Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CCAÇ / BART 6520/72 (1972/74) > Beldades de Fulacunda: bajudas biafadas
Foto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita]
Nasceu em Penafiel, em 1950, foi criado pela avó materna, reside hoje na Lixa, Felgueiras. É vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa,, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura. Tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado. Tem o 12.º ano de escolaridade. José Claudino da Silva,
Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook: é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante. É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.
Sinopse:
(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.
(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);
(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;
(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,
(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;
(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;
(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;
(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";
(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";
(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...
(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;
(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.
(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;
(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.
(xvi) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);
Nasceu em Penafiel, em 1950, foi criado pela avó materna, reside hoje na Lixa, Felgueiras. É vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa,, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura. Tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado. Tem o 12.º ano de escolaridade. José Claudino da Silva,
Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook: é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante. É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.
Sinopse:
(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.
(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);
(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;
(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,
(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;
(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;
(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;
(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";
(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";
(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...
(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;
(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.
(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;
(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.
(xvi) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);
(xvii) começa a colaborar no jornal da unidade, e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia
2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 30 e 31
2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 30 e 31
[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]]
30º Capítulo > ENTRE FULACUNDA BULA OU BINAR
Dia 16 de Novembro de 1972 foi o dia do meu despertar. Confesso-lhes sinceramente que, neste instante, as lágrimas invadem os meus olhos. Precisei de muitos anos, 45, para reler o que vos vou relatar. O aerograma começa assim.
“Minha doce e amada Melly. Nem sempre me é possível calar que te amo loucamente, pois o amor é um sentimento estranho que subjuga e domina aqueles que dele dependem, por isso eu em dias como o de hoje sinto um frémito de emoções a percorrer-me o corpo.
Como te tinha dito veio uma avioneta para evacuar um soldado, mas de repente chegaram aqui seis helicópteros da força aérea. Dois pelotões nossos estavam no mato e soube que mais uma vez colaboravam connosco pára-quedistas e comandos, também estiveram envolvidos quatro caças Fiat e dois bombardeiros. Durante toda a manhã não se ouvia outra coisa que não fossem bombas a rebentar. o combate desenrolou-se a cerca de 10 quilómetros daqui. Não sei se houve mortos ou feridos pois não nos informam, talvez logo saiba na rádio Argel porque o locutor dessa rádio, sabe tudo que se passa na Guiné e o da nossa emissora não sabe. Por exemplo: Na estrada que liga Bula a Binar um grupo de “turras” que eles dizem são o P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) atacaram uma camioneta, mataram 10, feriram 14 e raptaram mulheres e uma criança. Os nossos dizem que eram civis os que morreram e na rádio Argel dizem que eram militares. Não sei em quem acreditar! Também os nossos dizem que matamos 18 “turras” e ferimos muitos e nem sei se é verdade. De concreto só o barulho dos aviões e das bombas a rebentar, já passaram umas horas e ainda tenho esse som nos ouvidos.”
De repente, o amor estava misturado com a guerra. Prezo-me porém de ter escrito muito mais vezes a palavra amor que a palavra guerra. Sem qualquer dúvida, o amor venceu.
No dia seguinte, na tabanca, houve “Manga de ronco” (em crioulo significa “muita festa”). Voltámos a rir ao som do batuque, em vez de chorar ao som das bombas.
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Capa do jornal de caserna, mensal, "O Serrote", edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto.
Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
31º Capítulo > SE FOREM PARA A GUERRA, ACABEM COM OS NAMOROS
O melhor mesmo é ir estudar.
O jornal da companhia ["O Serrote", dirgido pelo alf mil Jorge Loureiro Pinto, nosso grã-tabanqueiro] começou a sair e, embora eu escrevesse vários textos e versos a que chamava poesia, sabia que na companhia havia gente muito mais letrada que eu, especialmente alferes e furriéis. Destaco o alferes Pinto. (Como isso mudou! Hoje, qualquer sem-abrigo tem mais conhecimentos do que eles). Surpreendi-me por alguns dos meus textos serem publicados e, mais uma vez, tive a sorte de encontrar as pessoas certas. Professores.
Podia, se o quisesse fazer, adquirir o 1º e 2º ciclo liceal. Pois é! se pensam que em Fulacunda não se podia estudar, estão enganados. Os nossos oficiais estavam dispostos a ensinar-nos, depois iríamos a Tite fazer os exames.
Em Tite, estava colocada a CCS. Era nesse local que permanecia o comando do batalhão [de artilharia] 6520.
Não sei se a ideia vingou, mas honro, neste pequeno capítulo, os meus superiores hierárquicos que o tentaram fazer. Lançaram em mim a semente que muitos anos mais tarde iria frutificar e, se hoje tenho o 12º ano, o primeiro incentivo que recebi como adulto, para estudar, deu-se dentro do arame farpado que protegia Fulacunda.
Que desgraça! Zanguei-me com a namorada. Da maneira em que a troca de correspondência anda… Nessa altura, entre enviar e receber mediavam cerca de três semanas. Iria demorar muito tempo até fazermos as pazes.
A razão? Recebi uma carta a dizer-me que ela foi vista com outro. Nesses cinco meses eu já era, talvez, o 25º a ser trocado. Mas atenção! Também podia ser algum espertinho a querer engatá-la! A carta que recebi era anónima. De qualquer modo, fiquei muito fodido. É só ler o aerograma do dia 5 de Dezembro [de 1972]. Algumas frases soltas
“Maldita Guiné que me está a fazer perder tudo que mais amava Lenta e persistentemente o tempo vai passando. Para que eu possa viver em perfeito equilíbrio de ideias preciso de fazer coisas diferentes do habitual que actue sobre mim como um antídoto ou como uma espécie de válvula de escape. Porque hei-de estar com escrúpulos se ela não me quer? Vou pôr um anúncio na Plateia e escreverei a todas que me escreverem até pode ser que me esqueça que existe uma Maria Amélia”.
Foleiro. Foi muito foleiro eu concluir que 90% das mulheres que deixávamos, quando íamos para a guerra, procuravam noutros aquilo que de repente perderam.
Em todo caso digo:
“Se ela traiu o que de mais puro havia em mim. Também digo que o amor é mais forte que o ódio”.
Por favor, não me peçam para colocar aqui na íntegra o aerograma do dia 7. Deve ter sido a resposta mais disparatada da história da humanidade aquela que eu dei, a respeito de conter o desejo sexual, naqueles já cinco longos meses, sem ter uma mulher.
ÚLtimo poste da série > 21 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18338: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 28 (O Ramadão) e 29 (A PPSH de tambor)... Ou um "estúpido" na guerra...
O melhor mesmo é ir estudar.
O jornal da companhia ["O Serrote", dirgido pelo alf mil Jorge Loureiro Pinto, nosso grã-tabanqueiro] começou a sair e, embora eu escrevesse vários textos e versos a que chamava poesia, sabia que na companhia havia gente muito mais letrada que eu, especialmente alferes e furriéis. Destaco o alferes Pinto. (Como isso mudou! Hoje, qualquer sem-abrigo tem mais conhecimentos do que eles). Surpreendi-me por alguns dos meus textos serem publicados e, mais uma vez, tive a sorte de encontrar as pessoas certas. Professores.
Podia, se o quisesse fazer, adquirir o 1º e 2º ciclo liceal. Pois é! se pensam que em Fulacunda não se podia estudar, estão enganados. Os nossos oficiais estavam dispostos a ensinar-nos, depois iríamos a Tite fazer os exames.
Capa da revista "Plateia", nº 196, possivelmente de janeiro de 1965. Cópia pessoal do nosso grã-tabanqueiro Manuel Joaquim. Era muito popuiar entre os militares no ultramar, por causa do correio sentimental.- Em 1965 custava 3$00 no continente, 4$00 no ultramar (A preços de hoje, 1,16 e 1,55 €, respetivamente) |
Não sei se a ideia vingou, mas honro, neste pequeno capítulo, os meus superiores hierárquicos que o tentaram fazer. Lançaram em mim a semente que muitos anos mais tarde iria frutificar e, se hoje tenho o 12º ano, o primeiro incentivo que recebi como adulto, para estudar, deu-se dentro do arame farpado que protegia Fulacunda.
Que desgraça! Zanguei-me com a namorada. Da maneira em que a troca de correspondência anda… Nessa altura, entre enviar e receber mediavam cerca de três semanas. Iria demorar muito tempo até fazermos as pazes.
A razão? Recebi uma carta a dizer-me que ela foi vista com outro. Nesses cinco meses eu já era, talvez, o 25º a ser trocado. Mas atenção! Também podia ser algum espertinho a querer engatá-la! A carta que recebi era anónima. De qualquer modo, fiquei muito fodido. É só ler o aerograma do dia 5 de Dezembro [de 1972]. Algumas frases soltas
“Maldita Guiné que me está a fazer perder tudo que mais amava Lenta e persistentemente o tempo vai passando. Para que eu possa viver em perfeito equilíbrio de ideias preciso de fazer coisas diferentes do habitual que actue sobre mim como um antídoto ou como uma espécie de válvula de escape. Porque hei-de estar com escrúpulos se ela não me quer? Vou pôr um anúncio na Plateia e escreverei a todas que me escreverem até pode ser que me esqueça que existe uma Maria Amélia”.
Foleiro. Foi muito foleiro eu concluir que 90% das mulheres que deixávamos, quando íamos para a guerra, procuravam noutros aquilo que de repente perderam.
Em todo caso digo:
“Se ela traiu o que de mais puro havia em mim. Também digo que o amor é mais forte que o ódio”.
Por favor, não me peçam para colocar aqui na íntegra o aerograma do dia 7. Deve ter sido a resposta mais disparatada da história da humanidade aquela que eu dei, a respeito de conter o desejo sexual, naqueles já cinco longos meses, sem ter uma mulher.
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Nota do editor:
15 comentários:
Dino, é verdade que o teu amor resistiu, ao tempo, à distância, à guerra, ao ciúme, aos equívocos, às palavras e aos silêncios...
Obrigado, por teres tido a coragem de tocar neste ponto sensível, que eram/são as nossas relações com as namoradas, noivas, mulheres... Muitos não aguentaram, outros conseguiram aguentar...
Obrigado pela partilha destas tuas "coisas da intimidde"...Como escreveste (e leste) muitas cartas dos teus camaradas, tens uma ampla visão deste problema... Eu nunca li a revista "Plateia" mas vou-me apercebendo da importância que teve para muitos camaradas nossos no desterro da Guiné...
Um grande abraço para ti, Dino. Vai dando notícias do "bosque dos avós". Luís
Dino, sim senhor. Grande à vontade perante as câmaras da RTP, grande à vontade e de fácil explicação da questão da plantação de uma árvore com o nome dos netos. Excelente ideia.
Não percebo a razão de escrever, da Guiné, à namorada falando da Rádio Argel. Não percebo a razão de por a Melly com problemas e tu próprio, numa possível 'bufaria' do conteúdo das 'cartas de amor'.
No meu tempo, 1969/70, também ouvíamos a Rádio do PAIGC e também constatávamos a grande diferença entre o acontecido e o que era dito ter acontecido. É a informação/contra informação que sempre existiu em ambos os palcos de guerra. Ainda hoje me recordo de ter ouvido na Rádio do PAIGC, quando estava em Canquelifá, depois dum grande a ataque à pequena tabanca de Dunane (estrada de Piche-Canquelifá)as NT terem sofrido baixas e um grande número de feridos. Baixas não houve nenhuma e o grande número de feridos com certeza que devem ter sido informados duma enfermidade que atingiu grande parte das NT devido a uma intoxicação de marisco estragado vindo de Bambadinca dias antes.
Quanto à notícia, anónima, da Melly ter outro, que afinal não era verdade, houve muitos casos verdadeiros sem ter havido notícia, anónima, nenhuma. No regresso é que era constatado o problema e já não havia maneira de limpar a tatuagem 'Amo-te Guida'.
Ab
Valdemar Queiroz
O bosque dos avós já um sítio na Net...
"Para qualquer Avô ou Avó que se pretenda inscrever na plantação de uma ou mais árvores com o(s) nome(s) do(s) seu(s) neto(s) ou neta(s) no dia 24 de Março de 2018 no BOSQUE DOS AVÓS na serra do Marão - Amarante"...
http://www.bosquedosavos.com/
Não vi a prestação do Dino na RTP, mas registo com agrado o comentário do Valdemar Silva... É bom saber que há camaradas nossos, sexagenários ou septuagenários, capazes de protagonizar iniciativas como esta, a do "bosque dos avós"...
Adorei o teu comentário, Valdemar:
(...) Quanto à notícia, anónima, da Melly ter outro, que afinal não era verdade, houve muitos casos verdadeiros sem ter havido notícia, anónima, nenhuma. No regresso é que era constatado o problema e já não havia maneira de limpar a tatuagem 'Amo-te Guida'. (...)
Era interessante que algumas dessas histórias chegassem até nós... Afinal, escreveram-se centenas e centenas de milhões de cartas e aerogramas, durante os longos 13 anos da guerra colonial, e pouca documemtação chegará até á posteridade... Como fazer a sociologia histórica do quotidiano da guerra sem esse material ?
Ab, Luís
Valdemar, voltando ao tema do coração traiçoeiro... Tenho ouvido, a não poucas mulheres, histórias de cartas e aerogramas queimados, depois de assentar a poeira da guerra... Aquelas que foram "madrinhas de guerra", não queriam partilhar segredos com o futuro marido... Aquelas que tiveram mais do que um namorado, também não tiveram coragem de guardar as memórias escritas do primeiro grande amor...
É sempre a sensação incómoda de estarmos na cama, a três, a quatro, a cinco... A nossa geração, educada para o amor casto e monogâmico, judaico-cristão, lidava mal com as "fantasias sexuais", afinal, o "pecado"...
Hoje, a nossa rapaziada e raparigada faz a sua educação sexual na pornografia da Net, nós ainda somos do tempo de ir às putas... Enfim, as misérias e as grandezas de cada geração... Não temos nada a ensinar aos nossos filhos e netos, infelizmente, neste capítulo... Somos uma geração de silêncios e de inibições, tanto no que diz respeito ao sexo e ao amor, como a guerra e as suas "vergonhas"...
Quantos segredos não irão para a cova connosco ?
Caros amigos,
Como da ultima vez, quero lançar um desafio a todos os nossos Gra-Tabanqueiros e antigos Combatentes, com uma questao simples, para testar os conhecimentos que tiveram de Africa durante o curto periodo de tempo passado na Guiné.
Questao:
Imaginem, por alguns segundos, que eram africanos e Guineenses, na idade de tomar a primeira esposa, e que deveriam escolher uma das 5 Bajudas (meninas casadoiras) retratadas na foto em cima, no presente Post:
Perguntas:
a)-Qual seria a menina a nao perder, como futura esposa e porque?
b)-Qual delas deveria ser evitada a todo o custo? Justifique, se faz favor.
Um abraço amigo
Cherno Baldé
Escolhia a 1º e repudiava a 4ª. Abraço Cherno ! Alfero.
Caro Alfero,
Podes indicar, pelo menos, duas razoes para esta escolha?
Nao eh obrigatorio.
Cherno
Beleza e Virgindade. Alfero
Eu escolhia a 1ª. e a 5ª bajuda.
Sendo Embaló podia escolher mais que uma e não escolhia nenhuma das outras por
serem ainda muito bajudinhas.
Valdemar Queiroz Embaló
Caro V. Embalo,
Pelos vistos, trata-se de um grupo de idade, quer dizer, a diferenca de idades eh minima.
Cherno
Caros amigos Alfero Cabral e Valdemar,
Os dois ficavam bem com a primeira, pois ela é mesmo digna de um Alfero miliciano e/ou de um Principe Embalocunda, na condiçao de que o Comandante e/ou o Regulo se mantinham dignos nao entrando na corrida.
Resposta:
A primeira Bajuda é caso a nao perder e a Terceira é a evitar a todo o custo.
Justificacao:
A primeira menina é o que os fulas antigamente chamavam de mulher-vaca. Ela é muito saudavel, confiante, alegre e de bom trato. Do seu rosto irradia uma luz suave que fara da sua casa um lar de bons encontros e de felicidade. Ela cuidara bem da sua casa e da sua familia. O facto de ser a unica que amarra o pano do lado direito quer dizer que ela é especial. Unico senao consiste no facto do elevado numero de pretendentes. Ela esta predestinada a um homem de estatura forte, no sentido da riqueza ou do poder.
A segunda menina é uma mulher-onça. O seu marido cuidara para nao a irritar muito, pois a sua colera poderia ser desastrosa. Ela nao é contra a poligamia, mas se der para torto havera muitas vitimas. Ela nao possui a força de um elefante, mas possui a agilidade e a destreza de um felino. Nao cuidara de filhos alheios.
A Terceira é a evitar, para os fulas do antigamente é uma mulher-javali, levemente retardada, passa a vida a trabalhar em casas e campos alheios enquanto os filhos vagueiam pelas sarjetas da aldeia a procura de alimentos. Nao cuida da sua casa nem da familia. Finge que tem medo do marido, mas nao presta contas a ninguem. Quando a questionam sobre seu comportamento poe as maos em cima da cabeça e espalha ao vento a sua desgraca. Os segredos da casa ficarao expostos nas bancas do mercado local e o que sobrar sera vendido aos saldos na feira-semanal da sua freguesia. Como as outras ja teve um lindo colar e um pano novo que, no seu eterno desleixo, deixou perder. O pano esta em retalhos e o lenco foi emprestado para a ocasiao da fotografia. Eh o simbolo da mulher pesadelo.
A quarta é uma mulher-carneiro, uma mulher obediente e trabalhadora, mas solitaria e de poucas falas. ela precisa de estimulos permanents para nao entrar em depressao. Pouco tolerante em relacao a poligamia. Ela é do tipo que os fulas chamam de "agua fria capaz de matar piolhos", pois coragem para o mal nao lhe falta.
A quinta e ultima é a mulher-bufalo, tem muita forca e capacidade de Resistencia para o mal e para o bem. Os seus filhos sao muito apreciados pela sua coragem e inteligencia. Dizem que a mae do Sundiata Queita, fundador do imperio mandinga do Mali era uma mulher-bufalo, uma mulher feiticeira, no bom sentido da palavra.
Parabens meus amigos, como vem, as vossas escolhas foram muito acertadas do ponto de vista africano e Guineense o que prova que, de facto, a vossa passage por terras da Guiné nao foi em vao.
Um abraco amigo,
Cherno Baldé
Caro amigo Cherno,
Obrigado pelos valiosos esclarecimentos sobre os traços de personalidade das mulheres guineenses.
Até breve.
Ab. Jorge Araújo.
Cherno Baldé historiador, filósofo, filólogo, antropólogo e muito mais... e ainda conselheiro matrimonial.
Jarama mauro gôrco, sempre a aprender qu'isto de escolha de mulheres tem muito que se lhe diga.
Abraço
Valdemar Queiroz Embaló
(mesmo sendo republicano, obrigado pelo elogiante Príncipe de Embalocunda)
Caro Valdemar,
Para os meus amigos antigos combatentes, de facto, gostaria de ser tudo isso e muito mais, de forma a tentar compensar as licoes de vida junto da tropa que foram decisivos para chegar a fase actual. A obrigacao de um cidadao adulto eh devolver a sociedade tudo aquilo que aprendeu durante a vida, ao mesmo tempo que continua a aprender, e o Blogue da TG tem sido um optimo lugar para esse exercicio.
Um forte abraco,
Cherno
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