Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 4 - "Viatura [, Berliet,] minada na emboscada de 7 de Janeiro de 1974"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 6 - O Furriel Ventura em ambulância capturada ao PAIGC" [, entre Copá e a fronteira, em Março de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do Cap Pára-quedista do BCP 12, António Ramos, já falecido]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 7 - Ambulância capturada ao PAIGC"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 1 - Vista aérea de Bajocunda" [que ficava a 11 km de Pirada, sede do batalhão].
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 5 - Evacuação do Capitão Ângelo Cruz" [, que accionou uma mina antipessoal, e ficou sem uma perna no Natal de 1973].
Guiné > Zona leste > Pirada > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 8 - Restos de foguetão [122 mm] do PAIGC" [, presume-se que tenha sido no ataque a Pirada, no dia 25 de Abril de 1974]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 9 - "Poço com água para beber e cozinhar"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 10 - Crianças amigas [ , em primeiro plano o Mulai Baldé, que mais tarde viria para Portugal]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 11 - Alunos da escola de Bajocunda"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 15 - Eu e alguns dos meus condutores"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 12 - Eu e o polícia de Amedalai"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 2 - Amedalai ardida no ataque de [18 de] Dezembro de 1973" [Amedalai ficava a sul de Bajocunda]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 3 - Crianças procurando comida depois do ataque a Amedalai"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 13 - Encontro das Altas Chefias de Pirada depois do 25 de Abril [de 1974]"
Fotos (e legendas): © Amilcar Ventura (2009). Direitos reservados
1. Texto, enviado em 20 do corrente, peo Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323/73, Bajocunda, 1973/74, natural de (e residente em) Silves, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio último (*)
Camaradas
Apesar de me terem advertido para a eventual polémica a propósito da revelação da entrega de gasóleo ao PAIGC , surpreendeu-me a quantidade e agressividade dos comentários produzidos (**).
Vou tentar clarificar as coisas.
Desde muito novo que a polícia política entrava casa adentro, revistava e levava o meu Pai sob prisão. O meu Pai era comunista, não tinha grande cultura, mas tinha capacidade para identificar as injustiças e a arrogância de actos praticados por indivíduos protegidos, que roubavam aos pobres sem castigo, enquanto os pobres, se roubassem aos patrões uma fruta ou um bocado de peixe seco, eram despedidos sem dó nem piedade.
Também eu, ainda jovem, sofri essa experiência amarga de ser privado do meu Pai. Essas e outras levaram-me a ter um espírito crtico, a escolher com cuidado os amigos, e a conter o riso perante os que desenvergonhadamente zombeteavam dos humildes. A minha infância e juventude foram dificeis.
Por acaso tornei-me membro de uma conhecida organização que actuava contra o regime. Tal como o meu Pai, não era intelectual, agia em função da confiança que me inspirava, e das ideias de justiça e solidariedade que, acreditava, trariam a felicidade aos portugueses.
Na Guiné, mais propriamente em Bajocunda, expressei os meus critérios de justiça e relações entre os povos, de cada vez que se proporcionava. Por isso fui informado da ligação de um mecânico-auxiliar ao PAIGC. Era um óptimo rapaz, competente e de delicado no trato. Nutri uma especial atenção por ele, que tinha sido recomendado pelos camaradas que rendemos.
Um dia tive que lhe adiantar o salário que a Companhia estava relutante em pagar, apesar do compromisso. Também os pequenos que ali cirandavam e nos faziam recados, a quem dava petróleo para ajudar as moranças, tornaram-se elos de uma relação
de afecto com a população.
Vim a saber da existência da ambulância [do PAIGC], que evacuava para um hospital distante doentes e feridos, militares e civis, e por vezes não servia de nada por falta de combustível. Foi por isso que dei o gasóleo quando me pediram. Caprichosamente fui eu quem conduziu a ambulância depois da captura, com escolta do Marcelino da Mata que me valeu quando fomos emboscados.
Naturalmente tive informações ou fui avisado para ter cuidado que o IN andaria na zona,e uma vez, sobre a hora, relativamente a um ataque em Bajocunda, o que me levou a dar volta aos abrigos para alertar. Não tinha informações relativamente a Copá e Canquelifá, porque era outro grupo [do PAIGC]que ali actuava.
Reparem, não estive a ajudar o IN a fazer fornilhos, nem me consta de algum rebentamento por essa via.
A minha Companhia sofreu baixas numa emboscada, mas não tive qualquer conhecimento prévio. Quando dei gasóleo só pus uma condição, através dos dois jovens militares com quem me encontrei, que deixassem livre a estrada entre Bajocunda e Pirada, meio fundamental para reabastecimentos e outras ligações eventuais.
E sobre Bajocunda, o nosso quartel, desde que lá chegámos até o dia vinte cinco de Abril 74, só tivemos um único ataque [ a 18 de Dezembro de 1973].
Não contribui para o fim da guerra, mas para minorar o esforço das NT e para ajudar os aflitos do outro lado. Não sei se eles perceberam alguma coisa [do meu gesto de] solidariedade, e, apesar disso, se usaram o gasóleo para outro fim, coisa que remotamente pensava controlar pelas informações que tinha, pois acreditava que lutavam com honra e dignidade por um ideal.
Declaro ainda que mantinha excelentes relações com os meus camaradas e que seria incapaz de os atraiçoar. Eu vivo de consciência tranquila.
Espero que os camaradas, mais cultos do que eu, continuem a manifestar tolerância por aqueles que têm alguma coisa para contar das suas experiências, mesmo que, aparentemente, não sejam histórias dos manuais de guerra, nem do culto xenófobo ao PAIGC, como decorre das frequentes manifestações de solidariedade dos nossos tertulianos em ajudas ao povo da Guiné, (que, pela independência, imaginava lograr a liberdade e a felicidade), contribuindo para que a Tabanca Grande seja um lugar de sentimento, paz, verdade, e construção.
UM ABRAÇO AMIGO PARA TODOS OS CAMARADAS
Amílcar Ventura
[Revisão / fixação de texto / selecção e edição de fotos / título do poste / bold a cor: L.G.]
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4308: Tabanca Grande (137): Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74
(...) Alguns factos e datas sobre o 1ª CCAV / BCAV 8323/73
(i) Mobilizada pelo RC 3, embarcou, no dia 22 de Setembro de 1973, no navio Niassa com destino a Bissau;
(ii) Foi colocada em Bajocunda, na zona leste, junto à fronteira, a 11 km de Pirada (sede do BCAV 8323/73, comandado pelo Ten Cor Cav Jorge Eduardo Rdorigues y Tenório Correia Matias);
(iii) Teve dois comandantes: Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz (ferido em combate), e Cap Mil Cav Fernando Júlio Campos Loureiro;
(iv) Em 13 de Dezembro de 1973, o sapador de minas Fernando Almeida morre num rebentamento;
(v) Cinco dias depois, a 18, a tabanca de Amedalai, nas imediações de Bajocunda, a sul, é atacada e destruída pelo PAIGC;
(vi) No dia de Natal, o Cap Cav Ângelo Cruz ficou sem uma perna abaixo do joelho, no rebentamento de uma mina, numa patrulha, entre Bajocunda e Amedalai: ficaram ainda feridos o guia e três soldados;
(vii) No dia 7 de Janeiro de 1974, numa emboscada a uma coluna de viaturas, que ia levar comida a um pelotão da companhia, que estava em Copá, a 21 km de Bajocunda, a oeste, morreram o Sebastião Dias e o José Correia; e duas Berliets foram destruídas;
(viii) Em Março de 1974, Copá é abandonada; numa operação mais a norte, é apreendida uma ambulância, de origem russa, ao PAIGC; a viatura, conduzida pelo Amílcar Ventura, sob protecção de helicanhão, foi trazida para Bajocunda;
(ix) A 22 Agosto de 1974 Bajocunda é entregue ao PAIGC;
(x) Partida para Bissau e regressa a Portugal no dia 9 de Setembro. (...)
26 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4740: Estórias do Amílcar Ventura (1): O meu eterno Amigo Mulai Baldé...
...) Como eu era mecânico, essa minha lavadeira estava-me sempre a pedir petróleo para as suas lamparinas, que eram a única forma de iluminação naquelas bandas. A minha missão decorria normalmente, até que um dia acabei por descobrir que o comerciante local, que vendia o petróleo aos civis, chamado Silva, explorava a população na sua venda.
Não vou perder o meu, e o vosso rico tempo, a falar deste comerciante ,, natural de Braga, pois teria muita coisa a dizer, até porque segundo sei ele já faleceu. Dizia eu, que dei então comigo a dar petróleo a toda a tabanca ao ponto de, em alguns finais de meses, me ter visto aflito para fazer os mapas das existências em armazém.
Sempre me senti bem com esta minha faceta que, por um lado foi muito bom para mim, pois caí nas boas graças da população, não me faltando nada sem eu pedir, dando-me ovos, galinhas, carne de gazela, de cabrito, etc. Mas o mais valioso, para mim, foi o carinho com que fui tratado por toda a população, e jamais esquecerei os seus generosos e amáveis convites, para ir comer às suas tabancas.
Conforme vim a constatar, eu que era o único branco que frequentava os seus bailes e podia andar, à noite, livre e sossegadamente pela tabanca sem ter qualquer problema, enquanto alguns dos meus camaradas (por actos que desconheço) chegaram a ser apedrejados.
Nm dos meus dias de rotina descobri, surpreendentemente, que um Grande Amigo meu da tabanca era guerrilheiro do PAIGC. Como uma das minhas assumidas qualidades é: “Amigo não traí Amigo”, guardei penosamente este segredo apenas para mim. (...)
Mal eu sonhava, que se ainda hoje estou cá neste mundo é graças a ele, porque antes de um ataque que viemos a sofrer ao quartel, eu fui informado, por intermédio da minha lavadeira e do Mulai, que ele ia acontecer, com muito perigo para nós, pois seria executado muito perto da cerca de arame.
“Amigo não trai Amigo”, pensei eu, muito menos os meus camaradas-de-armas, pelo que meti-me numa Berliet e dei comigo a andar à volta dos nossos abrigos, a avisar o pessoal de que íamos ser atacados. A certo momento, quando complementava essa volta, um guerrilheiro do PAIGC apontou-me um lança-granadas RPG7 e estava prestes a atingir-me com uma das suas mortíferas granadas. A minha sorte foi esse meu Amigo, que viu quem estava dentro da Berliet, e não permitiu que o seu camarada lançasse a terrível granada, cujo disparo esteve eminente, pois vi bem a orientação do tubo e o seu dedo sobre o gatilho da sua arma. (...)
(**) Vd. postes de:
11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4936: O segredo de... (6): Amílcar Ventura: a bomba de gasóleo do PAIGC em Bajocunda...
11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4939: Banalidades do Mondego (Vasco da Gama) (IV): A minha guerra foi outra, camarada Amílcar Ventura
14 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4949: (Ex)citações (43): O exorcismo dos nossos fantasmas... (António Matos)
15 de Setembro de 2009 >Guiné 63/74 - P4953: (Ex)citações (45): Resposta ao Mário Fitas: Luís, deixa sair de vez em quando as G3...(Luís Graça)
Vd. também o poste mais recente > 23 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4996: Controvérsias (28): O caso do Amílcar Ventura... Resistência ou colaboracionismo ? (Vitor Junqueira)
Vd. também postes anteriores desta série O Segredo de...
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite
4 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)