segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8883: Agenda cultural (163): A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre: Lançamento em Lisboa na LeYa na Buchholz, sábado passado


Título: A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial
Autor: 
Ana Bela Vinagre
Ano: 2011
Género: Crónica
Pág.: 192
Preço: 18,00
ISBN: 978-989-667-061-0


 1. Recebemos oportunamente, em 22 de setembro último, a seguinte mensagem do nosso leitor Carlos Castanho, com a notícia do lançamento de mais um livro sobre a inesgotável temática da guerra colonial.

A sessão de lançamento, em Lisboa, na histórica livrararia Buchholz (criada por um livreiro alemão, em 1943, e agora designada LeYa na Bulchholz) foi no sábado passado, e infelizmente nenhum dos editores pôde estar presente nem dar a notícia em tempo oportuno. (No passado dia 10 de Setembro, já sido lançado o livro em Leiria). 

Aqui fica, de qualquer modo, informação sobre o evento.  Desejamos à autora o maior sucesso editorial para o seu livro. Solicitamosl, por seu turno,  à editora o envio de um exemplar, para efeitos de recensão bibliográfica. Uma primeira nota de leitura já aqui foi publicada, da autoria de Felismina Costa, em 2 do corrente.



De: Carlos Castanho [castanhofor@gmail.com]
Data: 22 de Setembro de 2011 18:31
Assunto: Lançamento do livro "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial"
 daguine@gmail.com




Caros Amigos e Camaradas,

Sou um Deficiente das Forças Armadas e tive oportunidade de visitar o vosso Blog, visita essa recomendada por um leitor assíduo. Achei o vosso trabalho de interesse público e até histórico. Nada fará sentido se a memória de um País não seja "contada" às gerações vindouras.

Nesse sentido, permitam-me que vos convida a estarem presentes no dia 8 de Outubro, pelas 16 horas, na livraria LEYA, na  CE BUCHHOLZ, sita na Rua Duque de Palmela, 4 em Lisboa, para o lançamento do livro "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial",  da autoria de minha mulher Ana Bela Vinagre,  ela também nas malhas da guerra colonial .

 Palavras da Autora:  

"Quando o conflito armado eclodiu e à medida que os meses se sucediam, crescia nas mães que tinham filhos pequenos, a esperança de que, chegada a hora de os verem envergar a farda para cumprir o serviço militar, a guerra já tivesse terminado.
 
Quantas se enganaram!... Nos bastidores duma guerra colonial sem fim à vista, ficavam mães, esposas, namoradas, irmãs, que depois de um doloroso adeus, a que o Tejo já se habituara, à vista de imensos lenços brancos de despedida, na metrópole lutavam, diariamente, contra uma saudade imensurável e o medo do espectro da morte, que a qualquer momento lhes poderia bater à porta. Em silêncio, engoliam as próprias lágrimas, calavam a revolta, escondiam a sua indignação. O sofrimento era atroz.

As namoradas e esposas, povoadas de projectos e de sonhos, viram-se traídas e defraudadas na sua juventude, esperando o fim de um pesadelo, que a cada dia, parecia mais distante."
                                                                                                                                                            
Solicito ainda, caso seja possível, que este evento seja divulgado no vosso honroso Blog.
Cumprimentos


Carlos Castanho

(Formador de SHT - Segurança e Higiene do Trabalho
Contactos : 967 747 584 / 911 773 828)

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 Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8882: Convívios (380): 2º Almoço/Convívio da CCAÇ 1477, em Fátima, 14 de Agosto de 2011 (António Rama)


1. O nosso Camarada António Rama, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 1477, 1965/1967, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem:

Bom dia camarada da Guiné,

Agradecia a publicação da notícia deste evento, que mais uma vez reuniu a nossa companhia em S. Mamede, nos arredores de Fátima.



2º ALMOÇO/CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1477

Numa atmosfera de alegria indiscutível, realizou-se em S. Mamede/Fátima, no passado dia 14 de Agosto de 2011, o segundo convívio, dos antigos combatentes da Companhia de Caçadores 1477, que prestaram serviço militar na antiga província ultramarina da GUINÉ.

Neste dia de franca camaradagem, trocou-se a espingarda e o morteiro pela faca e o garfo e a “nossa guerra”, ao contrário de ter sido travada na agitação da selva, foi calmamente feita à volta de uma mesa bem recheada.

No final desta maravilhosa festa só nos restou agradecer, reconhecidamente, ao nosso amigo e camarada de armas Américo Jesus Nunes, pela organização de tal evento, que mais uma vez esteve a seu cargo.

Obrigado a todos pela vossa simpática presença.

António Rana
Sol Con da CCAÇ 1477
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Nota de M.R.:

Vd. também sobre este convívio o poste em:


Guiné 63/74 - P8881: (Ex)citações (150 ): Louvável o esforço do nosso camarada Carlos Cordeiro de pôr a Universidade dos Açores ao serviço da divulgação do conhecimento do que foi a guerra do ultramar e do seu impacto familiar, social e económico nas nossas ilhas (José Câmara)

1. Comentário,  ao poste P8858,  pelo nosso camarada José da Câmara, que vive nos EUA, e que foi Fur Mil da CCAÇ 3327 e do Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73) [, fioto à direita]

Caros amigos,

O professor Carlos Cordeiro, com a modéstia que o caracteriza, deixou-nos com imagens que valem palavras mil.

Em boa hora o fez, na medida que nos permite usufruir da nossa capacidade interpretativa para lermos a sua mensagem.

O nosso amigo não está só nesta sua iniciativa, nem nunca pretendeu estar. Bem pelo contrário, envolveu a Universidade dos Açores, o seu departamento de História e a Comissão Científica.

Desde logo, a universidade com o seu apoio colocou-se ao serviço da comunidade onde está inserida, dando exemplo daquilo que deveria ser o paradigma de todas as instituições públicas de educação escolar, independentemente das vertentes educativas para que estão dimensionadas.

Todas elas se o tivessem feito atempadamente teriam feito o nosso país economicamente mais viável, socialmente menos dividido, mais humanista, mais sensível e culturalmente muito mais bem apetrechado.

Porém é no centro, entre as imagens que abrem e fecham a conferência e o debate, que está a essência da mensagem que se pretendeu passar e que está a ser muito bem conseguida. Aliás, o mesmo aconteceu com as conferências anteriores e certamente acontecerá com aquelas que chegarão nos próximos tempos e pelas mesmas individualidades.

Todo o cuidado tem sido posto para que estas conferências não sejam um ponto de encontro de nadas, onde se contam histórias de guerras, de minas, de fome, de ataques aos superiores hierárquicos e às instituições constituídas. Bem pelo contrário, o que nelas se pretende é contar a história humana do que foi a guerra do ultramar e o impacto familiar, social e económico que ela teve, neste caso particular na vida dos açorianos.

Presentes estiveram combatentes e as esposas que ouviram pela primeira as suas cândidas confissões de amarguras, os porquês das suas reacções, dos seus sonhos destruídos, certamente de alguns construídos.

Entre os outros, a particularidade de se verem muitos jovens presentes. Para ouvirem e para aprenderem de nós que um dia também fomos jovens como eles, com as mesmas aspirações de vida um dia truncadas por uma guerra que não escolhemos combater, mas à qual fomos chamados. Era a nossa obrigação enquanto mancebos de Portugal.

Ali souberam que nós dignificamos o uniforme que envergámos e que não envergonhámos os nossos antepassados que em outras ocasiões e outras guerras se cobriram de glória e contribuíram para a rica história dos portugueses.

Também não será menos verdade que ali aprenderam quantos dos seus irmãos ilhéus deram a vida na defesa daquilo que, pelo menos ao tempo, tínhamos aprendido ser nosso: o Portugal Ultramarino.

Como lição última, aperceberam-se que nas euforias do 25 de Abril de 1974 e do findar da guerra, a sociedade portuguesa nos definiu e nos julgou na praça pública. Que nem esboçámos a nossa defesa, porque nos faltou a coragem e a dignidade que tantas vezes nos sustentaram nos confins de África.

Por tudo isso e muito mais, há que colmatar a nossa falha colectiva, aproximando-nos dos que então estavam em linha para nos substituir nas bolanhas da Guiné e nos planaltos e planícies de Angola e Moçambique.

Temos que nos dirigir aos jovens de hoje, aos nossos netos e aos seus amigos e contar-lhe apenas e só a verdade da guerra que combatemos enquanto soldados de Portugal.

Finalmente, julgo que se pode chegar à conclusão lógica da mensagem. É imperativo que nós, combatentes que fomos nas províncias ultramarinas, façamos um esforço sincero e persistente, não necessariamente reivindicativo, para nos reconciliarmos com a sociedade portuguesa e antes de a fazermos com o nosso inimigo de então, como alguns pretendem.

Obrigado,  Carlos Cordeiro por esta lição de vida.

Um abraço amigo do tamanho do oceano que nos une.

José Câmara
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Nota do editor


Guiné 63/74 - P8880: O Nosso Livro de Visitas (119): Notícias de familiares e amigos do nosso saudoso camarada Fur Mil Fernando Ribeiro, da CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73) (José Gaspar Fernandes Baptista / Joaquim Peixoto)

1. De uma leitora nossa, M.L. [, aqui referida apenas pelas iniciais do nome, porque fazemos questão de mantê-la no anonimato, para proteção da sua vida privada], recebemos a seguinte mensagem, datada de 23 de setembro último, com notícias que interessam a todos aqueles  - familiares, amigos, camaradas -  que privaram com o nosso malogrado camarada Fernando Ribeiro (*):

Assunto - Furriel Fernando Ribeiro (**)


[Foto à esquerda > Guiné > Zona Leste > Sare Bacar > CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73) > O Fernando Ribeiro, de pé, ao lado do seu amigo e camarada Joaquim Peixoto, membro da nossa Tabanca Grande. Morreu em 26 de Julho de 1973, já no final da sua comissão]. 
 



Boa noite (....): Sou a [M.L.] que pela história a seguir [....] vai identificar.

Mais alguém apareceu com notícias do Fernando Ribeiro, o seu sobrinho, a quem ele deu parte da vida a educar. Deus não quis que isso acontecesse. Então depois de eu o ter contactado, ele, José Gaspar Fernandes Baptista, escreveu, penso que num outro blog. Copiei e colei aqui para a nossa história ter continuação. O Zé Gaspar ainda continua à ]espera de resposta de alguém. 

"Um pouco por mero acaso e também com ajuda da M.L., finalmente encontro alguma informação concreta do meu muito saudoso tio, Furriel Fernando Ribeiro.

"Posso dizer que fui o sobrinho favorito do Fernando. Quando ele morreu na Guiné, ia eu fazer 12 anos em Julho, a 26. Ele deve ter conversado com os camaradas, do sobrinho Zézito, o que nasceu em Timor, filho do irmão João que também era militar. 

"A morte do Fernando foi a devastação completa na família, o meu falecido avô, José Fernandes Ribeiro e a avó Maria do Céu Gaspar, (pais do Fernando, e na altura eu vivia com eles),'agarraram-se' a mim e passei a ser o filho mais novo, uma 'espécie' de substituto…. 

"Tenho algumas fotografias do tio Fernando na Guiné… com os camaradas. Também tenho a foto acima publicada. Tenho em meu poder a máquina fotográfica dele, a velhinha CANON, ainda funciona e bem.( Eu fui o 'herdeiro universal' da mala do Fernando que veio mais tarde da Guiné. 

"A todos os que tiverem recordações do Fernando e que queiram partilhar comigo, agradecia. Gostava muito encontrar e conversar com os amigos de armas do Fernando. 

"Tenho algumas fotos que vou digitalizar para partilhar com todos, em especial com a sobrinha do Furriel Pedro Pereira. Ainda o conheci, era pequenito na altura, mas ficou a recordação, muito vaga mas com muita saudade.

"Um grande abraço a todos. José Gaspar Fernandes Baptista"


2. Comentário do Joaquim Peixoto [, foto à direita , no T/T Niassa, na viagem para o TO da Guiné, em 1971], com data de 3 do corrente:

 Caro camarada  Luís:

Antes de mais as minhas desculpas pelo atraso em relação ao teu mail, mas a vida de aposentado é muito complicada!...

Recebi há já algum tempo ( em Junho) um mail do José Gaspar F. Batista (penso que é sargento da GNR em Coimbra)  em que se identificava como sobrinho do falecido Fur Ribeiro. Nesse mail, enviou-me várias fotos e solicitou-me que as legendasse.

Respondi ao mail,  legendando as fotos e acrescentando alguns comentários. Falei-lhe da organização do nosso primeiro convívio. Confirmou a recepção do meu mail e que mais tarde entraria em contacto comigo 

Na realidade, pelo contacto e amizade que tive com o Fernando Ribeiro, tinha conhecimento desse seu sobrinho. O Fernando falava muito de um irmão militar que tinha um filho nascido nas ex-colónias. Pela forma como se referia ao irmão e sobrinho, não havia dúvidas que esse seu sobrinho era o eleito dele e por quem nutria um grande carinho e amizade.

 Um grande abraço, 

 Joaquim Peixoto

3. Comentário de L.G.:

E uma grande história de amizade!... Gostaria de poder contar, nas nossas fileiras, com a presença do José Gaspar. Fica o convite formal para ele integrar a nossa Tabanca Grande e partilhar connosco a(s) memória(s) do nosso saudoso camarada, e seu tio, Fernando Ribeiro que a morte, traiçoeira, levou cedo desta vida. Ele que nos contacte. Obrigado também à nossa amiga, M.L., que tudo tem feito para que a memória do seu amigo Fernando não se perca.


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Notas do editor: 

(**) Sobre o Fernando Ribeiro, vd. postes de:



Guiné 63/74 - P8879: Parabéns a você (325): Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Teixeira Pinto, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8874: Parabéns a você (324): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

domingo, 9 de outubro de 2011

Guiné 63/74 – P8878: Memórias de Gabú (José Saúde) (9): Batuque em Gabú e na Messe de Sargentos


1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem, dando seguimento ao desfilar das suas recordações.

BATUQUE EM GABÚ E NA MESSE DE SARGENTOS

  NOITE DE DESCONTRAÇÃO

O som do batuque deliciava-me! Noite de batuque era noite de ronco na tabanca. A população, numa correria louca, desfazia-se em contactos e os nativos, faustosos, marcavam presença no local do estrondo. O tocador, ou tocadores, bem cedo diziam presente. As bajudas, sempre destemidas, envergavam indumentárias garridas e davam cor ao espectáculo. Os rapazes, com vestes compridas, impunham a sua condição de machos negros e as pomposas donzelas esculpiam os seus rabos ao toque do tambor.

Ao lado, homens e mulheres já entrosados com a idade, agitavam-se com os estrondos vindos dos instrumentos das mãos dos tocadores. Os corpos do pessoal do batuque desenhavam figurinos encantadores. Descalças e descalços o pessoal da tabanca obsequiava com humildade os convivas. Paulatinamente os corpos joviais, alguns divinais, iniciavam o processo da destilação. Um processo que não colocava senãos a gentes que por teimosia ousavam desafiar o calor da noite. Os cheiros não importavam!

Recordo as minhas saídas nocturnas na companhia de outros camaradas a caminho de Gabú para ouvirmos e vermos ao vivo as maravilhas de um batuque das gentes guineenses. Em noite de luar era mais fácil a aproximação “à manga de ronco”. A pequena multidão, em círculo, facturava momentos ímpares de incontidos prazeres.

O toque do batuque generalizou-se, também, a nível dos quartéis. Era comum os militares terem nas suas instalações os respectivos tambores. Numa noite de plena descontracção a rapaziada juntou-se e toca a batucar. Nesta perspectiva um grupo de tocadores improvisados brindou a malta da messe de sargentos em Gabú com os melodiosos sons oriundos de caixas feitas pelos ilustres mestres negros.

A receptividade da iniciativa mereceu honras dos camaradas que a seguir, e à nossa volta, se predispuseram para ofertar refrescantes bebidas aos tocadores. Numa noite de batuque, e sem danças ondulantes, uma cuba livre foi divinal!

 Tocadores acertaram as “mãos” nos instrumentos e os camaradas… gostaram!
Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

5 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 – P8862: Memórias de Gabú (José Saúde) (8): Guiné em tempo de paz: Visita a Madina Mandinga

Guiné 63/74 - P8877: O Nosso Livro de Visitas (118): Um fuzileiro do Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE) nº 12, há 30 anos na Austrália (António Lourenço)





1. Mensagem e foto enviadas para os e-mails dos editores, por um Camarada nosso na diáspora, António Vieira, com data de ontem:
 Caros Colegas,
Excelente reunião de contactos e histórias que vocês conseguiram reunir. Fiquei surpreendido pelo excelente trabalho que conseguiram, em reunir os filhos da Escola de Fuzileiros.

Chamo me António Lourenço, sou emigrante na Austrália há 30 anos e gostaria de partilhar a minha história, mas principalmente encontrar os meus colegas do DFE 12, destacado na Guiné 1972/74, em Guantore e Cafine.

Qualquer contacto por favor partilhem no meu facebook, ou no meu e-mail: antonio.lourenco.estreito@gmail.com

Saudações de colega,
António Lourenço
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

5 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8860: O Nosso Livro de Visitas (117): Samuel Vieira, guineense da diáspora, engenheiro informático no Brasil, elogia o nosso blogue

Guiné 63/74 - P8876: O Pel Rec Fox 8870 (Cufar, 1973/74)


Primeira página do blogue Pel Rec Fox 8870 (Cufar, 1973/74)...  Tem ainda poucos postes (apenas dois, desde Novembro de 2010), e poucos visitantes (pouco mais de 750), mas não deixa de ser interessante, nomeadamente pelo seu álbum fotográfico. 

É mais um de muitos, criado e organizado para salvar as memórias de uma subunidade  do TO da Guiné...  Este Pel Rec foi comandando pelo Alf Mil Cav Faria. Este pessoal já realizou o seu 3º encontro em 31/7/2011, em Elvas. (O 1º foi em Fátima, em 2009; o 2º, na Mealhada, em 2010).



O Barbosa e "impedido" da subunidade, o puto Cherno Baldé


Guiné > Região de Tombali > Cufar > A equipa de futebol do Pel Rec Fox 8870...  com a sua "mascote", o "djubi" Cherno Baldé...


Guiné > Região de Tombali > Cufar > O estado em que ficou o jipe destruído por mina A/C, e que matou 2 militares e 3 civis da Intendência, em 2 de Abril de 1974, tragédia já aqui evocada, por exemplo pelo camarada António Graça de Abreu (que estava em Cufar nessa altura, no CAOP1) e o que o nosso editor comentou nestes termos:

"Foi no dia 2 de Março de 1974, sábado, um 'dia do diabo' (sic)...Entre Cufar e o porto do rio Manterunga, numa picada que não teria mais de cem metros, batida milhares de vezes pelos jipes e demais viaturas militares, os guerrilheiros do PAIGC lembraram-se de lá deixar uma brinquedo de morte: uma vulgar mina anti-carro, reforçada por uma bomba de um Fiat (!) que não tinha explodido... Um jipe do pelotão da Intendência, o PINT 9288, comandado pelo Alf Mil João Lourenço (membro da nossa Tabanca Grande), accionou o engenho. Os cinco ocupantes, dois militares, brancos (o Fur Mil Pita e o Sold Santos, o Jeová), e três civis, estivadores, guineenses, encontraram aqui a morte... 

"Mais à frente, outra mina, enterrada no lodo do rio, provocou a explosão, em cadeia, de batelões atracados ao cais e carregados de bidões de gasolina... Cerca de duas dezenas de estivadores perderam a vida, num cenário dantesco...'Vi coisas nunca vistas e que nunca mais quero ver', escreveu o António"...

No blogue do Pel Rec Fox 8870, a legenda desta foto diz apenas, laconicamente: "Morte de quatro militares da 'Intendência'. Mina anticarro detonada à distância" (sic).


Fotos: Cortesia do blogue Pel Rec Fox 8870

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Nota do editor:

Último poste da série >24 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8704: Blogues da nossa blogosfera (45): encore de l'audace, Página do nosso camarada Paulo Santiago

Guiné 63/74 - P8875: (In)citações (34): Que país é este, Portugal, que faz de poetas soldados e de soldados poetas ? (Cherno Baldé)

1. Comentário de Cherno Baldé [, na foto à esquerda, estudante em Kiev, Ucrânia, ex-URSS; em 1989], ao poste P8861:

 
Caros amigos,

Sobre Portugal, muitas vezes, apeteceu-me perguntar:
- Que país este que faz de poetas soldados e de soldados poetas?...

Ao Luís Graça quero aqui apresentar as minhas desculpas pela desatenção e irregularidade e dizer que estou muito satisfeito pela forma como apresenta os meus textos na nossa Tabanca, com ou sem acordo ortográfico. Na verdade, tento escrever respeitando o acordo, mas nem sempre consigo fazê-lo por ignorância minha e nem sempre me soa tão bem, por força do hábito.

Eu estou de acordo com o A. Almeida, quando diz que o mais importante é "Ter algo a dizer e dizê-lo".

Na minha opinião, não obstante o acordo assinado, se Portugal quiser manter uma certa originalidade da sua/nossa língua, terá que investir nas novas tecnologias da informação porque constatei que neste momento, o tradutor do Google faz a tradução em português do Brasil e vai ter muita aceitação entre utilizadores não portugueses.

Pessoalmente não tenho nada contra e confesso que nem sempre compreendia os meus professores em Portugal, quando nas recomendações de leitura omitiam os autores e/ou traduções brasileiras, quando a maior parte dos livros recomendados estavam em inglês ou francês.

Até prova em contrário, não vejo nenhum inconveniente em utilizar o termo rafeiro que preferi ao termo cão, mais pejorativo mas nem por isso menos digno. O cão é um animal que simboliza a mais forte e a melhor da lealdade.

Fico muito grato a todos pelo apoio moral e encorajamento.

Um grande abraço a todos,

Cherno Baldé

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Nota do editor 

Guiné 63/74 - P8874: Parabéns a você (324): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8872: Parabéns a você (323): Agradecimento de Jorge Rosales

sábado, 8 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8873: Nós da memória (Torcato Mendonça) (2): Retaliação





1. Em mensagem do dia 7 de Outubro de 2011, o nosso camarada Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69), enviou-nos o segundo texto para publicação na sua nova série "Nós da memória":





Mansambo > Torcato Mendonça com Braimadicó, CMDT do PAIGC, com quem trabalhou durante a Operação Lança Afiada
Foto de Torcato Mendonça, editada por Carlos Vinhal


NÓS DA MEMÓRIA
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

2 - RETALIAÇÃO

Não apareceram do nada. Não.
Vieram num regresso de raiva. Vieram dos lugares para onde os haviam empurrado. Fundamentalmente vieram dizer que estavam vivos, fortes e prontos a lutar. Vieram dizer que nunca os seus Inimigos, os Colonialistas, teriam descanso naquela Terra. Vieram em vingança contra a destruição sofrida com a Operação “Lança Afiada”, ao descrédito e humilhação suportada com a destruição das ditas “Zonas Libertadas” e à fragilidade de suas defesas.

Só que ao aparecerem agora, assim, em força, quiseram dizer ter havido mau planeamento, fugas de informação, má condução daquela Operação no terreno por parte das NT (Nossas Tropas). Algo decorrera menos bem.

Vieram, então, retaliar pelos danos causados e a afronta sofrida.

Era Março, Março de 69, perderam certamente - as NT - mais de um mês a planear, a preparar, onze longos dias a executar a Operação no terreno e, posteriormente, demasiados a recuperar, a fazer relatórios e análises, a arrotar o efeito de uma triste vitória. A maioria que o fazia por lá não tinha andado. Hábitos que se mantinham.

Eles, o IN, furtaram-se a grandes combates. Emboscadas e flagelações aqui ou acolá, estrategicamente nos locais apropriados pois eram bons conhecedores do terreno. Depois continuavam, noite fora, cambando livremente o Corubal. Transportavam populações em atraso de fuga, militares feridos e salvavam ainda alguns haveres e armamento. Pode parecer estranho mas no outro lado, na margem esquerda do Corubal, não havia tropas especiais emboscadas. Era a guerrilha sem a contra guerrilha. Regressavam certamente alguns a juntarem-se aos que tinham permanecido perto dos apelidados “Santuários”, os míticos Baio, Buruntoni ou Fiofioli. As NT entravam quase livremente banalizando o dito poder das bases IN. Destruíam infra-estruturas, culturas, celeiros, escolas e postos sanitários ou mesmo um hospital no Fiofioli, armamento escondido em locais denunciados pelos prisioneiros. Alguns elementos das populações eram aprisionados para serem levados nos hélis dos abastecimentos. Outros, devido à idade eram deixados por lá entregues à sua sorte.

Baixas ao IN, aos militares do PAIGC e cooperantes internacionalistas ou mercenários, foram causadas poucas, muito poucas. Uma dúzia - confirmadas - ou nem tanto. Voltaram as NT a quartéis depois do Soldado Português ter suportado estoicamente longos dias de sede, de má alimentação, de temperaturas de mais de quarenta graus à sombra e superiores a setenta ao Sol. Era Março, Março de 69.

Voltaram as NT depois de vulgarizar locais míticos do In, tinham ido, como sempre o foram, aonde lhes fora pedido. Nada, depois desta Operação, desta destruição imensa ficara na mesma. Nem mesmo as tropas do PAIGC, ou os nossos Militares. Aquela vasta região passara por uma enorme destruição. Uma área imensa fora arrasada: - do Xime ao Corubal e por este abaixo até ao Xitole e, para cima, pela estrada do Xitole, Mansambo até Bambadinca. Seria uma vitória das NT? Ainda hoje penso nisso e não sei ao certo.

Essa dúvida levou os Comandos a estudarem calmamente relatórios e a fazerem análises. Eles, o IN, como guerrilheiros que eram, organizaram-se rapidamente. Tiveram apoio de populações que lhes eram afectas, receberam certamente auxilio de camaradas de outras zonas do Cuór ou Morés, a Norte ou da zona de Fulacunda a Oeste e, porque não do Sul. Tudo se deve ter rapidamente movimentado. Nós, as NT digeríamos a vitória e pensávamos “Numa Guiné Melhor”. Tanto assim que milhares de Fulas e Mandigas “capinaram” à volta de quartéis e aos lados de estradas. As populações, dizia-se, estavam connosco e limpavam campos de tiro ao IN e às NT. Foram as célebres Operações “Cabeça Rapada”. Era a guerra suave, em português suave. As ilações ao que acontecera demoraram. Terão aparecido?

Eles, o IN, esperaram um pouco, só um pouco e vieram em retaliação.

A 2 de Abril, o IN, montou forte emboscada, com mina comandada à distância, perto de Mansambo. Caiu nela parte do Pelotão de Milícias 145 da Moricanhe. Sofreram vários mortos e feridos. Curiosamente estabeleceram diálogo e o tema foi sobre a Lança Afiada. Aprisionaram um Milícia (Lamine). Dias depois fugiu e voltou a Mansambo. Foi ele que disse o número de mortos sofrido pelo IN e o efeito dos obuses 10.5.

Dias depois o IN batia o pé a tropas do Saltinho e Xitole na zona do Galo Corubal.

Galo Corubal a NW do Xitole

Iam fazendo flagelações para irem ganhando terreno, distrair as NT e procurarem uma aproximação a zonas mais importantes. O Boé, toda a zona da margem esquerda do Corubal - (ver Carta 1/500.000) - estava sem militares nossos e os aquartelamentos ficavam longe da fronteira.

Localização de Madina de Boé na margem esquerda do Rio Corubal, a escassos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacri

Eles iam tentando avançar e, de quando em vez, uma emboscada mais forte ou um ataque a um aquartelamento ou Tabanca em auto-defesa aconteciam.

A meio de Maio caí com o meu Grupo numa emboscada forte. A 28 de Maio, foram mais atrevidos e atacaram Moricanhe, Amedalai, Taibatá e, pela primeira vez, Bambadinca, a sede do Batalhão. Certamente que o dispositivo militar do PAIGC e os seus efectivos tinham sido reforçados e reposicionados no terreno.

Os ataques a Mansambo,Candamã, Áfia e outros continuaram.

Era a retaliação à “Lança Afiada” e a alguma inércia das NT.

Confirmava-se o ditado: - “quem o inimigo poupa às suas mãos lhes morre”. Parece brutal esta frase. Parece hoje. Outrora certamente que não e leva-nos a questionar a maneira como aquela Operação foi feita. É assunto que estou há demasiado tempo a tentar escrever. Queria fazê-lo sem pôr em causa certos comportamentos militares.

Só, no aspecto de Informações, um pequeno levantar do véu. Cheguei a Bissau, vindo de férias da Metrópole, em meados de Fevereiro. Foi-me logo dito, em Santa Luzia ou no “Café Bento”, que ia haver uma grande Operação no Leste. Sem terem qualquer cuidado. A Operação foi para o terreno a oito e dez de Março. Assim era difícil trabalhar ou as chefias militares trabalharem.

A guerra continuou mas creio que se começou a transformar. O In infiltrou-se mais e foi obrigado a recuar. O nosso dispositivo no terreno foi alterado mas infelizmente era necessário “dar forte”, mais forte e menos pensamentos de diálogos. Todos sabíamos que o diálogo e a componente política eram fundamentais. Todos sabíamos o que se tinha passado na Indochina, mais tarde Vietname, Argélia e não só. Muitos sabiam a importância da componente militar e a impossibilidade de se inverter o curso normal da História. Muitos sabiam também como eram os políticos desse tempo. Certo foi que o Soldado Português sempre deu provas de dignidade e sempre foi muito além do que humanamente era admissível de se exigir a um ser humano.

Nada mais acrescento por hoje. Ultrapassei quantidade das palavras dos “escritos” e seria fastidioso continuar. Um dia.

(T. M. escreve de acordo com a antiga ortografia)
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 16 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8786: Nós da memória (Torcato Mendonça) (1): Hesitação

Guiné 63/74 - P8872: Parabéns a você (323): Agradecimento de Jorge Rosales

Bissau, Praça do Império, Novembro de 1965 > Jorge Rosado tendo como fundo o Palácio do Governador

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Rosales*, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66, com data de hoje 8 de Outubro de 2011:

Camarigos:
Agradeço sinceramente as mensagens que me enviaram, que me tocaram sempre bem fundo, porque nada é mais importante do que a amizade e o companheirismo.

E agradecer à Guiné, porque foi aquela terra que nos marcou para sempre e já lá vão 45 anos !!!

E é a Guiné que nos une. Ontem, esta noite foi um recordar sem fim. E "recordar é viver".

O cheiro da terra depois da chuva intensa, o tarrafo, as bolanhas, a vinda da DO às quartas-feiras, que enviava pelo ar o saco do correio e dizia adeus com as asas, quando regressava a Bissau

Os meus soldados em Porto Gole, o Preto Bijagó, meu guarda-costas. O meu pelotão de nativos em Bolama a quem dei instrução. No dia do Juramento de Bandeira vieram todos no seu ritmo africano acompanhar o "alfero" ao cais, que no dia seguinte regressava a Lisboa no Ana Mafalda. E foi graças ao blogue do Luis Graça, que passados estes anos, soube que muitos desses soldados foram parar às mãos do Beja Santos e do Henrique Matos. Vou terminar, de emoções fortes e lágrima ao canto do olho já chega...

Saúde e uma lembrança para os camaradas que lá ficaram, incluindo os nossos camaradas guineenses que ficaram entregues à sua sorte, o que me toca especialmente...

Estamos juntos,
Jorge Rosales (farda amarela )
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8866: Parabéns a você (322): Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ (Porto Gole, 1964/66)