segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19125: 'Então, e depois? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (7): as "cunhas" e os TSF...(Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Trms, TSF, Piche e Bissau, 1970/72)


Porto > Ribeira > 27 de maio de 2015 > VI Encontro dos "Ilustres TSF" > Em baixo o C. Lã. De pé, da esquerda para a direita: A. Calmeiro (já entretanto falecido), M. Rodrigues, E. Pinto, J. Reis, H. Sousa, M. Martins, F. Cruz, e F. Marques. Faltou o  Nelson Batalha que   já não compareceu por razões de saúde, e que viria a morrer,  entretanto, um ano e meio depois (*)


Foto (e legenda): © Hélder Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem comnplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Hélder Sousa:

[Foto à esquerda: O camarada, amigo, grã-tabanqueiro, colaborador permanente do nosso blogue Hélder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72): desembarcou, em Bissau, do T/T Ambrizete, em rendição individual, em 9 de novembro de 1970, e regressou 2 anos depois, exatamente a 10 de novembro de 1972. Ei-lo aqui, no "Pelicano", em Bissau, é o primeiro da esquerda, de perfil; à direita o Nelson Batalha (1948-2017) e ao centro  o Fernando Roque, que não era TSF mas TPF. A foto é do Hélder Sousa que é, também, o régulo da Tabanca de Setúbal, e tem mais de 140 referências no nosso blogue]


Data: domingo, 21/10/2018 à(s) 02:11
Assunto: As "cunhas"....

Caros amigos

Tenho acompanhado as várias publicações do nosso blogue e, dentro destas, esta última série, relacionada com o tema 'Então e depois? Os filhos dos ricos também vão p'ra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais iguais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada, que acho interessante e que pode ser tratada com mais ou menos ligeireza e com mais ou menos profundidade. (**)

Porque as escritas (e as leituras das mesmas...) serão mais eficazes se não forem muito extensas, vou tentar abordar o tema pelo prisma de forma "mais ligeira e menos aprofundada".

Cumprir ou não a "comissão de serviço por imposição" era um dilema que se colocava realmente mas não era tema alimentado por largas maiorias.

Havia quem entendesse que era dever defender os "seus" territórios ameaçados pela cobiça internacional. Conheci alguns.

Havia quem quisesse dar corpo à missão que a Pátria lhe impunha. Conheci alguns.

Havia quem pensasse que não deveria ir para África mas... o peso na consciência de "faltar ao dever", o anátema de "cobardia", o não saber quando e como voltar a estar com amigos e família, acabava por ter o peso suficiente para fazerem o "cruzeiro das suas vidas". Conheci bastantes.

Havia ainda quem achasse que sim, porque sim.

E havia também outros....

Nesta amálgama de possibilidades então muitos foram, pobres, remediados e ricos, e alguns, também pobres, remediados e ricos, 'não foram'. Refractaram-se, desertaram, ou ficaram por cá, resguardados...  Poderemos pensar que esses, os de cá, tinham "cunhas". Talvez, acredito que isso possa ter acontecido com muitos mas seguramente não com todos. Conheci alguns.

E então eu? Como foi?

Para mim foi um "percurso normal".  Fui incorporado no CSM em Santarém, na 3ª incorporação de 1969, em plena época de exames, a meio de Julho.

Vi recusado o pedido de dispensa para comparecer a exames na 2ª quinzena e por isso não me parece que tenha tido 'facilidades'.

No ano anterior, no Verão de 1968, com o dinheiro que amealhei na apanha do tomate, aproveitei o "Turismo Estudantil" e fui até Paris, Bruxelas e Londres. Menos "turismo" e mais "prospecção" para uma eventual "retirada da circulação". Quando chegou a incorporação, a opção foi "cumprir".

Fiz uma recruta empenhada, com bom aproveitamento geral, e já vos dei conta num 'post' daquela série "A terra que mais gostei ou odiei" (***),  que tive uma classificação tão boa que me colocou em condições de ser 'convidado' a passar ao COM mas não aceitei porque entretanto saiu a especialidade TSF, que me disseram ser muito boa, e como tal,  perante a quase certeza de poder vir a ser um "COM atirador"...., continuei o meu percurso no CSM.

Como me "saiu" TSF? Não faço ideia!

Os meus pais não tinham dinheiro suficiente para 'comprar' ninguém, não tinham conhecimentos capazes de o fazerem, por isso desconheço realmente como foi. Aliás, nesse Turno, em Santarém, apenas 'saíram' dois TSF, os outros 13 (pois o 2º Ciclo do CSM para TSF comportou 15 elementos) foram de Vendas Novas, Tavira e Caldas da Rainha.

Gosto de pensar que poderá ter sido numa informação que dei de ter construído,  com o meu vizinho do andar de baixo da casa onde vivia,  uma comunicação a partir de duas chaves de "morse" que um primo dele nos arranjou ...

Em Lisboa, no então BT [, Batalhão de Telegrafistas], fiz o 2º Ciclo, após isso fui fazer um estágio para Tancos, na EPE [, Escola Prática de Engenharia].

Findo o estágio houve exames para classificação. Dos 15 fiquei em 7º. Fui para o Porto, para o então RTm dar instrução.

Entretanto as mobilizações dos camaradas do meu Curso estavam a ser conhecidas a 'conta-gotas', pois do final de Abril de 1970 ao final de Agosto, dos 15 apenas tinham partido 6 e nós sabíamos que no dia 3 de Setembro entrariam todos os que estavam a acabar o seu percurso formativo e que assim estariam à nossa frente para 'marcharem'.

Pensava eu, assim, que tendo ainda dois dos meus camaradas à minha frente para serem mobilizados e com o acrescento dos que aí vinham, que a mobilização já não se daria e, caso isso tivesse acontecido, não teria havido "cunha" nenhuma... Mas não foi assim, já que no dia 1 de Setembro, dois dias antes do "reforço" da lista para mobilização, saiu a "rifa" a 7 de nós, do meu Curso, com passaporte para a Guiné.

Na Guiné, dos 7 que para lá foram, 3 arrumaram-se por Bissau.Eu e outros 3 fomos para o "mato". 

Não me parece que aqui tenha funcionado alguma "cunha". Fui para Piche com uma missão específica, que não vem agora aqui ao caso, embora o meu Capitão que chefiava o STM (Serviço de Telecomunicações Militares) onde me incorporei, tivesse garantido antes que nenhum de nós iria chefiar Postos em 'zonas problemáticas' e,  no meu caso concreto, em compensação, como a zona seria 'problemática', quando terminasse a missão iria para zonas mais pacíficas, como Bissau, Bolama, Teixeira Pinto, por exemplo.

Não foi assim! Quando regressei de Piche fui 'requisitado' para a Companhia de Transmissões para integrar o Serviço de Escuta. Esta história já dei conta em 'post' faz muito tempo. (****)

O meu desempenho na "Escuta" poder-se-à dizer que me foi agradável. Não me vou alongar em motivos, poderá ficar para outra ocasião, mas não foi por "cunha", foi bem vivido.

Portanto, quanto a mim, desconhecendo na verdade como me "saiu" TSF, foi um percurso 'limpo, sem cunhas'. 

Conheci "filhos de ricos" que foram mobilizados e que foram para a Guiné. Conheci "filhos de não ricos" que ficaram por cá, alguns talvez com 'cunhas', mas outros nem por isso. Conheci alguns "filhos de patriotas" que procuraram fazer as suas vidas em lugares mais saudáveis do que os difíceis climas africanos. E também outros "meninos de suas mães" que foram para fora.

Por isso digo: "há de tudo"!

Um abraço
Hélder Sousa
__________

Notas do editor:


(****)  Vd. poste de 12 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5636: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (8): Como fui parar ao Centro de Escuta

Vd. também  poste de 26 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)

Ver ainda poste de 11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira

14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Hélder, desmontas alguns "mitos!...

Temos tendência para ver tudo a "preto e branco": o mundo, o passado, o presente, o futuro, o regime do antigamente, o 25 de abril, a guerra, a descolonização, os ricos, os remediados e os pobres, as "cunhas", a corrupção... Arranjamos prateleiras e rótulos para tudo e todos: fundamentalistas, fascistas, comunistas, homofóbicos, racistas, etc. Diabolizamos os inimigos, promovemos os amigos a santos e heróis...

Uma das coisas que pode intrigar alguns, dos teus amigos e conhecidos, é a de saber como é que, sendo tu notoriamente (?) do "reviralho" , vivendo numa terra de "perigosos comunistas" como Vila Franca de Xira, possivelmente já com "ficha na PIDE", arranjaste um raio de uma especialidade "bem boa", como essa, de TSF... Eu não tive essa sorte, mas também sei que o mérito foi todo teu...

A única explicação é que a tropa e a PIDE eram "departamentos separados"... (Enfim, devia haver alguns "subterrâneos" secretos... e alguns "agentes duplos")

E, depois, a PIDE valia o que valia: era bem o retrato da Nação, com todas as suas misérias e grandezas... Ainda não havia computadores, nem bases de dados integrados, nem cruzamento de informação... Não nego que não tivesse um "braço comprido", com "bufos" em todo o lado (?), incluindo a Lourinhã e Vila Franca de Xira... Mas nós, às vezes, temos tendência para os pôr nos píncaros da lua... Ora os gajos muitos deles eram uns "básicos", uns "cromos", com pouca perícia técnica, e meios limitados... E pouca "literacia política", diríamos hoje, de tal modo que podiam confundir uma "Bíblia protestante" com um escrito de Marx, Engels, Lenine ou Mao Tsé Tung... Foram safando o "Botas" e o regime, enquanto puderam e souberam e quiseram... Por outro, os gajos do "reviralho" também não eram nenhuns "super-heróis"... Afinal éramos/somos todos de carne e osso, com tomates mas também com cu e medo...

Pergunta o historiador: por é que o Estado Novo durou quase 50 anos ?!... A resposta é complexa e não vou por aí...

A prova de que eles eram "mauzinhos", os pides, foi o desastre da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de novembro de 1970) e o "golpe militar" do 25 de Abril... A "inteligência" da PIDE/DGS era muito "esburacada"... Felizmente que as polícias políticas também são "esburacadas"... Em toda a parte, em todas as épocas...

PS - Aviso à navegação: longe de mim querer "minimizar" e "branquear" a PIDE/DGS...

Hélder Valério disse...

Olá, bom dia!

Para já é para uma pequena correcção: na foto no Pelicano de facto estou à esquerda mas os outros dois têm os nomes trocados. O do meio é o Fernando Roque, também de Transmissões mas "TPF" e o da direita é que é o Nelson Batalha.

Quanto ao que escreves pois que merece alguns "acrescentos" ou esclarecimentos mas agora não dá, tenho que sair e farei isso depois.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hélder, obrigado. As correções estão feitas. Quanto ao meu comentário, foi "deliberadamente provocatório"...Aquele abraço, Luis

Tabanca Grande Luís Graça disse...

cu·nha
substantivo feminino

1. Peça de ferro que vai diminuindo de grossura até terminar em corte para rachar lenha, fender pedras, etc.

2. Pedaço de madeira para nivelar objectos que não assentam por igual. = CALÇO

3. [Portugal, Informal] Pessoa influente que pede em favor de outra com empenho. (Equivalente no português do Brasil: pistolão.)

4. [Portugal, Informal] Empenho ou recomendação de pessoa importante ou influente. (Equivalente no português do Brasil: pistolão.)

5. [Literatura] Palavra que entra no verso só para lhe completar a medida. = RÍPIO


"cunha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/cunha [consultado em 22-10-2018].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Era bom que cada um pudesse contar a sua história, sem fazer juizos de valor... Achamos que a "cunha" é uma instituição nacional, desde a fundação do reino de Portugal... Sem uma "cunha" metida lá em Roma, Dom Afonso Henriques dificilmente conseguiria edificar este reino à beira mar plantado...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os portugueses adoram "meter cunhas"... Mas mais ainda "receber cunhas" e dar-lhes bom encaminhamento...

Em qualquer dos casos, pode pensar-se que é "moralmente incorreto", mas não nos interessa "o que deve ser", mas "o que é"... Sem adjetivos... Quem recebe cunhas, é porque tem poder, algum poder, e os outros reconhecem esse facto,o que lisonjeia o "ego"... És pide, és sargento, és coronel,és general, és professor, és médico, és juiz, és padre, és bispo...

Quem é que está acima das cunhas ? Nem os santos, a quem "metemos cunhas todos os dias"... Durante a guerra colonial, acho que o departamento do São Pedro ficou "entulhado" com tantas "cunhas" metidas ao céu...

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

Muito bem dito: "Quem é que esta acima das cunhas?". Ninguém. O mundo abstracto onde nao havera nem cunhas nem preferencias, ainda esta por nascer. Durante algum tempo, cheguei a acreditar que, talvez nos paises socialistas. Que nada, ainda era bem pior, e tudo metido num pantano de imobilismo e inércia, impensaveis.


Numa recente visita a minha aldeia, testemunhei o advento de uma nova filosofia. Numa sexta-feira santa (para os muçulmanos), um jovem da aldeia, um pouco mais novo que eu (nao sei se estava ou nao sob efeito de algumas das ervas que fumam por ai), chamava a atençao das pessoas para que aumentassem os agradecimentos a Alla, mas que, em contrapartida, diminuissem os peditorios (as cunhas divinas) pois, segundo ele, com a chegada da Internet e dos paineis solares, Alla ja nos teria enviado, por intermedio dos brancos, quase tudo que precisavamos e agora, deviamos era concentrarmo-nos no trabalho e acabar com a eterna mendicidade e a espera dos milagres (as tais cunhas). Fiquei deslumbrado com esta nova descoberta do pragmatismo filosofico das gentes do campo.


Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Hélder Valério disse...

Muito bem!

Talvez de forma rápida, mas cá vão alguns 'acrescentos'.
Em primeiro para pontuar a informação que o Cherno nos dá e que mostra como a internet lá vai moldando as gentes e as mentes e faz o seu progresso até numa remota aldeia da Guiné. Para meditar...

Depois para não recusar a 'provocação' lançada pelo Luís insisto em como não sei como fui parar a TSF.
Tenho uma teoria, mas será 'rebuscada' embora como dizem os italianos "se não for verdade, está bem apresentado" e que assenta mais ou menos no seguinte:
À data eu seria uma figura menor (como hoje, aliás) que pertencia à Direcção da Associação de Estudantes do estabelecimento escolar que frequentava, o IIL (Instituto Industrial de Lisboa), uma Associação menor (pensavam 'eles'..... A lista a que pertencia ganhou as eleições em Abril de 69, houve impugnação por parte de outra lista quanto à regularidade de um dos integrantes da ganhadora, verificou-se haver motivo para a reclamação, repetiram-se as votações em Maio e a minha lista voltou a ganhar, agora por esmagadora maioria de votos. Fui (fomos) depois recebidos pelo Ministro da Educação da altura, o Prof. Hermano Saraiva, exactamente no dia da greve dos estudantes de Coimbra. Em meados de Julho ingressei em Santarém na EPC. Na prática, a minha presidência efectiva durou 1 mês e meio, mas a Direcção manteve-se pois os outros dois elementos efectivos mantiveram-se no activo e assim havia 'quorum'.
O relacionamento da "prestimosa" com os militares tinha 'altos e baixos'. Um amigo meu, colocado na repartição de sargentos e praças disse-me que as informações prestadas sobre "mancebos problemáticos" eram classificadas de "suspeito", "activista", "comunista", "anarquista", assim por grau de "perigosidade". Na altura parece-me que integrava a categoria de "suspeito" mas nunca quis ir consultar o meu processo à Torre do Tombo pois acho que tenho as contas 'acertadas' com o passado e não quero perceber se haverá mais alguma coisa para 'resolver'...
Então, no seguimento da teoria, gosto de pensar que 'eles' preferiam ter as pessoas por perto para melhor as vigiar. Mas isto vale o que vale, não tenho nada que o prove.

Por agora vai assim. Com tempo e paciência talvez ainda possa acrescentar mais alguma coisa.

Abraços
Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vamos lá a ver se a percebe a tua mensagem "cifrada":

(...) "No ano anterior, no Verão de 1968, com o dinheiro que amealhei na apanha do tomate, aproveitei o 'Turismo Estudantil' e fui até Paris, Bruxelas e Londres. Menos 'turismo' e mais 'prospecção' para uma eventual 'retirada da circulação'. Quando chegou a incorporação, a opção foi 'cumprir' " (...)

Decompondo a msg:

i) Fostes para a tropa em 1969;

ii) Um ano antes, andaste na apanha do tomate, lá na lezíria ribatejana, ganhaste e amelhaste algum graveto;

iii) À pala da tua condição de estudante, vai até França em "viagem turístico-cultural";

iv) Explica lá como é que conseguiste passaporte... e fiador (quem podia garantir que tu não ficavas por lá,como muito boa gente, uns para trabalhar, outros para fugir à tropa...

v) Ainda deves ter apanhado um "cheirinho" do Maio de 68;

vi)... Mas tiveste saudades da tua alegre casinha;

vii) Ganhámos (a Pátria...) um grande TSF, perdemos um candidato à "clandestinidade"...

O que seria a tua vida hoje, o que serias tu hoje ? Talvez operário da Citröen ou da Peugeot, reformado, casado com uma filha do Asterix... E vinhas cá, agora, no "nosso querido mês de agosto", s tua/nossa santa terrinha, em "vacanças"...

E a gente nunca teria conhecido o bom amigo e melhor camarada que é o Hélder Valério de Sousa...

Vive la France!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valério (nome de origem latina, "Valerius", gente forte, robusta, sadia, valente, corajosa...): ao passares à clandestinidade, terias que dizer "adeus à minha mãezinha, não chore, que eu hei-e voltar um dia!" e "dares o salto" até Feança, com várias polícias à perna...

Nada que não fosses capaz de fazer, integrado numa de rede passadores, desde que tivesses 10 notas de contos (,o que hoje equivaleria a pouco mais de 3 mil euros)... Precisavas de maios algumas notas, agora francos franceses, para alugares uma cama numa barraca do "bidonville" e para comeres e beberes, até arranjares um "boulot"... Depois era o tríade heróica a que estava sujeito um representante da classe operária: metro-boulot-dodo...

Confessa que isso não era todos os "burgueses", como tu e eu... mesmo que tu te chamasses Valério... e eu Henriques.

Anónimo disse...

Desculpem lá a ignorância.
O que é um TSF?

Já sei que não é a estação de radio TSF.
Transmissões? de quê?

Obrigado
Virgilio Teixeira

Hélder Valério disse...

Ora bem, amigo Virgílio

Temos (tínhamos) o hábito de falar com siglas e por aqui ainda isso se vai usando, embora para o caso da "sigla mistério TSF" não me tivesse apercebido de que não seria perceptível, tanto mais que já foi por aqui referidas mais vezes.
Lembro-me, por exemplo, de qualquer coisa parecida com isto: "No dia de ontem, no TO do CTIG as NT entraram em contacto com o IN na zona da acção do CAOP2 tendo....9 só siglas!

Ora bem, à data, havia no Exército algumas Armas e vários Serviços. A Infantaria, a Cavalaria, a Artilharia, a Engenharia e as Transmissões, como "Armas" e "Serviços" tais como o "S.S." (Serviço de Saúde), o SPM (Serviço Postal Militar), etc.

Relativamente às "Transmissões", tanto quanto me lembro agora, havia o BT (Batalhão de Telegrafistas) em Lisboa, na Graça ou "Sapadores", o RTm (Regimento de Transmissões) no Porto, na zona da Arca D'Água e o BRt (Batalhão de Reconhecimento das Transmissões) na Trafaria, também referido como "CHERET".

Para os futuros "Furriéis", entretanto "Cabos Milicianos" para receberem menos pré, no BT eram agrupados os elementos que foram designados TSF (Transmissões Sem Fios), portanto as pessoas que iriam estar mais em contacto com as comunicações via rádio, os TPF (Transmissões Por Fios), naturalmente os que iriam estar mais relacionados com as instalações telefónicas e também havia os que iriam estar mais relacionados com o sistema de operações de mensagens.

Quando se ficava "pronto" (um TSF) após o Curso que correspondia ao 2º Ciclo do CSM (Curso de Sargentos Milicianos em que o 1º Ciclo correspondia à "recruta"), ia fazer um estágio de cerca de 3 meses junto de um posto de rádio do STM (Sistema de Telecomunicações Militares) para familiarização prática com a operacionalidade, com a função de chefia do posto, com a produção de mensagens, etc. Após isso havia um exame final, findo o qual se era aprovado e em função das notas dos diversos elementos se formava uma lista de classificação.
Alguns iam para o Porto, como eu fui, dar instrução aos futuros Soldados e Cabos de Transmissões.

Na Guiné fui, naturalmente, integrado no STM de lá. Para além do STM havia também a CTm (Companhia de Transmissões) que agrupava todos os Serviços (administrativos, saúde, transportes, "centro de escuta", etc, relativos à Arma) e o PTm (Pelotão de Transmissões) que agrupava o pessoal de natureza técnica (os TPF) e outros para a reparação dos equipamentos, rádios, telefones, antenas) Passado algum tempo de estar lá, cheguei na primeira quinzena de Novembro de 1970, aí no verão de 1971, foi criado o "Agrupamento de Transmissões" que agregou todos os diversos "departamentos" que então existiam. Quartel novinho em folha, construído de propósito para esse fim, não foi adaptação de nada, coisa fina.

Portanto, amigo Virgílio, nestes artigos, quando refiro TSF estou a indicar os que tinham um relacionamento com os rádios, com as "transmissões sem fios".

Abraço
Hélder Sousa

Hélder Valério disse...

Virgílio

Já agora, esclarecendo melhor.
Nos Batalhões e Companhias havia o responsável pelas transmissões dessas Unidades, um Alferes, um ou mais Furriéis e vários Soldados e Cabos para a operacionalidade. Quando iam em patrulha, emboscadas, operações ia sempre, naturalmente, o(s) homen(s)das transmissões da Unidade que iam comunicando (quando necessário pois o 'silêncio' deveria imperar).
Esse pessoal era comummente referido como os "transmissões".

Os TSF eram os que estavam associados ao STM. Este "Serviço" funcionava como que uma cúpula do sistema de comunicações. Havia várias "redes". Todas reportando ao Posto Director principal (Bissau) e compostas conforme a sua distribuição geográfica.
Por exemplo, no meu tempo (e gosto sempre de referir isso pois as coisas foram mudando, adaptando-se) estive durante 6 meses a chefiar o Posto do STM de Piche, integrando a Rede "Leste 2" que compreendia Bissau, Bafatá, Nova Lamego, Piche e Pirada, integrando assim Bissau, o Comando de Agrupamento respectivo da zona em Bafatá e a sede dos Batalhões referidos.

Acho que assim fica mais completo.

Abraço
Hélder Sousa

zeca disse...

Tal como referido a " CUNHA ", faz parte do nosso quotidiano, pelas piores razões, mas no que respeita ao serviço militar, tive conhecimento de casos, onde quem devia ter ido não foi, e visse versa, pois faziam-se troca de exames, os capazes pelos incapazes, mesmo os que nada conseguiam e iam, lá continuava a cunha,e a colocação era feita estrategicamente. Todos fomos um pouco cobardes,cada um com os seus motivos.