Lourinhã > Praia do Areal Sul >2 de novembro de 2024 > Pôr do sol
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Hoje é Dia dos Fiéis Defuntos, Dia de Finados ou Dia dos Mortos, segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica. Mas outras igrejas cristãs também celebram o dia dos mortos: além dos católicos,os anglicanos, os ortodosos, os metodistas...
Em todas as comunidades humanas, há rituais de celebração da morte e dos mortos... Sem quaisquer preocupações metafísicas, acabo de tirar essas fotos do pôr do sol na minha terra, banhada pelo Atlântico. Num fim de tarde, magnífico, e com um mar sereno... e tentando abstrair-me do facto de há 150 milhões de anos a duna onde me sento, não existir, nem esta praia, nem este mar, nem a terra que me viu nascer, nem as Berlengas aqui à minha direita...
É impossível, contudo, neste sábado, dia 2 de novembro de 2024, e a esta hora mágica do fim de tarde, até por força das nossas tradições e da nossa cultura, não nos lembrarmos de todos os nossos entes queridos, que conhecemos em vida, da família aos vizinhos, dos colegas de escola e de trabalho aos camaradas de armas, dos amigos aos compatriotas mais ilustres, enfim, de todos aqueles que da lei da morte já se libertaram (citando o maior de todos os nossos vates, o Luís Vaz de Camões, cujo quinto centenário de nascimento começámos a celebrar este ano)...
Estão também no nosso pensamento os membros da Tabanca Grande que já se despediram da Terra da Alegria... São já 150, nestes últimos 20 anos da nossa existência. O último dos quais, a nossa querida Regina Gouveia (1945-2024).
À boa maneira romana, rogamos a todos os deuses de todos os panteões, criados por todas as culturas humanas, para que os nossos queridos mortos possam descansar em paz, e que o sol continue a iluminar e a aquecer o nosso planeta, a nossa frágil casa comum... (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (258): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV
5 comentários:
João Crisóstomo, Nova Iorque
Meus caros camaradas e amigos,
É de coração nas mãos que faço também minhas estas palavras do Luís Graça, nosso comandante e criador deste nosso blogue:
…"lembramos neste dia todos os nossos entes queridos… enfim, todos aqueles que da lei da morte já se libertaram"…
"que os nossos queridos mortos possam descansar em paz"
Sempre que penso no que foi a tragédia da Guiné logo me vêm à mente duma maneira dolorosa todos aqueles que na Guiné perderam a sua vida e também os que em resultado directo desta guerra a vieram a perder em Portugal : neste número eu incluo não só aqueles de nós nascidos em Portugal, mas todos os guineenses, de nacionalidade portuguesa ou não; e me dói muito mesmo a memória daqueles que a nosso lado lutaram e depois da nossa partida foram cruelmente exterminados). Assim como todas as mulheres, crianças e outros não beligerantes que desta guerra foram vítimas. E portanto nestas minhas preces eu incluo todos os que de ambos os lados pereceram: todos eles mártires pois que , como em todas as guerras, de uma maneira ou outra todos dela foram vítimas. Que todos descansem em paz!
João Crisóstomo, Nova Iorque
Sim, João, o nosso pensamento, piedoso, neste dia de finados, de acordo com a nossa cultura judaico-cristã mas também ecumenista, tem de abarcar todas as vítimas daquela guerra que nunca deveria ter acontecido, mas que aconteceu, infelizmente para todos... E o nosso "requiescant in pace" tem de incluir todas as vítimas, militares e civis, de um e do outro lado. Nem sequer sabemos ao certo quantas foram...Nem eu quero agora especular sobre o seu número estimado. Sobre as nossas baixas, temos valores estimados, mas não do lado do PAIGC (e dos países vizinhos que o apoiavam, a Guiné-Conacri e o Senegal).
Será que fizemos as pazes com os nossos mortos ?
É esse o ponto : será que fizemos as pazes com os nossos mortos ?
Não, absolutamente não. Os que vimos a fenecer aos poucos, perdendo a cor e o ânimo, ou os que, de repente, transitaram da vida para a morte, feitos em pedaços ou amputados, na verdura da idade, esses continuo a trazê-los na memória.
Carvalho de Mampatá
António, a guerra começou com um regime (politico) e acabou com outro...E quase toda a gente que regressou, fez questão de esquecer a guerra (o mesmo é dizer os seus mortos, os seus feridos, os seus desaparecidos...).
Ainda há dias falando com o meu antigo comandante, percebi que a Guiné (e as demais comissões, em Angola e Moçambique que elle fez, como capitão e depois major) eram capítulos absoluta e irrerversivelmente fechados. Ponto final parágrafo.
Os militares, que eram do quadro (oficiais e sargentos), têm este "mecanismo de defesa", que nós milicianos, e do contingente geral, não temos... Por mor da sua "saúde mental"... Por isso não é fácil motivar oficiais QP (já não falo dos sargentos) para um blogue como um nome...que obriga a "sangrar"...quando recordamos mesmo 60/50 anos depois...
Não aprendemos a "fazer o luto"...Nem a fazer a paz e a reconciliação...
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