domingo, 22 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24004: Fotos à procura de... uma legenda (169): Um ministro de Salazar, desembarcado na fragata Nuno Tristão, no decurso da Op Tridente, Ilha do Como, c. jan/mar 1964 (José Belo, Suécia)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > c. jan / mar 1964 > Chegada do ministro da Defesa Nacional (1962-1968), general Gomes de Araújo, à fragata Nuno Tristão (Arquivo Histórico da Marinha)

Editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)... Com a devida vénia a Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, "Sanctuary Lost: Portugal's Air War for Guinea 1961-1974". Volume I: Outbreak and Escalation (1961-1966), Helion & Co, UK, 2022 (*)


1. Comentário de José Belo no poste P23956 (*), que transformámos em poste, para a série "Fotos à procura de...uma legenda" (**), na expectativa de merecer a devida atenção de outros nossos leitores:

Curiosamente, tanto o meu Camarada e Amigo Graça de Abreu como eu próprio reagimos perante a foto de Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa desembarcando do helicóptero. Mas, como seria de esperar, vimos “coisas” diferentes naquela fotografia… ”catita”.

O Senhor Ministro desembarca na Fragata para se juntar ao comando da operação. “Equipado” para a função de comando nos trópicos (!) com o típico vestuário da época entre os altos expoentes do governo da ditadura e… não só. Gravata, blêizer assertoado, calças cinzentas e o indispensável chapéu na mão. Era um Senhor Ministro (General) vestidinho para “ir à missa” na igreja da Parada de Cascais.

A meditar-se sobre o ridículo de tal vestuário (marcante de uma certa maneira de estar, "tendo em conta o local e função”) acaba por se compreender tornarem-se desnecessárias argumentações (pseudomarxistas) quanto a utopias de Império sem se dispor de condições económicas, demográficas e políticas, para o manter e defender.

E, para mais, sei do que falo. Usei em toda a minha adolescência este uniforme “de ir à missa” e não só, precisamente nos sempre muito interessantes acontecimentos na Parada de Cascais da época. (Faltou-me o chapéu!)

Poeta português [ Alberto Caeiro / Fernando Pessoa] escreveu:

“Para além da curva na estrada / Talvez haja um poço, e talvez um castelo. / Etalvez apenas a continuação da estrada./ Não sei nem pergunto”.

Um abraço do JBelo

[ Jurista, vive na Suécia há 4 décadas; cap inf ref, ex-alf mil na CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, Empada, 1968/70)]

2. Comentário adicional do editor LG:

Independentemente da pose e do vestuário do senhor ministro da Defesa, gen Manuel Gomes de Araújo (1897 -1982), é de referir o seguinte, que também tem interesse documental, e que complementa a legenda da foto acima:

 "Primeiro pouso de um helicóptero (um Alouette II, da FAP) numa unidade da Marinha, no caso a fragata Nuno Tristão. Pilotado por Villalobos Filipe (José Luis Villalobos Filipe, militar de Abril que faleceu em Dezembro de 2013, com 76 anos),  o héli participava na altura na Operação Tridente que tentou recuperar - de 14 de Janeiro a 24 de Março de 64 - a ilha do Como, na Guiné-Bissau - que era controlada pelo PAIGC, com Nino Vieira no terreno. 

"A bordo da fragata estava instalado o Posto de Comando da operação, que envolveu cerca de 1.200 homens da Marinha, Exército e Força Aérea. Para além da Nuno Tristão,  a Armada destacou para o zona 4 Lanchas de Fiscalização, 4 LDP e duas LDM. Foto da Marinha." 

(Fonte: Página do Facebook "Navios da Armada", com a devida vémia...

___________

Notas do editor:

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hoje o senhor general já faria gala de ostentar, orgulhoso, a sua farda camuflada... Na época já existia o camuflado, e há um militar na foto que o enverga... Realmente, é uma figura completamente deslocada naquele contexto...

Carlos Vinhal disse...

Não sei se será mais ridículo um militar aparecer, como ministro da Defesa, à civil, numa operação militar, se um político que nunca na p... da sua vida foi militar, aparecer vestido com um dolman camuflado no meio de militares em zonas de intervenção.
Lá diz o ditado que o hábito não faz o monge.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Valdemar Silva disse...

Naquele tempo era assim a "farda" de ministro, fosse ele engenheiro, médico ou tenente coronel de infantaria, quase parecida com a do chefe do governo. Embora estivesse num palco de guerra, naquele caso, o ministro estava ali como ministro do governo e não como militar.
Apresentasse-se ele fardado, teria de ser com a sua respectiva patente, o que seria complicado por poder haver outros militares com mais "galões" que ele. Ou, então, vestiria um camuflado de caçador de tordos ao fim de semana.

Já nos anos de 1980s, com muitos militares a serem contratados para directores de pessoal de empresas faziam questão de apresentar os "galões" para manter o respeito e disciplina.
Não gostavam de ser tratados por "senhor" ou mesmo "senhor doutor" e diziam para corrigir 'sabe, um major é sempre major, mesmo estando todo nu sentado na sanita'. Por acaso, os primeiros assuntos que tratavam era dum "manual de assiduidade" que dava para despedimento, falta sem vencimento, perda de tempo na promoção, mas não incluía carecadas.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, na época a que te referes, também estava na moda, sobretudo nas PME (Pequenas e médias empresas), recrutar um "sargento da tropa" para chefiar a "secção de pessoal"... Depois, imitando os "amaricanos", fez-se um "upgrading" da função: a secção passou a departamento com uma tabuleta que dizia: "Gestão de recursos humanos" ("human resources management"...

Sempre fomos bons a imitar o que vem de fora e rápidos a redesenhar os organigramas e a mudar as tabuletas...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

1. Ramiro Jesus (by email)

Data - 22 jan 2023 12:48
Assunto -

Bom-dia, companheiros/camaradas.

Peço desculpa, mas, ninguém morre antes de nascer . Isto só acontece - e já me aconteceu - com projetos.

Bom ano 2023... apesar de ser mais outro que vai continuar a levar "os nossos". Ainda nesta semana que ontem terminou, foi mais um dos da minha 35ª C.C., no caso o ex-cabo Coutinho, de Peso da Régua.

Saúde e um Abraço!
Ramiro Jesus

2. Comentário de LG:

Obrigado, Ramiro, mais uma vez o teu "olho clínico" deteta a maldita gralha... Tens toda a razão, ninguém morre antes de nascer... Já emendei o senhor ministro da Defesa, gen Manuel Gomes de Araújo, nasceu em 1897 (e não em 1987) e morreu em 1982...

Tenho que te convidar para colaborador permanente com o pelouro de "revisor"... É uma função preciosa...

Quanto ao camarada que morreu, da 35ª CCmds, o nosso pesar para a família, amigos e camaradas. É a lei (inexorável) da vida... Estamos todos a prazo... Bom ano também pata ti e os teus. Luís