sábado, 18 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20867: (De)Caras (154): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte III (Depoimento do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)


Guiné > Região de Gabu > Pirada > 1973 > Vista aérea de Piarada, foto tirada em 1 de agosto de 1972, no DO-27, nº 3492, pelo então ten pilav António Martins de Matos.  Legenda: 1. Pista de aviação e heliporto ( a leste); 2. Estrada para o Senegal (a norte); 3. Estrada para Bajocunda (a sudeste); 4. Estrada para sul / sudoeste (Sonaco, Bafatá e Nova Lamego)

Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1964/66 > Croquis, com a localização da casa dos comerciantes Mário Soares e Palha, e de mais outros dois comerciantes, no centro de Pirada, além da tasca do Paiva,  contígua à casa do Mário Soares, a messe de oficiais, o quartel, a escola, a casa do chefe de posto, Barbosa... Junto deste funcionava também um posto sanitário. O quartel foi adaptado de um antigpo armazém de mancarra.


Croquis de parte das instalações ocupadas pelos militares da CART 676 (Pirada, 1964/66): quartos e messe de oficiais,  cozinha, WC, oficina, poço... A sul / sudeste,  ficava a tabanca.

Fonte:  Geraldes (2009) (*)



Guiné > Região de Gabu > Carta de Pirada (1957) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Pirada e Bajocunda.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)



Mário Soares > Pirada > 14/2/1974.

Foto: António Rodrigues (2015)
1. Quem foi Mário Soares, o comerciante de Pirada, de seu nome completo Mário  Rodrigues Soares, que alguns de nós, que passsaram pelo leste da Guiné, conheceram, ou pelo menos ouviram falar dele,  muitos de nós, ao longo da guerra ? (**)

Dizia-se, mais ou menos à boca cheia,  que o Mário Rodrigues Soares (, mais conhecido por Mário Soares,) tinha "relações privilegiadas" com os dois lados do conflito, as NT e o PAIGC. Dizia-se inclusive quer era um "agente duplo", trabalhando tanto para a PIDE/DGS como para o PAIGC. Onde está a verdade, se é que algum dia o viremos saber ?

A CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paunca, 1964/66) foi a primeira ficar aquartelada em Pirada. O nosso camarada e grã-tabanqueiro Carlos [Adrião] Geraldes (Lisboa, 1941- Viana do Castelo, 2012) era um dos alferes dessa companhia.   É autor de duas séries no nosso blogue, "Gavetas da Memória"  (13 postes) e "Cartas" (10 postes), onde fala do quotidiano dos militares que nessa época estiveram em Piradas e nos destacamentos de Bajocunda e Paunca.

O Carlos Geraldes conheceu o Mário Soares justamente quando a CART 676, chegou a Pirada, em 15 de outubro de 1964, vinda de Bissau (via Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego). Tornar-se-iam amigos. O Carlos passa a ser visita frequente da sua casa. E, nas suas carta, vem defendê-lo da acusação, injusta, de que ele jogava com um pai de dois bicos...

Foi assim, num dos seus postes ds série "Gavetas da Memória" (**), que ele descreveu a chegada a Pirada e o início da sua amizade com Mário Rodrigues Soares:

(...) Pirada, naquela época, resumia-se a uma rua de terra batida que tinha a meio uma espécie se praceta, com um pequenino monumento e tudo. 

(i) para a esquerda era o caminho para o aglomerado populacional, as palhotas;

(ii) ara a direita o caminho levava a uma pequena pista de aviação. 

(iii) m cada canto desta praceta, erguiam-se quatro edifícios caiados e com telhados de telha: eram as casas comerciais, representantes locais de outras sediadas em Bissau;

(iv) seguindo sempre em frente, chegávamos à fronteira com o Senegal, ali a escassos metros;

(v) a meio caminho [, do lado esquerdo,]  erguia-se a casa do Chefe de Posto e o edifício do Posto Sanitário;

(vi) ao lado [, direito,] um celeiro de mancarra que provisoriamente servia de quartel para um pelotão indígena: era ali que a Companhia iria residir… 150 homens, mais ou menos, iriam ficar alojados onde anteriormente estavam pouco mais de 30 (...)

(...) Para alojar os sargentos e os oficiais também se arranjou solução. O nosso amigo comerciante que tinha encabeçado a recepção às tropas recém-chegadas [, o Mário Soares], também já tinha pensado nisso.

Como de propósito tinha mandado arranjar uma casa, situada nas traseiras de um dos estabelecimentos comerciais que, chegava para albergar os dois oficiais e alguns dos furriéis. Os que não couberam, foram alojados pelo Chefe de Posto, o senhor Barbosa, um simpático velhote que vivia sozinho e ansiava por companhia. A casa que ocupava era demasiado grande para ele e de certo modo até ficava mais resguardado a dormir debaixo do mesmo tecto que a tropa. (...)

(...) Depois de um retemperador banho de bidão e de um opíparo jantar para os oficiais e sargentos, em casa do nosso anfitrião, o nosso futuro anjo da guarda, Mário Rodrigues Soares era assim que ele se chamava, sentíamo-nos num paraíso até aí inimaginável. (...) (**)

2. Continuamos à procura de outros testemunhos sobre esta "eminência parda" da guerra na Guiné, no nosso tempo, que foi o Mário Soares, seguramente o civil então mais conhecido... 

Estivemos a reler as cartas do Carlos Geraldes, que nos ajudam a perceber melhor a personalidade e o comportamento deste comerciante português, "bon vivant", hospitaleiro, insinuante, amável, generoso, prestável, com um vasto capital de relações sociais, a nível interno e até externo (com as autoridades e os comerciantes do outro lado da fronteira, no Senegal).

Nesta III parte, continuamos a publicar excertos, selecionados, das cartas remetidas para a família, no período de agosto de 1965 a abril de 1966, ou seja na última parte da comissão, e em que o Carlos  continua a fazer  referências ao seu "amigo M. Santos [leia-se: Soares]".

Em agosto de 1965, ele deixou o destacamento de Paunca e foi comandar a companhia, em Pirada, em substituição, cap art Álvaro Santos Carvalho Seco, a gozar a sua licença de férias na metrópole.

Em abril de 1966, chega ao fim a comissão, o Carlos Geraldes faz um despedida emocionada aos amigos que fez em Pirada e que deixa, com apreensão em relação ao seu futuro. Não sabemos se voltou algum dia a ver (ou a contactar com) o seu amigo Mário Soares.

Outras companhias, entretanto, passaram  por Pirada e o Mário Soares voltou a receber, na sua casa, outros oficiais,como foi o caso do alf mil médico José Pratas, da CCS/ BCAV 3864 (1971/73). Reproduziremos o seu depoimento no próximo poste desta série.


Carlos Geraldes (Lisboa, 1941 - Viana
do Castelo, 2012)
Na véspera do 25 de Abril de 1974, estavam em Pirada o comando e a CCS do BCAV 8323/73, bem a 3ª C/BCAV 8323/73. O Manuel Valente Fernandes, ex-alf mil médico do BCAV 8323/73 (Pirada, 1973/74), nosso grã-tabanqueiro (e antigo aluno do nosso editor Luís Graça, no curso de especialização em medicina do trabalho, na ENSP/NOVA) também era visita da casa do Mário Soares.


Paúnca, 1 de agosto de 1965 (****)

De novo em Pirada agora a comandar a própria Companhia!

O capitão foi de férias e, como o Cardoso, que é o alferes mais graduado, ainda se encontra na Metrópole, tive de vir eu para o comando das tropas, pois sou o alferes que se lhe segue quanto a graduação. (...)

Continuo a ir todas as tardes e principalmente depois de jantar, a casa do M. Santos, onde jogamos umas partidas de xadrez, novo entretenimento que descobrimos. Mas perco sempre pois ele é um jogador muito mais forte que eu. Agora, costumam juntar-se a nós, dois ou três furriéis, de maneira que os serões são muito mais animados. Discute-se política, cinema, literatura e de tudo um pouco, conforme as preferências de cada um.

Quanto às minhas novas atribuições no comando da Companhia, não me preocupam muito porque são poucas ou quase nenhumas. Daqui a poucos dias deve chegar o Cardoso e então regressarei de novo a Paúnca. (...)

Pirada, 8 de agosto de 1965


(...) Hoje tivemos também a festa de despedida do Gabriel,  aquele alferes de Cavalaria, meu companheiro em Bajocunda, de quem me tinha tornado amigo e que, foi nada mais, nada menos, nomeado ajudante do Governador!

É claro que delirámos com a notícia e fizemos mais uma grande festa em casa do amigo M. Santos que, coitado, depois do jantar, já abria a boca até às orelhas, cansado e mortinho por se ir deitar. 


Pirada, 29 de agosto de 1965

Tudo na mesma. Continuo um bocado azedo mas a coisa passa-me.

Só peço que o capitão chegue depressa, para poder regressar a Paúnca. Não fui ensinado para ocupar lugares destes e já estou farto de, quando quero fazer qualquer coisa, ter de andar a perguntar ao 1.º sargento (que também é uma boa bisca) se o posso fazer ou não.

(...)  De resto, a vida aqui em Pirada tem-se limitado a uma ida todos os dias ao quartel, assinar umas quantas mensagens que vão chegando e dar despacho a outras. Depois almoça-se, dorme-se a sesta e se ainda há mais alguma coisa a tratar volta-se ao quartel, senão vai-se até ao balcão da loja do M. Santos dar à língua até a hora do jantar. À noite vai-se outra vez para lá, jogar às cartas com as crianças e também com alguns graúdos que já apanharam o vício.


Pirada, 11 de setembro de 1965


Acabo de vir de casa do M. Santos, onde fui jantar juntamente com o capitão que, felizmente já cá está. Chegou ontem e fui eu próprio buscá-lo a Nova Lamego. Por enquanto parece ainda um pouco abananado com a mudança da Metrópole para aqui e só me deixa voltar para Paunca segunda-feira (hoje é sábado). (...)

A filha mais nova do M. Santos fez oito anos e houve grande festa lá em casa. Ficámos todos muito alegres como não podia deixar de ser. Eu ainda fiz uma retirada a tempo mas o médico e alguns furriéis teimaram em ficar mais algum tempo. Acabaram a cantar e a gritar desalmadamente no meio da praceta. Tive de os mandar calar à força e o furriel enfermeiro tropeçou e deu um valente tombo. No dia seguinte andava de braço ao peito. Foi uma risota.

Paunca, 10  de outubro de  1965


(...) À noite, quando não chove, geralmente sento-me cá fora e coloco o gira-discos a tocar. Como sei que eles [, os homens do pelotão,] não apreciam jazz, pedi ao M. Santos uns discos emprestados, entre eles, os do Solnado (os famosos discos com os monólogos da “Ida à Guerra”), que têm tido um sucesso estrondoso, pois ficam ali à minha volta, sentados em cadeiras, caixotes ou mesmo no chão. E assim passamos grandes bocados da noite, entretidos a conversar e a rir.


Paunca-Pirada, 24  de outubro de  1965

Hoje fui até Pirada ver um jogo de futebol com a Companhia de Cavalaria que está em Bajocunda.

Em Paunca já temos professor primário, é o Timóteo, um rapaz negro muito alto e ligeiramente coxo. Grande falador e grande bebedor também, como deu também para verificar. Esperemos que não me venha a dar problemas, pois parece ter prosápia a mais.

(De facto, como que a comprovar a minha estranheza quanto a alguns aspectos da sua conduta, vim a saber depois, pelo M. Santos, quando já estava na Metrópole, que ele afinal, tinha sido sempre um elemento do IN infiltrado e que, desaparecera repentinamente, quando sentiu avolumar as suspeitas sobre ele.)

Quanto a batuques, são todos os dias, mas não têm metade da graça dos que se faziam em Pirada. A população daqui é menos simpática e pouco comunicativa. Se não fosse por causa do capitão e daquela convivência forçada com o porcalhão da companhia (refiro-me ao Cardoso) andaria desejoso de voltar para lá. Mas assim é preferível ficar estagnado nesta absurda calma de Paunca. À noite, tenho até experimentado ir até casa de um ou outro comerciante, para uma visita, mas, francamente, são de tal maneira broncos e soezes que, regresso sempre sem vontade nenhuma de lá voltar. (...)

Paunca, 17 de fevereiro de 1966


Ultimamente tem havido uma série de falsos alarmes, convergindo as atenções para esta mísera localidade. Assim, de repente, sem qualquer aviso, surgiu aqui um Grupo de Combate de Nova Lamego e um Pelotão de Autometralhadoras Panhard, perguntando a toda a gente onde é que estava o inimigo!

Tratava-se, é claro, de mais um falso alarme, que fez logo saltar dos sofás os chefões na sede do Batalhão.

Confirmado o engano, óbvio é claro, o Grupo de Combate regressou ordeiramente a penates, deixando, no entanto, para trás as Autometralhadoras Panhard, que já agora aproveitavam para fazer umas patrulhas pelas redondezas, não fosse o diabo tecê-las…

Assim temos passado agora umas noites bem divertidas com a companhia destes hóspedes inesperados, aliás excelentes camaradas, especialmente o Comandante, o Alferes Alexandre, um gigante de Angola, sempre bem disposto.

A população que, tem um medo terrível das Panhard, com as suas imponentes metralhadoras de 20 mm, nem quer passar ao pé delas. No entanto soube que as populações mais afastadas parecem ter ficado tranquilizadas com o poderio de fogo que a tropa mostrou ter, para os proteger daqueles a quem eles chamam os bandidos (os turras).

Mas a miudagem atrevida, passada meia hora já andava encavalitada em cima dos blindados, brincando com as fitas das balas tracejantes de 20 mm, rindo com as brincadeiras dos soldados.

E tem sido assim esta guerra, sempre bem encenada, mas sem grandes palmas.

Agora que o Pelotão de Blindados também já se foi embora, voltámos àquela paz bucólica de sempre. Amanhã temos de dar uma grande limpeza no quartel e repor tudo nos seus lugares como dantes. Ficou como uma casa depois de uma grande festa, toda desarrumada e cheia de lixo.

Não deixei de ir a Pirada apresentar os meus hóspedes ao M. Santos, mas, não sei porquê, fui recebido com má cara. No entanto o [alferes]  Castro soube fazer as honras da casa e pagou as bebidas da praxe. 

Quando nos viemos embora, o M. Santos nem apareceu para as despedidas. Fiz de contas que não reparei. Afinal, não lhe devo nada e portanto, boa tarde!

Consta que já fez as pazes com o Cardoso e o recebe muito bem lá em casa. Alguém percebe isto? (...)

Paunca, 8 de março de  1966

No sábado passado, fui a Bafatá passear, pois apeteceu-me mudar de ambiente. No entanto apanhei uma valente estafadela pois a estrada está em péssimo estado e ainda por cima o jeep já não tem amortecedores.

Na companhia do M. Santos, almocei num café e depois fomos às compras. Apenas comprei uns livros e não encontrei mais nada de especial, a não ser um pequeno tapete com motivos árabes, alguns panos típicos, um canhangulo novo e uns pratos feitos de ráfia que podem servir de resguardo, quando se colocam panelas ou outros recipientes quentes em cima da mesa.

Mas o que mais de encontrava eram coisas feitas na China! (...)

Como o Manel Jaquim [,o homem do cinema ambulante,] agora parece ter medo de vir cá cima, não sei porquê, o nosso entretenimento continua a ser jogar às cartas ou ler alguma coisa. (...)



Paunca, 13 de março de 1966

Na semana passada estive dois dias em Pirada, a pedido do Capitão. Esperava a vinda de umas autoridades senegalesas e, como não tem lá ninguém que fale francês, pediu-me para lhe ir dar uma mãozinha.

Afinal a entrevista limitou-se a uma breve apresentação de cumprimentos mesmo sobre a linha de fronteira.

Em seguida, limitei-me a ficar por lá, ir até casa do M. Santos conversar e ouvir um pouco de música dos novos discos que tem recebido.
Em suma passei dois dias sem fazer nada, tal como um verdadeiro turista, passeando e cumprimentando velhos conhecidos. (...)



Paunca, 21 de março de 1966


As novidades para esta semana resumem-se à chegada do Manel Jaquim e a pouco mais. Finalmente reapareceu por cá, com um filme tão ordinário que até senti ganas de lhe apertar o pescoço. Chamava-se “O Capitão Sindbad” e era uma historieta desconchavada tirada das Mil e Uma Noites, excedendo tudo o que já vi de mau gosto e estupidez.

Durante o resto dos dias fui até Pirada várias vezes, para mudar de ambiente, conversar com o M. Santos, ver alguns amigos.

No domingo tivemos cá a visita de um velho comerciante de Pirada, o Gomes, que vive muito só, acompanhado apenas por um criado preto, quase tão velho como ele. Muito amigo de alguns furriéis, foram estes que se lembraram de o convidar para vir também conhecer esta já famosa estância turística. Bebemos uns whiskies e comemos galinha assada no espeto.


Bissau, 19 de abril de 1966

Todas as noites, depois de jantar, reunimo-nos e vamos até qualquer bar ou esplanada da baixa, petiscar camarão ou ostras.

No quartel temos mantido um comportamento tão acima da média que toda a gente está bem impressionada connosco. Acabaram-se os problemazinhos quotidianos que surgiam constantemente, quando estávamos no mato, em Pirada e em Paunca. Agora acordamos todos os dias, alegres e descontraídos, pensando sempre que falta menos um dia.

Uma das coisas que mais me impressiona no comportamento que os nossos soldados estão a ter agora é precisamente a calma com que estão a encarar estes últimos dias de comissão. Até parece que reina entre nós uma certa nostalgia por deixarmos estes lugares.

A nossa despedida de Pirada foi extraordinariamente comovente. Todos os amigos que lá fizemos e que por lá ficaram, o M. Santos e a família, o velhote Gomes e os outros comerciantes, a Ti Clara, a Cumba e todas as outras meninas do régulo Solo Só, vieram despedir-se com lágrimas nos olhos e correram atrás dos camiões até os perderem de vista no pó da picada.

Foi até hoje, uma das despedidas mais dolorosas que vivi. Deixámos ali abandonada para sempre (?) aquela gente que não tem outro modo de existência senão ficar ali, expondo-se a uma ameaça eminente, desaparecendo aos poucos da nossa memória.

(A ameaça eminente a que me referia, era a das presumíveis retaliações, logo que a guerra terminasse, pois os guerrilheiros, futuros vencedores, iriam certamente tratá-los como gente traidora, como cobardes que nunca fizeram qualquer sacrifício em favor da causa. O que infelizmente veio a acontecer, nos primeiros anos de euforia da independência.)

Confesso que também me vieram as lágrimas aos olhos.

Agora aqui em Bissau levamos uma vida regalada, pois o serviço até nem é muito e a camaradagem com aqueles que, como nós, também vão regressar, é entusiasta e franca.

Estes últimos dias são de uma emoção fora de todos os limites. Estou ansioso de subir para o barco. (...)
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Notas do editor:




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