25 DE ABRIL
Um cravo vermelho
cristal de vida no céu de chumbo
cada dia um mundo limpo e perfumado
graças a ti flor da minha idade.
Caminho da esperança às portas da cidade
todo o mel e todos os frutos ali à mão.
Graças a ti cravo vermelho que venceste a solidão
veio o tempo ao nosso encontro
e a manhã despertou agitando as árvores.
E a noite se fez de estrelas
que desceram aos cantos do jardim.
Um cravo vermelho e quente
mais que tudo amando a vida
em qualquer língua entendida.
O mundo tinha o sabor de uma maçã
e os olhos inacabados eram cravos vermelhos.
Não havia cárceres nem torturas
apenas o calor de uma fogueira
na praça do entusiasmo
e uma jovem mulher
dormindo um sono de criança
nos telhados da revolução.
O seu rosto era uma nuvem
dourada pelo sol e pela lua
os cabelos trigueiros uma seara
e nos lábios
a canção de Abril que encheu a rua.
Hoje…
Hoje não sei se é dor se alegria
o que sonho
quando abro ao sol as portas de Abril.
Não sei se é dor
tristeza ou alegria
aquilo que sinto neste dia
em que Abril faz tantos anos
de saudade e nostalgia.
Anos de luminoso tremor
corações ao alto
quadros verdes de sonho e raiva
de sol e chuva em celeste azul
luzindo nos olhos de uma gaivota
branca gaivota de penas mansas
voando solitária dentro de mim
à volta de um cravo vermelho
que me ficou dentro do peito.
Abro as janelas a medo
neste areal de céu escuro
contra o mundo
a idade e o cansaço
e não sei se é vida ou amargura
a estreiteza deste espaço.
Sei que um rio de negras águas
cavalga as margens do meu ser
por entre as fendas da secura
ameaçando afogar a democracia
às mãos de nova ditadura.
adão Cruz
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Nota do editor
Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24249: Efemérides (386): Homenagem aos combatentes do concelho da Lourinhã, no dia 25 de Abril de 2023
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
25 de Abril sempre!!
A minoria ruidosa perecerá perante a força das pétalas da nossa alma.
Neste dia, em 1974, tive a maior alegria da minha vida pois percebi que o envio de carne para canhão ía acabar.
Abraço
Eduardo Estrela
Estrela, e eu fiquei muito mais descansado por que tinha um filho quase a fazer um ano.
25 de Abril sempre !
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Meus caros amigos, junto a minha à vossa voz e digo (não grito!!!)
Viva o 25 de abril.
Ditadura nunca mais.
Joaquim Costa
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