domingo, 4 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18376: Historiografia da presença portuguesa em África (111): Gabu, terra sangrenta, palco de lutas entre mandingas e fulas, vista pelos olhos do grande repórter, Norberto Lopes (Diário de Lisboa, 27 de fevereiro de 1947)








"Diário de Lisboa", diretor: Joaquim Manso. Ano 26, nº 8710,  quinta feira 27 de fevereiro de 1947. O jornal avulso custava 80 centavos... Cortesia do Portal Casa Com,um / Fundação Mário Soares / Fundos: DRR - Documentos Ruella Ramos

Citação:
(1947), "Diário de Lisboa", nº 8710, Ano 26, Quinta, 27 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22406 (2018-3-4)
Continuação das "crónicas" do grande repórter Norberto Lopes, que parte de Bafatá até Sara Gabu (, ainda não se chamava Nova Lamego)...

Tópicos:  (i) os burros que transportam mancarra para Batafá, logo de manhã: (ii) os saracolés que se dedicam à indústria da tinturaria; (iii) a tabanca de Dandum ( ou Dando) e o seu velho régulo Idriss Alfa Baldé; (iv) a decadência da outrora orgulhosa e aguerrida  tribo fula, povo de pastores e nómadas, devida à alimentação deficiente e ao sobreconsumo de noz de cola;  (v) a tabanca futa-fula de Chana e o seu régulo Madiu Embaló: referêndia ao grande Monjour (ou Monjuro, ou Monjur...), que morreu em 1944, aos 88 anos [Monjour Meta (Em)Baló, régulo do Gabu entre 19089 e 1927, segundo o antropólogo e nosso grã-tabanqueiro Eduardo Costa Dias]; (vi) a 'guerra de Turubam' [, que quer dizer em fula "a sementeira acabou"]; (vii) o compensador contrabando de ouro, o seu impacto na economia local, e os 300 ou 400 quilos de que continuam a entrar em Portugal, por ano;  (vii) o comércio e a "febre da construção na região; e, por fim, (viii) o fascínio desta parte de África: "é nos extensos plainos dioríticos do Gabu, de vegestação arbústica, de grandes clareiras desoladas, que vem terminar, na costa ocidental, o mundo muçulmano",















1. Norberto Lopes (Vimioso, 1900-Linda A Velha, Oeiras, 1989) foi um notável jornalista e escritor, tendo estado entre outros ao serviço do "Diário de Lisboa", onde foi chefe de redação, desde 1921, cronista e grande repórter, além de diretor (entre 1956 e 1967). Saiu do "Diário de Lisboa" para cofundar em 1967 o vespertino "A Capital" (que dirigiu até 1970, ano em que se jubilou).

Mestre do jornalismo na época da censura, transmontano de alma e coração, grande português, sempre se bateu pela liberdade de expressão, que considerou a maior conquista do 25 de Abril. Entre a suas obras publicadas, destaque-se:"Visado pela Censura: A Imprensa, Figuras, Evocações da Ditadura à Democracia "(1975). Aprendeu a lidar com a censura e os censores e a escrever nas entrelinhas, com engenho, manha e arte, como muitos jornalistas que viveram no tempo do Estado Novo,

Claro, conciso, preciso. objetivo e imparcial... são alguns dos atributos da sua escrita e do seu estilo como repórter da imprensa escrita, um dos maiores do nosso séc. XX português. Foi. além disso, um grande amigo da Guiné e dos guineenses. Tal como nós, também ele bebeu a água do Geba... Visitou aquele território pelo menos duas vezes. Esteve lá em 1927 e em 1947. Das suas crónicas de 1947,  onde não esconde a sua admiração por Sarmento Rodrigues,  transmontano cono ele, publicou o livro "Terra Ardente -Narrativas da Guiné" (Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1947, 148 pp. + fotos). (*)

O livro de Norberto Lopes, "Terra Ardente - Narrativas da Guiné", já não é de fácil acesso, para a generalidade dos nossos leitores (e muito menos para os nossos amigos da Guiné-Bissau) mas em contrapartida as suas reportagens, publicadas no "Diário de Lisboa", podem ainda ser lidas no portal Casa Comum, da Fundação Mário Soares, graças ao legado de António Ruella Ramos, seu último diretor, É uma documentação fundamental da nossa história do séc. XX, e que ops nossos leitores têm o direito a conhecer.

Hoje reproduzimos, com a devida vénia, a nona crónica que ele mandou para o seu jornal, justamente sobre o Gabu (*),  Foi publicada em 27/2/1947, há 70 anos, a idade, em média,  por que rondam muitos dos nossos camaradas  que nos leem. (**)



Capa do livro de Jorge Vellez Caroço - Monjur: O Gabu e a sua História.  Bissau: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1948,  269 pp.
______________

Notas do editor:

(*) 18 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17877: Historiografia da presença portuguesa em África (98): Bissau, em 1947, ao tempo de Sarmento Rodrigues, revisitada por Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"

(**) Último poste da série > 28 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18365: Historiografia da presença portuguesa em África (110): Um estudo desconhecido sobre a etnia Manjaca em O Mundo Português, por Edmundo Correia Lopes (1) (Mário Beja Santos)

17 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma precenmção: "Mafoma" [Maomé] pode ter um sentido pejorativo...Mas não creio que seja aqui o caso: Norberto Lopes nunca quereria, há 70 anos atrás, ofender os sentimentos dos muçulmanos, em geral, e os da Guiné, em particular...


Veja-se aqui este excerto da Wikipédia sobre o antropónimo Maomé:


(...) Maomé é uma forma aportuguesada do francês Mahomet, que por sua vez é uma deformação do turco Mehmet, tendo daí derivado os adjetivos portugueses maometano e maometismo para designar, respectivamente, o seguidor e a crença difundida por ele.

Na África Negra muçulmana, o nome foi deformado para Mamadou, e entre os berberes encontra-se a forma Mohand.

Nos textos portugueses mais antigos, este antropónimo aparece grafado de variadíssimas formas, como Mafoma, Mafamede, Mafomede, Mafomade, Mahamed, Mahoma, Mahomet, Mahometes ou Mahometo, sendo Mafamede e Mafoma por ventura as mais divulgadas (de resto, a última forma é correlata do nome do profeta nas outras línguas ibéricas, sendo que em castelhano, catalão, galego e até basco, se diz Mahoma).

Desde o século XIX, porém, que tais termos caíram completamente em desuso no português, sendo até considerados ofensivos, posto que o seu uso, nas crónicas antigas, se fez sempre associado num contexto de cruzada contra a religião muçulmana." (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maom%C3%A9

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Um bom texto, escrito por um grande jornalista, para guardar e mais tarde... utilizar.
Se os guineenses quiserem escrever a sua História, o que acho que seria uma tarefa patriótica, têm aqui um texto para considerar.

Mas que tenho eu com isso?
Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tó Zé, fomos fazer uma guerra num território de cuja história não sabíamos nada... E, para mais, pelo menos para mim, deram-me, como soldados, netos e bisnetos do Monjur, um dos tais "cães dos colonialistas"...

Cherno AB disse...

Caros amigos,

O texto do jornalista Norberto Lopes confirma algumas das observacoes que fiz num Poste recente sobre alguns dos grupos etnicos da Guine (ver o Post sobre a tecnica da construcao das palhotas entre os Fulas).

Hoje nao o poderei fazer, mas prometo voltar amanha com mais comentarios sobre este texto reportagem de 1947. Parece bem construido mas, na minha opiniao, e numa primeira leitura, falta-lhe o rigor de um grande homem de terreno e investigador como Edmundo Correia Lopes.

Com um abraco amigo,

Cherno Balde

Anónimo disse...

Luís

Que texto este do Norberto Lopes! De jornalista, quase de um estudioso, em 1947!
Desconhecia esta faceta deste transmontano. É um texto dos tempos em que não era proibido chamar "colónias" às colónias, depois transvertidas em "províncias ultramarinas". Vemos aqui não patriotismos serôdios, mas uma descrição (descrições) de realidades sociais variadas num espaço territorial pequeno.

Uma passagem me chamou especialmente a atenção:
"Hoje os rapazes fulas e mandingas começam logo, desde muito novos, a rilhar a noz preciosa "malvacea" que estimula os debilitados, alimenta os pobres, mata a sede aos viandantes e faz andar à roda muito velho gaiteiro que não quer abdicar dos saborosos privilégios da mocidade".

Para além do uso de expressões transmontanas (rilhar/velho gaiteiro), isto fez-me lembrar os fulas da milícia de Príame/Catió, comandada pelo João Bácar Jaló que, nas operações, pouco tempo depois de sairmos do quartel, mascavam continuamente noz de cola, cuspindo mais tarde os detritos que tinham na boca em cuspidelas vigorosas, compridas, para a mata. Logo a seguir, tiravam dos bolsos do camuflado mais uma "cola" que metiam na boca e continuavam a mastigá-las sem parar. Quando periquito, achei que aquilo era nervosismo, mas quem os observasse durante as operações não os via beber e comiam muito pouco. Perguntei, perguntei e diziam-me que era para não se cansarem e ir "na goss-goss". Mais tarde soube que secavam as nozes de cola debaixo de uma camada de barro à entrada da porta das casas, na tabanca, para evitar roubos, porque eram muito valiosas.

Alberto Branquinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, hoje não há mais "grandes repórteres" no jornalismo português como o Norberto Lopes. Não eram "investigadores académicos", estudiosos, com todo o tempo do mundo, como o etnólogo / etnógrafo que pode ficar meses e meses inserido numa comunidade a fazer "observação participante"...

Estamos a falar de há 70 anos, não havia internet, nem máquinas fotográficas digitais, nem vídeo nem gravador de som, e o jornalista tinha que ser culto, saber fazer perguntas, escrever bem, ter coragem física, ter um comportamento ético... Houve outros, pseudo-jornalistas, que andaram por África, a fazer publicidade turística ou propaganda política... Tanto de um lado como do outro, no tempo da guerra colonial / guerra do ultramar...

Viajava-se de barco...até Bissau, depois imagino, como seria andar pelo interior da Guiné... mesmo no tempo seco.... Fazer uma reportagem destas à Guiné era um aventura...

Estes homens (tal como o Sarmento Rodrigues) é que puseram a Guiné no "mapa"... A Guiné era um sítio obscuro e perigoso, lá na África negra mais profunda... Norberto Lopes tinha estado na Guiné vinte antes!... E falava daquela "terra ardente" com paixão, sendo um transmontano tal como o poeta Miguel Torga... Era gente telúrica que tanto pagava na espada como na pena... Região de grandes soldados, marinheiros, descobridores, navegadores, mas também de escritores!...

O nosso Alberto Branquinho, por exemplo, é um transmontano de Foz Coa!... O Norberto Lopes era de Vimioso. O Sarmento Rodrigues de Freixo de Espada à Cinta. E o Fernão de Magalhães (1480-1521), o primeiro homem a dar a volta ao mundo, era de Sabrosa, tal como o Miguel Torga...

Já agora ficas a saber que há um prémio Reportagem Norberto Lopes, instituído pela Fundação Norberto Lopes, criada com uma doação de cinco mil contos daquele mestre de reportagem (, antes dos anos 90, e portanto do euro...), e que a Casa da Imprensa administra.

O Prémio de Reportagem Norberto Lopes, atribuído pela Casa da Imprensa em memória do grande jornalista que é seu patrono, destina-se a galardoar anualmente um trabalho de «exemplar qualidade em termos de tema, de estilo, de ética e de eficácia», publicado em órgão de comunicação social escrita e da autoria de jornalista(s) português(es). O seu valor pecuniário é de 2500 €.

http://www.jornalistas.eu/?n=8441

Antº Rosinha disse...

Este jornalista transmontano também era muito lido em Angola em artigos de fundo, penso que no A Província de Angola.

Os transmontanos eram muitos, Minhotos e beirões também eram aos magotes, Pedro Álvares Cabral beirão, alguns nunca teriam visto o mar outros nem saberiam nadar, e lá iam eles Tejo a fora.

E no Restelo, o Velho a agoirar.

Dizem que o Vasco da Gama era alentejano, se saísse pelo Guadiana o Velho da Linha não o maldizia.

Da Linha é que poucos navegavam, ali "tá-se bem"!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Branquinho, "mascar cola" também era um dos "vícios" dos meus / nossos soldados guineenses, fulas, da CCAÇ 12... Nunca me debrucei sobre as propriedades da noz de cola, mas contem cafeína e teobromina, sendo tradicionalmente usado como um "estimulante" e "tonificante" do sistema nervoso central e do sistema muscular... Também mitigava a sensação de fome...

Sei que os meus / nossos soldados levavam, para o mato, um punhado de arroz cozido, embrulhado num lenço, e nozes de cola... Já no meu tempo se falava da noz de cola como "viagra" ("avant la lettre"...). Não sei, nunca experimentei, ou devo ter provado uma vez e não gostei do sabor amargo e sobretudo adstringente...

Anónimo disse...

Caros amigos,

Nao conheco ainda os escritos do A. Branquinho, mas em contrapartida, considero fabulosos os escritos do GrTqr Francisco Baptista.

Algumas estorias com a noz de cola:

Uma vez, nos anos 70, o pessoal do Ministerio da educacao estava reunido numa conferencia com alguns expatriados (Cooperantes). A reuniao ja durava ha mais de 4 horas e um Guineense lembrou-se de sacar uma cola dos bolsos, partiu-a em duas metades e meteu uma na boca e comecou a mastigar, devagar e com muito gosto. O seu vizinho ao lado que era Russo, pela curiosidade ou pela fome, tambem quis experimentar. Mastigou e engoliu a outra metade.Resultado, foi parar ao hospital com terriveis dores de barriga. A cola nao eh para nao iniciados.

Eu tambem, como a maior parte dos Fulas com mais de 50 anos, sou rilhador vs apreciador da cola, mas como a minha mulher eh hipertensa e desaconselharam-na o consumo da cola, toda vez que tenho que partir uma cola com a minha formidavel maquina dos dentes molares, tenho que me esconder ou dar um pequeno passeio para nao a alertar, pois apesar de desaconselhada nao aguenta ouvir o som da cola sem pedir um pedacinho. Ela eh da etnia Nalu e originaria do sector de Cacine, de onde vem a cola consumida na Guine. Eu sou apreciador e ela, viciada.

Cherno AB

Anónimo disse...

PS: Ah...esqueci-me de dizer que em breve faco 60 anos, nao sei se a minha mulher esta satisfeita, mas ainda nao foi embora. E, comecei a mastigar cola desde muito pequeno, quando ia para as pastagens e passava o dia inteiro sem comida.

Abracos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A cola é manjar divino, pelo que desejo das palavras do Cherno, e do poema do pai do Pepito:

(...) Alá, tu que és grande como a terra
e poderoso acima de todos,
tu que sabes o passado e o futuro
e tudo vês,
restitui-nos o grande chefe,
que te daremos doze carneiros brancos
e cinco bois,
e sete nozes de cola,
e um cabaço de almoço. (...)

PS - Não sei se sou viciado em café, logo, "cafeinómamo".... Bebo 6 por dia, às vezes mesmo antes de me deitar... Como o álcool, o jogo, o tabaco, a comida, o sexo, o Facebook, o blogue, os jogos electrónicos, o fitness, o ginásio, as viagens, o trabalho, o dinheiro, a escrita, a fama, as armas, a guerra ... é uma adição. Aliás, está tudo dito quando concluímos que "a vida é uma droga"...

Já criaram um grupos de mútua ajuda para os viciados no café: "cafeinómanos anónimos"...

Para o Cherno e a sua querida e bela esposa Geralda Santos Rocha, nalu de Bissau, com quem é casado desde 1992,e de quem tem 4 filhos, desejo muita saúde e longa vida, que Alá a eles têm que dar tudo! (... Nós temos um provérbio cruel que diz: "Muita saúde e pouca vida, que Deus não dá tudo!").

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No primeiro comentário, eu queria escrever "prevenção" e saiu uma "gralhada" qualquer:

Em bom português é que a a gente se entende... Leia-se, pois, assim:

(...) Uma prevenção: "Mafoma" [Maomé] pode ter um sentido pejorativo...Mas não creio que seja aqui o caso: Norberto Lopes nunca quereria, há 70 anos atrás, ofender os sentimentos dos muçulmanos, em geral, e os da Guiné, em particular. (...)

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Conforme prometi, apresento algumas observacoes sobre o artigo do Reporter Norberto Lopes de 1947.

1. Dandum, perto de Bafata, foi a localidade escolhida por Alfa Molo (pai de Mussa Molo) para a Capital do seu efemero "imperio" de Fuladu ou de Firdu, onde morreu e foi sepultado, que o Norberto Lopes confunde com Alfa Bacar Guidali (regulo de Gabu e Forrea e successor de Selo Coiada), onde diz: (...) Bacar Guidali, partindo do Djoladu, completava a conquista pelas armas de todo o territorio de Gabu, ao Norte (...).

2. Quanto a a decadencia dos fulas por causa do sexo precoce e do consumo da noz de cola e que, por sua vez, desagua na incapacidade sexual e no fenomeno de divorcios, nao merece comentarios, é pura especulacao e procura de sensacionalismo jornalistico, tipico dos intelectuais e outros "velhos gaiteiros" do estado novo. A tipologia dos fulas nunca coincidiu com os canones europeus de "garbo militar" e sempre foram pequenos, longilinios e de poucas carnes (tipo Paul Cagame) e também, sim, como ele diz "... de labios delgados, nariz aquilino e pele mais clara (acobreada) e cabelo liso". Mas atencao, este é o perfil dos fulas mais ou menos originais e que nao é representativo do grupo que, na altura, ja era constituido na sua maioria por pessoas de origens diversas e completamente fulanizados.

3. A tabanca de Chana nunca existiu, esta é a designaçao do regulado que deu origem a Dinastia dos Embalocunda e onde residiam os descendentes de Monjur Embalo. Esta localidade, residencia dos antigos regulos de Gabu, chama-se Oco-Maude, perto da actual cidade de Gabu, depois da ponte, na Estrada para Pitche.

4. "TURUBAM", Turbhan ou Turban-Kelo nao é lingua fula, mas mandinga, pois comparar o incendio, rebentamento de um deposito (paiol) de polvora ao fim do mundo, mesmo que de forma metaforica, so poderia sair da boca de um mandinga, de um "Djeli" mandinga, desejoso de suavijar a pesada derrota sofrida na Guerra com os fulas que eles subestimavam.

Na realidade, o imperio mandinga de Gabu ja estava arruinado e fortemente dividido por querelas internas no seio das classes dominantes, os "Nhanthios". Como se costuma dizer: O poder corrompe e o poder absoluto ....

5. No ultimo quartel do sec.XIX, o Almame do estado teocratico de Futa-Djalon é o Alfa Ibrahima Sori Yilili, provavelmente o conquistador do reino mandinga de Gabu, juntamente com os Fulas pastores que, apos longa resitencia contra a islamizacao que consideravam um factor de sedentarizacao nao desejada, acabaram por aceitar o "pacto" que os daria a Liberdade sob condicao de se converterem ao islao. Como diz o Luis: Deus nao da tudo, ao mesmo tempo.

A confusao do Norberto reside no facto de nao conseguir diferenciar o Almame da Confederacao de Futa-Djalon com capital em Timbo e o Chefe da Provincia de Labé.

O trabalho é meritorio, se forem corrigidas algumas falhas de compreensao, normais para o tipo de reportagem e nas condiçoes em que foi feito o trabalho, ignorando, evidentemente, os aspectos tendenciosos e/ou de claro sensacionalismo jornalistico, a que o ilustre e grande reporter, Norberto Lopes, nao conseguiu resistir, para gaudio dos portugueses da epoca, convencidos da sua superioridade racial.

Com um abraco amigo,

Cherno AB

Anónimo disse...

Errata: Onde diz Chana queria-se dizer Chanha ou como se diz actualmente Tchanha.

Este regulado engloba o territorio que comeca na cidade de Gabu, dito Sara e cobre a zona sudeste, até ao rio Tchetche ou Cheche, passando pela localidade de Canjadude.

Cherno

Antº Rosinha disse...

Não falar os dialetos africanos foi sempre o grande fracasso e as grandes "barretadas" e os grandes equívocos, dos europeus em colonizar (pacificar e europeizar)África.

Quando aqui, o Cherno nos alerta para as interpretações erradas de Norberto Lopes, nitidamente o jornalista escreveu aquilo que terceiros lhe possam ter traduzido do Mandinga ou Fula para crioulo e do crioulo para português.

Ele era apenas jornalista, só podia escrever o que lhe transmitiam.

E mesmo os entrevistados ainda podem ter ideias e pontos de vista tendenciosos, que ele jamais conseguia interpretar.

O africano entrevistado, (interrogado) por um branco, respondia antigamente, retraído, quando não tentando enganar o branco com desconfiança.

No nosso caso (tuga), apenas alguns chefes de posto, e os comerciantes em geral é que foram os únicos poliglotas tribais, o mesmo aconteceu com ingleses e franceses.

Mas não eram políticos, governantes, nem historiadores ou escritores faziam a vidinha deles apenas, não passavam os ensinamentos às metrópoles europeias.

Nós aqui, já aprendemos e interpretámos mais sobre a Guiné com o Cherno, do que, no meu caso, em 13 anos que andei por lá.

E mesmo o Luís e Amílcar Cabral entenderam-se melhor com tugas, suecos, franceses e russos do que com os guineenses.

Cherno Baldé disse...

Caro A. Rosinha,

Fazer um trabalho bem feito a partir de traduces é complicado, certamente, mas nao é esse o unico problema. O maior problema aqui reside nas conclusoes que ele elabora a partir dessas informacoes ja por si deformadas por informadores pouco esclarecidos.

Estavamos numa época e num processo em que era preciso diminuir e ridicularizar o gentio a fim de justificar a missao civilizadora de Portugal.

O capitalismo europeu, na sua voracidade, sempre encontrou alibis bem elaborados para justificar a sua iniquidade. A escravatura, na altura propria, encontrou a sua justificaçao de ser, assim como foi devidamente justificado o seu fim, quando ja nao interessava do ponto de vista economico. Depois começou a corrida para se apropriar de maior quantidade de terras, aparentemente, descobertas alguns sec. atras e povoadas por selvagens. E ainda continuamos nessa.

Nada é fortuito e nada é inocente, amigo Rosinha. As artimanhas do capitalismo sao infinitas e seus contornos insondaveis.

Com um abraco amigo,

Cherno


Antº Rosinha disse...

"O capitalismo europeu, na sua voracidade, sempre encontrou alibis" ´e verdade Cherno.

E eu também acrescento que até os missionários arranjavam alibis para justificar as suas religiões em África, minimizando as crenças africanas.

E ainda mais, quando África foi divida foi apenas dividir para explorar as "riquezas naturais" sem querer saber dos povos.

E até creio que sempre que possível os brancos tenham ajudado a acirrar divisões étnicas, dividindo para reinar.

Que até possa ter sido o intuito desta reportagem de Norberto Lopes quando fala nos Mandingas de um lado, Fulas do outro, que sinceramente só neste blogue aqui é que eu
me apercebi de algumas diferenças, coisa que aí durante anos nunca consegui distinguir porra nenhuma entre uns e outros.

Mas eu tenho um ouvido duro, nem o crioulo tenho jeito para entender ao contrário de outros estrangeiros que mal chegam aí estão a bater o crioulo.

Não tenho o mínimo jeito para línguas senão tinha entendido coisas mais rapidamente, que outros entenderam ao primeiro toque, principalmente em Angola, onde passei muitos anos.

Mas uma coisa me apercebi há muitos anos, todos os «brancos» que trabalhávamos no meio de «pretos» tínhamos uma alcunha em língua nativa e eu nunca soube as minhas alcunhas.

Podem ser alcunhas depreciativas ou abonatórias mas na Guiné e Angola, batiza-se toda a gente, brancos ou pretos

Os pretos mentiam-me, diziam que não sabiam, até no meu início de cartografia em Angola, precisava de um intérprete para atribuir nomes de rios, terras e morros, para os mapas, e os locais e o próprio intérprete desconfiados para que é que queria saber tanta coisa, e muitos nomes ficaram como "não sei" "não há", e só por ser tão repetitivo é que os chefes meus deram pelo gato.

Cherno, dificilmente a africa se vai ver livre das influências dos europeus, principalmente no centro e oriente, onde tudo se está a islamizar e achinezar em excesso e está-se a estender â própria Europa.

Esta toda baralhada continua a mandar tropa e dinheiros para certos chefes africanos, mas não vão resolver, porque os europeus não falam a(s) língua(s) nativa(s).

Cherno isto é meio mundo a enganar outro meio.

Eu se algum dia me senti engando ou enganador, nunca foi como "colon" mas como cooperante na tua terra

Grande fantochada, mas eu precisava ver, ver e calar!