sábado, 3 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18375: Os nossos seres, saberes e lazeres (255): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 17 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Foi uma das poucas viagens fora de Bruxelas, esta ida a Namur. Em Novembro de 1984, o viandante participou numa conferência em Veneza e aí se encetou uma grata amizade com Nelly Alter, fluente em 8 idiomas. Ao longo de décadas, sempre que se vinha a Bruxelas, havia um telefonema prévio para saber se Nelly por ali andava. Nos dias de sorte, houve encontros memoráveis com passeios, idas ao teatro, ao cinema, à ópera, o viandante beneficiou de um acolhimento extraordinário com mesa farta, tinha e tem sempre que trazer novidades da literatura portuguesa, Nelly é insaciável, retribuição mais feliz não pode haver que lhe trazer o último Lobo Antunes.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (5)

Beja Santos

O dia vai ser passado em Namur, capital da Valónia, conhecida pela sua famosa cidadela, uma cidade magnificamente posicionada na confluência dos rios Sambre e o Meuse, tem o viandante a dita de aqui regressar frequentemente, fez há mais de 30 anos amizade com Nelly Alter, que vive a escassos quilómetros da cidade, em Saint Marc. O viandante vai feliz na companhia de André Cornerrote, que muito aprecia o bom vinho e as excelentes vitualhas com que Nelly amesenda os amigos. Recordam-se outros passeios, outros encontros, Nelly não esconde também a sua satisfação em receber o amigo e o amigo do amigo.





É este o ambiente cativante em que se faz a receção. Programadora previdente, Nelly tem seis pontos para passeios pós-prandiais, André encolhe-se, precisa de fazer uma pequena sesta, pede redução do programa para metade. Negócio fechado. Bebeu-se do melhor Beaujolais, depois de uma excelente sopa de cebola e uma tábua de queijos, café e chocolate belga. Depois de um soninho reparador, começa a excursão por Namur. Primeiro prato forte, uma ida ao Museu de Arte Antiga de Namur, aparentemente modesto, mas acolhe desde 2010 uma das chamadas sete maravilhas da Bélgica, o tesouro do antigo priorado de Oignies, um conjunto excecional de 400 peças de ourivesaria do século XIII, único no mundo pela sumptuosidade dos materiais. O museu com opulências na ourivesaria, marfins, pintura, escultura em madeira e pedra. A visita tem um móbil claro, uma exposição sobre fumos, vem-se com o tempo contado, impossível nesta visita passar pelo gabinete de numismática, de enorme valor, ou pelo gabinete de estampas e pela biblioteca, enfim, faz-se um percurso e mostra-se alguma coisa que cativou o viandante.




Já estamos na exposição dos fumos celestes ou funestos, do século XII ao século XVIII, dir-se-á que é uma exposição muito contida mas está inteligentemente organizada, incorpora vasos de sepulturas, tabaqueiras, cachimbos, arte efémera, gravuras alusivas ao uso do fumo na relação do homem com as potências sobrenaturais, nas relações entre a terra e o céu. O fumo para perfumar, o fumo do tabaco e os usos nas armas e no fogo-de-artifício. Uma exposição de grande ecrã, sobre os aspetos religiosos e profanos, fumos para oração, para afugentar a cólera divina, fumo das resinas odoríferas, fumos dos fogos de artifícios. Enfim, uma exposição que é um espetáculo.




Segue-se uma “visita de médico” ao museu Félicien Rops para ver em relance a exposição Shakespeare Romântico, título atrativo mas insólito mas que se prende com o facto do genial dramaturgo ter inspirado autores românticos como Delacroix ou Moreau e que puseram na tela Hamlet e Ofélia, Romeu e Julieta, Otelo e Desdémona, Macbeth e a sua mulher, é uma exposição sobre estas figuras trágicas que se organiza a exposição. Na continuidade do romantismo, também os artistas simbolistas representarem os heróis shakespearianos como arquétipos das paixões humanas, caso de Constantin Meunier ou Alfred Stevens, aqui representados. E depois dessa tragédia pictórica em muitos atos, a expedição vai até à Antica Namur 2017, um pavilhão monumental que alberga riquezas de várias épocas e onde até se podem comprar desenhos ou gravuras de grandes mestres a preços não chocantes. Foi uma passeata e peras, com os olhos deslumbrados por quilómetros de tanta maravilha, os expedicionários regressam a Namur, regalam-se com jantar opíparo, adeus até ao meu regresso, pela calada da noite regressa-se a Watermael-Boisfort e desde já se informa que o programa seguinte é bastante animado, como se contará.


(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18349: Os nossos seres, saberes e lazeres (254): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (4) (Mário Beja Santos)

Sem comentários: