho do mato", dizia-se... Ninguém tinha mão nele... A verdade é que o pelotão dele ficou sem alferes, logo cedo, quando este não regressou de férias, na metrópole, tal como o capitão!...
O Rodrigues dava-se ao luxo de sair a seu bel prazer, para ir caçar, sozinho, ou com os caçadores da tabanca... Cancolim parecia andar sem rei nem roque...
O camarada Rui Silva, ex-furriel e nosso grã-tabanqueiro, disse-nos, ao telefone, que a maior parte da malta estava convencida que ele se tinha passado para o inimigo. Durante as 24 horas do seu desaparecimento, andaram atrás do seu rasto até ao Corubal. Encontraram munições (de G3), abandonadas, e que seriam presumivelmente dele... Logo a seguir o destacamento de Sangue Cabomba foi atacado (tal como Caoncolim)... Há quem "visse" o Rodrigues no meio dos "turras", a orientar o ataque!...
A malta nunca lhe perdoou a alegada "traição"!... E nunca fizeram questão de o procurar nem ele porcurou os seus antigos camaradas, na metrópole!... Em Bissau, quando esteve preso por "suspeita de deserção", o 2º comandante do batalhão terá falado com ele...Ele sempre se defendeu dizendo que tinha sido feito prisioneiro pelo PAIGC (e tratado como tal)...
O António Batista, grã-tabanqueiro, que infelizmente já também não está aqui entre nós, mas deixou-os um testemunho em vídeo, disse-nos, por mais de uma vez, que o Rodrigues levava porrada dos carcereiros... Nunca teve nenhum "tratamenyo VIP" como desertor... E aliciou o Batista para fugir com ele...
Fiz questão de dizer, no nosos blogue que estava na altura de reparar esta injustiça... Ele nunca teve oportunidade de se defender em vida!... Agora era tarde, está morto e enterrado!...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Jos%C3%A9%20Ant%C3%B3nio%20Almeida%20Rodrigues
Olá Camaradas
A palavra DESERTOR carrega em sim um sentido pejorativo, acumulado ao longo de séculos, que os críticos da guerra colonial têm explorado a seu favor para enegrecer o quadro e exaltar a "resistência popular" à guerra. Tem impacto! A deserção é um fenómeno que atinge muito os exércitos dos países em que vigora o serviço militar obrigatório e especialmente em tempo de guerra. Tem as mais diversas causas determinadas pelos mais diversos momentos históricos e como tal deve ser estudada, em cada caso.
Considerando que houve faltosos (à inspecção militar) e refractários (mancebos que foram às sortes e que ficaram apurados para o serviço militar e não chegaram a ser incorporados) seria bom que os historiadores distinguissem, à face da Lei e dos regulamentos do tempo, o que era um coisa e outra coisa.
Recordo-me de ler nas OS das unidades territoriais o "LEVANTAMENTO DA NOTA DE REFRACTÁRIO", ou seja, alguém que, sendo considerado naquela situação, se apresentou para o serviço militar. Não sei se a falta lhe era relevada ou se sofria qualquer punição, mesmo simbólica.
A experiência ensinou-me que a exactidão da linguagem é fundamental em História e que, como dizia uma amiga minha, "a ignorância é muito culta"...
Volto ao que disse: será bom que os estudiosos se expliquem acerca das questões que apontei lá atrás.
Um Ab. e bom fds
António J. P. Costa
Julgo que os comentários de Pereira Costa sobre este tema têm sido bastante esclarecedores e, portanto, subscrevo-os. Fiquemos a aguardar o que dirão os referidos historiadores e o que sobre estas dúvidas, sairá do debate da próxima 5.ª feira, a que não poderei comparecer.
A História regista que os méritos, deméritos, momentos e métodos da Descolonização portuguesa do seu Ultramar africano e até de Timor são contas do rosário ideológico dos partido União Nacional e do Partido Comunista Português.
Enquanto aquele mobilizava "rapidamente e em força" para essas guerras, estes contestavam-na vigorosamente, sem abstracção patriótica, ao não preconizar nem apoiar a deserção individual(e perseguir a escala, personificada no MFA), razão pela qual para esses investigadores "todas as histórias de fuga são individuais". Não restarão dúvidas de que, salvo as excepções de confirmação à regra, as deserções, quer de incorporados, quer nos teatros de guerra, pouco ou nada terão de ideológico e muito menos de heroicidade. Que foi o mais corajoso: o que cumpriu o seu dever militar, podendo fugir para a França, ou que fugiu para a França, subtraindo-se ao dever militar? Compreendo os faltosos, refractários e até os desertores; mas nunca lhes consentia a "superioridade" relativamente aos que não o foram. Apenas não condescenderia com traidores. Mas não tenho esse problema porque, sabendo-se que a maior fonte de informações para o PAIGC jorrava dos nossos quartéis-generais, a nossa Guerra do Ultramar será a única do mundo sem arguidos de crime de traição!
E já agora, como ainda não paciente do patológico empenho em nos denegrimos, exorto os investigares académicos e institucionais a pesquisar e a elaborar a estatística de quandos desse milhão de combatentes na Guerra do Ultramar regressaram dos países de acolhimento para cumprir o seu dever de cidadania, de quantos o cumpriram podendo fugir ao seu cumprimento e que após essa atitude de honradez tiveram de fugir a salto, para trabalhar nesses países.
Abraço para todos os comentaristas.
Manuel Luís Lomba
Esse pormenor que menciona Luís Lomba, de haver jovens emigrantes que se apresentaram ao serviço militar, vindos do estrangeiro, esses não interessam ser mencionados, porque distorcem as estatísticas dos "pacifistas nacionais".
Mas enfim, tudo deve ser bem registado, já que mais não seja, para que esses treze anos de guerra jamais sejam esquecidos.
Porque a história não vai ficar distorcida, pois hoje já está sendo escrita não apenas por aqueles que "ouviram falar" e que fugiram a ela, mas mais por aqueles que participaram.
E também está sendo escrita a letras de "sangue" "fome e "terror" pela história destes 40 anos de "paz" em África, que era prevista por toda a Europa e toda a África.
Repescando o que dissemos sobre o tema "nós e os desertores", há quase 10 anos atrás:
17 DE MARÇO DE 2007
Guiné 63/74 - P1604: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (12): J. L. Mendes Gomes
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/03/guin-6374-p1604-debates-da-nossa.html
(...) Quando, logo nos começos, me deparei com as primeiras linhas da história do Medeiros Ferreira, confesso que a minha primeira reacção foi negativa, de rejeição, dum magoado... por reparar. E fiquei à espera do que se viria a dizer, entre nós. Já esperava que esta questão não fosse pacífica... Não vou ser original nem dizer mais do que já foi dito, porque não sou capaz de ver melhor.
Compreendo que quem partiu de cá, foi arriscar a vida, perder e ganhar... dos melhores anos da juventude, viu tombar a seu lado amigos da alma e guardas do corpo e coração...Pela Pátria, que somos todos nós, os de antes, de durante e do depois... Uns com amor, outros com sentido de dever, outros porque não foram capazes de dizer não... De todos estes, os últimos, penso, foram os em menor número...
Quem fugiu, jamais pode descalçar a nódoa da traição... Pelo menos para com os seus camaradas de destino: fugiram, deixaram-nos para trás. Ninguém em perigo ou sofrimento gosta de ficar esquecido... e para trás... Por isso a reacção de rejeição é justa, legítima e muito humana. Penso eu. Se já não há Pátria, com este sentido solidário, andamos todos a fazer figuras de urso...ou de macacos. O País não passa duma confusa sociedade anónima de irresponsabilidade ilimitada... Preferível seria a selva...
Mas, logo depois do 25 de abril, durante aqueles turbulentos tempos que aqui vivemos, abertas as portas para quem quis voltar, aí vieram eles...lá de Paris, da Suiça e sei lá donde. Com luzentes canudos universitários e toda a escola que lá tiraram... Uns próximos, outros próximos dos mais próximos das figuras ou figurões da proa... Foi vê-los a trepar, na escada escancarada da política, passando por cima de tudo e todos, nas escolas, nos empregos... subir...subir, como balões.
Escarneceram e fomentaram o desprezo por nós, ex-combatentes, como uns coitaditos...sem tomates, como os seus, deles, claro.
Que fizeram esses, especialmente, os que se guindaram às cadeiras do poder...nas universidades, nas empresas, em São Bento, por nós?... Que andam a fazer os seus herdeiros e bastardos?...
(...) J. L. Mendes Gomes, ex-allf mil, CCAÇ 728 (Catió, 1964/66) (...)
Mais depoimentos sobre o tema "nós e os desertores"... Aqui vai um excerto do poste:
16 DE MARÇO DE 2007
Guiné 63/74 - P1599: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (11): Paulo Salgado
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/03/guin-6374-p1599-debates-da-nossa.html
(...) Pessoalmente, eu equacionei essa hipótese. Ir para Paris, onde o meu Pai tinha um amigo (não digo o nome dessa Figura porque já faleceu) seria um caminho que se me colocou, digo-o com toda a franqueza. Mas, confesso-vos que o não fiz por duas razões: a primeira porque não queria enfrentar a situação de não voltar a ver a rever a minha mãe e a minha namorada- aquela era adorada e ficaria triste se tal acontecesse; esta porque de facto foi e é a minha paixão, o meu amor.
A segunda razão parece infantil e contraditória (embora politicamente eu não acreditasse em soluções militares): eu tinha a ideia que estava psicológica e militarmente preparado (tinha andado em Lamego em Operações Especiais) e, tendo muito medo, como mais tarde vim a sentir imensas vezes, algo me dizia que voltaria.
Hoje, como diz o A. Marques Lopes, ficaria novamente com grandes dúvidas. (...)
Paulo Salgado, ex-alf mil cav, CCAV 2712, Olossato e Nhacra (197o/72) (...)
Postes anteriores sobre o tema, listados aqui:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/03/guin-6374-p1599-debates-da-nossa.html
13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1585: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (1): Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves
13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema Santos
13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1587: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (3): Vitor Junqueira / Sousa da Castro
13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1588: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (4): Torcato Mendonça / Mário Bravo
13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha
13 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1591: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (6): Pedro Lauret
14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho
14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1593: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (8): A. Marques Lopes
15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1596: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (9): Humberto Reis
15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1597: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (10): Idálio Reis
(2) Vd. post de 2 de Março 2006 > Guiné 63/74 - DCI: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12):
4 DE JUNHO DE 2016
Guiné 63/74 - P16165: Manuscrito(s) (Luís Graça (85): Peço desculpa...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2016/06/guine-6374-p16159-manuscritos-luis.html
__________________
Peço desculpa...
por Luís Graça
Eu fiz o serviço militar obrigatório,
como o meu pai, e os meus avoengos...
Paguei o imposto de sangue
para ter direito a uma Pátria...
Depois do regresso a casa,
vindo da guerra da Guiné,
meia dúzia de anos depois,
talvez por volta de 1977,
lembro-me de ter escrito um poema
que rezava assim:
Eu sou devedor à Pátria,
a Pátria me está devendo,
a Pátria paga-me em vida
eu pago à Pátria em morrendo.
Peço desculpa…
Não tenho boas recordações
das guerras do império.
Só sei que não consegui defendê-lo
até à última gota do meu sangue,
como era dever do meu ministério ...
Em que repartição da Pátria
é que eu poderia apresentar
as minhas desculpas,
mesmo que esfarrapadas ?
Ou até apresentar-me de baraço ao pescoço,
qual Egas Moniz dos anos 70 do século vinte ?
Peço desculpa,
se houve aqui um erro de casting,
ou se alguém me trocou os papéis,
no Terreiro do Paço,
ou se o império e as suas guerras
nunca existiram.
v4, 3jun2016
Caros camaradas
Como exemplo, no Bart.Art.645-AGUIAS NEGRAS,com as Cart. 642-643-644, não houve nenhuma deserção, antes pelo contrário, deu muitos voluntários dos não operacionais para combate. Em Bissorã onde sempre permaneci, passaram inumeras Comp. e garanto que também não houve deserção alguma.
Claro, que pode ter havido ao longo de tantos anos, diversos casos com um numero que passa pouco da centena, como um camarada atrás já referiu.
Estes "historiadores" estão de propósito a misturar os chamados alhos com bugalhos, talvez porque lhes interesse lançar a confusão, desde que acabou a guerra, temos sido vitimas de descrédito a toda a prova, e pelos vistos assim continua Quase tenho a certeza que isto me cheira a politica. Se durante tantos anos a guerra esteve camuflada para a opinião publica, o porquê de só agora virem com este tema? Só agora é que temos historiadores? E para terminar, gostaria de saber a idade desta gente e as fontes de recolha de informação.
24-10-2016-Rogerio Cardoso Cart.643-
Caro Rogério Cardoso:
Eu apenas me considero investigador (até há alguns anos) e não historiador e julgo ter dado algum contributo em relação ao que refere. Veja-se na minha nota biográfica os livros que publiquei.
- Durante 36 anos, desempenhou funções de comando e chefia de pessoal militar e civil, sendo oito em África (Angola e Moçambique), nas quatro comissões por imposição (escala) que cumpriu em 1961/73 (alferes e capitão).
- Após o 25 de Abril, com o posto de major, esteve colocado no Batalhão de Comandos (depois Regimento), a proceder à liquidação do Regimento de Infantaria n.º 1, entretanto extinto, tendo feito parte do Posto de Comando, na Amadora, que coordenou as acções militares de contenção do golpe de 25 de Novembro de 1975. (...)
Actividades Literárias
- Publicou em 1977, com o pseudónimo de Manuel Branco, o livro Os Comandos no Eixo da Revolução; Crise Permanente do PREC; Portugal 1975/76 (352 pp) na Editorial Abril (seis semanas no quadro dos best-sellers).
- Colaborador de alguns jornais diários e semanários lisboetas (1975/1980).
- Redactor da revista Mama Sume da Associação de Comandos (1989/1993).
- Colaborador do Semanário (1991), do Combatente, da Liga dos Combatentes, desde 1991, do semanário regional O Algarve em 1994-2004 e do Boletim da AFAP. (Associação da Força Aérea Portuguesa)
- Outros livros:
1. Marcello e Spínola – a Ruptura; As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; Portugal 1973-1974 (456 pp). Lisboa, Editora Margem, 1994 (em 2.ª edição na Editorial Estampa (368 pp), em 1996. Apresentada pelo Dr Luís Villas-Boas, em 13-10-2011, uma 3.ª edição actualizada (300 pp), no Museu Militar, em Lisboa, com o prefácio do Gen. Vasco Rocha Vieira.
2. Equívocos e Realidades; Portugal 1974-1975 (2 vol. 1 012 pp). Lisboa, Editora Nova Arrancada, 1999. Lançado no Dia Internacional do Livro, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras.
3. Timor – Abandono e Tragédia; “A Descolonização” de Timor (1974-1975), em co-autoria com o Coronel Morais da Silva (271 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2000, com posfácio do Comandante Virgílio de Carvalho.
4. Combater em Moçambique; Guerra e Descolonização 1964-1975 (452 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2003, com prefácio do Prof. Adriano Moreira.
5. Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975 (740 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2004. Foi lançado no Dia Internacional do Livro, integrado nas comemorações do 30.º aniversário do 25 de Abril, é uma edição revista e actualizada de “Equívocos e Realidades 1974/75 (…)” e tem um prefácio do Prof. Artur Anselmo, actual Presidente da Academia das Ciências.
6. 25 de Novembro; Os “Comandos” e o Combate pela Liberdade (521 pp), em co-autoria com o Prof. Dr. Francisco Proença Garcia e o Sarg-Mor “Comando” Rui Domingos da Fonseca. (...)
7. Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980.(410 pp) Lisboa, Editora Prefácio, 2007, com prefácio do General Ricardo Durão. Foi lançado em 29-11-2007, na Sociedade Histórica para a Independência de Portugal/Lisboa e em 13-12-2007,(...)
8. Grades de Papel; Caxias 1975; Condomínio Fechado (182 pp), em co-autoria com o Coronel Joaquim Evónio Vasconcelos (falecido). (...)
As obras podem ser consultadas:
http://ultramar.terraweb.biz/06livros_manuelamarobernardo.htm
http://guerracolonial.home.sapo.pt/bibliografia/m.html
O pedido do livro “25 de Novembro (…)” pode ser feita na editora - Associação de Comandos, em Lisboa – Tel: 213 538 373; assoc.comds@mail.telepac.pt .
A 3.ª edição de “Marcello e Spínola (…)” e o “Grades de Papel …” podem ser adquiridos na editora: geral@ediumeditores.org. Os outros livros estão esgotados, por a Editora Prefácio ter entrado em falência, podendo alguns serem lidos nas Bibliotecas Municipais de Lisboa, Carnaxide, Oeiras, Faro, Loulé e Quarteira.
Olá Camaradas
Estou de acordo com o Rogério Cardoso.
A deserção EM FRENTE DO INIMIGO foi RESIDUAL. Na retaguarda teve alguma expressão, mas não muita. As outras formas de fuga à guerra (por razões de cada um) não são deserção. São fuga à guerra. Será uma boa divisão para o tema em causa. A precisão de linguagem é boa prática em investigação histórica.
Não sei quem são estes "historiadores" e, por isso, admito que possam ter intenções de falar com rigor científico do tema.
Agora é frequente surgirem teses de mestrado e doutoramento sobre temas "fracturantes".
Dá popularidade e alimenta o (L)ego.
Por ignorância, impreparação ou leviandade estarão a confundir o olho do c... com a Sé de Braga (como se dizia na tropa). Há realmente interesse em lançar a confusão, na nossa sociedade na apreciação da guerra para denegrir quem a fez. É uma espírito muito português.
A linha representativa do fenómeno há-se passar algures entre o fervor exacerbadamente patriótico e a mais vil das cobardias...
Trata-se dos politiqueiros cá do bairro (ditos de esquerda e de direita), que por ignorância, frustração e até vaidade falam do que querem com as "leituras" que querem.
Estejamos atentos ao fenómeno.
Um Ab.
António . P, Costa
Volto a subscrever as afirmações de Pereira da Costa. Ab
Cito:
"Este número, baseado em fontes militares, é um número que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre o pessoal já incorporado", disse à Lusa Miguel Cardina, um dos autores da análise histórica sobre o fenómeno da deserção da Guerra Colonial.
Qual a fonte ou a origem dos números apresentados?
Sempre me disseram que não havia estatísticas sobre a matéria.
Alguém me sabe dizer?
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