quarta-feira, 26 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24252: Palavras fora da boca... (2): "Prós insultos não há contemplações nem indultos"... e também: "Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro"... Proverbiário da Tabanca Grande, 5ª edição revista e aumentada:




Tabanca de Candoz > 9 de abril de 2023 > Um dos nossos sobreiros: temos uma meia dúzia nas extremas da quinta, não dão cortiça de qualidade, mas dão bolotas e sombra, abrigam a passarada, e crescem desalmadamente... É a nossa árvore sagrada, como o poilão o é na Guiné-Bissau... E a propósito diz o nosso proverbiário,  agora em 5ª edição (revista e aumentada): "Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro"...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O meu pai, meu velho, meu camarada, Luís Henriques (1920-2012), gostava muito de falar em verso, de fazer rimas, quadras, versos de pé quebrado, citar provérbios populares, contar histórias e anedotas, evocar os seus tempos de expedicionário em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial ou relembrar os tempos de jogador de futebol, e de treinador de camadas juvenis... Muitas vezes fazia-nos rir, sorrir, pensar... Tenho pena que muita da sua "sabedoria popular" ou "filosofia espontânea"  tenha ido para a cova com ele... Algumas coisas fomos, eu e os seus netos,  registando, filmando, tomando boa nota... E também o "obriguei" a escrever os seus cadernos diários (deixou-nos três, com  centenas de páginas), quando teve, nos últimos anos, de ir para um lar com a minha mãe...

Mas ele era um repentista, um espontâneo, um improvisador, incapaz de repetir, com a mesma precisão e graça, o que acabava de lhe sair da boca... Tudo dependia do contexto, das situações, dos interlocutores, e da disposição e da inspiração de momento... E, claro, fiava-se na sua memória de elefante... Tinha um r
eportório para dar e vender... Nunca o vi escrever um dito, uma história, um verso... Era um homem de palavra e de palavras, que nunca usou como arma de arremesso contra ninguém. Talvez por essa razão não tinha inimigos conhecidos:

Tudo isto vem a propósito de uma quadra que ele gostava muito de citar apropriada para prevenir situações de conflito:

Palavras fora da boca,
São pedras fora da mão,
Tu mede bem as palavras,
Tira-as do teu coração.

Era uma variante da conhecida quadra popular:

Palavras fora da boca,
São pedra fora da mão,
Tu tens me dito palavras
De cortar-me o coração.

2. Também no blogue, em postes e comentários, mandamos às vezes umas "bocas", ora mais felizes ou bem humoradas, ora mais provocatórias e inapropriadas (neste caso, "bocarras"), entre amigos e camaradas. No blogue e sobretudo no facebook... A (in)cultura geral das redes sociais criou, em dada altura, um clima de intolerância e de impunidade propício à violência verbal, ao insulto... Ora, cá entre nós, gostamos de lembrar: "P'rós insultos, não há contemplações nem indultos". 

Palavras fora da boca, falar da boca para fora quer dizer "falar sem pensar", "falar sem certeza do que se diz", "dizer uma coisa sem seriedade"!... "Palavras da boca para fora" são, de acordo com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, "locuções e frases inteiras que dizemos 'da boca para fora', sem esforço mental aparente (mas com sentido, ainda que inconsciente), [e que] recheiam o nosso discurso, consti[tuindo] uma classe lexical, a das expressões idiomáticas, fraseologias ou sintagmas fixos." In: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/aberturas/falar-da-boca-para-fora/1979 [consultado em 25-04-2023.]
 
Temos vindo a reunir algumas dessas "frases feitas" para proveito e governo da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, dos nossos editores, colaboradores permanentes, autores, leitores, comentadores... Está na altura de fazer uma 5ª edição, revista e aumentada, com algumas dessas expressões idiomáticas ou sintagmas fixos que usamos, uma vez por outra, umas, ou mais frequentemente, outras... Os "insultos", naturalmente, ficam de fora da coleção, embora pedagógico recolhê-los....

Chamámos-lhe, em tempos, "o nosso proverbiário", fazendo já parte do nosso "livro de estilo" (**). Quarenta e nove anos depois do 25 de Abril de 1974, dezanove depois da criação do nosso blogue, queremos continuar a ser a Tabanca Grande, "a mãe de todas as tabancas", mas também um espaço de partilha de memórias (e de afetos) tolerância, verdade, liberdade e responsabilidade,  um espaço, na Net, "onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa". Referimo-nos, naturalmente, aos "amigos e camaradas da Guiné", e nomeadamente aos "antigos combatentes do CTIG"...


O NOSSO PROVERBIÁRIO

A blogar é a que a gente... se entende.

A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

Água de Lisboa, "manga di sabi".

Alfero Cabral cá mori!

Ainda pior do que o inferno da guerra, 
é o inverno do esquecimento dos combatentes.

Amigo do seu amigo, camarada do seu camarada.

Amigo traz amigo e amigo fica.

Ao luar, entre nevões, até as renas parecem pavões! (Zé Belo dixit)

Aponta, Bruno!

Aqui o povo é quem mais... "ordenha".

A(r)didos e... mal pagos!

As nossas queridas enfermeiras paraquedistas: 
os anjos que desciam do céu.

As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião (Salgueiro Maia dixit)

Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.

Até aos cem é sempre em frente!... E depois dos cem, 
é só para quem for resiliente...

Até aos entas, bem eu passo, dos entas em diante, 
ai a minha perna, ai o meu braço!...

Até à... próstata!

Bazuca: o que fazia mal ao fígado, fazia bem à alma.

Beber a água do Geba.

Boa continuação da viagem pela picada da vida!... 
Cuidado com as minas e armadilhas!

Bons tempos, Cabral, consigo ia ficando maluco! (Barbosa Henriques, capitão "comando" dixit)... E eu ia ficando comando!... (Alfero Cabral retorquiu)


Brincando por fora, sangrando por dentro.

Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

Cabrito pé de rocha, "manga di sabi".

Camarada e amigo... é camarigo!

Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme contigo, 
no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, 
ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida.

Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

Camarada, salvo seja!

Com a sua licença, meu general, a merda... que a gente come!

Combatente um vez, combatente para sempre!

Como camaradas que fomos (e continuamos a ser), tratamo-nos por tu!


Dão-se lições de artilharia para infantes.

Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

Desarmados, jubilados, reformados, aposentados mas não... arrumados.

Dezanove anos a blogar... são dez comissões na Guiné!

E quem não bebeu a água do Geba, nunca poderá entender 
a vida, o conteúdo e o continente das nossas estórias.

E também lá vamos facebook...ando e andando.

E viva a Pátria! E viva o nosso General!... Puuum!!! (Gasparinho dixit)

É proibido fazer juízos de valor sobre o comportamento de um camarada (do ponto de vista operacional, disciplinar, ético, moral, social).

Encontro Nacional da Tabanca Grande: orar, comer.. 
e amar em Monte Real!

Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.

Estás porreiro ou vais p'ró carreiro!?...

Estorninhos e pardais, aqui somos todos iguais.

Exorcizar os nossos fantasmas.

F... e mal pagos.

For the Portuguese Armed Forces from Scotland with love... 
[Da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas.]

Guerra do Ultramar, guerra de África, guerra colonial
(como se queira, ao gosto do freguês).

Guerra ganha, guerra perdida? 
Camarada, não percas tempo com a discussão do sexo dos anjos...

Guiné, da floresta verde e do chão vermelho.

Guiné, terra verde-rubra.

Guiné? ... Não era pior nem melhor, era diferente.

Guiné?... Não, nunca ouvi falar!


Há comentadores e comentadores: alguns são como o peixe e o hóspede, 
ao fim de três dias fedem...

Havia os desertores, os refratários, os faltosos... e nós.

Humor com humor se (a)paga.


In Memoriam: para que não fiques, pobre camarada, 
na vala comum do esquecimento.

Já estás com o bioxene, já estás com os copos, já estás! (Valdemar dixit)

Já estou mal da cachimónia, / E eu aqui no treco-lareco, / A ouvir o próprio eco, / Na Tabanca da Lapónia.

Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, 
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

Lá vamos contando (e cantando) os quilómetros pela picada da vida fora!

Lembras-te, combatente, que és pó e em que em pó hás de tornar-te.

Lembra-te, ó português, a tua bandeira é a das cinco quinas, 
a dos cinco pagodes é na loja... do chinês!

Lugares ao sol, não temos... Só à sombra, do nosso poilão!

Luso-lapão só há um, o Zé Belo, e mais nenhum.


Mais morto de alma do que vivo de corpo.

Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas.

Mais vale um camarada vivo do que um herói... morto!

Melhor que as bajudas, era a 'água de Lisboa' que nos fazia esquecer as bajudas.

Meu pai, meu velho, meu camarada.

Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo.

Muita saúde e longa vida, porque tu, camarada, mereces tudo.


Não deixes que o teu espólio de memórias vá parar à Feira da Ladra ou ao OLX.

Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.

Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará 
sem a nossa... pequena história.

Não há tabanca sem poilão.

Nem mais um soldado para as colónias! 

Nem medalhas ao peito nem cicatrizes nas costas.

Ninguém leva a mal: em cima o camarada, em baixo o general.

No céu... não há disto: comes & bebes!


O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)...

Ó Pimbas, não tenhas medo!

O seu a seu dono: respeita os direitos de autor.

Ó Sitafá, deixa lá, cabeças e rabos de sardinha não são bem a mesma coisa (Alfero Cabral dixit).

O último a morrer, que feche a tampa... do caixão.

Olhe que não, sr. general, olhe que não!

Os bravos não se medem aos palmos.

Os bu...rakos em que vivemos.

Os camaradas tratam-se por tu.

Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.

Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Os netos dos nossos camaradas, nossos netos são.

Os nossos queridos 'nharros'...


P
ara que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? Não, nunca ouvi falar!"...

Partilhamos memórias e afetos.

Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" em Bissau.

Periquito, salta pró blogue, que a velhice já cá está!

Periquitos até aos 6 meses, maçaricos até a um ano... 
e depois vecês (velhinhos comó c...)

Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe (Spinola dixit, quando o seu heli aterrou, por engano, numa "área libertada")

P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.

Quando o último eucalipto deste país arder, despeçam o último bombeiro, por extinção do posto de trabalho.

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!

Quem não faz 69, não chega... aos 100!

Quem não sabe beber, beba merda!

Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro.

Quem não tem "turpeça", senta-se no chão... e quem "turpeça" também cai.

R
apa o fundo ao teu baú da memória.

Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste,
sofreste, viste morrer e matar, mataste,
e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...


Saber resolver os nossos diferendos, os nossos conflitos... sem puxar da G3!

Santo António de Bissau, / Bravo, meu bem, / De todos o mais casmurro,/ Quer do preto fazer branco, / Bravo, meu bem, / E do branco fazer burro.

Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.

Siga a Marinha!

Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.

Somos uma espécie em vias de extinção.

Soubemos fazer a guerra e a paz.

Spinolândia, sim, Guiné, não.


Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.

Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une 
e até com aquilo que nos separa.

Tabanca Grande: onde não há portas nem janelas 
nem arame farpado   nem cavalos de frisa

Tuga, que Deus te livre da doença do... Alemão.

T/T Niassa, Uíge, Ana Rita, Angra do Heroísmo... Os cruzeiros das nossas vidas.


Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude (René Pélissier dixit).

Um povo que sabe rir-se de si próprio, não precisa de ir ao psiquiatra.

Uma geração que soube fazer a guerra e a paz.

Uma guerra... a petróleo! (Tó Zé dixit)

Uma noite nos braços de Vénus, três semanas por conta de Mercúrio.  

Vamos à guerra, que a morte é certa.

Volta, Zé Belo, estás perdoado! (disseram  os "sámi" ao régulo que queria "desertar" da Tabanca da Lapónia.


_____________

Notas do editor:


14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acrescentem mais esta:

"Um povo que sabe rir-se de si próprio não precisa de ir ao psiquiatra".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não queremos ferir suscetibilidades: a autoria do proverbiario é coletiva. .. Tal como os provérbios populares, que têm autor nem dono...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Esqueci-me desta:

"Lembras-te, camarada, que és pó e em que em pó hás de tornar-te".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os de Bambadinca, de 1969, não me perdoariam se eu omitisse esta: "Oh! Pimpas, não tenhas medo!"... Muitas destas "bocas" têm uma história por detrás, já contada no blogue (que é "Vecê", "velhinho como o c...").

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Volhei à fisioterapia, e de repente estou-te a lembrar de muitas... "brancas". Espero que os meus camaradas me ajudem neste exerciclo de memória...

José Botelho Colaço disse...

Luís qual a diferença entre um chaparro e uma Azinheira?

Valdemar Silva disse...

É o que dá com o bioxene de Candoz, no regresso mete fisioterapia.
Estou a brincar Luís, continuação do tratamento para boas melhoras.

Agora o bioxene.
Já expliquei que bioxene é uma corruptela de "all we are saying.." duma canção de John Lennon. Quem ouvir este refrão parece que é dito 'ai bioxene'.
Ao tempo, no ano 1969 na guerra da Guiné, ouvia-se esta extraordinária canção e com os copos acompanhava-se o refrão com 'ai bioxene...ai bioxene', substituindo o 'tudo o que estamos a dizer'.
Através dos tempos é uma canção que está sempre na moda
All we are saying is give peace a chance.
(Tudo o que estamos a dizer é dar uma oportunidade à paz)

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Essa do bioxene é tua, Valdemar. Tua e dos Lacraus. Fica a história mais completa.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Colaço, boa questão...

Tanto quanto sei (e não sou especialista em botânica), sobreiro, sobro, sobreira ou chaparro são designações comuns da mesma árvore, de resto aparentada com o carvalho (ambas são do género Quercus, que dá cortiça, na tua região, o Alentejo, mas também no Algarve e em Trás os Montes. Nome científico: Quercus suber...

Em Candoz, cresce espontaneamente, depressa e em altrura, como o carvalho ou o castanheiro. Até nasce no meio das pedras... E é proibido cortá-lo...

Diz o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

chaparro
chaparro | n. m.

cha·par·ro
(espanhol chaparro, mata de azinheiras ou de carvalhos)
nome masculino
1. Sobreiro novo, de que ainda não se extraiu cortiça. = CHAPARREIRO, MACHEIRO

2. Qualquer árvore cupulífera que fica torta e achaparrada.


Sinónimo Geral: CHAPARREIRO


"chaparro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/chaparro [consultado em 26-04-2023]

Acrescenta a Infopedia:


chaparrocha.par.roʃɐˈpaʀu
nome masculino
1. BOTÂNICA (Quercus suber) designação comum, atribuída ao sobreiro novo a que ainda não se extrai cortiça; chaparreiro
2. árvore pequena ou tortuosa, de que apenas se aproveita a madeira para lenha; chaparreiro
3. coloquial, depreciativo indivíduo bruto ou pouco inteligente

Do vasconço txapar, «roble novo»

Fonte: Porto Editora – chaparro no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-04-26 14:54:21]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/chaparro

Valdemar Silva disse...

Azinheira ou sobreiro
Calhando, diria o Manel Macias, a azinheira não dá cortiça e as bolotas da azinheira são mais sobre o comprido.
Provavelmente Luís saberá, e não se lembrou de mencionar, as bolotas de carvalho, azinheira ou sobreiro bem pisadas a fazer uma pasta até dava jeito pra rapaziada na Guiné aplicar para tratar certas mazelas 'dás suas pártês'.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Eu não sou alentejano, mas passei vários meses de tropa em Elvas (onde dei uma recruta) e em Évora (onde dei uma especialidade e onde se formou o meu batalhão), e sempre por lá ouvi dizer que o chaparro é um sobreiro novo, que ainda não deu cortiça, ou uma azinheira igualmente nova.

José Botelho Colaço disse...

Para desanuviar um pouco da guerra. Na minha vivência de alentejano dou toda a razão á hipótese apresentada por o Fernando Ribeiro, quanto ao Valdemar as bolotas da azinheira têm vários formatos umas mais sobre o comprido outras mais redondas umas doces outras também menos doces ou amargas, o meu pai pequeno agricultor tinha um pequeno rebanho de ovelhas de noite ficavam presas num "corral ou rede" chamado ovil de manhã quando as soltavam era uma correria louca as bolotas que caíam das azinheiras durante a noite mas primeiro iam as azinheiras que davam bolota doce e a seguir é que íam ás azinheiras de bolota menos doce ou amarga e até os porcos de engorda faziam a sua selecção quando via-mos uma azinheira com muita bolota no chão de certeza que era amargas. Quanto ás bolotas do sobreiro de facto com sabôr muito desejar em relação ás bolotas da azinheira mas no Alentejo chamavam-lhe principalmente Landes ou também glandes.Nota: A situação que cito passava-se numa propriedade com azinheira um pouco dispersas em que não dava para engordar porcos, porque nas zonas de montado serrado as ovelhas no tempo da bolota estavam proíbidas de lá pastar.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Algumas espécies mais comuns de carvalhos, incluindo o carvalho p.d., o sobreiro, a azinheira... Todas estas árvores dão boa madeira, e "bolotas", e são esteticamente um regalo para a vista... Mas só o sobreiro dá cortiça... Dantes (anos 50/60) fazia-se algum bom dinheiro com o carvalhom na Quinta de Candoz, onde cresce como mato...

Estamos a falar de espécies que pertencem todas ao mesmo género, Quercus ou carvalho...

carvalho-roble (Quercus robur) — caducifólia
carvalho-vermelho-americano (Quercus rubra, entre outras espécies)
carvalho-japonês (Quercus acutissima) — caducifólia
carvalho-negral (Quercus pyrenaica) — caducifólia
carvalho-português ou lusitano (Quercus faginea) — folha semi-caduca
carrasco (Quercus coccifera) — folha perene
sobreiro (Quercus suber) — folha perene
azinheira (Quercus ilex rotundifolia) — folha perene
carvalho-das-canárias (Quercus canariensis)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carvalho

Fernando Ribeiro disse...

Eu dei uma recruta em Elvas (no BC8) como aspirante, entre outubro e dezembro de 1971. O que mais se via nesses meses, nos montados e olivais à volta de Elvas, eram "rebanhos" de perus (sim, de perus!), devidamente acompanhados por um pastor, mas sem cão, porque pelos vistos não era necessário. Pois era dali, dos confins do Alentejo, que provinham os perus que se vendiam às centenas nas cidades, para serem comidos no Natal. Eu não sei o que é que engordava aqueles perus, mas bolotas não deviam ser, porque estas são demasiado grandes para serem comidas por perus, por muito corpulentos que estes sejam.

«...E as bolotas são boletas». A propósito de Alentejo, de chaparros, bolotas e tudo quanto tem vindo a ser comentado aqui, lembrei-me de uma lição de "alentejanês" dada pelo fadista António Pinto Basto. Eu suponho que António Pinto Basto não é alentejano, mas sim ribatejano (pelo menos julgo que tem uma criação de cavalos em Castanheira do Ribatejo, perto de Vila Franca de Xira), mas ensina-nos algumas palavras que se usam no Alentejo, no seu fado "Mestre Alentejano".

https://www.youtube.com/watch?v=EwxUZmCod2c