sexta-feira, 3 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20807: In Memoriam (363): Coronel Luís Fernando de ANDRADE MOURA (6-5-1933 - 23-3-2020), notável soldado da Pátria e da Democracia (Manuel Luís Lomba)

1. Em mensagem do dia 2 de Abril de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) traz-nos a notícia da morte do Coronel Luís Fernando de Andrade Moura, ex-Comandante da CCav 3404/BCav 3854:

In Memoriam

Coronel Luís Fernando de ANDRADE MOURA (6-5-1933 - 23-3-2020), notável soldado da Pátria e da Democracia, no Ultramar, no 25/ABR/74 e no 25/NOV/75.

Depois de alcançar a classe de Capitão miliciano, no comando de companhias operacionais em Angola e Moçambique, frequentou o curso de Cavalaria da Academia Militar de transição ao QP, foi mobilizado para a Guiné, onde como Cap Cav Grad foi Comandante da CCav 3404 do BCav 3854, aquartelado em Cabuca no sector Leste.

Desempenhando-se como aderente e dinamizador do MFA (Movimento das Forças Armadas) no RCav 3, em Estremoz, na madrugada de 25A arrancou ao comando operacional do Esquadrão de Reconhecimento e dos seus 120 aderentes, na missão de reserva de Intervenção às ordens do Posto de Comando, no REng na Fontinha, às 13H15, fez auto na Praça da Portagem, no encontro sul da então Ponte Salazar, recebeu ordens para ir ao Forte da Trafaria libertar os militares presos da revolta de 16 de Março e, já em marcha, recebeu a contra-ordem de derivar para o teatro de operações de Lisboa e de manobrar a neutralização de um Batalhão da GNR, de uma Companhia Móvel da PSP e de 2 carros de combate do RCav 7, que cercavam o cerco ao cerco que o Capitão Salgueiro e o seu Esquadrão de Reconhecimento da EPC, de Santarém, montara ao Quartel do Carmo da GNR, refúgio de Marcelo Caetano.

No Príncipe Real convenceu os sargentos da força da GNR a não abrir fogo, no Largo da Misericórdia convenceu os oficiais da GNR a retirar os morteiros em pontaria sobre o Largo do Carmo, enquanto posicionava as suas Panhard´s em prontidão de fogo de neutralização daqueles 2 poderosos carros de combate M44 Patton, do RCav 7, afectos à NATO.

Foi um dos decisores do sucesso do 25/ABR/74, porque era a única força blindada, da manobra do MFA, com armamento e munições anti-carro!

Foi essa sua manobra que possibilitou ao Capitão Salgueiro Maia o ultimato à rendição de Marcelo Caetano, que reforçou com o “argumento” das rajadas da metralhadora duma Chaimite, o alvo foi a bandeira da janela da sala da biblioteca daquele quartel, para não fazer vítimas.

Com Marcelo Caetano rendido e feito prisioneiro do MFA, passou a responsável da segurança desse aquartelamento, mas, pelas 18H30, a PIDE-DGS, sediada na rua António Maria Cardoso, começou a disparar sobre a concentração de populares que lhe aprontava um cerco. Foi convencê-los a cessar o fogo, apontando-lhes o canhão da sua Panhard, neutralizou musculosamente os agitadores que incitavam os populares a tirar as armas aos seus militares e a passar ao assalto às instalações e montou-lhe um cerco de protecção.

Recusou declinar o seu nome e qualquer comentário à Comunicação social, durante toda essa manobra, obrigou o distanciamento ao barbudo Álvaro Guerra, camarada ferido na Guerra da Guiné, jornalista democrata, ao serviço de “A República”, e, cumpridas 48 horas sem dormir, foi rendido pelo Capitão Campos Andrada.

Apoiado pelos seus oficiais, nomeadamente do então Major Fernando Ataíde, nosso camarada da Guiné, comandante da CCav 702, na quadrícula de Madina do Boé e Beli, irmã da minha CCav 703, em Buruntuma e Camajabá, conteve vigorosamente, na área de acção do RCav 3, de Estremoz, as dinâmicas dos mitologias revolucionárias, decorrentes do evento golpista do 11 de Março, a prevenir as ocupações selvagens acontecidas em Évora, Beja, Coruche, etc.

Ante o “PREC – Processo Revolucionário em Curso” aderiu ao “Documento dos Nove” e seu Movimento e, no 25/NOV/75, o Posto de Comando do “Grupo Militar”, instalado no RCOM, na Amadora, atribuiu-lhe a missão de Intervenção e, com o seu Esquadrão de Reconhecimento, cumpriu-a em Setúbal e sua península, território socialmente muito crítico, fazendo prisões de infractores do “estado de sítio”, em sobreposição às forças militarizadas de segurança, minada que estava a sua autoridade. Não foi chamado à acção em Lisboa, pela sua capacidade de tiro anti-carro, dado que o parque de carros de combate Panhard, Sherman e M44 Patton do RCav 7, o mais poderoso daquele território, era comandado pelo seu camarada Capitão Alberto Ferreira, que havia sido o seu adjunto do anterior, em toda a manobra vitoriosa do 25/ABR/74.

Sentidos pêsames à Família.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20547: In Memoriam (362): Padre Libório Jacinto Cunha Tavares (1933-2020), ex-Capelão do BCAÇ 2835 (Nova Lamego, 1968/69)

4 comentários:

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Caro Manuel Lomba: O seu texto em relação á actuação do Amigo Coronel Andrade Moura está correcto e já descrito por mim no facebook (ver minha pp de há dias) e muitos anos antes, aquando da publicação do meu livro "Equívocos e Realidades (...)" em 1999, para o qual me deu um depoimento, mais tarde de novo publicado em 2004, na edição actualizada "Memórias da Revolução (...). Quanto à sua afirmação sobre o Alberto Ferreira a comandar o RCav7 não está correcto pois, o Alberto entrou em ruptura com o comando do RL2 onde se encontrava e saiu da unidade antes do 25NOV. Poderá ver o texto na entrevista que me deu igualmente para os livros indicados. E foi um elemento essencial no apoio a Jaime Neves, no cerco ao RL2 na manhã de 26NOV e na rendição dos mesmos: RL2 e RCav7. Que descanse em Paz.

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

O Esquadrão de Estremoz ficou em Setubal onde era necessário e não foi para a área de Lisboa por não ser preciso. As tropas actuantes foram duas companhias de comandos em Monsanto a 25NOV e outras duas companhias tb de comandos, comandadas pelos então Capitães Apolinário e Lourenço, na área da Ajuda. Ambas as operações foram comandadas pelo então Coronel Jaime Neves. Eu encontrava-me no Posto de Comando do então TCor Ramalho Eanes, enquanto durou o o estado de sítio para a área de Lisboa. Assim o Alberto não era o comandante dos carros do RCav7, no 25/26Nov, pois como referi tinha entrado em colisão com o comando de Campos Andrada, Mário Tomé e Cuco Rosa. Ou os três "cucos" como tb os apelidavam. Volto a repetir:Andrade Moura (e não Alberto Ferreira) que descanse em Paz.

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Como se diz que não há dois sem três, comento agora sobre o 25 de Abril.
Como está no meu livro "Memórias da Revolução 1974-1975"/2004, pp 40/41, o esquadrão de Estremoz cercou as tropas da GNR, comandadas pelo Major Teotónio Pereira - duas comp.s do B1/GNR, comandado pelo Cor. Costa Pinto. O Alberto Ferreira, adjunto do Andrade Moura, disse-lhe para contactar o seu comandante, para evitar acções de força entre as tropas. Feito o contacto rádio, o Teotónio voltou com a resposta: "Se está aí o Alberto Ferreira devem retirar". Tal sucedeu na sequência dum contacto prévio de dias antes, no quartel de Santa Bárbara (B1/GNR).
O segundo esclarecimento tem igualmente a ver com a actuação das tropas de Estremoz, no cerco à sede da PIDE/DGS, em 25/26 ABR. Cerca das 02H00, quando o Andrade Moura foi descansar para o Carmo, quem ficou a comandar o pessoal foi o seu adjunto Alberto Ferreira e não o Major Campo Andrada (era major, como eu, os dois com a antiguidade de 1-1-1974). O caso da entrada em primeiro lugar nas referidas instalações da PIDE/DGS apenas ficou esclarecido 40 anos depois do sucedido, quando eu e outro oficial pusemos o então comandante dos fuzileiros, Costa Correia, a falar com o agora Coronel Alberto Ferreira. De facto terá havido uma entrada de uma secção de Estremoz, com Alberto Ferreira e o Major Campos Andrada, delegado da Junta de Salvação Nacional no local, com revista ao edifício e outra posterior, com este último oficial e o Costa Correia e os seus fuzileiros.