quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18366: Agenda cultural (631): Lisboa, Bairro Alto, Teatro do Bairro, hoje, 28, às 21h30: Lançamento do álbum de estreia do músico e compositor lourinhanhense Diogo Picão, "Cidade Saloia"



Cortesia da página oficial do Diogo Picão.


1. Álbum "Cidade Saloia":

"É o meu álbum de estreia.

"Gravado com músicos de várias nacionalidades residentes em Lisboa, este disco espelha o meu interesse por vários estilos musicais, e a influência das viagens na minha escrita, e na maneira de observar o mundo rural e citadino. É composto por doze canções autorais.

"O concerto de lançamento será no dia 28 de Fevereiro, às 21h30, no Teatro do Bairro com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores.

"Disponível nas plataformas digitais e em formato físico por encomenda no site."


2. Diogo Picão  tem página também no Facebook.

Apresenta-se de maneira bem humorada e originail:

(...) Nascido no oeste [, Lourinhã, distrito de Liosboa], apaixonado pelo sul, com a cabeça virada a norte. A leste mas orientado pela música. Canta, toca saxofone, e percute o que lhe aparecer à frente.
Chama-se Diogo Picão e gosta da canção mas nunca se nega a uma livre improvisação.

 (...) Influências: Cantautores Portugueses e Brasileiros, Música de Intervenção, Samba, Bossa Nova, MPB, Jazz, Blues, Salsa, Son Cubano, Música Clássica Indiana.

Press contact: Joana Garcia
email: joana@constroisons.com
telefone: +351 218 404 062
telemóvel: +351 961 357 906


3. Sinopse do espetáculo, hoje, no Teatro do Bairro [ Rua Luz Soriano, 63 (Bairro Alto),1200-246 Lisboa, Portugal]

Diogo Picão, um dos autores de canções mais promissores da sua geração, apresenta-nos agora o álbum de estreia Cidade Saloia.

Nascido na vila da Lourinhã, começou a aprender saxofone na Escola de Jazz de Torres Vedras, seguindo depois para a ESMAE, no Porto. Mais tarde viajou pela América Latina, território que influenciou fortemente as suas composições.

Filho de professora primária [, a trabalhar há muito em Macau], desde cedo se habituou a divertir com as palavras. O jogo completou-se quando as juntou à música. Em Lisboa, encontrou a sua mais recente morada, povoada de músicos em trânsito, com quem partilha e descobre afinidades musicais. 

Cidade Saloia é um disco que usufrui dessa família alargada. Composto por doze canções da sua autoria, todas em português excepto uma em espanhol, o disco conta com a participação do seu trio (Olmo Marín, Anders Perander e Matteo Bowinkelmann) e a de vários convidados incluindo Salvador Sobral, com quem partilha a interpretação da canção Sem Respostas.

Fonte: Bilheteira FNAC (com a devida vénia)


4. Comentário do editor:

O Diogo é meu conterrâneo e meu amigo. É filho e sobrinho de amigos meus, de uma grande família que deu combatentes para a(s) guerra(s) de África, pelo menos dois, das  minhas relações,  o tio paterno José F. Oliveira Picão (que esteve em Canquelifá, na Guiné, 1973/74) e o tio materno Jaime Bonifácio Marques da Silva, do BCP 21 (Angola, 1970/72), nosso grã-tabanqueiro.

É um jovem músico de grande talento, cantor, saxofonista, compositor, que merece o apoio da nossa Tabanca Grande. Eu vou lá estar esta noite do Teatro do Bairro, no Bairro Alto, a aplaudi-lo.

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2018 >  Guiné 61/74 - P18364: Agenda cultural (630): Seminário "Nos Mares da Memória", 4ª feira, dia 7 de março, às 15h00, em Paço de Arcos, Escola Superior Náutica Infante D. Henrique... Aberto a todos os que se interessam pela história dos portugueses nos mares da Terra Nova e da Gronelândia.

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

saloio | adj. s. m. | adj.

sa·loi·o |ôi|
(árabe vulgar sahroi, habitante do deserto)

adjectivo e substantivo masculino

1. [Portugal] Que ou quem é dos arredores de Lisboa, a norte do rio Tejo (ex.: zona saloia; antigamente, muitos saloios vinham a Lisboa vender os seus produtos agrícolas).

2. Que ou quem trabalha ou vive no campo. = CAMPONÊS

3. [Depreciativo] Que ou quem é grosseiro, revela falta de educação, de civilidade ou de bom gosto. = PAROLO, RÚSTICO

4. [Depreciativo] Que ou quem age de forma desonesta. = FINÓRIO, MANHOSO, VELHACO

adjectivo

5. Diz-se de uma qualidade de pão fabricado nos arredores de Lisboa.

Plural: saloios |ôi|.

"saloio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/saloio [consultado em 28-02-2018].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Excerto do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, reproduzido com apreço e com a devida vénia:

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/saloio/15311


Segundo José Pedro Machado [Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa], saloio provém do vocábulo árabe ('çahrauii'/'çahroi', «homem, habitante do deserto»).

No seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa (3.ª edição da Sociedade Editora Portugal-Brasil, 1922), Cândido de Figueiredo remete também saloio para a acepção antiga de «moiro, originário de Salé», com origem no nome árabe 'çaloio' («de um tributo que em Lisboa pagavam os padeiros moiros»).

De Salé (salatino ou saletino) é o registo, igualmente, de Caldas Aulette, no seu Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (Editora Delta, Rio de Janeiro, 1958): «Salatino, adj., que diz respeito aos salatinos, mouros corsários de Salé, que se estabeleceram perto de Lisboa. - s.m., descendente dêsses mouros, hoje chamado saloio.»

Ainda sobre o vocábulo saloio e o seu uso, o Dicionário Houaiss regista esta passagem elucidativa do historiador Miguel Leitão de Andrade (1629):

«(...)deixando el-Rei D. Afonso Henriques ficar no termo de Lisboa os mouros, em suas fazendas e lugares de pagar o mesmo que aos seus reis mouros, a estes chamavam saloios (...)».

J.M.C. 2 de junho de 2003

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Lourinhã é tão "saloia" como Santarém e Lisboa: estas as duas importantes cidades mouras foram conquistadas por D. Afonso Henriques, em 1147, tal como a Lourinhã e toda o oeste estremenho...

No caso da Lourinhã, foi um mercenário cristão, Don Jourdain, franco, oriundo de Lorient (ao que parece, na Bretanha), quem terá feito o "trabalho sujo" da guerra e da pilhagem... Será depois o primeiro donatário da terra, após a conquista aos mouros...

Não deve ter passado todos os mouros pelo fio da espada, porque estes eram indispensáveis: eram eles que dominavam a tecnologia dos moinhos de vento, a hortofruticultura, a engenharia hidráulica, a cirurgia, a veterinária, a navegação costeira... Os nossos reis, de origem visigótica e os seus mercenários, francos, "só sabiam fazer a guerra"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Excerto de artigo da Rádio Renascença que entrevistou o Diogo Picão:

Um músico “orgulhosamente saloio” numa Lisboa cheia de mundos
28 fev, 2018 - 07:03 • Inês Rocha

“Cidade Saloia” é o disco de estreia de Diogo Picão, um cantautor “nascido e criado na Lourinhã”, que faz da sua música um íman de culturas.

(...)

Considera-se um “saloio” a viver na cidade e canta-o com orgulho. Nasceu na Lourinhã, passou pelo Porto e pela América Latina e assentou arraiais em Lisboa, há cinco anos. Uma cidade onde continua a viajar, desta vez através da música. Este mês, o cantor, compositor e saxofonista Diogo Picão lança o seu primeiro álbum, "Cidade Saloia", editado pela Lugre Records.

O álbum inclui 12 canções originais, 11 delas em português e uma em castelhano. Composições que “foram acontecendo”, ao longo de dois anos a tocar em Lisboa, e foram “juntando pessoas” de várias geografias.

Dos 16 músicos que participam no disco, apenas sete são portugueses. Um deles, o guitarrista Anders Perander, é finlandês e constrói cavaquinhos em Lisboa. Há ainda alemães, italianos, espanhóis, um holandês e um búlgaro.

O músico explica que a diversidade lhe veio do gosto pelas viagens. “Sempre gostei muito de viajar e a viagem sempre foi uma coisa que marcou as canções”, explicou, em entrevista a Ana Galvão e José Pedro Frazão, nas tardes da Renascença.(...)

http://rr.sapo.pt/noticia/106805/um-musico-orgulhosamente-saloio-numa-lisboa-cheia-de-mundos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

http://rr.sapo.pt/noticia/106805/um-musico-orgulhosamente-saloio-numa-lisboa-cheia-de-mundos

(...) A história não é autobiográfica, porque o músico diz ter muito orgulho das origens (Lourinhã], vê uma relação próxima entre o campo e a cidade.

“O termo "saloio", que define originalmente os habitantes a zona a norte do Tejo, passou a ser um termo pejorativo, mas eu tenho bastante orgulho de ser dessa zona e acho que há uma influência muito grande de parte a parte”, explica o cantor. “Seja porque muito do que se ouve e lê no campo é produzido na cidade e o que se come na cidade, o que se veste e até o que se diz tem essa influência "saloia", no bom sentido”. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Termo não menos pejorativo se calhar é "alfacinha", como sinónimo de "lisboeta"... LG

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alfacinha | s. f. | adj. 2 g. s. 2 g.
derivação fem. sing. de alface

al·fa·ci·nha
(alface + -inha)
substantivo feminino
1. Pequena alface.

adjectivo de dois géneros e substantivo de dois géneros
2. [Informal] O mesmo que lisboeta.

Palavras relacionadas: alface, alfaçal, lactúceo, lisboa, batávia, leituga, tridácio.

al·fa·ce
(árabe al-khass)
substantivo feminino
1. [Botânica] Planta asterácea hortense, muito usada na alimentação humana, sobretudo em saladas.


fresco como uma alface
• [Informal] Com ar bem-disposto, sadio, dinâmico (ex.: dormiu a sesta e acordou fresca como uma alface).


"alfacinha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/alfacinha [consultado em 28-02-2018].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De resto, a nossa história está toda mal contada... se não mesmo falsificada....

Leia-se a entrevista do grande arqueólogo Cláudio Torres, à "Sabado", 23/2/2018:




Cláudio Torres: "D. Afonso Henriques não conquistou Lisboa aos mouros, foi aos cristãos"
23.02.2018 07:24 por Carlos Torres 22062

O arqueólogo, especialista em cultura islâmica, desfaz vários mitos da História. Defende que não houve invasões muçulmanas em massa na Pensínsula Ibérica. (...)


(...) No ano 711, os exércitos muçulmanos que vieram do Norte de África invadiram a Península Ibérica e cinco anos depois já dominavam todo o território pensinsular, antes sob alçada dos visigodos. Como foi possível essa progressão tão rápida?

As coisas não foram bem assim. A arqueologia tem uma linguagem diferente da história escrita. A história escrita é escrita por aqueles senhores que sabem escrever, enquanto a arqueologia vai buscar os restos dos que não sabem escrever. São coisas habitualmente contraditórias. Hoje sabemos, por causa da arqueologia, que não houve nenhuma invasão em 711, não vieram exércitos nenhuns. (...)

http://www.sabado.pt/vida/pessoas/detalhe/claudio-torres-d-afonso-henriques-nao-conquistou-lisboa-aos-mouros-foi-aos-cristaos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na Lourinhã, devia haver mouros, cristãos e judeus, em 1147, tal como em Lisboa... Afinal., quem eram os "saloios" ? Se calhar, o nosso primeiro rei mal arranhava o galaico-português... Era filho de um franco...

Há tantos mitos que nos foram ensinados na escola como "verdades históricas"... A história é sempre "escrita" pelos vencedores... Há a história da Guiné escrita pelos portugueses, como há a história da Guiné escrita pelo PAIGC... Os especialistas em Amílcar Cabral deviam também ter a humildade de "ouvir" e "saber ouvir" os vencidos...

Emfim, aqui fica mais um excerto da entrevista, da revista "Sábado", a Claúdio Torres, fundador e director do Campo Arqueológico de Mértola, Prémio Pessoa, em 1991, e um dos mais conceituados especialistas da civilização islâmica no Mediterrâneo...

Sábado, 23/2/2018 | Carlos Torres

(...) Quando é que a religião começa a ser usada na reconquista?

Com a reconquista há um outro cristianismo a entrar na Península Ibérica, o católico, que vem de Roma. Houve tentativas, no século VI, de Bizâncio conquistar o Ocidente. Houve batalhas, Bizâncio conquistou parte do Norte de África, a actual Tunísia, e um pedaço da Península Ibérica, na costa do Mediterrâneo. Mas nunca conseguiu conquistar esta parte do extremo, do actual Algarve, que era hostil a Bizâncio.


Quando é que a fé entra na reconquista? No final do século XI, com as cruzadas?

Antes de irem para o Oriente, as cruzadas começam aqui, na Península Ibérica, com a Ordem de Clunny, que depois vai dar a grande Ordem de Cister, e a reconquista, em Portugal, é comandada pela Ordem de Cister, sediada em Alcobaça, onde está o grande convento. Onde se dá o grande choque é em Coimbra, é aí a fronteira do Mediterrâneo. A reconquista é nos séculos XI e XII, e nessa altura a cidade tinha um cristianismo ligado ao sul, moçárabe, que não tinha nada a ver com Roma. Portanto, em 1111 dá-se o choque, é aí que se dá a grande batalha, perdida pelos cultos cristãos do sul, em que Coimbra é conquistada pelos franceses da Ordem de Cister.

Comandados por D. Henrique?

Coimbra é conquistada pelo D. Henrique, o pai do D. Afonso Henriques, que falava francês. O primeiro a falar alguma coisa de português ou parecido deve ter sido o D. Afonso Henriques. Aquilo era gente de fora. Não tinham muito a ver com isto, nem sequer tinham ideia que havia aqui um cristianismo diferente. A conquista de Coimbra foi uma transformação total. Depois, pouco a pouco foram andando para sul. Por exemplo, D. Afonso Henriques não conquistou Lisboa aos mouros, foi aos cristãos, porque a maioria ainda era cristã. Aliás, há documentos de um cruzado inglês que refere que as pessoas na rua gritavam, antes de serem mortas: "Valha-me Santa Maria!"

Mas aprendemos na escola que D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros. Isso não é verdade?

Claro que não. Lisboa era, na altura, uma cidade mais ao menos autónoma, tinha um território muito importante, que englobava toda a zona do baixo Tejo, que ia até Santarém. Era uma cidade importantíssima, porque permitia o contacto com o Norte, era o grande porto que permitia a navegação do Mediterrâneo para o Báltico: os barcos ficavam em Lisboa à espera que o vento virasse, porque o vento dominante é o noroeste, que é violento, e quando há muito vento nem pensar em seguir viagem, por isso os barcos às vezes ficavam retidos em Lisboa um mês. O mesmo acontecia no cabo de São Vicente, porque para dar a volta ao cabo era preciso que o vento virasse, os barcos ficavam lá, daí ter surgido ali a escola de Sagres. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O avô paterno do Diogo era uma figura muito popular e muito querida na nossa terra. Era natural de Casal Novo, às portas da Lourinhã...Era um agricultor e um homem que eu admirava, pela sua consciência cívica, pela sua simplicidade, bondade, generosidade e popularidade...

Era uma prazer dar dois dedos de conversa com ele, quando não andava no campo a trabalhar.. Ele tinha uma adega á beira da estrada, que era conhecida por toda a gente como a "adega do povo"... A porta estava sempre no trinco, ou com a chave na fechadura, por fora... Eu quando por lá passava, fazia questão de lá ir beber um copo de tinto ou branco, quer o dono estivesse lá ou não....

Estamos a falar dos idos anos de 1971, quando eu cheguei da Guiné... Mal sabíamos nós que o seu filho mais velho, o Zé Oliveira Picão, iria ainda conhecer, antes do 25 de abril, o inferno de Canquelifá, no leste da Guiné...

Infelizmente perdemos um pouco o contacto, desde que eu vim para Lisboa viver e trabalhar, a seguir ao 25 de abril... Também morreu cedo, mereceria ainda cá estar para se poder orgulhar do seu neto, o Diogo Picão.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mateus, o velho Mateus!... Oliveira, Mateus Oliveira... O Picão é apelido materno... Morreu cedo o meu amigo Mateus, aos 72 anos!... Esteve connosco, em espírito, ontem no Teatro do Bairro. Veio da Lourinhã uma lustrosa e plural embaixada... O menino Picão (e a sua banda) tocou, cantou, encantou!...Nem demos conta que o seu saxofone soprano tenor pifou, a meio do espetáculo!... Valeu-lhe o saxofone soprano...

"Cidade saloia" vaio ser um grande sucesso!... Pela qualidade das letras, das músicas, dos arranjos e da interpretação... Num dia de chuva e frio, o Teatro do Bairro foi ao rubro!