terça-feira, 18 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8920: Banco do Afecto contra a Solidão (15): O caso do José António Almeida Rodrigues, ex-prisioneiro de guerra (entre Junho de de 1971 e Março de 1974): uma história de coragem e de abandono (José Manuel Lopes)

1. No blogue do nosso camarada A. Marques Lopes, Coisas da Guiné [, foto à esquerda, página de rosto], criado em 1 de Setembro de 2010, lemos recentemente a história, contada pelo José Manuel Lopes mas já por nós conhecida através do António Silva Baptista, do infortunado José António Almeida Rodrigues [ou António Almeida Rodrigues] que foi companheiro de cativeiro do nosso morto-vivo do Quirafo, primeiro em Conacri e depois na região do Boé...

Vale a pena seguir este caso, que é de coragem e de abandono, resumindo aqui o essencial da informação, com a devida vénia ao editor do blogue e ao autor do texto (14 de Outubro de 2011 > 277 - Revolta)


2. Tal como o Zé Manuel Lopes (o nosso Josema de Mampatá), o José António Almeida Rodrigues [, foto à esquerda, no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos, 12/10/2011, cortesia do blogue Coisas da Guiné] é natural do Peso da Régua.

Em Junho de 1971 assentou praça no RI 13, Vila Real, sendo três meses depois colocado em Abrantes. Integrado na 2ª. Companhia do BCAÇ 4518 [,ou não será antes o BCAÇ 4815 ?], partiu para a Guiné na véspera de Natal desse ano.


"A sua Companhia foi destacada para Cancolim, dela faziam parte um Alferes, natural de Lamego, que me disseram ser actualmente professor, e que não consegui ainda contactar, o Alferes João Pacheco Miranda, actualmente correspondente da RTP no Brasil" - acrescenta o o Zé Manuel Lopes.

Seis meses depois de chegar ao TO da Guiné, o José António é feito prisioneiro pelo PAIGC, em Junho de 1972, e levado para Conacri. Em 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral [, que foi em 20 de Janeiro desse ano,], é enviado para a região do Boé, no nordeste da província portuguesa da Guiné.

"Durante quase um ano a sua casa foi em Madina do Boé", diz o Zé Manel (Para sermos mais rigorosos, provavelmente, na região ou imediações, perto do Rio Corubal, já que o PAIGC nunca ocupava efetivamente os quartéis abandonados pelas NT, alvo fáceis da aviação).

Em 7 de Março de 1974, "aproveitando um momento em que a vigilânçia abrandou", o José António tomou a direcção do rio para tentar a fuga.

E se intentou, bem o conseguiu. "Andou 9 dias ao longo do Corubal, até encontrar dois nativos que andavam numa plantação junto ao rio. Um deles, de motorizada, levou o José António até ao Saltinho. Depois foi transportado para Aldeia Formosa, para ser levado para Bissau. Como naquele tempos difíceis a via aérea já não reunia muitas condições de segurança, devido aos Stelas, foi transportado em coluna até Buba e daí, de LDG, para Bissau".

Confessa o Zé Manel Lopes [, foto à direita, ex-Fur Mil, CART 6250, Mampatá, 1972/74, ] que, "apesar de ser meu conterrâneo, na altura não o reconheci, quando tal me foi comunicado pelo Cabo, do SPM de Aldeia Formosa, Camilo, também natural da Régua". 

E acrescenta:

"Após o regresso em Agosto de 1974, procurei saber da sua situação. Levava uma vida muito complicada, pois se tornou pouco sociável (como muitos de nós). Não teve uma rectaguarda, ou seja, um suporte familar que o protegesse. Os conflitos eram frequentes. Internado várias vezes, de onde fugia sempre que podia (tornou-se um hábito), foi mais tarde colocado numa casa de acolhimento onde agora vive melhor e é bem tratado"...

Este antigo prisioneiro de guerra "sobrevive com uma pensão de incapacidade de apenas 246 €, o que de facto é insuficiente, para o seu sustento", conclui o Zé Manel que aproveita para "agradecer publicamente à família que o recolheu, especialmente à D. Juvelinda que com tanto carinho o trata".

A revolta do nosso amigo e camarada Zé Manel vai mais longe:

"Mas por incrível que pareça, até do miserável suplemento especial de pensão que anualmente é atribuído a antigos combatentes (150 € / ano), [o José António] apenas recebe 75 €, pois como foi capturado com apenas 7 meses de Guiné, o tempo que passou, quase 3 anos, como prisioneiro, não foi considerado!!!"

Quem eram os seus companheiros de cativeiro ? Aqui vai a lista, segundo o Zé Manel:

(i) o nosso morto-vivo António Silva Batista, da Maia;

 (ii) Manuel Vidal, de Castelo de Neiva; 

(iii) Duarte Dias Fortunato, de Pombal; 

(iv) António Teixeira, da Lixa; 

(v) Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho, do Porto; 

(vi) Virgílio Silva Vilar, de Vila da Feira, 

Guiné 63/74 - P8919: Antologia (71): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (4): Ilha do Como, 28 de Janeiro de 1964


Fonte: © Armor Pires Mota (1965-2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação de Tarrafo; crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed., Aveiro, 1965. Parte 2 (Ilha do Como, Jan / Mar 1964), pp. 61-64.  (*)

Começámos, a partir de 14 do corrente, a publicar as crónicas do Tarrafo, relativas à Op Tridente, na Ilha do Como (15 de Janeiro a 15 de Março de 1994),  utilizando para o efeito a primeira edição do livro (pp. 47 a 85).  

No exemplar, fotocopiado, que temos vindo a digitalizar, não "limpámos", intencionalmente, as provas da intervenção dos censores da época, os "cortes" ou as "marcas" (traços, sublinhados, exlamações...) do famigerado lápis azul: pro exemplo, todo e qualquer referência ao nosso armamento e equipamento (G3, T6, etc.).

Recorde-se que o livro de crónicas, publicado em Outubro de 1965, em edição de autor, com impressão na Gráfica Aveirense, de Aveiro, foi de imediato retirado do mercado pela então polícia política, a PIDE. Hoje é uma raridade. O autor fez depois, em 1970,  uma 2ª edição, "autorizada", com o mesmo título, Tarrafo (Braga, Pax Editora).

2. Paralelalmente estamos a seguir a crónica de outro combatente do Como, o nosso querido amigo e camarada Mário Dias, hoje sargento comando reformado. Em relação a este período, selecionámos o seguinte excerto (o resto pode ser lido na I Série do nosso blogue, aqui):

(...) 5. Os morteiros do Nino 

Uma tarde, interrogavam um prisioneiro na tenda de campanha que servia de posto de comando/sala de operações. Perguntavam-lhe:
- Onde está o Nino?
Era um dos objectivos a que a operação se propunha. A captura do Nino era essencial.
Resposta do prisioneiro:
- Foi no chão francês (Guiné Conacri) buscar morteiro.

Gargalhada de um dos oficiais de alta patente presentes:
- Agora… pode lá ser?!.. Estes gajos alguma vez têm capacidade para manobrar um morteiro?

Ainda não tinha decorrido uma semana e já a CCAV 488 instalada em Cauane estava a levar com eles. Era noite e 4 granadas de morteiro caíram com grande estrondo nas imediações da tabanca. Não houve feridos nem estragos. Vim a saber o motivo alguns dias depois quando, ao passar por lá, me mostraram as granadas. Observei e não foi difícil concluir que se tratava de granadas de instrução ou talvez já muito velhas e com perda do poder explosivo. O corpo das granadas estava simplesmente aberto, mas inteiro, sem ter provocado qualquer fragmentação ou estilhaço. Pareciam bananas descascadas. Ainda bem.

Foram as primeiras “morteiradas” na guerra da Guiné. Ainda durante o resto do tempo que durou a Op Tridente, foram referenciados mais alguns ataques de morteiro, sempre sem consequências para as NT.


6. Parece que o pior já passou

A batalha continuava. No dia 28 à meia-noite saímos com o pelotão de paraquedistas em direcção de Cauane para montar emboscadas num poço de água existente na picada Cauane/Cassaca. Passado o ourique de triste memória onde dias antes fora abatido o T6, entramos na mata e nada, nem ao menos um tiro de sentinela a avisar da nossa presença. Progredimos mais e chegados à zona do poço instalámo-nos a aguardar a comparência dos guerrilheiros. Não compareceram para a festa que lhes estava preparada.

Pelas 17 horas de 29 regressámos à base (espera praia, já aí vamos) sem ter havido qualquer contacto nem sinal de actividade do inimigo. (...)

______________

Nota do editor:




Vd. postes anteriores:


14 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8905: Antologia (68): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (1): Ilha do Como, 15 de Janeiro de 1964

Guiné 63/74 - P8918: Agenda cultural (166): doclisboa2011, IX Festival Internacional de Cinema, Lisboa, 20 a 31 de Outubro: a África, os africanos, e a história recente de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique em destaque: retrospetivas: (i) Jean Rouch; (ii) 'Movimentos de libertação' (Luís Graça)


Logo do cartaz do doclisboa2011 que se vai realizar de 20 a 30 de Outubro e cujo programa, em formato pdf, está aqui disponível.


1. De novo este ano, pode dizer-se que "Em Outubro o mundo inteiro cabe em Lisboa"... Mas esta 9ª edição é também a "mais africana" de todas...A organização é da portuguesa Apordoc - Associação pelo Documentário. A direção é de Anna Glogowski (franco-brasileira, n. 1960).

São 172 filmes (curtas, médias e longas metragens), de 33 países, selecionados de um total de 1350 títulos submetidos ao doclisboa2011, IX Festival Internacional de Cinema. O nosso destaque, aqui no blogue, vai para África e os africanos e a sua história recente, através nomeadamente de duas grandes retrospetivas.





(i) "Da retrospectiva dedicada a Jean Rouch, com curadoria de Philippe Costantini e em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, fazem parte filmes raríssimos como Baby Ghana, La Folie Ordinaire d'Une Fille de Cham e Le Foot Girafe ou L'Alternative". É a maior retrospetiva, organizada em Portugal, da obra do francês Jean Rouch (Paris, 1917; Niger, 2004), um mítico realizador que filmou África e os africanos como ninguém. Os 26 filmes de Jean Rouch passam na Culturgest e na Cinemateca.


(ii) "A Retrospectiva Movimentos de libertação em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau (1961-1974) reúne uma selecção muito importante e original do cinema das guerras de independência, da qual constam Festival Panafricain d'Alger, de William Klein e Behind the Lines, de Margaret Dickinson. No dia 28 de Outubro, às 21h30, no Cinema São Jorge, haverá uma mesa redonda sobre este tema com os realizadores convidados" .


Informação sobre a retrospectiva "Movimentos de libertação > Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique (1961-1974)" (vd. p. 49 e ss. do programa). São 15 filmes do chamado cinema militante. O nosso destaque, por razões óbvias, para a Guiné-Bissau.
Observações para os eventuais espetadores:

(i) todos os filmes do doclisboa2011 são legendados em português;

(ii) grande parte dos documentários desta retrospetiva (num total de 15) são inéditos ou pouco conhecidos em Portugal;

(iii) alguns têm cópia nova como o velho No pintcha!;

(iv) todos os filmes a seguir apresentados estão classificados como sendo para Maiores de 12 anos, com exceção de 3, que são para Maiores de 16)

Alguns dos títulos relativos à Guiné-Bissau (Procurámos complementar a informação da organização, com links sobre os realizadores; a sinopse é da responsabilidade da organização do doclisboa2011, de acordo com o programa oficial, nalguns casos com adaptações nossas)


A Group of Terrorists Attacked...
Realizador: John Sheppard [1940-2009]
Ano: 1968
País: Reino Unido
Duração: 38’

Sinopse: O cineasta britânico John Sheppard, recentemente falecido, passa várias semanas nas zonas controladas pelo PAIGC na Guiné-Bissau, para realizar este filme que "dá a ver a organização da vida nas regiões libertadas e explica o início da luta e a formação das tropas independentistas. Além da presença de vários destacados comandantes da guerrilha, apresenta uma importante entrevista com Amílcar Cabral" (Fonte: Programa do doclisboa2011, p.49).

Data/hora e local: 24 OUT – 21.00, Cinema São Jorge – Sala 3

[Classificação: Maiores de 16 anos]


En Nations Födelse / The Birth of a Nation
Realizadores: Lennart Malmer, Ingela Romare
Ano: 1973
País: Suécia
Duração: 48’

Sinopse: O sueco L. Malmer [n. 1941] "não se limita a seguir a marcha do tempo, dá-lhe uma dinâmica precisa através da montagem e do registo humano enquadrado no discurso da paisagem. O balbuciar de Spínola e a canção de Adriano Correia de Oliveira sobre as imagens do ataque à tropa portuguesa contrastam com o congresso em que o PAIGC proclama a independência do país (1973)". (Fonte: Programa do doclisboa2011, p.50).

Data/hora e local: 26 OUT – 19.00, Cinema São Jorge – Sala 3
29 OUT – 19.30, Teatro do Bairro


Festival Panafricain d’Alger / The Algiers Pan -African Fes tival
Realizador: William Klein
Ano: 1969
País: Argélia
Duração: 112’

Sinopse: Em Julho de 1969, "a Argélia está em festa, sete anos após a independência". O Festival Panafricano de Argel é palco de uma grande manifestação cultural e política que envolve quase todo o continente,com destaque para os novos países recém-independentes. "Recorda-se a caminhada da África, denuncia-se o colonialismo e exaltam-se as independências". Depoimentos do angolano Mário de Andrade e e do guineense Amílcar Cabral. (Fonte: Programa do doclisboa2011, p. 50).

Data/hora e local: 23 OUT – 17.00, Cinema São Jorge – Sala 3

[Classificação: Maiores de 16 anos]


Madina Boé
Realizador: José Massip
Ano: 1968
País: Cuba
Duração: 38’

Sinopse: José Massip [um veterano do cinema cubano] rodou este documentário em 35 mm nas "áreas libertadas" da Guiné-Bissau. O filme, realizado em 1968, "segue as actividades do Exército Popular para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde", procurando sobretudo documentar "a educação política dos combatentes, as técnicas de guerrilha e o treino físico". Inclui igualmente "uma entrevista rara" com Amílcar Cabral, o histórico líder do PAIGC. (Fonte: Programa do doclisboa2011, p. 52).

Data/hora e local: 24 OUT – 21.00, Cinema São Jorge – Sala 3



[Classificação: Maiores de 16 anos]

No Pincha! [com nova cópia]
Realizadores: Tobias Engel, René Lefort, Gilbert Igel
Ano: 1970
País: França
Duração: 65’

Sinopse: "No auge da luta armada na Guiné-Bissau, o filme foi decisivo para dar a conhecer ao mundo e às instâncias diplomáticas a realidade no terreno. A visão de uma sociedade organizada e participativa, com as suas instituições e instrumentos de cidadania, fez mais pela causa do PAIGC do que muitos discursos e ajudou a cimentar a palavra dos seus líderes". (Fonte: Programa do doclisboa2011, p. 52).

Data/hora e local: 25 OUT – 19.00, Cinema São Jorge – Sala 3




Labanta Negro!
Realizador: Piero Nelli [, recentemente homenageado no seu país]
Ano: 1966
País: Itália
Duração: 39’

Sinopse: "O filme pretende ser um testemunho da guerra de libertação da Guiné-Bissau, a partir das áreas já libertadas, onde a guerra e a actividade militar convivem com a criação das estruturas de uma sociedade civil que se organiza na floresta, aldeias e savanas. Inclui
imagens de um comício do PAIGC , onde intervém Luís Cabral sobre a luta de libertação".
(Fonte: Programa do doclisboa2011, p. 51).

Data/hora e local: 25 OUT – 19.00, Cinema São Jorge – Sala 3


(iii) "Mesa Redonda > Movimentos de Libertação em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau (1961-1974)". Data/horal e local: 28 OUT - 21h30, Cinema São Jorge - Sala 2.
(iv) BAR DOCLISBOA: "Situado no foyer central, junto ao Grande Auditório da Culturgest: é o ponto de encontro informal do público e convidados do festival.

"O Bar doclisboa convida a beber uma bebida com a apresentação da acreditação ou do bilhete para uma das sessões da noite.
21 a 30 OUT - das 18h00 às 21h30


(v) Videoteca – Culturgest: "Situada em frente ao Grande Auditório da Culturgest, é de acesso público e gratuito. Estão disponíveis para visionamento cerca de 1350 títulos, enviados para o doclisboa 2011 (salvo raras excepções).


"Neste espaço é estritamente proibido o uso de qualquer câmara de filmar ou outro meio de captura de imagens. Os filmes seleccionados só estão disponíveis após a sua última passagem em sala. 21 a 30 OUT - Culturgest. Dias úteis - das 11h00 às 21h00 / Fins de semana - das 14h00 às 21h00".


2. O doclisboa é já um simpático local de encontro de alguns de nós, membros da Tabanca Grande, leitores do blogue, e outros amigos, residentes na área da Grande Lisboa, uns mais cinéfilos do que outros, uns reformados, outros não, uns antigos combatentes, outros não... Desde 2007, por ocasião da estreia do filme As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes.


A título sempre meramente informativo, direi que o preço do bilhete por sessão é de 3,5 euros, mas pode comprar-se um "voucher" de 25 euros para 10 sessões, como no ano passado. Na Culturgest cada bilhete dá direito a uma bebida.

Eu gosto de cinema documental, gosto do doclisboa, gosto de Lisboa, gosto de ir à Culturgest. À noite pode estacionar-se o carro, de borla, na garagem do edifício-sede CGD, mediante a apresentação do bilhete da sessão dessa noite. Mas há sessões ao longo do dia e por vários cinemas da cidade (do São Jorge à Cinemateca). Na Culturgest, pode ainda utilizar-se, durante o dia, e à borla, a fabulosa videoteca do doclisboa2011.

Mesmo limitado, fisicamente, este ano, por causa da minha cirurgia ao joanete (ainda estou no pós-operatório...) , conto marcar presença numa ou noutra sessão e rever alguns de vocês... Na Culturgest, porque tem elevador. São Jorge e outras salas de cinema, para mim, será difícil ou mesmo impossível por causa dos acessos... Boas sessões. Um abração. Luís Graça


PS - A informação sobre o conteúdo dos filmes é retirada do programa do doclisboa2011. Utilizo as aspas para as citações. Esta informação, selecionada e aqui divulgada por mim, é também a pensar em todos os nossos leitores do mundo da lusofonia, quer estejam ou não em Lisboa, e que gostem de cinema documental.


Fotos: cortesia do doclisboa2011.
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8895: Agenda cultural (165): 1ª Feira do Livro da APTCA/SNPVAC, Lisboa, de 6 a 22 de Outubro (José Brás / Luís Graça)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8917: Nós da memória (Torcato Mendonça) (3): Baguera, baguera e Desconforto





1. Em mensagem do dia 14 de Outubro de 2011, o nosso camarada Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69), enviou-nos o segundo texto para publicação na sua série "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

3.1 - Baguera; Baguera

Aprontava-se o Sol para esfregar os olhos iniciando aquele dia e já eles estavam a caminhar.
Progressão cuidada, guias e um Grupo à frente e o dele logo atrás. O ruído da mata, o chilrear da passarada sossegava-os.

Entravam numa zona que fora cultivada de arroz e passaram para o cimo do muro de terra, entre os canteiros. Cuidados redobrados, passos mais lentos e os olhares a entrarem mata fora.
De repente, como sempre, um estrondo brutal um pouco atrás dele, o rebentar do tiroteio. Deitaram-se na espalda do muro para resposta pronta à emboscada, os gritos, o estranho som do chicotear de algumas balas no lado da emboscada.

- Que merda é esta?
- O carregador balanta a apontar para umas árvores atrás deles.
- Fogo, “rega” além com a MG, fogo…

Após as primeiras rajadas algo caiu com estrondo de uma árvore.
- Era macaco, dá mais uma ou duas rajadas… e pronto…

Minutos depois, ou uma eternidade depois, o silêncio só quebrado pelos gemidos dos feridos.
Sai, sai. Já pediram evacuações.
Agarrou no Furriel e carregou-o com as armas para o riacho à frente, os gemidos dele, o querer dizer algo e a resposta que ele dava para o animar. Pararam, deu-lhe água e ânimo, talvez só um olhar e um sorriso.

Dirigiram-se para o pequeno riacho quase seco e atolou-se na lama com o peso duplo de cada perna.
Surgiu então o grito: - baguera, baguera (abelhas). Parou, tentou cobrir a cabeça e cara do Camarada com o protector – um carapuço de tule ou tecido de mosquiteiro que enfiavam na cabeça. O cheiro do sangue trouxe-as mais irritadas e ele com o cabelo rapada e as ferroadas, a lama e, finalmente, o grito da ajuda.

Deixa uma arma porra. Eu levo o Furriel. Caminharam para o possível lugar da evacuação. O enfermeiro ia tratando aquela meia dúzia de feridos e o guarda-costas tirava os ferrões da cabeça dele.

Informou-se melhor do que se havia passado e a raiva veio forte, muito forte. Calma, porra. Tem calma logo os vingas. O cigarro indevidamente acesso.

Uma voz veio do lado dele:
- Não era macaco o cabrão e era mais do que um.

Riram…


3.2 - Desconforto

Já tinha ano e meio de Comissão. Sim ano e meio.
Estava farto, farto, farto. Que tédio.
De quando em vez a rotina era quebrada por uma noite de Loto. Santa Luzia animava-se então. De quando em vez interrompia-se o grito dos números pelo grito do vencedor. Tudo alegre e sorridente. Breve intervalo e novo jogo.

Havia outros, claro. Havia outros e tinham noites diferentes.

Poucas. Uma pasmaceira. Horrível viver naquelas condições. Ano e meio sem conforto, sem nada e já viera duas vezes de férias á Metrópole. Felizmente.

Diariamente era a Repartição, a papelada, aquela barafunda toda, os pedidos aborrecidos, chatos, de quem estava no mato e ele nem sabia onde. Que esperassem. Não esperava ele por lhe arranjarem o frigorifico, limpar o ventilador do ar condicionado ou outras faltas. Uma bagunça aquela Repartição.

Tudo era uma bagunça, um desconforto horrível naquela terra, naquele Quartel-General ou o que era. Até a casa onde estava instalado. Imprópria. Quando muito dava para duas pessoas. Estavam quatro, quatro oficiais – três Alferes e um velho Capitão do SGE. Ressonava o Capitão. Talvez o peso dos galões lhe tivesse entupido os cornetos.

Pior era o frigorífico. De quando em vez ou por carga excessiva ou pela electricidade não arrefecia o suficiente. Horrível viver assim.
Ainda faltavam seis meses, seis longos meses.

Mas já saíra de Bissau. Fora, com um Piloto amigo de infância, a Bolama e a Farim. Não gostara nada. Só a paisagem vista por detrás da janela da DO.
Ouvira ainda, raramente, o som de rebentamentos lá longe. Uma vez disseram-lhe ser em Tite. Assunto a ser resolvido por outros.

Esquecia-se, como acontecera na noite passada. Uma vez por semana, geralmente à sexta-feira, ia com amigos jantar ao Solar dos Dez. Acontecera na noite passada. Bebera demais, talvez. Certo é que se deitara e adormecera docemente ao som do Bolero de Ravel…

Acordara mais bem-disposto. Talvez da música e do sonho. Pequenos luxos naquele horrível fim de Mundo.
Um dia, quando voltasse teria muito que contar aos amigos daquela terrível guerra e logo a da Guiné.
Ficava triste ao recordar os amigos e amigas,

Que mês era? Julho… pior… Seis meses naquele fim de mundo…
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8873: Nós da memória (Torcato Mendonça) (2): Retaliação

Guiné 63/74 - P8916: Memória dos lugares (156): Ilha Roxa, Arquipélago dos Bijagós, Fevereiro de 1974 (António Graça de Abreu)



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha Roxa (a leste da Ilha de Bubaque) > Fevereiro de 1974 > Um lugar "paradisíaco" em tempo de guerra que ali não havia... mas onde no entanto não havia arroz (ia-se comprá-lo a Bubaque, quando havia), o que na altura era sinónimo de fome... Vemos aqui o António Graça de Abreu, disfarçado de turista... Fotos enviadas em 18 de Julho passado, com a simples legenda "São [as fotos] da ilha Roxa, Bijagós, na paragem da LDG Cufar-Bissau"...


No seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz Editores,  2007, pp. 194-197), escreveu o nosso querido amigo e camarada António Graça de Abreu a seguinte nota (de que se transcreve apenas um excerto, com a devida vénia ao autor e à editora): 

Bissau, 16 Fevereiro de 1974

Estou em Bissau para tratar dos dentes. E vim por mar, em LDG.

Quarta-feira à tarde cancelaram o Nordatlas. Quase à mesma hora partia,   rio Cumbijã abaixo rumo a Bissau, a LDG "Alfange" (...). Resolvi-me pela viagem marítima e não me arrependo da decisão. 

Éramos quase trezentos homens empilhados numa grande barcaça, a dormir onde calhava, a comer rações de combate, a jogar às cartas, a contar as nossas vidas. No voo de quarenta minutos no Nord não se aprende nada, nas vinte e seis horas de viagem na LDG descobri mais um pedacinho do mundo.

Largámos de Cufar às três da tarde, começámos a descer o rio, tocámos Cadique, Cafal, Cafine onde entrou mais tropa. Depois o mar,com o navio sempre a navegar. Foi ancorar já noite cerrada perto da ilha Roxa, no arquipélago dos Bijagós (...).

Quando o dia amanheceu, tive uma sensacional surpresa.  A ilha Roxa encontrava-se ali diante de nós, a pouco mais de um quilómetro de distância, com areais, enseadas e palmeiras. A maré estava vazia, a água do mar era azul e limpa. Íamos permanecer ancorados  junto à ilha até cerca do meio dia (...).

Por isso, logo de manhã, o comandante da LDG e o imediato preparam um bote de borracha, as canas de pesca e saíram para o mar (....). Entretanto, os fuzileiros de Cafal que viajavam no bote como segurança, prepararam um bote para irem a terra, usufruir as delícias da praia.  Pedi-lhes boleia - a vantagem de ser alferes! - e parti à descoberta daquele enorme pedaço de chão encalhado no meio do mar da Guiné. (...)

(...) Mas a ilha era habitada, os fuzileiros já haviam entrado numa povoação  cha
mada Anhorei (...). Deve ser raríssimo desembarcarem meia dúzia de brancos naquela ilha e fomod recebidos de modo afável e aberto. Esta gente não foi tocada pela guerra - nos Bijagós não há operações militares -  e não guarda ressentimentos para com os portugueses. (...)
Sozinho, regressei à praia.Com umas lindas cuecas vermelhas - porque não trouxe fato de banho -, tomei um gostoso banho de mar e fiz umas corridas ao longo da praia. (...).

... Quem quiser saber o resto da história dessa manhã inesperada, em que como o autor fez um novo amigo, bijagó, de seu nome Cunha Nhorei, faça o favor de comprar o livro. (LG)

Guiné 63/74 - P8915: Notas de leitura (288): Pami Na Dondo, A Guerrilheira, de Mário Vicente [, o nosso Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66] (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Setembro de 2011:

Queridos amigos,
Devíamos obrigar Mário Vicente (ou Mário Fitas ou Mário Ralheta) a remexer toda a sua novela, de indiscutível interesse e originalidade. Ele presta uma eloquente homenagem à CCAÇ 763 através de uma guerrilheira, a região de Cufar experimenta a agressividade operacional e também a resposta dos guerrilheiros. O autor intenta pôr nos olhos dos outros a interpretação da nossa realidade. A trama novelística tem pés para andar, carece de uma intensa revisão, quem tem aquela experiência, que é bem patente, bem pode desenvolver o que importa ser desenvolvido e despojar o texto da história da Guiné quando ela é postiça e deslocada.

Um abraço do
Mário


Pami Na Dondo, a guerrilheira

Beja Santos

Em “Os Anos da Guerra”, João de Melo observou que “Os melhores livros de guerra perfilham uma atitude comum: a de designarem permanentemente o outro e o outro lado da sua guerra; de irem ao encontro da dignidade desse outro, dos seus enigmas, do seu mistério e da sua identidade. A principal lição moral podia mesmo sintetizar-se nestes termos: quem combate quem? como? porquê?”.

O livro de Mário Vicente (também Mário Fitas, igualmente Mário Ralheta) é uma exaltação da CCAÇ 763, pondo-a reflectida ao espelho, vista por uma guerrilheira. É uma ideia poderosa, tanto mais que abraça um período de dois anos e nos dá a evolução da guerra em Cufar, por onde o autor andou e combateu (Pami Na Dondo, a guerrilheira”, por Mário Vicente, prefácio de Carlos da Costa Campos, edição do autor, 2005).

A novela assenta na dualidade: a força combatente que procura liquidar a bolsa de resistentes ou guerrilheiros, evidenciando-se pela audácia e pelo heroísmo; a resposta dos guerrilheiros, convictos de uma pátria livre, cada vez melhor organizados e municiados, derrotados umas vezes e preparados para tirar desforço, é assim a maquinação do terror. Aliás, o texto começa em plena atmosfera colonial, sente-se o despertar da subversão em toda aquela região sul, pouco tempo antes ocorrera o massacre do Pidjiquiti, há gente a aderir ao PAIGC e a ingressar na mata. Pan Na Ufna, Luís Ramos, o padre Francelino informam o leitor que a revolução está para breve. Como a novela não tem que ter rigor histórico, somos logo induzidos nas questões da organização militar, as FARP (que só surgiram em 1964) e a filha de Pan Na Ufna, Pami Na Dondo é instruída na guerrilha com armamento que só veio mais tarde, mas que para a trama da novela introduzem um sabor épico, o espectacular da preparação dos guerrilheiros. Um estúpido acidente transforma a vida da guerrilheira, perde a sua mão esquerda, o PAIGC coloca-a como professora em Flaque Injã, aqui vai conhecer Malan Cassamá, outro guerrilheiro, com quem casará.

Mário Vicente comprova que falamos sempre sobre nós, ele aproveita habilmente o que sabe sobre Cufar e as tabancas afectas ao PAIGC e quem vai apoiar a bandeira portuguesa. Flaque Injã será destruída pelos Lassas, a CCAÇ 763, Pami e Malã serão capturados e trazidos para Cufar. O autor socorre-se, em todo o seu verdor e autenticidade, da linguagem de caserna e reelabora com sucesso uma mescla de linguajar crioulo e português, somos introduzidos na condição precária de prisioneiros sujeitos à brutalidade dos interrogatórios. Pami, boa conhecedora da língua portuguesa, vai registando situações, procedimentos, a localização de todas as instalações de Cufar. Os Lassas parecem controlar a situação, o inimigo aparentemente perdeu a iniciativa e retira para outras posições, as operações sucedem-se, os êxitos repetem-se. Pena é que Mário Vicente não tenha explorado todo este caudal de agressividade operacional, subitamente entra numa didáctica de divulgação sobre o clima, a agricultura, a etnologia e a etnografia, e o que até então era verosímil torna-se postiço, é um relambório de alferes e capitão com um carácter grotesco que destrói o ritmo da trama novelística. Felizmente que temos a insegurança e a ansiedade de Pami, como na tragédia grega Malã é reconhecido e forçado a acompanhar como guia as tropas de Cufar que vão à procura dos guerrilheiros. Aqueles homens estão sós e procuram sexo, Pami será levada à presença do furriel Gonçalo, este segue depois para uma operação onde morre.

Assistimos a um período de acentuada degradação dos Lassas, houve mudança de capitão, a vida da CCAÇ 763 já não é tão vistosa nem tão vitoriosa, temos aqui bons parágrafos do autor a comentar a situação: “Apesar dos alferes e sargentos se manterem unidos e firmes, as coisas começam a degradar-se e a prestação, em termos de antiguerrilha, não era a mesma. Começou a verificar que os militares bebiam e consumiam cada vez mais álcool. Assistiu àquela luta em que dois soldados se socaram, pontapearam e morderam, como os cães raivosos, espumando pela boca, e depois de completamente esgotados abraçarem-se, chorando. Viu em dia de imensa chuva, o próprio “Bolinhas”, completamente molhado, correndo atrás do soldado Lopes, como uma grande faca na mão e o Lopes, com fobia de tudo o que era lâmina, fugindo por todo o aquartelamento, e os soldados todos a aplaudir. Viu o corneteiro rufar tambor e o furriel Rafael a fazer circo com uma cabra, sobre o muro da varanda, levantando a pata para fazer continência ao povo. Viu o soldado Nazaré, tronco nu peludo como macaco cão, envergando apenas uns calções, cinturão de lona preso a uma corrente, a fazer momices, ser passeado por outro soldado como se de chimpanzé se tratasse. O sargento Tavares a fazer o pino para o Punch – cão pastor alemão – saltar por entre as pernas. Parecia este aquartelamento uma casa de pessoas enlouquecidas”.

Um pesado revés tinha modificado a vida dos Lassas. Pami descobre que está grávida do furriel Gonçalo. Pami comparece a um interrogatório do furriel Rafael, conta-lhe a verdade. Rafael leva-a à porta de armas, “Pami sentia o corpo todo em demente tremura, e os seus passos seguindo os do militar eram já inseguros e incertos. O furriel andou uns 150 metros, e parou debaixo de uma árvore, carregada de ninhos de tecelões que, com o aparecimento dos intrusos, voaram num grande chilrear. O sol caia sobre o fundo da pista. Brevemente a noite africana apareceria com os seus sons e mistérios. O furriel puxou a culatra da G3, e introduziu uma bala na câmara rodando a patilha de segurança para tiro de rajada”. Depois vem a confissão e a libertação. Pami volta a ser mulher livre, vagueou perdida pelas matas Cufar Nalu, Camaiupa Cachaque e Cabolol. Passados dois dias foi encontrada pelos guerrilheiros junto ao rio Quaianquebam. Mais tarde, quando os Lassas desembarcavam em Lisboa nascia na mata do Cantanhez Umberto Cassamá.

Mário Vicente interessou-se pelo outro e recorreu ao que sabia e que experimentou. Na primeira oportunidade que se ponha a reedição de “Pami Na Dondo” deverá rever cuidadosamente o texto, polvilhado de agruras e dislates gramaticais. O texto merece e “Pami Na Dondo” agradece (*). Até breve.
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Notas de CV:

Mário Fitas, que é membro do nosso blogue desde 2007, foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, Os Lassas, Cufar, 1965/66


(*) Há um edição, em 2008,  desta obra, no nosso blogue, dividida  em dez partes, com revisão e fixação do texto pelo nosso editor Luís Graça, e devidamente autorizada pelo autor   > vd, último poste > 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

domingo, 16 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8914: Álbum fotográfico de Antóno Dias das Neves: a parte final, germânica, de um doloroso calvário... A reabilitação no Hospital Militar de Hamburgo (Marisa Neves)

Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "O meu Pai é o que está na cadeira de rodas com o prato na mão. Esteve lá 8 meses. Antes passou pelo anexo de Campolide, em Lisboa, onde fez 18 operações" (MN).
Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "O meu pai é o que vêm com duas canadianas de camisola branca" (MN)


Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "O meu pai é o que esta de frente camisola acastanhada" (MN)


Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "O meu pai é o que está no  lado direito, de camisola acastanhada, sentado na cadeira de rodas"

Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "O meu pai é o de camisola castanha, sentado na cadeira de rodas" (MN)


Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 > "Pai sentado na cadeira de rodas" (MN)

Alemanha Ocidental > Hospital de Hamburgo > Possivelmente, em 1972 >

"O meu pai é o mais baixinho" (MN)...

Fotos (e legendas):  © Marisa Neves (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Antiga Alemanha Ocidental > Hamburgo > Hospital de Hamburgo >  Álbum fotográfico de António Dias das Neves (1947-2001) (*) > Depois de ter ficado sem as duas pernas, devido ao acionamento de uma mina A/P, a norte de Bula, no decurso da tão mediatizada Op Ostra Amarga, 18 de Outubro de 1969, o sold at cav António Dias das Neves, da CCAV 2486/BCAV 2868 (1969/70), foi evacuado para a metrópole, longe dos holofotes da televisão e do voyeurismo dos jornalistas franceses... 

Sabemos que passou esteve no Hospital Militar da Estrela, anexo de Campolide, possivelmente mais de dois anos (desde finais de 1969). Não sabemos se passou pelo Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, inaugurado em 1966....No prestigiado Hospital de  Hamburgo, na Alemanha (, hospital que pertence à Universidade de Saarland),  recebeu, com sucesso, duas próteses que lhe permitiram refazer a sua vida como civil... na sua terra natal, Ramada, Odivelas. 

"O meu pai fez bastantes amigos durante os 8 meses que esteve em recuperação no hospital de Hamburgo. Sei que fartou-se de passear, pois tenho alguns postais de vários sítios da Alemanha que o meu pai mandava para a minha avó", escreve-nos a sua filha Marisa.

"Sei também que o meu pai foi um caso de sucesso na adptação das próteses, sei que fizeram bastantes arquivos documentados para próximos doentes". 

"As pessoas que acompanham o meu pai nas fotos, infelizmente não sei quem são, só ele poderia dizer ou a minha avozita que infelizmente faz agora dia 6 de Novembro um ano que me deixou. O meu pai sempre foi um homem de coragem e de orgulho".

Em 1979 nasceu a sua primeira filha, Marisa Neves, hoje com 31 anos. Estas fotos, recebidas originalmente sem legenda, documentam a parte final, germânica,  do seu calvário da Guiné... 


Sobre a hospitalização do seu pai, a Marisa disse-nos o seguinte: "Em relação aos hospitais,  infelizmente não sei datas concretas, acho que ele foi, primeiro,  para Bissau  e depois veio para Portugal. A seguir foi transferido para Alemanha. Sei que esteve algum tempo na Alemanha em tratamentos e recuperação para adaptação das próteses". E, ao que parece, adaptou-se bem, do ponto de vista funcional,  às suas novas pernas artificiais, segundo o testemunho da filha.

Há um ponto que gostaríamos de esclarecer com a Marisa. Diz ela que, de acordo com a caderneta militar, o pai foi "evacuado para o HMP em 6/11/71" (?)... "por despacho de 30/12/70 de sua Excia o Secretário do Estado do Exército"... Admitamos que é um erro de transcrição, dela ou do burocrata do exército... Não é crível  que tenha ficado mais de dois anos no HM 241, em Bissau (contando o período que medeia entre a data dos ferimentos em combate, 18/10/1969, e a alegada mas improvável data de evacuação para o HMP, 6/11/71)...  Até por que no tempo de contagem da comissão de serviço militar no TO da Guiné, não aparece mencionado, na caderneta, o ano de 1971...

De qualquer modo, o que importa é sublinhar a novidade destas fotos: julgo que é a primeira vez, em oito anos, que aqui se fala, no nosso blogue, de camaradas nossos, feridos na guerra de África, que foram beneficiários do programa de reabilitação do Hospital de Hamburgo... E isso fica aqui documentado. Não sabemos quantos por lá passaram, por causa das próteses... O mesmo se passa com o CMRA - Centro de Medicina de Reabilitação (**)... Não sei se a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas tem informação informação estatística, ou dados históricos,  adicionais, com referência a este doloroso dossiê...  

À Marisa, mais uma vez, o nosso profundo reconhecimento por querer partilhar, connosco, com os camaradas do seu pai, este cantinho da sua intimidade, o álbum fotográfico do seu querido pai e seu grande herói... LG

[ Seleção e edição das fotos: L.G.]


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8910: In Memoriam (94): António Dias das Neves (1947-2001), Sold At Cav, CCAV 2486 (Bula, 1969/70), "o meu herói" (Marisa Neves)

(**) Apontamento histórico sobre o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, sito no concelho de Cascais:

(...) "Em 1956, sendo Provedor o Dr. José Guilherme de Melo e Castro, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) decidiu dar início à construção de um Centro de Reabilitação. O contexto social e político nacional ditou a criação de um centro com estas características, sendo a principal motivação dar resposta às necessidades dos lesionados da Guerra do Ultramar.

 
"O autor do projecto foi o Arquitecto José Maria Ferreira da Cunha. De referir ainda a colaboração do Escultor Martins Correia, autor da escultura que embeleza o jardim e cuja imagem foi escolhida para logótipo da instituição [, foto à esquerda]. Todas as despesas foram suportadas pelas verbas provenientes dos lucros do Totobola (então principal jogo social da SCML).
 
"Em 2 de Julho de 1966, o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) foi solenemente inaugurado com a presença do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, definindo dois objectivos principais: a reabilitação de pessoas com incapacidade motora e a formação de pessoal especializado.

"A preparação de pessoal, compreendeu cursos segundo programas de nível internacional e teve substancial cooperação de entidades internacionais, particularmente do World Rehabilitation Fund. Os cursos funcionaram de Janeiro de 1957 a Outubro de 1965 em colaboração com as Casas de S. Vicente de Paulo, em Lisboa, tendo sido formadas 47 alunas nas áreas de enfermagem, fisioterapia e ortoprotesia, entre outras. 

À data da sua criação este Centro foi desde logo aclamado como uma das melhores instituições na área da medicina de reabilitação no mundo. Nas últimas três décadas tem-se assistido a uma adaptação da estrutura organizacional, de forma a ir acompanhando as necessidades dos profissionais e dos destinatários. Disto são exemplos paradigmáticos os cuidados de reabilitação prestados a doentes com Acidentes Vasculares Cerebrais, com Sequelas de Politraumatismos e com Traumatismos Craneo-encefálico graves." (...) (Fonte: CMRA)

Do portal da A25A, Guerra Colonial, reproduzimos com a devida vénia a seguinte entrada sobre Feridos:


Feridos

(...) "Os feridos eram habitualmente evacuados de helicóptero ou de viatura para a unidade do serviço de saúde mais perto, um posto de socorros ou uma enfermaria de sector, onde recebiam os primeiros tratamentos. Neste primeiro nível pretendia-se, antes de mais, manter o ferido vivo e em condições de ser tratado num hospital, se fosse caso disso.

"O sistema de evacuação sanitário passava depois pelos hospitais militares existentes em cada um dos teatros[, HM 241, em Bissau, no caso do TO da Guiné,] e podia terminar no Hospital Militar Principal, em Lisboa. Os feridos com necessidade de tratamentos de recuperação eram, posteriormente, transferidos para o Centro [de Medicina] de Recuperação do Alcoitão ou para o Hospital de Hamburgo, ao abrigo do acordo estabelecido entre Portugal e a Alemanha no âmbito das facilidades concedidas pelo uso da Base Aérea de Beja".(...)

Guiné 63/74 - P8913: VII Encontro da Tabanca Grande - 2012 (3): O nosso Convívio será no dia 21 de Abril de 2012 no Palace Hotel de Monte Real (A Organização)

1. Decorreu até ontem, 15 de Outubro, um inquérito para escolha da data do próximo Encontro da Tabanca Grande e recolha de opiniões.

Feito o balanço às resposta recebidas, podemos adiantar que a data mais votada, com 35%,  foi a de 21 de Abril de 2012, e que para 45% dos camaradas que responderam, qualquer das datas propostas é aceitável.

Como foi referido no poste anterior, apareceram ofertas de camaradas que se propõem a organizar futuros Convívios (Carlos Pinheiro, Valentim Oliveira e Manuel Traquina) e algumas críticas, das quais apenas duas negativas (João Lourenço e Luís Rainha).

Como também já foi dito, vamos manter Monte Real como local do próximo Encontro, onde se avaliarão as propostas levadas pelos camaradas que se ofereçam para organizar os futuros Convívios e se escolherá a mais consensual.

Posto isto, vai-se proceder à reserva da Sala de Convívio do Palace Hotel de Monte Real para o dia 21 de Abril de 2012, e oportunamente iniciar-se-ão os procedimentos com vista à organização do nosso VII Encontro.


2. Para conhecimento, aqui estão os quadros com as respostas recebidas.




3. Ainda para conhecimento da tertúlia, fica esta mensagem do nosso "mayor" Luís Graça, chegada à minha caixa de correio no dia 6 de Outubro pp:

Carlos,
Por mim, Monte Real, de pedra e cal. Mudar, porquê? Não vejo melhores argumentos. É equidistante, entre o norte e o sul, tem acessos de cinco estrelas. O hotel e restaurante são de quatro estrelas. A relação preço/qualidade imbatível. E a comissão organizadora (onde se inclui o Joaquim) tem, para mim, direito a "todas as estrelas do céu"...

Podemos fazer melhor? Mas, com certeza... O convívio prima sobre tudo, mas também podemos repetir a experiência do ano passado: uma pequena exposição fotográfica, uma sessão de autógrafos, um sessão de "slides" da última viagem à Guiné, um momento musical apropriado, dentro das limitações logísticas que o hotel nos impõe...

É preciso ocupar e mobilizar os nossos camaradas e amigos... A malta tem ideias... O Encontro é (mas não só) convívio à volta da mesa... Mas pode haver mais iniciativas para o fim de semana...

Opto pelo 21 de Abril... A 23, simbolicamente, faz o nosso blogue, 8 aninhos de vida, e nessa altura pode já ter atingido os 3,5 milhões de visitas... Parabéns a todos vocês que estão no "back office" desta iniciativa, mantendo a chama viva... O meu aplauso, a minha solidariedade, a minha camarigagem...
Luis Graça
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8864: VII Encontro da Tabanca Grande - 2012 (2): Inquérito para escolha da data e recolha de opiniões (2) (A Organização)

Foto: Pelourinho de Monte Real, retirado do site da Junta de Freguesia de Monte Real, com a devida vénia

Guiné 63/74 - P8912: Recortes de imprensa (51): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - II Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 393 , Set / Out 2011

1. Em mensagem datada de 13 de Outubro de 2011, recebemos do senhor Nuno Esteves da Silva, Chefe de Redacção da Revista Mais Alto, propriedade da FAP, fundada em 1959, a segunda parte do artigo "Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português", publicado no último número desta prestigiada Revista.

Exmo. Sr.
Carlos Vinhal
Na sequência do email anterior, enviamos a II parte do artigo sobre o Strela saído na Edição de SET/OUT da Mais Alto.

Com os melhores cumprimentos,
Nuno Esteves da Silva
Chefe de Redacção



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Notas de CV:

Os nossos agradecimentos à Revista Mais Alto, na pessoa do seu Director Tenente-General Piloto Aviador Luís Palma de Figueiredo pela cedência e autorização para a publicação das páginas referentes ao artigo "Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português", incerto nos números 392 (Jul/Ago) e 393 (Set/Out), desta Revista da Força Aérea Portuguesa.

Vd. poste da I parte de 22 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8806: Recortes de imprensa (48): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - I Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 392 , Jul / Ago 2011

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)