Vale a pena seguir este caso, que é de coragem e de abandono, resumindo aqui o essencial da informação, com a devida vénia ao editor do blogue e ao autor do texto (14 de Outubro de 2011 > 277 - Revolta)
Em Junho de 1971 assentou praça no RI 13, Vila Real, sendo três meses depois colocado em Abrantes. Integrado na 2ª. Companhia do BCAÇ 4518 [,ou não será antes o BCAÇ 4815 ?], partiu para a Guiné na véspera de Natal desse ano.
"A sua Companhia foi destacada para Cancolim, dela faziam parte um Alferes, natural de Lamego, que me disseram ser actualmente professor, e que não consegui ainda contactar, o Alferes João Pacheco Miranda, actualmente correspondente da RTP no Brasil" - acrescenta o o Zé Manuel Lopes.
Seis meses depois de chegar ao TO da Guiné, o José António é feito prisioneiro pelo PAIGC, em Junho de 1972, e levado para Conacri. Em 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral [, que foi em 20 de Janeiro desse ano,], é enviado para a região do Boé, no nordeste da província portuguesa da Guiné.
"Durante quase um ano a sua casa foi em Madina do Boé", diz o Zé Manel (Para sermos mais rigorosos, provavelmente, na região ou imediações, perto do Rio Corubal, já que o PAIGC nunca ocupava efetivamente os quartéis abandonados pelas NT, alvo fáceis da aviação).
Em 7 de Março de 1974, "aproveitando um momento em que a vigilânçia abrandou", o José António tomou a direcção do rio para tentar a fuga.
E se intentou, bem o conseguiu. "Andou 9 dias ao longo do Corubal, até encontrar dois nativos que andavam numa plantação junto ao rio. Um deles, de motorizada, levou o José António até ao Saltinho. Depois foi transportado para Aldeia Formosa, para ser levado para Bissau. Como naquele tempos difíceis a via aérea já não reunia muitas condições de segurança, devido aos Stelas, foi transportado em coluna até Buba e daí, de LDG, para Bissau".
Confessa o Zé Manel Lopes [, foto à direita, ex-Fur Mil, CART 6250, Mampatá, 1972/74, ] que, "apesar de ser meu conterrâneo, na altura não o reconheci, quando tal me foi comunicado pelo Cabo, do SPM de Aldeia Formosa, Camilo, também natural da Régua".
E acrescenta:
"Após o regresso em Agosto de 1974, procurei saber da sua situação. Levava uma vida muito complicada, pois se tornou pouco sociável (como muitos de nós). Não teve uma rectaguarda, ou seja, um suporte familar que o protegesse. Os conflitos eram frequentes. Internado várias vezes, de onde fugia sempre que podia (tornou-se um hábito), foi mais tarde colocado numa casa de acolhimento onde agora vive melhor e é bem tratado"...
Este antigo prisioneiro de guerra "sobrevive com uma pensão de incapacidade de apenas 246 €, o que de facto é insuficiente, para o seu sustento", conclui o Zé Manel que aproveita para "agradecer publicamente à família que o recolheu, especialmente à D. Juvelinda que com tanto carinho o trata".
A revolta do nosso amigo e camarada Zé Manel vai mais longe:
"Mas por incrível que pareça, até do miserável suplemento especial de pensão que anualmente é atribuído a antigos combatentes (150 € / ano), [o José António] apenas recebe 75 €, pois como foi capturado com apenas 7 meses de Guiné, o tempo que passou, quase 3 anos, como prisioneiro, não foi considerado!!!"
Quem eram os seus companheiros de cativeiro ? Aqui vai a lista, segundo o Zé Manel:
(i) o nosso morto-vivo António Silva Batista, da Maia;
(ii) Manuel Vidal, de Castelo de Neiva;
(iii) Duarte Dias Fortunato, de Pombal;
(iv) António Teixeira, da Lixa;
(v) Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho, do Porto;
(vi) Virgílio Silva Vilar, de Vila da Feira,
e (vii) Jacinto Gomes, de Viseu.
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6635: Banco do Afecto contra a Solidão (14): O caso do Baptista: já está a receber a sua pensão de prisioneiro de guerra, agradece o carinho dos camaradas mas está triste por perder o "grande ronco" de Monte Real, no próximo sábado (Álvaro Basto / Eduardo Campos)
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6635: Banco do Afecto contra a Solidão (14): O caso do Baptista: já está a receber a sua pensão de prisioneiro de guerra, agradece o carinho dos camaradas mas está triste por perder o "grande ronco" de Monte Real, no próximo sábado (Álvaro Basto / Eduardo Campos)