quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8683: Efemérides (76): Dia da Infantaria em 14 de Agosto de 1961 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 13 de Agosto de 2011:

Boa noite
Lá fora ouviam-se rebentamentos, ao longe, mas eram rebentamentos.
Olhei à minha volta e recostei-me no sofá. Estava em casa, no meu ambiente.
Os rebentamento cessaram. Devia ser o anúncio de alguma festa popular.
O computador por perto, deu-me a ideia de ir vasculhar um texto que se passou há 50 anos.
É mais um texto do livro, não editado, Refrega.

Aqui fica o registo do que se passou em 12, 13 e 14 de Agosto de 1961.

Bom resto de fim de semana, prolongado.
Um abraço
José Martins


DIA DA INFANTARIA

Já vai longe aquele dia 14 de Agosto de 1961...

Como acontecia naquela época, bastava estudar para se ser obrigado a pertencer à Mocidade Portuguesa, uma organização juvenil de carácter e âmbito nacional.

Já que eu, como estudante, era obrigado a pertencer à organização, o melhor era aproveitar e tirar o maior e melhor partido da situação.

Desde cursos, acampamentos, prática das mais variadas modalidades desportivas ou visitas culturais, tudo servia de escape, numa cidade do interior, onde as ofertas de diversão eram praticamente nulas

A guerra tinha começado há poucos meses em Angola e ninguém imaginava que aquele grupo de adolescentes seriam sérios candidatos a combatentes, uma vez que, na versão oficial, as nossa tropas somavam, em cada dia que passava, retumbantes vitórias sobre o inimigo, apesar das noticias que corriam “à boca pequena” indicarem que a situação era extremamente grave.

Foi o Cónego Carlos, Assistente Religioso da Ala de Leiria da Mocidade Portuguesa, que, no final de um encontro de graduados, naquela cidade, lançou a ideia: ir de Leiria a Fátima a pé, já que o dia 13 de Agosto de aproximava.

Depois do almoço do dia 12, o reverendo ancião saindo do Paço Episcopal, junto ao jardim da cidade e do largo das camionetas, colocando o seu chapéu de abas largas na cabeça, convidou-nos a segui-lo.

Atravessamos a cidade em duas longas filas, transportando as mochilas às costas, e, no nosso íntimo, a Fé que move montanhas. Passamos junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, à igreja do Espírito Santo, à Fonte Grande, ...

Para traz ficavam o Castelo, a Ermida de N. Sr.ª. da Encarnação, o Jardim-Escola João de Deus, para onde tinha ido aos quatro anos, a caminho da Cova da Iria.

Percorrendo os caminhos da serra, fomos saudando ou fomos saudados pelos habitantes das várias povoações por onde passávamos, ou, em várias parte do percurso, fazíamos grupo com os outros peregrinos.

Antes da noite cair, já tinha sido instalado o acampamento. Foi dali que partimos para participar nas cerimónias religiosas, que incluía a procissão das velas, durante a noite de doze para treze mas participaríamos, especialmente, nas cerimónias do dia seguinte, que, após a missa terminam com o Adeus à Virgem.

Ainda hoje, quando visito o Santuário, me recordo desta visita, e da água que transportada no meu cantil, matou a sede a muitos peregrinos.

Ao princípio da tarde, terminadas as cerimónias e desfeito o acampamento, fomos transportados em viaturas militares, rumo ao Campo Militar de S. Jorge, para o local onde, através de um monumento se invoca o local onde em 14 de Agosto de 1385 se travou a Batalha de Aljubarrota, entre o exército invasor castelhano e o exército português, comandado por D. João I e D. Nuno Álvares Pereira.

No local já se encontrava um destacamento militar. Nesse ano, as comemorações do Dia da Infantaria iniciavam-se com uma vigília naquele local e terminariam com uma homenagem na Sala do Capítulo do Mosteiro Santa Maria da Vitória, junto do túmulo do Soldado Desconhecido que representa todos os militares mortos na I Grande Guerra, em África e na França, e cujos corpos por lá ficaram.

Manhã cedo, levantamos o acampamento e percorremos, em marcha, a estrada que separa o Campo de S. Jorge do Mosteiro da Batalha.

Junto ao Mosteiro, já se encontrava um grupo de homens, de idade avançada, que cerravam fileiras junto a uma bandeira branca orlada a verde, tendo no centro sobre a Cruz de Cristo, que as caravelas ostentaram durante os descobrimentos, a Cruz de Guerra com a legenda – Liga dos Combatentes da Grande Guerra.

Um ex-combatente da Guerra do Ultramar com o Estandarte do Núcleo de Matosinhos da actual Liga dos Combatentes

Eram Combatentes. Eram alguns dos mesmos que, em 9 de Abril e a 11 de Novembro, se reuniam, ano após ano, junto aos muitos padrões erigidos em memória dos Combatentes da Grande Guerra, recordando aqueles que a guerra fez cair para sempre no campo de batalha, em nome de Portugal.

Muitos deles ostentavam no peito, com merecido orgulho, condecorações ganhas com mérito nos campos de batalha. Eles representavam duas gerações anteriores àquela a que os que acabavam de chegar pertenciam. Eles, os combatentes, ali firmes e aprumados, continuavam a honrar a sua pátria. Para eles foi o meu carinho e vai a minha saudade, como se fossem o meu próprio avô e os meus tios, que também por lá andaram.

Após o toque de apresentar armas ouviu-se o Hino Nacional. As bandeiras levantaram-se ao vento, descobriram-se as cabeças, prestaram-se as honras militares.

Hoje, muitos anos passados, nas datas comemorativas da Batalha de La Lys ou do Armistício, há muitos daqueles adolescentes, entre os quais me encontro, hoje já homens e veteranos de guerra, reunimo-nos junto aos Padrões de Guerra erigidos por todo o país, sob a mesma bandeira, homenageando os nossos antepassados e combatentes de todos as batalhas da nossa já longa História. Nós sabemos bem o que é servir a Pátria como Militares e como Combatentes.

04/JULHO/2000

(este texto pertence ao livro, não editado, com o título REFREGA, escrito como catarse a problemas surgidos com o PTSD)
____________

Notas de CV:

- Foto do Castelo de Leiria retirada de Lendas de Leiria, com a devida vénia

(*) Vd. poste de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8670: Blogoterapia (185): Ageism ou a discriminação face à idade? (José Martins)

Vd. último poste da série de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8669: Efemérides (54): 104.º aniversário de Miguel Torga (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P8682: Parabéns a você (300): José Manuel Moreira Cancela, ex-Sold Ap Armas Pesadas, CCAÇ 2382 (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70)

____________

Notas de CV:

- José Manuel Moreira Cancela, foi Soldado AM da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70.

Vd. último poste da série de 10 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8654: Parabéns a você (299): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CCAÇ 4745

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8681: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Ilustrações (Parte III) (Jorge Canhão)




1. Mais ilustrações retiradas da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), unidade que foi rendida já depois do 25 de Abril de 1974 pelo BCAÇ 4612/74 (ao qual  pertenceu o nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribero).... (Sobre esta aparente confusão de dois batalhões com o mesmo número, ler o poste do nosso camarada Agostinho Gaspar, P7414, de 10 de Dezembro de 2010).


Um exemplar, fotocopiado, da história desta unidade, o BCAÇ 4612/72,  foi-nos oferecido em tempos  pelo nosso camarigo Jorge Canhão (ex-Fur Mil 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).  O Jorge há havia aqui publicado uma série de postes com a história do batalhão... 

Como já foi referido anteriormente (*), este documento tem cerca de uma dúzia de interessantes (e raras) ilustrações, feitas a estilete sobre "stencil" por um ilustre desconhecido... 

Entendemos que algumas destas ilustrações (ou melhor, as imagens com melhor resolução) têm qualidade suficiente para merecerem também vir à luz do dia.

Referem-se também alguns aspectos da actividade operacional deste batalhão, no período de Outubro de 1973, com destaque para os trabalhos de reordenamento (planeamento, para a época seca, da construção de 270 casas, reconversão de 35, abertura de 10 poços com bomba, além da construção de algumas escolas, postos sanitários e lavadouros). 

Esta unidade foi rendida já depois do 25 de Abril de 1974 pelo BCAÇ 4612/74 (a que pertenceu o nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro).

Imagens: Cortesia de  Jorge Canhão (2011).
__________________

Nota do editor:


Guiné 63/74 - P8680: Tabanca Grande (297): José Carlos Ramos dos Santos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)

1. Mensagem do nosso novo camarada José Carlos Ramos dos Santos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74, com data de 15 de Agosto de 2011:

José Carlos Ramos dos Santos Gabriel
Nascido a 01 de Novembro de 1951
Natural de Cova da Piedade – Almada
Residente na Amora – Seixal
1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74

Camaradas
Só agora me passou pela ideia sondar no Google a possibilidade de encontrar algo relacionado com o BCAÇ 4513 e eis que me deparei com o vosso/nosso blogue e Tabanca Grande.

Já tentei ler o mais possível algumas das notícias colocadas no mesmo mas terei que o fazer com mais calma para me ir relembrando de algo com interesse para enviar.

Infelizmente não tenho recordação do embarque para a Guiné do Batalhão em virtude de na data da partida me encontrar a prestar serviço na Defesa Nacional e não me ter sido permitido embarcar sem ter o meu substituto presente, razão pela qual só embarquei em 12 de Maio 1973 nos TAM, depois de muita insistência minha com o receio de vir a passar a rendição individual.

Agradeço a todos os meus ex-camaradas da altura que se prontificaram a fazer o meu trabalho até chegar o meu substituto pois sem este apoio não me teria sido dada a possibilidade de embarque.

O meu regresso também não foi com o Batalhão porque estava de férias na dita Metrópole a poucos dias de regressar à Guiné quando recebi um telefonema de um camarada a informar que o Batalhão já tinha regressado e para me dirigir ao quartel do Campo Grande para fazer o espólio.

Durante o tempo de permanência na Guiné vim sempre de férias logo que me era permitido visto já ser casado e ter a minha filha, e foi numa destas situações que mais uma vez não me juntei ao Batalhão no regresso.

Ainda mantive contato até 1997 com dois camaradas, o 1.º Cabo Rádio Telegrafista Luís Oliveira e o Furriel de Transmissões Roque, ambos residentes no concelho do Barreiro mas por razões da minha mudança de situação profissional perdi os contatos.

Relembro neste momento um torneio desportivo efectuado em Aldeia Formosa e se a memória me não atraiçoar terá sido em 1973 onde fui representar a 2.ª CCAÇ na modalidade de andebol e futebol de salão, hoje conhecida de FUTSAL.

As memórias vão aparecendo conforme vamos vendo as imagens e lendo os comentários de outros camaradas.

Saudações amigas e um até breve.
José Carlos
jocamora@gmail.com


2. Comentário de CV:

Caro camarada José Carlos Gabriel, bem aparecido nesta Tabanca Grande, Caserna Virtual, onde as portas de entrada estão sempre escancaradas de modo a que qualquer ex-combatente da Guiné possa entrar sem bater.

O teu Batalhão, mobilizado pelo RI 15 de Tomar, está registado na Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7.º Volume - Fichas das Unidades, Tomo II - Guiné, como BCAÇ 4513/72, que embarcou para Guiné em 16 de Março de 1973. A tua 2.ª CCAÇ regressou em 4 de Setembro de 1974.

Pelo que nos contas, andaste sempre de candeias às avessas com o teu Batalhão. Não foste com a malta por impedimento de funções, olha o teu "azar" e ainda por cima a "guerra acabou" estavas tu junto da tua família. Até nem te podes queixar muito.

Tens com certeza, pelo meio, muitas histórias para contar e algumas fotos para mostrar. Este blogue está à tua inteira disposição para publicar os teus trabalhos.

Até novo contacto, fica com um abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores.

O teu novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8678: Tabanca Grande (296): José Lima da Silva, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876 (Bissum, Pirada e Bula, 1966/67)

Guiné 63/74 - P8679: O Regresso dos Heróis (Domingos Gonçalves) (4): O último azar


O Regresso dos Heróis*

Por

Domingos Gonçalves
(Ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887)


DEDICATÓRIA
A todos os colegas da CCAÇ 1546 do BCaç 1887



IV - O ÚLTIMO AZAR

Dia 14
Ao alvorecer o Alfange encostou ao cais de Binta e todo o pessoal foi autorizado a desembarcar. Depois de uma noite sem dormir, passada no rio, sair do barco foi um grande alívio. Ao sentirmos sob os nossos pés terra firme todos sentimos um grande alívio, um alívio enorme, que só as pessoas que algum dia tiveram a sensação de insegurança que nós tivemos durante a noite, poderão calcular.

Pelas doze horas, um Cabo da Companhia de Caçadores N.º 1546, o Cabiço, pegou numa granada de “rocket”, que estava abandonada, sem quaisquer condições de segurança, para a mostrar a um colega da Companhia de Comando e Serviços. Depois, atirou-a ao chão, ou ela caiu-lhe, e a granada explodiu com toda a violência. O Primeiro Cabo sofreu ferimentos mortais, tendo sucumbido ao fim de poucos minutos, enquanto que os dois outros colegas sofreram ferimentos menos graves e foram evacuados para Bissau de helicóptero. Chama-se a isto o azar do último dia... A morte a chegar quando já ninguém espera por ela...
Impressionante fatalidade... Iniciámos a viagem cheios de esperança, e o destino obrigou-nos, inesperadamente, a regressar ao ponto de partida... Era a morte que ficava faminta, desdentada e emagrecida, se não tivéssemos vindo outra vez ao seu encontro, para desta forma lhe saciarmos o apetite. E quantas vidas ela ceifará ainda, assim rudemente, de entre aqueles que vieram agora ocupar o espaço que deixámos livre!

Esta morte é apenas o resultado da imprudência e do desleixo do nosso chefe. Quantas vezes lhe foi dito:
- Capitão... Mande retirar dali aqueles explosivos... Qualquer dia assiste-se aqui a um acidente... Até o seu cachorro pode causar ali uma explosão...

Mas foram inúteis todas as palavras... Todos os avisos.
E agora que o pior aconteceu, não se pede responsabilidade a ninguém... Perdeu-se mais uma vida assim tão estupidamente, e ninguém vai incomodar-se com isso! Como tem pouco valor para estes comandos a vida de um soldado!

Pelas três horas da tarde todo o pessoal regressou para bordo do Alfange, e escoltados por outro barco de Guerra, que entretanto chegara a Binta, e por uma esquadrilha de aviões T6, que foram sobrevoando e observando as margens do rio, iniciámos de novo a viagem para Bissau, desta vez sem qualquer incidente.
A viagem foi longa e penosa. Este tipo de passeios pelo rio não deixam de ser martirizantes, mesmo quando se leva na alma a alegria que sentem os fugitivos do inferno.


Dia 15
Pelas nove horas da manhã o Alfange atracava ao cais de Bissau. Apesar de muito cansados havia no rosto de todos nós uma sensação de alívio. Depois de tantas horas de ansiedade e sofrimento, era a sensação de entrar no paraíso.

As viaturas militares levaram-nos para Brá, Companhia de Adidos, onde ficámos a aguardar transporte para a Metrópole. Somos quase pessoas livres... Este mundo de escravatura e de senhores de comportamentos loucos não passará, dentro de breves dias, de uma longínqua recordação. Agora, durante breves dias, vamos gozar as últimas delícias de Bissau, nas explanadas simples, bebendo cerveja fresca e saboreando mariscos. Serão estas as melhores lembranças que vamos guardar desta terra onde nunca entendemos o que nos mandaram para cá fazer. E agora já é tarde... Nunca devidamente o entenderemos...


Dia 16
Vamos passando o nosso tempo nesta cidade que, sem nós, seria uma terra sem vida e sem movimento... É uma folia... Cada um, na medida das suas possibilidades, vai comprando algumas recordações...

É o dinheiro da tropa que dá vida a este comércio, a estes bares e restaurantes, a toda esta miserável capital da Guiné...
O que há de bom aqui são os mariscos... E os bons petiscos dos pequenos restaurantes! Como há dificuldades em trocar os escudos que circulam aqui na Guiné pelos que circulam na Metrópole, e quando tal se consegue é com razoável prejuízo, gastam-se aqui as parcas economias constituídas com a parte do pré que nos pagaram aqui. É que nas localidades do interior, por onde andámos, nem condições havia para se gastar dinheiro. Se exceptuarmos as mal abastecidas cantinas militares, onde para além de bebidas, conservas e alguns artigos de higiene nada mais havia para comprar, essas localidades, regra geral, não tinham casas comerciais, nem cafés, nem restaurantes, nem cinemas. Por onde andámos apenas havia fome miséria e pobreza, que a presença da tropa às vezes ajudava a minorar. E talvez seja esse o único factor positivo que levará, amanhã, estas populações a lembrarem-se de nós.


Dia 17
Foi igual ao dia 16.

Dia 18
Foi igual ao dia 17


Dia 19
Acompanhei 20 soldados a exame de 4ª classe. Fizeram as provas escritas. A sabedoria deles não era muita, mas eu lá fui fazendo de espírito santo de orelha. Devem passar todos.

Dia 20
Voltei com os soldados a exame. Hoje fizeram as provas orais. Passaram todos. Este diploma é a única coisa importante que levam desta terra... Que lhes seja muito útil, é tudo quanto lhes desejo.


Dia 21
Nada de especial aconteceu...


Dia 22
Imposição das insígnias das campanhas da Guiné a todo o pessoal do Batalhão de Caçadores 1887. Houve desfile com fanfarra. Além do Batalhão, desfilou um Esquadrão de Cavalaria, uma Companhia Independente e um Pelotão de outra Arma qualquer, que não cheguei a identificar.

O Batalhão N.º 1887 recebeu um louvor colectivo do Comandante Militar da Guiné. É uma riquezinha que nos vai servir para muita coisa! Se estes soldados fossem viver dos louvores colectivos, ou individuais, que a tropa dá, quando muito bem se lembra, estavam todos mais do que tramados. Se ao menos estes louvores servissem para limpar das cadernetas militares os castigos que sem justificação razoável em muitas delas constam averbados, e que vão impedir que muitos destes homens possam aceder a empregos públicos, enfim, que se desfizessem por aí em louvores! Mas, com aquilo que não vai servir de nada para ninguém, porque nos continuam a chatear!

Seria bem melhor que estes homens quando chegassem às suas terras pudessem contar com estruturas de apoio que os ajudassem a conseguir trabalho, a ter condições de acesso a cuidados de saúde, de que tanto vão carecer, e a uma boa integração no meio social e familiar. Sem isso, para que vão servir as condecorações e os louvores? Todos nós, em maior ou menor grau, precisaremos de ajuda... Mas de louvores, presumo, ninguém precisa... Muito menos tratando-se destes louvores colectivos...
As sequelas desta vida de sofrimento, de um “stress” quase permanente, vão fazer-se sentir ainda por muito tempo, ou talvez para sempre. E não serão estes louvores a amenizar, minimamente, as suas consequências.


Dia 23
Aproxima-se o dia do embarque. O “Quanza”, velho navio de passageiros que nos vai levar para Lisboa, está quase a chegar a Bissau. Em breve partiremos... O Comandante da Companhia N.º 1548, do nosso batalhão, reuniu num jantar, no Solar dos 10, os Oficiais e Sargentos da Companhia. Não reuniu nesse jantar os soldados, pois seria um grupo muito numeroso e não tinha condições para o fazer. Ofereceu, no entanto, uma recordação a cada um dos seus homens. Teve, efectivamente, uma ideia feliz. Só os mártires da Companhia de Caçadores nº 1546 não têm direito a nada! Nem ao calor de uma palavra de gratidão e de amizade!

Navio Misto Quanza. Ano de registo, 1929; ano de abate, 1968
Com a devida vénia a Navios Mercantes Portugueses


Dia 24
À noite, pelas nove horas, fui reconhecer as instalações do Quanza, destinadas aos nossos homens. O barco é bastante velho mas, o que interessa, é que nos leve em segurança até Lisboa. O nosso capitão fica em Bissau a resolver, ainda, alguns problemas relacionados com a entrega de material. A notícia agradou a toda a gente. Ficamos com a certeza de que ninguém nos vai incomodar durante a viagem. E todos dizem:
- Deus seja louvado!

Os heróis têm finalmente direito a que os deixem viajar em paz. E quem não foi herói deve mesmo ficar para trás e fazer a viagem longe da companhia destes homens que merecem que a história os não esqueça. Só os grandes em dignidade têm efectivamente direito a fazer em conjunto esta viagem tão desejada.


Dia 25
Pelas nove horas a Companhia disse adeus ao aquartelamento de Brá, na periferia de Bissau, o mais sujo e detestável de quantos até hoje conheci.

Pelas nove horas e meia os homens da Companhia começaram a subir para o barco, com as respectivas bagagens. O almoço teve lugar já dentro do Quanza.

Pelas duas horas, o Comandante Militar da Guiné subiu a bordo, fez um breve discurso e despediu-se de nós.

Pelas três da tarde o pessoal estranho, aquele que não ia seguir viagem, saiu do barco.

Às quinze horas e dez minutos locais o barco começou a efectuar as manobras para sair do cais de acostagem.

Às quinze horas e vinte minutos, serenamente, o Quanza já descia a barra do Geba, em direcção ao mar Atlântico.

Adeus, Guiné!

(Continua)
__________

Notas de CV:

 (*) O Regresso dos Heróis é um livro do nosso camarada Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), edição de autor.

Vd. último poste da série de 13 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8666: O Regresso dos Heróis (Domingos Gonçalves) (3): O último susto

Guiné 63/74 - P8678: Tabanca Grande (296): José Lima da Silva, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876 (Bissum, Pirada e Bula, 1966/67)

1. Mensagem do nosso novo camarada e tertuliano, José Lima da Silva, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bissum, Pirada e Bula, 1966/67, com data de 7 de Agosto de 2011:

Sou José Lima da Silva, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, natural de Barcelos, residente no Porto.

Embarquei para a Guiné em Janeiro de 1966, tendo regressado em Novembro de 1967. Estivemos em Pirada, Paúnca, Bula, Naga, Bissum, outras localidades pertencentes à zona militar de Bula, também estivemos em Encheia onde fomos dar apoio a um Pelotão que estava cercado pelos inimigos.

A nossa Companhia era de intervenção rápida, onde fosse necessário.

Saúde e felicidades para todos os camaradas em geral

José Lima da Silva
Ex-Soldado 81795/65



2. Comentário de CV:

Caro José Lima, bem-vindo à Tabanca Grande.
Estás apresentado à tertúlia embora te falte a foto actual e uma pequena história. Sabes que nestas coisas não facilitamos e a "jóia" tem que ser paga.

Proponho até que para começar que nos contes como ganhaste aquela Cruz de Guerra que ostentas na foto acima. A foto documenta algum "10 de Junho"? Se sim diz em que ano.
Reparo que não tens emblemas nem armas na farda pelo que estarias já na disponibilidade. Ou estou enganado?

Além de nos pores ao corrente destes pormenores poderás contar-nos outras histórias sobre a tua passagem pela Guiné e enviar-nos mais fotos para publicação. Não te esqueças de nos dizeres que local e situação documentam as fotos, para não acontecer como esta que não identifica o local e a cerimónia.

Já agora ficas informado de que temos na tertúlia o ex-Alf Mil Diamantino Pereira Monteiro da tua Companhia.

Ficamos à espera de mais notícias tuas. Até recebe desde já um abraço da tertúlia.

O teu novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

- Estandarte da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 da colecção do nosso camarada Carlos Coutinho, com a devida vénia

Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8633: Tabanca Grande (295): Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

Guiné 63/74 - P8677: Notas de leitura (265): O Fazedor de Utopias, Uma biografia de Amílcar Cabral, por António Tomás (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Julho de 2011:

Queridos amigos,
Aqui temos uma surpresa, na esteira da tese de doutoramento de Julião Soares Sousa.

António Tomás é um antropólogo da nova geração, não está enredado em cumplicidades, não está sujeito a silêncios, pôde trabalhar na equidistância de quem é angolano e não precisa de vender teodiceias.

O que ele mais procura nesta biografia é o progenitor de uma lusofonia justificada como o espaço que transformou Portugal e as suas antigas colónias num multiculturalismo onde o espaço da língua portuguesa se tornou multimodo. Tem consciência que é na Guiné que mais fortemente se vive a desilusão das independências, fruto de procedimentos históricos e até propagandísticos. Como antropólogo, sabe que as entrevistas não são neutras, só permitem ver um prisma da verdade histórica.

São estes alguns dados fascinantes que me levam a sugerir a todos os confrades que tenham acesso directo às cerca de 300 páginas deste livro imprevisto, ousado e de uma transparência por vezes brutal.

Com um abraço do
Mário


O fazedor de utopias, uma biografia de Amílcar Cabral (1)

Beja Santos

“O Fazedor de Utopias, uma biografia de Amílcar Cabral”, por António Tomás (Tinta da China, 2007) é um livro singularíssimo na já ampla biografia que abarca os estudos do PAIGC ou a personalidade do seu líder fundador.

António Tomás é angolano, nasceu em 1973 e é antropólogo, o que lhe acarreta enormes vantagens pelo distanciamento (não precisa de se esconder em sofisticados silêncios), pelo não comprometimento geracional (não necessita de cultivar cumplicidades ou de promover mitologias) e pelo olhar que o antropólogo político pode lançar, equacionando a causa de estudo com o ambiente, o tempo histórico da luta anticolonial e as ondas de choque em sucessão entre a vida e o desaparecimento desse fazedor de utopias, Cabral, é incontornável referência revolucionária africana dos anos 60 e 70.

O olhar do antropólogo exige por definição um olhar com inserção e depois apurar, com toda a secura possível, a multiplicidade de nexos, classificando-os sem linguagem encomiástica, derrubando ideias feitas ou desfazendo conceitos mantidos em santuário fechado.

É o que António Tomás faz neste estudo, lembrando-nos logo à cabeça que os cabo-verdianos foram a verdadeira casta colonizadora da Guiné, que foram os cabo-verdianos que ao lado de Teixeira Pinto, conduziram as guerras de pacificação da Guiné, assumiram a liderança de negócios, foram a tutela administrativa e os zeladores da lei colonial. Impuseram a sua língua franca, o crioulo, que, com o passar do tempo, ganhou identidade local.

Não vale a pena disfarçar estas realidades, foram os cabo-verdianos quem durante séculos estiveram à frente das guarnições militares, foram capatazes, notários, professores, executantes da ordem colonial. Assim se pode perceber a mentalidade de Juvenal Cabral e como ele teve até à morte um procedimento de apoio incondicional à política de Salazar, nunca escondendo a sua admiração por Teixeira Pinto. Como diz Tomás, Juvenal Cabral considerava Salazar um político providencial. Definido o contexto em que se formou o jovem Amílcar, o seu despertar intelectual decorreu dentro dos preceitos específicos da cultura cabo-verdiana, a mãe, Iva Pinhel Évora, é o seu referencial, ele não tem ilusões sobre os sacríficos da sua mãe para a formação que recebeu.

É esse olhar de antropólogo que é lançado sobre os anos de Lisboa, ele chega com duas bolsas exíguas que mal dão para pagar as despesas, dá explicações e torna-se um aluno brilhante no Instituto Superior de Agronomia. Temos aqui a vertente do jovem estudante ser confrontado com outro tipo de mentalidade, a do branco que encara o negro à luz da inferioridade, e daí a necessidade de se estabelecer o contexto do que ocorrera na sociedade portuguesa depois da aprovação do Acto Colonial, em 1930.

Cabral está em busca de identidade, os ventos do pan-africanismo começam a chegar a Lisboa, sabe-se que os norte-americanos irão combater os impérios coloniais. Cabral, como outros jovens africanos, acolhe-se ao ideal da negritude. Aos poucos, insere-se no movimento oposicionista ao salazarismo, mas sempre com discrição.

Conclui o estudo, faz o estágio no Alentejo em pedologia, a ciência que se dedica ao estudo dos solos. Depois decide-se a trabalhar na Guiné, ninguém sabe o que o motivou a esta decisão. Chega a Bissau em Setembro de 1952, vem como director-adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, cargo que irá acumular com a direcção da Granja Experimental de Pessubé. Enquanto faz o recenseamento da agrícola da Guiné, trava conhecimento com um grupo de naturais e cabo-verdianos.

Cabo-verdianos e guineenses vivem então em mundos jurídicos diferentes: os primeiros são “civilizados”, os segundos, na sua esmagadora maioria, “indígenas”. Ou seja, encontram-se em patamares diferentes de civilização. O seu relatório sobre o recenseamento agrícola é corajoso, faz sugestões para se corrigirem deficiências, chama a atenção para os perigos das monoculturas e recomenda a diversificação das produções.

António Tomás, como mais tarde Julião Soares Sousa, desmonta algumas peças da hagiografia, por exemplo de que o governador da Guiné, Melo Alvim, lhe recomenda que abandone a província, dadas as suas actividades clandestinas. A história foi outra: Cabral e a mulher estavam fisicamente debilitados, não obstante a PIDE já o tem sob mira. Trabalha em África, tem um nome profissional prestigiado, eclodem entretanto os movimentos nacionalistas em África. A Guiné-Conacri torna-se independente, é o ensejo para Cabral se preparar para a clandestinidade. Vindo de Angola, em 1959, ajuda a fundar o PAIGC, escreve integralmente os seus estatutos. Tomás, tal como Julião Soares Sousa, considera que a fundação do PAIGC em 1956 não tem fundamento. Sente-se inspirado pelos ideais da unidade africana, aliás em Angola contribui para a fundação do MPLA. Quem vai mobilizar os guineenses é Rafael Barbosa, ele será a locomotiva da subversão interior até ser preso, em 1962.

Cabral começa a clandestinidade em Paris, daqui prossegue a difusão dos seus ideais tanto no norte de África como em Londres. António Tomás chama a atenção para o documento que ele elabora em Londres e que será difundido também graças ao empenho do jornalista e escritor britânico Basil Davidson. “The Facts About Portugal’s African Colonies” é de facto a primeira denúncia sobre o colonialismo português.

A linguagem é panfletária, atinge rapidamente a opinião pública: 11 milhões de africanos viviam sob a dominação colonial portuguesa, o país mais atrasado e com a mais baixa taxa de escolaridade em toda a Europa. Fala no estatuto do indigenato e na exploração operada pelos grandes interesses das companhias. Como Tomás observa, Cabral é conhecedor das críticas dos próprios agentes coloniais, como escreve: “Nos dados referentes à questão laboral em Angola, Amílcar Cabral havia elaborado o relatório explosivo elaborado por Henrique Galvão e apresentado à Assembleia Nacional em 1947. O documento de Galvão, um autêntico embaraço para o regime, vinha na tradição de outros relatórios, mormente os elaborados por estrangeiros, sobre as leis laborais e o regime de semiescravidão a que estava reduzida grande parte das populações africanas. Esta foi a razão pela qual muitos africanos de colónias portugueses preferiram emigrar ilegalmente para outros sítios, como o Congo ou a Zâmbia. Em Angola, a mortalidade infantil rondava os 60 por cento, enquanto a geral estava fixada em 40 por cento”. O documento, curiosamente é difundido por algumas agências noticiosas internacionais, a principal empresa francesa dá-lhe eco.

Agindo sempre em nome da unidade africana, junta-se aos outros movimentos independentistas e ruma para Conacri. O que se vai passar depois, até deixar de ser olhado com desconfiança por Sekou Touré é matéria conhecida, mas deu trabalho derrubar o medo de que todo aquele armamento até podia servir para um golpe de Estado dentro do país; Cabral impõe-se como líder organizativo, ganha as primeiras batalhas diplomáticas, os primeiros quadros entram em formação. O “ano horrível” de 1961 marca a fuga de estudantes africanos, matéria-prima indispensável para o PAIGC e para o MPLA.

A observação de António Tomás sobre a organização social deste PAIGC pode ser útil para se compreender o que vem adiante: “Na cúpula dirigente estavam os cabo-verdianos, entre os funcionários coloniais recrutados por Amílcar Cabral e os jovens quadros vindos de Lisboa e de outros pontos da Europa; na base encontravam-se os guineenses, camponeses e analfabetos, agarrados às tradições e crenças populares; como estrato intermédio havia os jovens de Bissau, com pouca escolaridade, mas que aprenderiam a manejar a máquina militar do PAIGC, vindo a tornar-se os verdadeiros senhores da guerra”.

(Continua)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8664: Notas de leitura (264): A Guerra de África 1961 - 1964, por José Freire Antunes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8676: Fotos à procura de... uma legenda (6): Mansanbo, CART 2339 (1968/69)...O pingue-pongue...da vida undergound (Torcato Mendonça)


Guiné > Zona leste > Sector L1  (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes II... Do álbum fotográfico, mas sem legenda,  do nosso querido amigo e camarada Torcato Mendonça, com ADN português, alma de Viriato, costela alentejana e algarvia, que foi casar ao Fundão... Viveu, em tempos, galharda e patrioticamente, no "bu...rako" de Mansambo, uma obra-prima dos arquitectos, engenheiros, caboqueiros, trolhas, marceneiros e ofícíos correlativos dessa notável empresa que foi a CART 2339, Os Viriatos... 

Ei-lo, aqui, divertidíssimo a jogar pingue-pongue no seu abrigo, com outro camarada que não identifico (será o Carlos Marques dos Santos ?)... O álbum fotográfico do Torcato Mendonça continua a ser uma caixinha de surpresas...

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.

1. Como dissemos no primeiro poste desta série, neste verão do nosso descontentamento, o tempo está bom para fazer charadas, passatempos, palavras cruzadas... E daí esta nossa sugestão:  ajudar a legendar fotos que andam  por aí à procura de quem as legende como deve ser... Com imaginação, com humor, com talento... Temos muitas, em arquivo,  umas mais falantes do que outras... Mas todas falam do nosso quotidiano, em geral nos bu...rakos por onde andámos... 

Amigos, camaradas, leitores: Legendas, aceitam-se... Não se dão alvíssaras... Prometemos tão apenas publicar as melhores legendas (com as respectivas fotos) com honras de caixa alta. As 10 melhores...

Os nossos leitores poderão comentar (ou escrever pequenas histórias sobre) os postes desta nova série  dentro das regras que estão estabelecidas no nosso blogue: por exemplo, os comentários não podem ser anónimos...
(LG)

PS - É esperado que os autores das fotos possam também dar uma ajudinha, uma pista, uma dica, uma ideia...

 _____________

Nota do editor:

Último poste da série > 4 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8635: Fotos à procura de... uma legenda (5): Cais do Xime, escoltando rachas de cibe para o reordenamento de Nhabijões (Humberto Reis)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8675: O Nosso Livro de Estilo (4): O que nós (não) somos... Em dez pontos!


Lourinhã > Vimeiro > Monumento comemorativo  e centro de interpretação da Batalha do Vimeiro > Azulejo alusivo  aos combates travados junto à antiga igreja do Vimeiro, em 21 de Agosto de 1808...  Azulejo desenhado e pintado à mão por Salvador (1999).

Foto: Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados


O que nós (não) somos... Em dez pontos! 

(i) Os amigos e camaradas da Guiné têm como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra da Guiné, entre 1961 (ou 1963) e 1974 (colonial, para uns; do ultramar, para outros; de libertação, para os nacionalistas guineenses);

(ii) Muitas outras coisas nos podem separar (a ideologia política, a religião, a nacionalidade, a origem social, a etnia, a cor da pele, as antigas patentes e armas, etc.), mas essas não são decisivas;

(iii) Quanto ao nosso blogue, ele não é nenhum porta-estandarte, nenhum porta-voz, nenhuma bandeira de nenhuma causa;


 (iv) Somos independentes do Estado, dos partidos políticos e das associações da sociedade civil que de uma maneira ou de outra possam representar e defender os direitos e os interesses dos ex-combatentes portugueses (ou guineenses ao serviço de Portugal);

(v) Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) de todos os ex-combatentes, que passaram pelo TO da Guiné,  incluindo os guineenses que combateram, de um lado ou de outro; mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja;

(vi) Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias;

(vii) Cada camarada e amigo que aqui escreve (incluindo os leitores que comentam livre e responsavelmente no espaço reservado a esse efeito), compromete-se a respeitar a orientação editorial e as normas éticas do blogue, mas representa-se apenas a si próprio;

(viii) Não somos historiadores; também não somos nenhum portal noticioso; não temos jornalistas profissionais; não temos a obrigação de cobrir a actualidade dos nossos dois países, Portugal e a Guiné-Bissau; abstemo-nos, de resto, de introduzir no blogue a actualidade política, em geral, e dos nossos dois países, em particular;

(ix) Somos apenas um grupo camaradas da Guiné, e de amigos (do povo português e do povo guineense), incluindo familiares de camaradas desaparecidos ou mortos, durante e depois da guerra;

(x) Publicamos narrativas, histórias, estórias, documentos, relatórios, fotos, vídeos, etc., relacionados com a nossa vivência comum, a guerra, de que fomos actores e vítimas, protagonistas e testemunhas...


_______________
 

Nota do editor:
 

Último poste da série > 14 de Agosto de 2011 >  Guiné 63/74 - P8668: O Nosso Livro de Estilo (3): Sou um pira no blogue, mas penso que captei o seu espírito (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8674: Os nossos regressos (26): O dia mais ansiado na Guiné. Um regresso atribulado (José Marques Ferreira)


1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462,Ingoré (1963/65), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:
Camaradas,
Lembrei-me da “escrita” que versa na minha velha caderneta militar e passar a escrito este apontamento.
Aproveito para vos dizer que ainda ando por cá, na vertical, e pedir desculpa pela minha última ausência na colaboração na Tabanca.


Este local ficava frente ao Hospital Militar 241-Bissau
O dia mais ansiado na Guiné
Um regresso atribulado

Eu bem tinha colocado no calendário do Outlook, deste dia do mês de Agosto, um lembrete, para ver se não me esquecia! E que chatice, ia-me mesmo passando... eu vou contar o que é:
Esqueci-me por já foi há muitos anos... desculpa esfarrapada...
Porque estas coisas nunca esquecem.
A minha juventude, como a de tantos outros, foi «atirada» para África, concretamente para a Guiné. Os documentos daquele tempo que nos ofereciam na tropa não mentem, porque escriturados minuciosamente, onde nada faltava.
Então li e reli e a coisa foi assim, segundo o documento:
«1963. Embarcou em Lisboa, em 14 de Julho, com destino ao CTI da Guiné, fazendo parte da CCaç 462. Desembarcou em Bissau em 21 de Julho, desde quando conta 100% de aumento no tempo de serviço.
1965. Embarcou em Bissau de regresso à Metrópole em 7 de Agosto, desde quando deixa de contar 100% de aumento no tempo de serviço. Desembarcou em Lisboa em 14 do mesmo mês».
Aqui fica a efeméride, triste efeméride (enquanto obrigado a ir e a permanecer na Guiné), alegre efeméride, porque iria, finalmente, ser livre (em parte). E lá tive de ir de comboio, um dia inteiro, em 1965, de Lisboa a Campanhã, depois daqui à Régua e para finalizar naquele comboio «horrível», da linha do Tua, mas agora saudoso, da Régua até Chaves.
Ali chegámos ao fim da tarde. Tivemos de desfilar, como era da praxe, pelas ruas da cidade. Mas até tinham refeição preparada para a malta comer e local para dormir. Mas qual quê, ninguém ou poucos comeram (eu um deles) e quase ninguém, ou mesmo ninguém lá ficou. O que eu e outros queríamos era chegar a casa. E metemo-nos numa aventura.
Fomos direitos a um táxi, discutidos preços, lá vem um homem trazer-nos ao Porto. Lembro-me de ter chegado, com mais outros, salvo erro, 5 camaradas, às cinco da manhã a S. Bento.
Aí mesmo, logo que as horas se tornassem convenientes, toca a requisitar bilhete e vajar até Aveiro.
Interessante recordar agora, tinha dito à minha mãe e ao meu pai, que chegaria cerca das 17 horas ao apeadeiro de Aguieira, o mais próximo da minha residência, no comboio (o saudoso Vouguinha) que ali passava mais ou menos àquela hora. Isto seria já no dia 16 de Agosto, porque entretanto ficámos uma noite em Lisboa no Regimento de Engenharia, de 14 para 15 de Agosto. Já nem sei, tal era a ansiedade, porque pouco tempo lá estive. Penso que apareci, como outros, no quartel, de manhã cedo, para o pequeno-almoço e para o transporte até Santa Apolónia.
O que é certo é que ainda durante a manhã do dia 16 já estava em Aveiro. O dia 15 foi passado na viagem de comboio até Chaves...
Mas como tinha informado que a minha chegada era àquela hora (17h), fui passear e rever esta bela cidade capital do meu distrito, tão diferente em dois anos de ausência, almocei já não sei onde, e, chegada a hora, lá apanhei o comboio de regresso a casa.
Ia, finalmente, acabar de vez com as preocupações principalmente da minha mãe (e de tantas outras, ao tempo), pois meu pai tinha ido a Lisboa ao Cais de Alcântara, se não estou em erro.
E assim foi aquele dia 14 de Agosto de 1965, que terminou no dia 16 por volta das 17 horas.
Que deixou dois anos de marcas psicológicas profundas, mas, pelo que constato diariamente pela minha leitura e análise de vários depoimentos, menos incisivas que as de muitos outros camaradas...
Um abraço para todos os que por aqui vão passando, enquanto o tempo e as condições o permitirem.
J. M. Ferreira
Sold Apt Armas Pesadas da CCAÇ 462
____________

Nota MR:

Vd. último poste da série de 4 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8503: Os nossos regressos (25): Tempo de partida, há tanto tempo... tanto (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P8673: Outras Guerras (José Ferreira da Silva) (1): O Herói de Maiombe

1. Em mensagem do dia 12 de Agosto de 2011, o nosso camarada José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta homenagem ao um bravo da guerra colonial que lutou nas longínquas terras de Maiombe (Cabinda / Angola):


OUTRAS GUERRAS

O herói do Maiombe

Quando o Quim da Ponte engravidou uma jovem conquista, sua vizinha, de nome Belinha, não imaginava a cruz que teria que carregar pela vida fora. Com 16 anos apenas, a Belinha era efectivamente muito jovem e, ao casar, iria ficar eternamente acriançada. Ele, o Quim, de 41 anos, com o cadastro de” D. Juan de aldeia”, viu-se obrigado a aceitar para sua mulher, aquela que ele menos esperava. Valeu-lhe o apoio da sogra, sua antiga namorada, nesses primeiros anos 40, que muito os apoiou. Apesar das privações próprias deste período da II Guerra Mundial, o fruto daquele “lapso amoroso”, foi criado com todo o mimo da jovem mãe, o apego da avó, que enviuvara e a… tolerância do pai.

Para a mãe e para a avó, o Joãozinho era o” brinquedinho” mais bonito e o mais inteligente do mundo. Tinham desculpas permanentes para as suas limitações e guloseimas contínuas a premiá-lo por tudo e por nada. Para o pai, ele foi sempre um miúdo exageradamente mimado, dolente, gorducho e atrasado.

Efectivamente, o Joãozinho, além de mau aluno, tornou-se rapidamente num “menino da mamã”, convencido e mentiroso. O insucesso escolar chegava a ser justificado pela própria mãe, como “inveja da professora, perante tanta inteligência”. Ela aparecia em todo o lado para defender o menino, até durante o período do recreio escolar. Por mais que o pai Quim tentasse interferir na educação do rapaz, era logo contrariado pela família. Esta promovia-o a reizinho, enquanto entre os jovens da sua idade, o baptizavam de João Bolachinha, João Morcão, João Cagarolas, Joãozinho Morte Lenta, etc.

O tempo corria rapidamente, contrariamente à evolução do Joãozinho. Sem nunca ter trabalhado, o rapaz foi à inspecção militar, apresentando-se como “Estudante” e dando, como habilitações literárias, a frequência no 1º Ciclo do Ensino Secundário (sendo, há três anos, repetente do 2º ano).

Caído na tropa, cedo se apercebeu que por lá andavam outros morcões, mesmo entre os graduados.

Também “inchou” quando verificou que a grande parte dos militares eram analfabetos e do mundo rural.

Nesses primeiros anos de terrorismo em África, os nossos militares eram muito acarinhados pela população. Eram autênticos heróis, considerados como os continuadores das lutas patrióticas de Afonso Henriques e de Nuno Alvares Pereira. Ainda hoje tenho presentes as imagens de admiração e veneração dos primeiros militares, participantes na guerra do ultramar.

O Joãozinho tirou a recruta em Espinho e foi para Gaia, de onde seguiu para o norte de Cabinda… defender a Pátria.

O norte de Cabinda, destacava-se pela intensa mata do Maiombe, de onde se extraíam madeiras valiosas e onde viviam Gorilas. Sim, Gorilas, aqueles enormes e temíveis primatas negros, de feições quase humanas.

Cabinda está, territorialmente, desligada de Angola. Foi no Tratado de Simulambuco que a população, representada pelo chefe legal do N´Goyo, Príncipes e demais personalidades ligadas ao poder, escolheu o protectorado de Portugal (1.Fev.1885). Trata-se, afinal, do chamado Congo Português, reconhecido na Conferência de Berlim, quando também atribuíram um Congo aos Belgas (Zaire), hoje República Democrática do Congo e o outro, o de Brazaville, aos Franceses (hoje Republica do Congo). Por isso os Cabindas não se consideram angolanos. Tiveram sempre um tratamento diferente (até Bispado próprio). Pode dizer-se que, talvez graças ao trabalho profícuo dos missionários, os seus nativos se evidenciavam, com nível superior à generalidade dos africanos. Tudo estaria bem não fora a cobiça resultante da descoberta dos fortes jazigos de petróleo, naquele pequeno território. Com a guerra dos movimentos de libertação de Angola (FNLA e MPLA e, mais tarde, a UNITA), nenhum desistiu de Cabinda, mesmo sabendo que já lá existia o movimento FLEC- Frente de Libertação do Enclave de Cabinda. Com os americanos lá posicionados em força, não havia terrorismo que preocupasse. Os americanos pagavam as parcas percentagens da extracção do petróleo ao governo português, mas também alimentavam e controlavam os movimentos de libertação. Porém, de vez em quando, alguém publicitava que estava em luta. Desta forma, valorizava a sua importância nas negociações (ou comparticipações) para a sua activa continuidade revolucionária.

Naquele tempo, era, assim, importante que se mantivesse uma certa fama de que em Cabinda eram muito importantes e perigosas quaisquer missões militares.

É neste ambiente de guerra quase fictícia, na zona de Buco-Zau, que o Joãozinho, agora conhecido por Morcãozinho, vê a possibilidade de se promover junto dos seus familiares e vizinhos. As suas cartas eram autênticos relatos de… bravura. A mãe contava a toda a gente, incluindo prolongadas descrições na tasca do Mário da Loja. Não havia carta em que não fizesse referência a centenas de terroristas mortos, aos quais lhes cortavam a cabeça, mãos, orelhas e dedos, para prolongarem o valor das suas façanhas e evitarem a consumação de possíveis vinganças. Também falava na caça às pacaças, leões, hienas, elefantes e gorilas. Coisas de heróis, já exibidas em cinema e em banda desenhada. Quando escreveu que também tinham apanhado dois chefes dos turras, logo a mãe fez constar que o seu filho tinha capturado mais de 20 Gungunhanas. Chegou a falar com o padre Inácio, sobre os possíveis benefícios divinos, alcançados naquelas lutas contra os” infiéis”.

 Panorâmica de Maiombe - Cabinda - Angola
Com a devida vénia a Pensar e Falar Angola

Embora o pai Quim da Ponte não estivesse muito entusiasmado, mulher e sogra encarregaram-se de organizar uma festa de recepção ao Joãozinho, o “Herói do Maiombe”. Reservada a matança do porco para a sua vinda, o Quim ainda alvitrou que deveria ser o filho a matá-lo, mas a Belinha, lembrando a conhecida sensibilidade do filho, optou por chamar o Pardal, das Vendas de Cima, um especialista nesta arte de matador. Até porque o Pardal andava sempre com necessidade de renovar o seu sangue, alcoolizado há vários anos. Bebia como uma esponja, mesmo antes da matança. E como, nesta tarefa, normalmente, havia sempre vinho em abundância, necessário para ser aplicado nas carnes do falecido bicho, ele não se escondia de “matar a sede” de forma continuada.

Por outro lado, o Heroi do Maiombe, ponto de referência de toda a gente na festa, alegou que seria um perigo ser ele a matar o porco, pois, caso avistasse sangue, poderia fazer saltar a sua descontrolada agressividade e bravura. Assim, optou por ajudar a segurar o animal, nas patas traseiras.

O Pardal teve que esfregar os olhos para ver onde devia apontar a faca. Todavia, fê-lo com tal maestria que o porco parou imediatamente de berrar. Todos os ajudantes e assistentes soltaram um OH!!! de admiração. E disseram:
- Parece que sufocou!

Agarrando na malga de vinho mais próxima, o Pardal passou a manga da camisa pelos bigodes e emborcou mais umas goladas e exclamou (apontando para o seu peito):
- Tenho pena de não matar terroristas como o Joãozinho, mas para matar porcos não há como o este senhor Pardal!

Estendido o animal no chão, colocaram caruma de pinheiro ao longo do corpo. Nessa altura, o Joãozinho lá se mostrou valente a incendiar o porco. Eis que este, sentindo o calor a queimar-lhe o lombo, arranca de repelão, a arder, roça pelas pernas do Joãozinho e vai esfregar-se numa meda de palha. Entre gritos de:
-É bruxedo, ele tem o diabo no corpo, acudam o fogo, chamem os bombeiros, etc.

O velho Quim da Ponte” agarrou numa bacia que estava cheia de água, e apagou o incêndio, enquanto o porco caía definitivamente.

A Belinha ainda agarrou num garrafão para ajudar a apagar o fogo, mas o Pardal, que estava atento, lançou mão ao “catraio”, gritando: - Esse não vai, caralho, porque não podemos morrer à sede.

Quando tudo voltou à normalidade, o Quim da Ponte não viu o filho e perguntou à Bélinha:
- Então, mulher, onde anda o nosso Heroi do Maiombe?

A mulher puxou-o de lado e segredou-lhe, ao ouvido:
- Ele foi mudar de calças. Coitadinho, borrou-se todo!

Silva da Cart 1689
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8617: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (20): Uma Grande Mulher (ou uma imagem de uma geração)

Guiné 63/74 - P8672: O Nosso Livro de Visitas (115): António Agreira (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 4544, Cafal Balanta, 1973/74)

1. Mensagem do nosso camarada António Agreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal, 1973/74, com data de 8 de Agosto de 2011:

Em primeiro lugar os meus cordiais cumprimentos.

Chamo-me António Agreira e nasci a 16 de Maio de 1951 em Coimbra.

Camaradas, tive conhecimento da existência deste blogue pelo Manuel Moreira da CART 1746. Claro que na primeira oportunidade fiz uma visita!

Foi sem dúvida com alguma emoção que revivi alguns momentos passados em Cafal Balanta. Aproveito desde já para enviar um forte abraço ao Coronel Prata e ao Manuel Antunes, assim como a todos os camaradas da CCAÇ 4544.

Fui incorporado no Exército em Outubro de 1972 e fiz o Curso de Sargentos Milicianos. Fui Furriel de Infantaria com a Especialidade de Transmissões. Depois de passar por Caldas da Rainha, Tavira, Coimbra e Lisboa, em Outubro de 1973 juntei-me à CCAÇ 4544 em Tomar, e em Setembro lá abalamos.

Recordo algumas situações mais complicadas durante a estadia em terras de Cafal Balanta, onde rendemos a CCAÇ 3565. Aproveito para enviar aos camarada da 3365 um forte abraço.

No dia em que nos deixaram entregues a nossa sorte partiram-nos logo o bico, e foi forte! Já mais para o fim da guerra não esqueço que a noticia da Revolta dos Capitães chegou à CCAÇ 4544 através dos meus serviços, às primeiras horas do dia 25 de Abril de 1974.

Neste momento estou fora de Coimbra, por isso não posso enviar fotografias,  o que farei logo que possível.

Para um contacto mais directo poderão os camaradas usar o n.º de telefone 912 550 634.

António Agreira
antonioagreira@sapo.pt


Vista panorâmica de Cafal Balanta. Na foto o nosso camarada Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610.
Foto: © Manuel Maia (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


2. Comentário de CV:

Caro camarada Agreira, muito obrigado pelo teu contacto e pela tua intenção de te juntares a nós nesta já imensa Caserna Virtual.
Se explorares o conteúdo deste blogue, criado pelo nosso camarada Luís Graça, encontrarás muitas histórias e fotografias, espólio já considerável, que conta um pouco daquilo que uma geração teve como destino, a guerra.

Poderás também contribuir com a tua parte, dando forma de texto e/ou fotografias às tuas memórias. Manda que nós publicamos.

Esperamos então as tuas fotos da ordem e uma pequeno texto de apresentação.

Recebe um abraço da tertúlia
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8628: O Nosso Livro de Visitas (115): Arlinda Mártires, antiga leitora de português em Bissau (1993-98), poetisa, autora de Guynea

Guiné 63/74 - P8671: Álbum fotográfico de João Graça (11): 1º Festival Cultural de São Domingos, 18-20 de Dezembro de 2009 (II Parte): Homens que lavam o rosto do seu país...










Guiné-Bissau > Região do Cacheu > São Domingos > 18 de Dezembro de 2009 > 1º Festival Cultural de S. Domingos, sob o lema "Nô Laba Rostu di Nô Guiné". Actuação de diversos grupos de música e dança, balantas, felupes, etc.  

A organização foi da responsabilidade da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, cujo director executivo, o Eng Agr Carlos Schwarz da Silva (Pepito),  aparece na 1º foto, a contar de cima. A iniciativa tem-se vindo a repetir todos os anos, em regiões diferentes. O objectivo é mostrar aos guineenses (e aos seus amigos) a grande riqueza multicultural da Guiné-Bissau e reforçar a sua identidade nacional. 

Fotos tirados pelo João Graça no penúltimo último dia da sua viagem à Guiné-Bissau (5-12 de Dezembro de 2009).


Fotos © João Graça (2009). Todos os direitos reservados

[ Selecção / edição / legendagem: L.G.]

__________________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 14 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8667: Álbum fotográfico de João Graça (10): 1º Festival Cultural de S. Domingos, 18-20 de Dezembro de 2009 (Parte I): Mulheres que lavam o rosto da sua terra...