quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20563: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (114): Vamos publicar, com a devida autorização da família, um excerto das memórias, ainda inéditas, de Inácio Soares de Carvalho, um nacionalista da primeira hora, militante do PAIGC, pai do nosso leitor (e futuro grã-tabanqueiro), o historiador e arqueólogo Carlos de Carvalho, cabo-verdiano, de origem guineense


Guiné > Bissau > s/d > Edifício do BNU - Banco Nacional Ultramarino. Cortesia de Mário Beja Santos (2017).

Inácio Soares de Carvalho trabalhou aqui até ser detido pela PIDE em 15/3/1962. Vamos  publicar, em breve, um excerto das suas memórias políticas, ainda inéditas, com a devida autorização do seu filho, Carlos de Carvalho. 

Nasceu na Praia, foi em criança para a Guiné com os pais. Envolveu-se na luta política. Foi preso pela primeira vez em 1962. É deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na colóiniua penal da ilha das Galinhas. Em 1967, é liberto pela primeira vez. 

Em 1972, é de novo preso e encarcerado na 2ª Esquadra de Bissau, sendo solto,  3 meses depois, sem culpa formada.  Em 1973, é de novo preso,  para conhecer a liberdade definitiva com o 25 de Abril de 1974, em Portugal.  

Nos finais de setenta, regressa à sua terra natal, Cabo Verde,  e afasta-se praticamente da vida política activa.  Já faleceu. (Informações biográficas fornecidas pelo filho, Carlos de Carvalho)


1. Mensagem de Carlos de Carvalho (Pria, Santiago, Cabo Verde), com data de 22/11/2019, 19:13

Caro Sr. Luís Graça,
Boa tarde.


Confesso ter ficado surpreso com sua pronta resposta (*). Pensava que levaria dias a me responder. Confesso também ter ficado surpreso, claro pela positiva, com o conteúdo de seu email.

É verdade que é um dever de memória resgatar parte de nossa história comum. É o que faremos publicando a obra de nosso velho.(...)

Envio em anexo, extractos do Livro para sua apreciação e com autorização de o publicar no seu/nosso blogue, se assim entender. Será uma forma de divulgação do que será o livro.

Meus / nossos (da família) antecipados agradecimentos.
Carlos de Carvalho


2. Resposta do editor Luís Graça, com data de 23/11/2019, 18h23

Carlos, aqui tem a autorização do Paulo Santiago. Não se esqueça depois de o citar, a ele e ao nosso blogue. Obrigado pelo texto (resumo das memórias do seu "velho", a cujo memória me inclino), que me mandou e me autoriza a publicar no blogue, o que farei com todo o gosto.

Mas preciso que me dê mais alguns dados  biográficos sobre o seu pai. Gostaria de saber também o título do livro, a editora, o local e o ano de edição (se já tiver editora)... O seu pai deixou-lhe algum manuscrito ? Ou ainda teve tempo de o entrevistar, em vida ?... 

Diga-nos também algo mais sobre si: o que faz, onde vive...Claro que o gostaria de ter, na Tabanca Grande ("onde todos cabemos com tudo aquilo que nos une, e até com aquilo que nos pode separar")... 

Temos aqui diversos "amigos da Guiné", que não foram combatentes, nem de um lado nem do outro, e que são naturais da Guiné: desde o Nelson Herbert Lopes (os nossos "velhos" estiveram ainda juntos no Mindelo em meados de 1943) ao Cherno Baldé (Bissau)... passando pelo saudoso Pepito, mas também o Manuel Amante da Rosa (esse, sim, antigo combatente, fiz o serviço militar na sua terra, em 1973/74...). 

Se aceitar conveniente e oportuna a sua entrada neste grupo (somos 800)... Temos regras de convívio muito simples, de bom senso.

Não somos um blogue de causas (nem temos nenhuma agenda "político-iudeológica"), mas de partilha de memórias (e de afetos). Estamos "on line" há mais de 15 anos. E temos 11,5 milhões de visualizações... Um acervo enorme, plural, sobre a Guiné e a guerra colonial. 

Mantenhas. Bom fim de semana. Luís

3. Resposta do Carlos de Carvalho,  em 25/11/2019, 19:12

Caro Luís Graça

Boa tarde e minhas desculpas pelo atraso na resposta.

Meus imensos agradecimentos pela autorização dada pelo, já considero comum amigo, Paulo Santiago.

Aceito com muito gosto fazer parte da “rede de memórias” que conseguiram criar, sem remorsos, sem ressentimentos. O passado nosso, quer queiramos quer não, foi comum. Tive a felicidade de ter estudado com muitos colegas portugueses que hoje não sei por onde andam mas que na altura éramos amigos, jogávamos à bola juntos, sem perguntarmos donde cada um vinha e quem eram nossos pais.

De seus amigos da Guiné, que citou, o Nelson [Herbert], por exemplo, é meu grande amigo, nossas famílias se relacionam como autênticas famílias mesmo. Ele conhece grandemente a história das memorias e temos trocado ideias sobre o seu conteúdo no geral.

O Amante da Rosa idem. Fui colega de infância e de juventude de seu falecido irmão e ele é colega de serviço de meu irmão. Ambos são hoje Embaixadores.

Como vê,  este mundo é mesmo pequeno.

O triste de tudo é ver aquela linda nossa terra no estado em que se encontra. Dói mesmo!!

O meu velho deixou mesmo suas memorias, instigadas por nós, filhos. O manuscrito existe e algumas páginas irão no livro.

Envio, em anexo, Sinopse e Nota Introdutória das Memórias que permitirão publicar no seu/nosso blogue parte do que vai ser, sem dúvida, umas excelentes memórias sobre a luta clandestina. Segue também o que provavelmente será a capa do livro.

Eu vivo na Praia, CV, e sou historiador e arqueólogo de profissão. Trabalho no Instituto do Património Cultural de que fui Presidente largos anos. Faço mais é investigação no domínio da preservação do património e agora estou também me enveredando pela temática da luta de libertação.

Continuaremos o nosso contacto dentro das regras de convívio que estabeleceram para os amigos do blogue.

Aceite meu abrasu.


4. Comentário de Luís Graça, 26/11/2019, 21:43


É verdade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande. O Carlos já aceitou o meu convite para integrar a Tabanca Grande, onde, como eu lhe disse, cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar... Autorizou-me a publicar excertos do livro que quer ver publicado, em memória e homenagem ao seu "velho"... Merece o nosso apoio. Gostava que ele me pudesse mandar uma foto, atual, tipo passe.

PS - Vamos oportunamente publicar, aqui no blogue, um excerto das memórias, ainda inéditas,  do falecido pai do Carlos de Carvalho, que foi um nacionalista da primeira hora, um Combatente de Liberdade da Pátria, de seu nome Inacio Soares de Carvalho: na clandestimnidade era o  Naci Camara, trabalhou no BNU - Banco Naciional Ultramarino, erm Bissau, foi várias vezes preso pela PIDE durante o tempo que durou a luta pela independência, conheceu o Tarrafal e a Ilha das Galinhas. As memorias abarcam o período de  1956 a 1974.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20559: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (67): pedido de autorização para uso de fotos de Guerra Ribeiro, em livro de memórias do "tarrafalista" Inácio Soares de Carvalho (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, Cabo Verde)

11 comentários:

Anónimo disse...

Virgilio Teixeira, disse,
Em, 16-01-2020

Não sei que comentário é este, parece-me tipo árabe!!!! mas também não me interessa.

Mas o que queria aqui comentar, é o meu profundo 'desagrado' - isto é uma palavra soft -, pelos caminhos que estão a ser seguidos pela Tabanca Grande...
Francamente, utilizar este espaço, conjuntamente com pessoas ligadas ao PAIGC?

Os mesmos que mataram e massacraram milhares de soldados Portugueses?
Então esses Bravos que assistiram às matanças, barbaras, dos seus companheiros, e andaram a juntar num saco o que restava de alguns, não se indignam?

Então eu não estou bem com a vida e com este mundo que me rodeia.


Como diz o José Régio: Eu Não vou por aí...


As opiniões são livres, certo?

Esta é a minha, e ninguém a consegue demover, quaisquer que sejam as razões dos outros, mas se entenderem, podem eliminar o comentário, como já fizeram outras vezes.

Passem bem.

VT.


Valdemar Silva disse...

Interrompi a audição de 'O Amor das Três Laranjas', de Sergei Prokofiev, para não perder a 'Cantilena em Lá fui eu 15 anos depois'.

'....Nos dias seguintes tivemos o primeiro
contacto com o Presidente 'Nino' Vieira...'


Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, só por curiosidade fui traduzir o comentário em árabe:

Seja o melhor:

Empresa de cabeamento de esgoto em Qatif

[Qatif fica ba Arábia Saudita]


Trata-se obviamente de "SPAM" comercial...As redes do Blogger detetaram... Vou eliminar...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio:

Tens todo o direito de mostrar o teu desagrado... Mas ainda nem sequer publicámos o tal excerto das memórias do português Inácio Soares de Carvalho, funcionário do BNU, preso pela PIDE, expulso do banco, e mandado para o Tarrafal, sem nunca ter sido julgado...

Fica descansado; não foi "turra", de Kalash na mão, não andou no mato a matar "tugas"... Foi apenas um simples militante de base... Pagou caro a sua opção política, como muitos outros... Voltou para a sua terra no final dos anos 70, muito possivelmente desencantado com o rumo que o PAIGC seguiu depois da independência...

Não será a primeira vez que pomos a falar, na primeira pessoa do singular, alguns aqueles que estiveram do "outro lado do combate"... Eu gosto de ouvir as histórias dos dois lados... Se ouvir só de um lado, nunca saberei o que se passa do outro lado (do mundo e da vida)...

Fica bem. Eu prometo portar-me bem, até pelo meno ao dia 29 de janeiro. Ambos fazemos anos nesse dia e, por isso, tu és meu "mano", não te esqueças,,,

Luís

paulo santiago disse...

Este comentário vai destinado ao Virgilio Teixeira,o militar que tirou imensas fotos na Guiné.
Soube há meses atrás que um dos meus !º Cabos,etnia beafada,foi militante do PAIGC quase desde criança.Quando tinha 14 anos,foi preso juntamente com o pai na altura do congresso de Cassacá.
Continuou mlitante do partido.Sempre o achei um dos mais evoluídos intelectualmente,mas nunca desconfiei que fosse militante do PAIGC.
Em fins de 1971,uma secção do 53 que estava deslocada em Galomaro,foi emboscada nas Duas Fontes.Houve vários mortos e feridos,sendo um destes aquele meu 1º Cabo.
Não me consta que alguma vez tenha sido recebido pelo Nino.

Santiago

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigaado, Paulo, pelo teu comentário, sereno, sensato, dando mais um exemplo das muitas surpresas e contradições daquela guerra. Que, recorde-se, foi já no século passado, há muitos, muitos anos... Este blogue foi criado também com o objetivo de sarar as nossas "feridas", e de nos reconciliarmo-nos uns com os outros... Fizemos a guerra e a paz. Mas a reconciliação é um processo doloroso, a nível individual e coletivo...

Os inimigos de ontem, alguns meros adversários políticos, já morreram, na maior parte dos casos... De um lado e do outro: Amílcar Cabral, Luís Cabral, 'Nino' Vieira, Schulz, Salazar, Spínola... Muitos morreram sem conhecerem a paz nem fazerem as pazes...

Recordo que até o 'Nino' Vieira (com quem tivemos os dois, tu e eu, e mais um grupo de 20, portugueses, guineenses, cabo-verdianos, cubanos e outros, no seu "palácio", em 7 de março de 2008, mas a quem eu não "apertei a mão", mas gravei-em vídeo...) veio visitar Spínola no leito da morte, em Portugal. E, ao que parece, emocionou-se...

Afinal, éramos todos homens, nem deuses nem heróis...E os nossos países hoje fazem parte de uma comunidade, que se chama CPLP... Somos mais de 250 milhões a falar uma língua comum...onde há palavras que todos usamos e têm o mesmo significado como perdão, reconciliação, compaixão, memória, saudade, paz...

Somos o único animal que é capaz de perdoar... Podemos não esquecer, somos capazes de perdoar... E isso é que é bonito nos seres humanos... Não temos que ser "irmãos" para perdoar...

Que descansem em paz todos os que já morreram, de um lado e do outro, naquela estúpida, absurda e inútil guerra, como todas as guerras!... Luís Graça, às 5 da manhã. Sem insónias. muito menos sem ressentimentos.


Alberto Branquinho disse...

FALOU, seu Luís !
Gostei.

Abraço
Alberto Branquinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer:

(...) Recordo que até o 'Nino' Vieira (com quem ESTIVEMOS os dois, tu e eu, e mais um grupo de 20, portugueses, guineenses, cabo-verdianos, cubanos e outros, no seu "palácio", em 7 de março de 2008, mas a quem eu não "apertei a mão", mas gravei-em vídeo...) veio visitar Spínola no leito de morte, em Portugal. E, ao que parece, emocionou-se (...).

paulo santiago disse...

Luis

Eu não estive no "palácio".A essa hora,visitava o cemitério onde estão sepultados militares portugueses,e não andava sózinho,lembro-me de encontrar lá o Nuno Robin,por exemplo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Paulo, peço desculpa pelo lapso...Éramos um grupo de 20, entre portugueses e estrangeiros, os que fomos ao "Palácio", a casa onde um ano depois o 'Nuno' Vieira será barbaramente assassinado...

Sei que alguns de nós, como foi o caso Nuno Rubim , aproveitaam essa manhã para ir visitar o talhão dos combatentes portugueses no cemitério de Bissau.

26 DE MARÇO DE 2008
Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)"

Anónimo disse...


Só hoje voltei a este Poste.

Não me interessou muito o tema, e depois desliguei.

Vejo este comentário:


'....Nos dias seguintes tivemos o primeiro
contacto com o Presidente 'Nino' Vieira...'

Valdemar Queiroz





O que quer este Senhor com isto?

Os restantes comentários aceito-os, porque percebo, têm lógica, foi uma precipitação talvez, mas continuo a não concordar, mas este não!!! Do Nino?

Eu também não ouço estas musicas intelectuais, estou fora, sou um bocado básico

Por estas e por outras, não vou dar continuidade à tal Cantilena.........

Virgilio Teixeira