Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4531: A Tabanca Grande no 10 de Junho (13): Tertulianos éramos mais de 30… (Hélder Sousa / Xico Allen)
Guiné 63/74 - P4530: Tabanca Grande (152): José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas, CCAÇ 462 (1963/65
Caro Vinhal:
Aí vai a nota de assentos, no essencial:
- Soldado, apontador de Armas Pesadas (Breda)
- CCaç 462 (do BCaç 10, Chaves)
- Dependência operacional e administrativa na Guiné: BCaç 507 (Cmdt Ten Cor Hélio Felgas), depois BCav 790 (Cmdt Ten Cor Henrique Calado)
- Zona operacional por onde passei:
De Bissau directamente para Ingoré, após uma semana de estadia na Escola de Teixeira Pinto, para aclimatar.
A Companhia dispersou-se desde Ingoré (Comando), por Sedengal, S. Domingos, Susana, Varela (durante dezasseis meses).
Passado este tempo, somos obrigados a substituir a Companhia Operacional do BCaç 507 (já não lembro o número, mas se for preciso arranjo, pois ficou reduzida a quase metade entre mortos, evacuados e outras situações) e saltamos para Bula.
Depois, a poucos meses de acabar a comissão, fomos os primeiros habitantes de Có (comando), ficando a Companhia a ocupar com os três pelotões restantes as localidades de Ponate, Jolmete e Pelundo (também os primeiros militares a chegar àquelas paragens) onde foi tudo feito a partir do nada...
-Como a excursão não estava completa, despediram-nos para Mansoa, donde saímos para o Niassa...
-Data de embarque em Lisboa: 14 de Julho de 1963. Desembarque em Bissau: 21 de Julho de 1963.
-Data de embarque em Bissau: 7 de Agosto de 1965. Desembarque em Lisboa: 14 de Agosto de 1965.
Há mais factos, mas vão ser guardados para melhor oportunidade e também para não entupir o blog e o vosso trabalho.
Fomos para a Guiné, a partir de Chaves, como Companhia independente e só na Guiné é que nos deram a zona a ocupar pois Ingoré, quando chegamos, apenas tinha uma secção.
Mais tarde e na história que se há-de contar, passou aquela localidade a ter a estrutura de um Comando de Batalhão, onde estiveram alguns camaradas da minha localidade e por eles fiquei a saber desta evolução.
Já vai extenso este intróito.
Um abraço,
José Marques Ferreira
Fotos: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados
2. Comentário de CV
Caro Camarada José Ferreira, bem aparecido na nossa Tabanca Grande.
Muito obrigado por aderires a esta grande família e por te propores a colaborar na feitura daquilo que queremos deixar para memória futura.
Quem melhor do que nós poderá contar como a guerra se travou? Quem sentiu as balas a assobiarem por cima da cabeça? Quem dormiu, mal, aos mosquitos, à chuva e ao cacimbo? Quem comeu o que calhou e quem bebeu água suja, retirada da bolanha?
Se não deixarmos tudo escrito, outros contarão, romanceando, ligarão os nossos momentos mais trágicos ao luar e ao estrelado dos céus de uma África misteriosa, etc, etc.
Sabemos que a realidade foi bem diferente. Caminhámos à luz de sucessivos relâmpagos em noites de chuva diluviana, tropeçando a cada passada, agarrados uns outros para que ninguém ficasse, irremediavelmente, para trás.
Cabe a ti e a todos nós contar a triste realidade dum local e época de sofrimento.
Contamos contigo.
Recebe camarada, um abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia.
CV
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
Guiné 63/74 - P4529: Em 6 Março de 66, o filme da primeira operação helitransportada no CTIG (Amadu Djaló / V. Briote)
Furriel Carlos Guedes com o guião CCmds, 6 de março de 66, 13h00, Bissalanca, Alf Mil Luís Rainha e elementos do seu grupo, "O sCenturiões", esquadrilha de Al - III, sobrevoo e travessia do Geba, lançamento, regresso à BA 12, saída dos helis, 2º srgt cmd Mário Valente, sold cmd Joaquim Esperto, cap Garcia Leandro, tenente oilav Velez Caldas, alf mil Virgínio Briote (Gr Cmds "Os Diabólicos"), especialistas da FAP, piloto (nome?), alf lil Luís Rainha, de costas com o chapéu chinês do Pansau Na Isna, festa em Bissau, imagens sobrepostas do aquartelamento de Brá.
Trata-se de um filme feito em condições muito particulares. O então alf mil Luís Rainha era o dono da máquina e um dos cmdts de um dos Grupos, "Os Centurões" encarregados do assalto. Filmou o que pôde, sem o conhecimento e treino indispensáveis para uma realização apresentável. Antes do assalto, desligou a máquina, o objectivo e as condições psicológicas falavam mais alto. Fez o que pôde.
Música extraída do filme Platoon e da Mayra Andrade. Com a devida vénia.
Vídeo (4' 58''): You Tube > Brá 65/67 (conta do VB)
1. Op Hermínia,
Em 6 de Março de 1966 realizou-se a 1ª heliportagem de assalto na Guiné. A zona, seleccionada através de reconhecimento aéreo, foi em Jabadá, Tite.
Seis Alouettes - III transportaram, até às portas do acampamento do PAIGC, 30 comandos do CTIG, 15 do Gr Centuriões (Alf Raínha) e 15 do Gr Diabólicos. (Alf Briote).
A tripulação dos All - III foi comandada pelo maj pilav Mendonça (se não estou errado) e dela fazia parte, entre outros excelentes pilotos, o tenente Velez Caldas, que levou o meu grupo a muitos outros locais.
Era um domingo. Às 13h00 descolaram da BA12 e às 13h20 estávamos no solo.
A guerrilha estava misturada com a população nos dois abarracamentos. Depois do lançamento o Grupo Diabólicos, com uma equipa lançada um ou dois minutos depois do grupo, viu-se envolvido por fogo cruzado.
A evacuação foi pedida com os helis ainda no ar. Imediatamente, um, protegido por uma parelha de T-6, aproximou-se da zona e pediu sinalização. Foi lançada uma granada de fumos laranja e o capim da pequena lala começou a arder.
De um momento para o outro, só havia uma saída para a equipa que estava a proceder à evacuação, o caminho para o Geba. Com o heli e o Silva no ar, a equipa progrediu em direcção à mata, ao encontro das outras duas que já lá se encontravam.
Foram transportadas para o aquartelamento de Jabadá as pessoas que se conseguiram subtrair ao PAIGC, enquanto durante parte do trajecto a guerrilha nos ia acompanhando com fogo de morteiro mal ajustado.
vb
por Amadu Bailo Djaló (*)
Preparámos um assalto de helicópteros em Jabadá Biafada. Era a primeira vez que se ia fazer uma operação com os helicópteros na Guiné. Tínhamos passado quase dois meses em treinos com os Alouettes.
Iam dois grupos [dos Comandos do CTIG], os Centuriões e os Diabólicos, quinze homens de cada, no total de seis helicópteros. Ia também o comandante da companhia de comandos, o capitão Garcia Leandro.
6 de Março de 1966, cerca das 13h00. Estávamos no aeroporto desde o meio-dia, à espera dos oficiais. Neste espaço de tempo houve uma cena entre dois companheiros dos Diabólicos, o Silva, um europeu e um africano, o Adulai Djaló. O Silva disse ao Djaló:
- Djaló, tu vais morrer nesta operação!
- Filho da mãe, tu é que vais morrer! - respondeu o Adulai.
Estávamos todos a rir, com grande gozo e alarido, quando chegaram os oficiais.
Embarcámos e tomámos altura com destino a Jabadá, para a missão de assalto com apoio da aviação. Com o ruído dos T-6, curvámos para a mata e, na altura, os aviões estavam a bombardear.
Ficámos cara a cara com os T-6, eles tomaram altura e nós baixámos para o assalto. Saímos a disparar para a tabanca, as primeiras imagens que me ficaram foram a de uma máquina de costura e o corpo de um homem balanta.
No meio dos tiros e dos rebentamentos, ouvimos pelo rádio os Diabólicos pedirem uma evacuação. O tiroteio foi intenso, mas não demorou muito tempo. Estava muita gente, guerrilheiros e população, todos misturados, houve muitas baixas.
Eu estava preocupado com a informação que tínhamos ouvido no rádio, o pedido de uma evacuação. Se o Silva disse que tinha sonhado que o Djaló ia morrer no assalto…
Estava ansioso que os grupos se encontrassem para sabermos quem morreu. Quando acabaram os disparos e começámos a retirar em direcção a uma clareira, ao longe vi o grupo Diabólicos. Não, Djaló não morreu, ele vem ali ao fundo.
Quando os dois grupos se uniram, perguntei ao Djaló quem tinha morrido e ele disse:
- Foi o Silva!
Esta operação, Hermínia, foi a primeira que se fez na Guiné com os Allouettes.
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Notas de vb:
Tive conhecimento, pouco tempo depois, que não tinha havido nenhum voluntário do Foto-Cine para filmar a Op Hermínia. Muitos anos depois, em 2005, o Luís Raínha entregou-me uma bobine de um filme para ser passado para DVD. É deste filme que extraí a parte respeitante à operação. Apesar da má qualidade da filmagem e dos quarenta anos passados, arrisquei pô-lo no YouTube. Com os agradecimentos e a devida vénia ao Luís Rainha.
(*) Das Memórias de Amadu Bailo Djaló, na altura Soldado do Gr Cmds Centuriões
Guiné 63/74 - P4528: Um velho filme de 8 mm que agora nos surpreende e delicia (George Freire, ex-cap inf, CCAÇ 153, 3ª CCAÇ e 4ª CCAÇ, Bissau, Gabu e Bedanda, 1961/63; e desde então a viver nos EUA)
Foto: © George Freire (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.
Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.
Gostar de ti é um poema que não digo,
que não há taça amor para este vinho,
não há guitarra nem cantar de amigo,
não há flor, não há flor de verde pinho.
Não há barco nem trigo, não há trevo,
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.
Guiné 63/74 - P4527: Convívios (147): BCAV 490, Bissau, Como e Farim (1963/65), em Viseu (Valentim Oliveira)
domingo, 14 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4526: Os Nossos Camaradas Guineenses (10): Bodo Jau, mais uma história de miséria, que nos revolta (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P4525: Um filme de George Freire (CCaç 153 e 4ª CCaç, 1962/63): Gabu, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... (V. Briote)
Parte 1/3 > Vídeo (9 ' 58'')
Parte 2/3 > Vídeo (9' 54'')
Parte 3/3 > Vídeo (9' 58'')
Filmagens feitas pelo então tenente e depois capitão Jorge Freire, da CCAÇ 153 e da 4ª CCaç, entre os anos de 62 e 63, com imagens do Gabu, Bissau, Cacine, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... Um conjunto de três vídeos (O nosso camarada George vive há mais de 40 anos nos EUA; na conta do Virgínio Briote, no You Tube, já estão disponíveis estes três vídeos).
Vídeos: Alojados no You Tube> bra6567>© George Freire (2009). Direitos reservados.
Recordando o que foi escrito em artigo anterior (*), Jorge Freire, entre Setembro de 1962 e finais de Maio de 1963, fez um filme da sua passagem pela Guiné, [em super 8 mm]. Embora algo deteriorado pelo tempo, podemos ver como era a Guiné naqueles anos.
O Gabu, Nova Lamego, a avenida principal, um domingo à tarde com as famílias, os esquilos amestrados, a mulher do Jorge com a filha do 1º sargento da companhia, mulheres à pesca de camarão, a operação de lavagem das roupas, ou como bater bem com as peças de roupa nas pedras, as bajudas e os meninos a brincar na água, a piscina, a fonte de água, o grande régulo Fula do Gabu, a mulher mais nova e a mais velha, aparentemente amigáveis uma com a outra, os netos, os trajes de cerimónia, o alfaiate da terra, o campo de aviação do Gabu e imagens do ar, na viagem para Bissau no Dornier.
Em Bissau, o render da guarda ao Palácio com a população a assistir e o regresso ao Gabu. A visita do Jorge aos pelotões destacados, no marco da fronteira com a Guiné-Conacri, na zona leste, em Buruntuma, a passagem em Mule (ponte) Blassi e o regresso a Bissau num barco comercial, com imagens do piloto da embarcação.
E depois, Bedanda, o aquartelamento [ainda em construção], as pirogas no Rio Cumbijã, a construção de instalações, os alferes da companhia (4ª CCaç, um dos quais viria a morrer em combate, dias depois), imagens filmadas antes da saída de uma patrulha, um prisioneiro amarrado que terá, durante uma emboscada, morto um dos soldados da companhia.
Patrulhas no Cumbijã, os tarrafos ao lado, os tarrafos dos nossos descontentamentos, soldados com Mausers, uma secção destacada em Chugué, a transferência da população Fula de Imberém, no Cantanhez, para Bedanda, as festas que se seguiram, bajudas com as belezas à mostra… O início da guerra...
Comissão terminada, o regresso a Bissau e depois “eu vou chamar-te Pátria minha”, na voz do Carlos do Carmo, enquanto os olhos se espraiam lá do alto pelos rios e ribeiros, as margens, as florestas, as lalas.
Imagens que era costume, alguns de nós, registarem, quem sabe com o receio de nunca mais nos lembrarmos… Em Bissalanca, um MG branco ou creme rodeado de especialistas da FAP, a torre de controlo, a visita à Guiné de dois adidos norte-americanos, o adido comercial e o adido militar, o coronel Jeffries, e as últimas vistas de Bissau no último fim de semana, antes do regresso à pátria, no Ana Mafalda.
A fortaleza da Amura, o porto de Bissau, o desembarque no cais e o desfile de um pelotão (Caçadores?) de nativos, o capitão Simões, tão falado pelo Amadu Bailo Djaló nos seus escritos e, no dia do embarque, no Ana Mafalda, em 26 de Maio de 1963, o movimento em dias de movimento de navios, o cais de embarque nº 2, o navio em manobras, a afastar-se, com a Amura e Bissau a recortarem-se, cada vez mais pequenos.
Depois, o Atlântico, as Canárias no horizonte, até, finalmente, começarem a ver a costa, com Lisboa cada vez maior, no Tejo de tantas entradas e saídas, a volta ao Bugio, o jovem capitão Jorge Matias Freire, à civil, de fato à anos 60 e Lisboa ali tão perto que já se via gente à espera deles, de lenços no ar, a Torre de Belém, o Monumento aos Descobrimentos, e, como um agradecimento, as últimas imagens são do capitão, do imediato e do médico do Ana Mafalda.
A guerra na Guiné ainda estava muito, mesmo muito, no princípio. Mas para os quatro soldados, um sargento e um alferes da companhia do capitão Jorge Freire, em Bedanda, a guerra tinha acabado. É, com a lembrança deles, que o Jorge Freire termina este pequeno filme.
_________
Notas de vb:
1.Artigos do Jorge Freire em 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)
10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)
29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)
2. A Companhia de Caçadores 153 foi mobilizada pelo RI 13 de Vila Real e comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto. Embarcou para Bissau em 27Mai61 (via aérea) e regressou em 24Jul63.
A 26Jul61 foi colocada em Fulacunda destacando forças para Empada, Cufar, Catió e Bolama, por periodos variáveis. A 7Fev62 foi rendida pela CCAÇ 274 e foi colocada em Bissau. A 11Fev62 rendeu a CCAÇ 74 em Bissau. A 21Jul63 foi substituida pela CCAÇ 510, ficando a aguardar embarque.
Informação de José Martins.
Guiné 63/74 - P4524: Fauna & flora (24): Companhia indesejável no meu bura… ko morreu, sem apelo nem agravo, no Cachil (José Colaço)
Guiné 63/74 - P4523: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (7): Os três magníficos, Carlos, Joaquim e Miguel
1. Ontem, na véspera do fecho (oficial) das inscrições para mais um, histórico, Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, eu mandei um derradeiro apelo ao pessoal da Tabanca Grande, através do correio interno (*):
Amigos e camaradas:
“A vida é curta, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil" ...
Não fui eu que disse isso, mas o Hipócrates, o pai fundador da medicina ocidental, cinco séculos antes de Jesus Cristo... Isto aplica-se não apenas à medicina (que é uma arte e uma ciência) mas também ao nosso blogue, que é a parte mais visível, na blogosfera, da nossa Tabanca Grande, uma rede social com mais de 340 membros... Aplica-se à blogoterapia, que praticamos há mais de 4 anos... e de que já temos uma pontinha de orgulho... (O termo é nosso, paga direitos de autor)...
No próximo dia 20 de Junho, vamos ter o nosso IV Encontro Nacional, em Ortigosa, Monte Real, Leiria, num ponto mais ou menos equidistante entre o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste... O almoço com o lanche custa 30 balas...
Temos [tínhamos àquela hora] 97 inscritos, o prazo termina na segunda-feira, dia 15, e o Joaquim Mexia Alves vai perder a aposta que fez, de conseguir uma centena de inscritos (formais)... Há, pelo menos, uns quinze camaradas que não podem comparecer, este ano... o que, tudo somado, totalizaria 112.. [Como eu fui mauzinho, Joaquim, ao falar de ti, que és um homem de fé, esperança e caridade... Afinal, enganei-me... Ao abrir hoje, de manhã, o blogue, já havia 105 inscrições, pelo que quem ganha a aposta és tu, e não eu, homem descrente, velho do Restelo].
Tenho esperança, Joaquim, de que vamos ultrapassar a barreira (psicológica) dos 100... A esperança é sempre a última coisa a morrer... Há camaradas que já me manifestaram a vontade de ainda se inscreverem a tempo... Outros prometem aparecer, mais para o fim, só para dar um abraço... Outros, mesmo de férias, vão comparecer (o caso do Álvaro Basto e da Filomena, que estão no Algarve, desde hoje: o Álvaro, como sabem, é o régulo da Tabanca de Matosinhos)...
Eu sei que os tempos estão difíceis, que a crise bate à nossa porta e aos nossos bolsos, que há, nesta época, muitos encontros de veteranos da Guiné, mas mesmo assim NÓS MERECEMOS uma oportunidade... De estarmos juntos, de nos conhecermo-nos pessoalmente, de darmos uns aos outros uma Alfa Bravo do tamanho do rio que quisermos (desde o rio da nossa aldeia ao Cumbijã)...
O nosso blogue fez 4 anos em Abril de 2009... ainda queremos fazer mais coisas, coisas bonitas, que nos surpreendam, a nós próprios e aos outros...
Camarada, amigo... aparece, se puderes... Vamos ficar felizes, por ti, por todos nós...
Obrigado ao Carlos Vinha, ao Joaquim Mexia Alves (que anda a renovar as termas, fundadas pelo seu pai) e ao Miguel Pessoa (que muitos não sabem, foi comandante da base aérea de Monte Real)...
Obrigado a este trio-maravilha a quem compete zelar pela nossa segurança, conforto, bem-estar ... e dieta. Eles são os três magníficos que estão a organizar o nosso IV Encontro...
Um especial obrigado, também, aos organizadores das anteriores edições, Paulo Raposo e Carlos Marques dos Santos (Montemor-O -Novo, 2006), Vitor Junqueira (Pombal, 2007), Joaquim Mexia Alves e Carlos Vinhal (Monte Real, 2008)...
Luís Graça
2. Também escreveu o Carlos Marques dos Santos, um dos nossos sócios-fundadores, membro desta Tabanca Grande, desde os primórdios da criação do nosso blogue:
CAMARIGOS, COMPANHEIROS, CAMARADAS, COMBATENTES, VETERANOS, ~
APELO QUASE FINAL !!!
100 é o miínino de 1.000.000 de visitas.
ESQUEÇAM TUDO e RUMEM A ORTIGOSA - Quinta do Paúl.
O Mexia, o o Blogue merecem e ..... nós precisamos de "conversar".
Até lá e VAMOS TODOS.
CMSantos (Cart 2339, Mansambo, 1968/69)
3. Mensagem do J. Mexia Alves:
Bom dia, Luís, camarigos editores e adjuntos da Operação Ortigosa.
Já lá vão os 100 e ainda hão-de vir mais! Realmente o mérito pertence por inteiro ao Carlos Vinhal e ao Miguel Pessoa que têm trabalhado tudo e feito tudo. Eu tenho-me limitado a acertar pequenas coisas com o restaurante e pensão Santa Rita.
Já só falta uma semana e o tempo passa depressa. Estamos juntos!
Abraço muito amigo do Joaquim Mexia Alves
4. De diversos mails que recebemos de amigos e camaradas que manifestaram o seu pesar por não poderem participar, este ano, no nosso encontro, destaca-se a da jovem Cátia Félix, amiga da viúva do António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, falecido em combate no dia 17 de Abril de 1972, durante uma emboscada no Quirafo.
Olá, amigo Luís e restantes camaradas
Quero que desculpem pela minha ausência, mas não me esqueci de vocês (como se isso fosse possível)...
Õ que se passa é que me encontro em exames da faculdade, que só terminarão em meados Julho. Como já tem vindo a ser habitual, desligo-me um bocado de tudo e de todos e, por isso peço desculpa.
Espero que o vosso encontro seja fantástico e, apesar de não puder estar presente, sei que me levam com vocês num lugar bem especial.
Oportunidades não faltaram para que possa conhecer muitos de vós.
Beijinhos grandes
Cátia
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4482: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (6): As inscrições terminam a 15 de Junho (A Organização)
Guiné 63/74 - P4522: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (15): Binar - Sanatório do sono
Assunto: Viagem...
Amigo Vinhal
Mais um capítulo de “Viagem à volta das minhas memórias”, iniciador narrativo de uma nova etapa da CCaç 2791 (FORÇA), que publicarás se julgares.
Aproveito para mandar um abraço e desejar a todos um óptimo dia de convívio na Quinta do Paul, onde não tenho possibilidade de comparecer, com pena.
Um abraço
Luís Faria
Binar – Sanatório do Sono
Com a entrada do mês de Março de 71 , processam-se de novo alterações na CCaç 2791 e aos primeiros dias do mês, a Força é novamente desmembrada, sendo o 3.º GComb sob o comando do Alf Mil Gomes, Furs Mil Almeida e Ferreira, deslocado para Bissum, em reforço da CCaç 2781 (?), por onde ficou até aos primeiros dias de Novembro, altura em que retornou a Bula. Da actividade deste GComb nesse lapso de tempo, pouco sei para além das deficientes condições (comparativamente) de instalação, de patrulhamentos e emboscadas e de umas flagelações ao aquartelamento, sem que felizmente tivessem ocasionado quaisquer problemas graves.
Assim, ficam em Bula o 1.º e 2.º GComb (o 4.º já estava em Teixeira Pinto) entretidos com os afazeres habituais a par de umas incursões em que felizmente não houve ossos para chuchar.
Com a ida do 3.º GComb para Bissum, comecei a sentir a falta do meu amigo e companheiro de suite Fur Mil Almeida, assim como dos seus dotes de músico, dedilhando (?!?) na minha viola, com um só dedo e numa só corda (mi fino) melodias infindáveis e espantosas na procura do tom certo, sem nunca conseguir tirar um som minimamente límpido agradável ao ouvido ! Um verdadeiro atentado à nossa estabilidade emocional !!
Mesmo assim era extraordinariamente melhor, comparando com as horas seguidas de tentativa de execução de melodias, na sanfona de sua propriedade! Com esta, achava que dando ao fole e carregando nuns botões, fazia maravilhas!! E fazia! Fazia com que o pessoal da suite não conseguisse descansar ou dormir e a par de uns impropérios mais ou menos redundantes mas sem efeitos práticos, zarpasse rapidamente de molde a não ficar com o sistema nervoso em franja, quiçá podendo levar alguém ao assassinato ou ao suicídio!!!
E quando queria acompanhar-me, estando eu à viola?? Aí era o fim… quanto mais desafinado… mais amplitude dava ao fole e mais aquilo gemia !! Era exasperante, maquiavélico!! Se os S.I. soubessem, com certeza teria sido usado como tortura para a obtenção de informações IN ?!!
O pior é que ninguém conseguia demovê-lo da busca diária e sistemática da perfeição - na sua auto-aprendizagem sem fim e sem melhorias - da execução melódica, especialmente na sanfona, até que um mau dia… bem, isso é outra estória !!
Dispersão da CCaç 2791 nos primeiros meses de 1971
Mapa: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados
Voltando à 2791, pelos meados do mês, a Companhia a 2 GComb desloca-se para Binar, (à excepção da componente administrativa) onde vai ficar até finais de Maio, aquartelada nas antigas instalações do “Sanatório da Doença do Sono”, perto da CCaç 17. Poucos dias depois foi de novo desmembrada, sendo destacado o 1.º GComb para Pache em trabalho de reordenamentos. Não recordo porque, o Fur Mil Castro (2.º GComb) também foi, ficando ao que lembro somente o Alf Mil Barros e eu com o meu 2.º GComb.
Registado, em termos operacionais, ficou-me uma flagelação a um princípio de noite, com morteiros e RPG, sem consequências, desencadeada da pista de aterragem. Também interviemos em segurança afastada na operação “Rapazes Destemidos” nas matas do Choquemone, onde o pessoal de outros agrupamentos teve contactos vários com o IN.
Durante esta Operação, o pessoal directamente envolvido recebeu a visita surpresa(?) do Gen Spínola. Recordo-me de ver o heli, escoltado pelo canhão, a descer para aterrar e passados uns minutos começar a ouvir rebentamentos e ver o heli a levantar e sair da zona rapidamente. Posteriormente confirmaram-me que o General tinha aterrado e as morteiradas e roquetadas começaram a estoirar, obrigando-o a pôr-se em segurança. Segundo os meus canhenhos aconteceu a 2 de Abril de 1971. Talvez algum camarada saiba algo mais desta Operação que teve direito a visita maior! Porque teria sido?
Binar era uma povoação pequena situada a uma dúzia de quilómetros de Bula, - na estrada (picada) para Bissorã – onde não havia praticamente nada. Foi um mês e meio de descanso operacional em que os dias se sucediam com uns patrulhamento defensivos, de proximidade, serviços ao aquartelamento e umas idas a Bula buscar abastecimentos.
O Almeida e os gemidos da sua sanfona violentada, estavam realmente a fazer falta!! Ao menos daria para passar tempo a chatear à mistura com mais ou menos ameaças de morte da dita, aliadas ao respectivo coro de dixotes enviesados das respostas. Para estas trocas de galhardetes é que serviam também os amigos. Pois… os amigos também têm obrigação de se aturarem, certo?
Mas, como diz o Povo, “não há mal que sempre dure…” e ao fim de uns dias a adaptação à nova realidade acabou por acontecer, pondo os dias e noites de novo a rolar.
A todos um abraço
Luís Faria
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4413: Estórias avulsas (33): Buracos da vida, ou os dias mal vividos (Luís Faria)
Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4361: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (14): Um mês complicado (3) O osso