segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15012: Convívios (703): 1º encontro da tabanca de Ferrel, 12 de agosto de 2015 - Parte III (e última): seleção de fotos de Luís Graça


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Duas dezenas e meia de convivas, oriundos dos concelhos de Peniche e Lourinhã, mas também do Cadaval,  juntaram-se para celebrar, no "querido mês de agosto", a amizade e a camaradagem.



Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > O régulo da Tabanca de Porto Dinheiro (Lourinhã), que fez a convocatória do pessoal e trouxe as sardinhas, aqui com o seu neto "espanhol"... Um dos seus filhos vive e trabalha em Madrid... que este país, "à beira-mar plantado", é pequeno demais para tanta gente jovem que, se hoje não tem o fantasma da guerra a hipotecar o seu futuro próximo, tem que enfrentar  realidade, não menos brutal,  da precariedade do emprego e da falta de trabalho... (Recorde-se que o Eduardo Jorge Ferreira foi alf mil da Polícia Aérea, BA12, Bissalanca, 1973/74).


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Avó e neto... Uma "bajuda", a São,  que passou a adolescência em Bissau, onde o pai trabalhava nos CTT, na parte das telecomunicações...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > > O Pinto Carvalho e a sua "bajuda",  Maria do Céu... Vieram do Cadaval, onde os negócios hoteleiros continuam prósperos...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > > Pinto Carvalho e, na mesa, o João Sacôto e esposa, em conversa com a Maria do Céu...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > "Eu parece-me que vos conheço de algum lado!... Ah!, já sei, estivemos juntos na Escócia a semana passada, em viagem turística!", diz o António Miguel Franco para o João Sacôto e esposa... "Não pode ser!", ironiza o Joaquim Jorge que acabava de abraçar o  seu camarada de há 50 anos atrás, o João, pertencente ao mesmo batalhão, o BCAÇ 619 (Catió, 1964/66)...  O João pertenceu à CCAÇ 617, o Joaquim à CCAÇ 616...  Há 50 anos que não se viam...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > O António Miguel Franco saudando os camaradas da Tabanca Grande... Casado, já pai de uma filha, foi mobilizado como capitão, em rendição individual... Foi substituir um capitão que tinha morrido em Pirada... Acabou por ir parar a Nhacra... E terminou a sua comissão, em Bissau, à frente da companhia de transportes: a missão, macabra,  que lhe foi destinada foi o transporte, para embarque,  de centenas de urnas com os restos mortais de militares metropolitanos, acumuladas nos últimos tempos da guerra... Foi um dos nossos camaradas que "fechou a guerra"...  (O camarada ao lado do Miguel Franco, o Luís Silva, foi combatente em Angola).




Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > O Jaime, a Dina, e a Rosário Henriques, esposa do Estêvão Henriques (que está em vias de integrar a Tabanca Grande, mal nos mande uma foto antigq, do seu tempo de Catió:  foi furriel radiomontador, CCS/BCAÇ 1858, Catió, 1965/67; os dois casais são vizinhos, do Seixal, Lourinhã).



Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio >  Junto ao monumento aos combatentes: o professor Jaime Bonifácio Marques da Silva, elucidando a Maria Alice Carneiro  sobre alguns aspetos técnicos do monumento...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > O "capitão  pira"(António Miguel Franco)  e o "alferes velhinho" (Joaquim Jorge)... Na vida real, dois e velhos amigos, e vizinhos, embora de freguesias diferentes e "rivais" (Atouguia da Baleia e Ferrel).


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio >  Na hora da despedida: António, Joaquim e Eduardo, sob o olhar, já saudosista, do João...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio >  Dois régulos de tabancas do oeste estremenho... Régulos de peso!... Falamos do Joaquim Jorge (Ferrel, Peniche) e Eduardo Jorge Ferreira (Porto Dinheiro, Lourinhã).. Obrigado, camaradas pela hospitalidade e logística!... Para o ano,  haverá mais!... Até lá, que Deus, Alá e os bons irãs acocorados no alto do poilão da Tabanca Grande nos protejam a todos/as!

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de agosto de 2015 >  Guiné 63/74 - P15009: Convívios (702): 1º encontro da tabanca de Ferrel, 12 de agosto de 2015 - Parte II: seleção de fotos de António Manuel Fonseca Pinto

Guiné 63/74 - P15011: Parabéns a você (945): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série > 16 de agosto de  2015  > Guiné 63/74 - P15008: Parabéns a você (944): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

domingo, 16 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15010: Libertando-me (Tony Borié) (30): Queria fugir à tropa, uns dias antes de ir “às sortes”

Trigésimo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 11 de Agosto de 2015.




Queria fugir à tropa, uns dias antes de ir “às sortes”

Esta é a história de um companheiro de trabalho, lá no norte, em New Jersey, que connosco conviveu por mais de vinte anos.
Tudo começou numa aldeia de fronteira, na região de Bragança, onde tal como todos os rapazes da sua idade, querendo fugir ao serviço militar e, deste modo não irem parar à guerra em África, que na altura começara, pois a soberania Portuguesa, estava a ser ameaçada pelos diversos grupos organizados e armados que lutavam pela independência daquelas que o então governo de Portugal, considerava as suas Colónias do Ultramar.

O Joaquim, foge “a salto” para França. Não era difícil, pois o seu pai, além de rachador, amanhar umas pequenas leiras de terra, donde tirava parte do sustento para a família, também era “passador”, aliás, naquela zona, todos eram “passadores”, o Joaquim incluído, portanto ajudavam a cruzar a fronteira, eram contrabandistas, pois também ajudavam a circular produtos entre a fronteira, havia por ali muitos contactos, conheciam-se uns aos outros, tanto do lado de cá, como do lado de lá da fronteira, para eles tudo era seu território.

Algumas noites em que trabalhávamos juntos, ele contava que fora desta cultura, só lhes restava a agricultura ou trabalhar na montanha, cortando árvores. Pela manhã saíam para a montanha, algumas vezes guiando pessoas para atravessarem a fronteira, onde normalmente a ementa, pela manhã, antes de saírem de casa, era, meia panela de ferro com três pernas, com vinho trazido da adega, que era uma gruta feita debaixo das grandes pedras, que existiam junto do curral dos animais, vinho esse trazido num balde, que noutras alturas também servia para levar a comida a esses animais, a que juntavam broa, sobretudo côdeas, algumas já com bolor, que eram retirados da referida panela um pouco antes do braseiro a fazer ferver, que com um pouco açúcar, também de contrabando, que retiravam com uma colher feita de madeira dum grande cartucho de papel cinzento, comiam aquilo tudo e iam caminhar algumas léguas, descalços, antes de começarem a fazer funcionar o serrote e o machado.

Uns dias antes de ir “às sortes”, como ele nos dizia, o Joaquim larga o serrote e o machado e vem incluído num grupo de alguns candidatos a emigrantes, que ele mesmo ajudou a cruzar a fronteira, atravessando o norte de Espanha a caminho de França, pois para lá dos Pirinéus havia muito trabalho e alguma liberdade. Ele era um jovem desenrascado, sabia fugir a alguns polícias de fronteira, pois outros colaboravam, como sabia de lavoura, logo ficou a trabalhar numa quinta, na região do sul da França. Rapaz novo, depressa aprendeu a falar francês, não com técnica mas para se desenrascar, conheceu uma rapariga de nacionalidade francesa, a Michele, por quem se apaixona, ela corresponde a essa paixão, namoram e casam.

O Joaquim, depois de estar a algum tempo em França, o seu pensamento era constante, aqueles filmes que via dos “cowboys”, na altura até pensava que o actor John Wayne era o presidente dos Estados Unidos, fizeram-lhe criar no seu pensamento novos horizontes e, em alguns momentos, dizia para a Michele, “do lado de lá do Atlântico é que gostava de ir contigo, tenho um fascínio pela América, não sei bem porquê”. A Michele, aprovando tudo o que vinha da boca do Joaquim, concorda, e dizia-lhe: “se esse é o teu desejo, por que não o realizamos”.

Sem darem por nada estavam em Paris, em contacto com uma agência e, como a Michele era de origem francesa, a troco de algum dinheiro, depois de algum tempo os colocou em Nova Iorque, com passaporte de turista. A Michele tinha uns parentes na cidade de Filadélfia, estado de Pennsylvania, para onde se dirigiram. Foram trabalhar “dentro”, (na linguagem emigrante diz-se trabalhar “dentro”, quando normalmente um casal habita e trabalha na casa de seus patrões), para a casa de uns senhores, antigos diplomatas, já de uma certa idade. Ela ajudando na cozinha e em outros trabalhos, ele em trabalhos de fora, conduzindo ou jardinando, por um período de aproximadamente quatro anos, onde, com a colaboração de um popular advogado entre a comunidade portuguesa, que se dedicava em especial à emigração, na cidade de Newark, no estado de Nova Jersey, receberam toda a documentação legal para poderem residir e trabalhar nos Estados Unidos.


Deste modo, o Joaquim e a Michele procuraram finalmente começar a formar um lar, onde pudessem ter filhos e educá-los, pois era essa a sua “América”, ter, criar e educar alguns filhos. Com algum dinheiro que tinham amealhado, vieram para o estado de Nova Jersey, onde arranjaram trabalho e compraram uma casa. O Joaquim vai trabalhar na Multinacional onde nós mais tarde viemos a exercer a nossa actividade profissional, a Michele vai trabalhar numa fábrica de fazer utensílios domésticos, a que a comunidade portuguesa chamava a “fábrica das cafeteiras”.

Tiveram quatro filhos, o mais velho, o Zeca, é doutor, formou-se com uma bolsa de estudo por ser um atleta, jogava o futebol americano, correndo com uma velocidade bastante fora do normal. A Lizete é advogada, formou-se também com uma bolsa de estudo, porque era fora da média em matemática. A Michele, nome da mãe, é também advogada, os pais pagaram alguns estudos e com um financiamento do banco, que depois de se formar e começar a exercer a sua profissão, acabou de pagar a sua formatura. O mais novo, o Joca, é professor na universidade onde estudou, com a ajuda de uma bolsa de estudo, por ser, como a irmã Lizete, superior à media em matemática. Esta foi a fortuna deste casal.

Mais tarde a Michele, mãe, morreu da doença de câncer, depois de algum tempo sofrendo, o Joaquim, viúvo, já depois de requerer a sua aposentação, não quis ir para casa de nenhum filho e dizia-nos: “só vou incomodar, vou vender a casita e vou comprar perto da comunidade portuguesa, que vive naquela cidade, ao sul do rio Passaic, lá, ao menos nas ruas vou ver e falar com portugueses, vou ouvir o sino da igreja de Nossa Senhora de Fátima, vou lembrar a minha aldeia em Bragança, é aí que desejo morrer”.

Só mais um pequeno pormenor que nos faz lembrar esta simpática personagem, raramente ficava zangado, mas quando estava de mau humor falava-nos em francês, com alguns gestos de compreensão universal, o seu calçado, que ele dizia que era o seu “luxo”, era um par de botas altas, tipo “cowboy”, que usava até ficarem completamente gastas, comprando depois, outras iguais.

O Joaquim viveu mais alguns anos no meio dessa comunidade portuguesa, até que a morte o levou.

Paz à sua alma.

Tony Borie, 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14988: Libertando-me (Tony Borié) (29): Talvez seja o "nosso aspirante"

Guiné 63/74 - P15009: Convívios (702): 1º encontro da tabanca de Ferrel, 12 de agosto de 2015 - Parte II: seleção de fotos de António Manuel Fonseca Pinto


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Foto de grupo junto ao monumento aos comabtentes da guerra do ultramar... O Fonseca Pinto [que foi PM, Polícia Militar, não tendo sido nobilizado para o ultramar por ter sido o melhor classificado do seu curso] é o quarto a contar da direita para a esquerda: na primeira fila, Pinto Carvalho, Luís Graça, António Miguel Franco, Fosneca Pinto, Joaquim Jorge e Estêvão... O Fonseca Pinto, que foi bancário tal como o Jaoquim Jorge, é do luigar da Estrada,  freguesia da Atouguia da Baleia, concelho de Peniche...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > O Estêvão Alexandre Henriques, do lado esquerdo...  Está há muito convidado para integrar a nossa Tabanca Grande...  É natural de Fonte Lima, Stª Bárbara, concelho da Lourinhã, vive no Seixal e ainda é parente do Joaquim Jorge.

Com a especialidade de Radio Montador, embarcou para a Guiné a 18 de Agosto de 1965 a bordo do navio Niassa, chegando a Bissau a 24. Era furriel miliciano. Fazia parte da CCS/BCAÇ 1858. [Tem página no Facebook, clicar aqui].


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Joaquim Jorge, régulo da tabanca de Ferrel,  e Luís Graça, na hora do café, no Riclé Bar.


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Joaquim Pinto de Carvalho e Jaime Bonifácio Marques da Silva


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > Da direita para a esquerda,  Joaquim Pinto de Carvalho, Dina (mulher do Jaime), Jaime Bonifácio Marques da Silva e Santíssima Trindade (um dos nososs amigos comuns, que não foi combatente, e vive na Atouguia da Baleia)



Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > António Miguel Franco (ex-cap mil, no TO da Guie, 1973/74), Joaquim Jorge e Eduardo Jorge Ferreira... O Miguel Franco, um dos que "fechou a guerra" na Guiné, está também há muito convidado para integrar a Tabanca Grande...


Tabanca de Ferrel > 12 de agosto de 2015 > 1º Convívio > João Sacôto e Luís Graça


Fotos: © António Manuel Fonseca Pinto  (2015). Todos os direitos reservados  [Edição e legendagem: LG]

(Continua)
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15008: Parabéns a você (944): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14989: Parabéns a você (943): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Guiné, 1967/68) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)

sábado, 15 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15007: Convívios (702): Almoço comemorativo dos 50 anos do regresso da Guiné, do pessoal da CART 564, dia 3 de Outubro de 2015, em Paramos/Espinho (Leopoldo Correia)

1. Em mensagem do dia 14 de Agosto de 2015, o nosso camarada Leopoldo Correia (ex-Fur Mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar,Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65), mandou-nos a notícia do Almoço/Convívio comemorativo dos 50 anos do regresso a casa da sua unidade.


ALMOÇO/CONVÍVIO COMEMORATIVO DOS 50 ANOS DO REGRESSO DA GUINÉ DA CART 564

DIA 3 DE OUTUBRO DE 2015, EM PARAMOS


Caros camaradas
Mais uma vez "toca a reunir", desta feita para comemorar os 50 anos do regresso da Guiné a casa. 
São muitos anos e cada vez vamos sendo menos, mas as recordações não se apagam. 
Gostaria de contar com a presença do maior número possível de elementos, no dia 3 de Outubro, no mesmo restaurante "Casarão do Emigrante", junto ao Regimento de Engenharia de Paramos.

O preço é de 16 euros e vamos procurar variar um pouco a ementa.

Marcações até ao dia 25 de Setembro para os telefones: 964 024 918 ou 227 330 800.

Américo Loureiro
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14997: Convívios (701) 1º encontro da tabanca de Ferrel, 12 de agosto de 2015 - Parte I: ex-dois alferes milicianos do mesmo batalhão, o BCAÇ 619 (Catió, 1964/66) reencontram-se e abraçam-se meio século depois

Guiné 63/74 - P15006: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (5): Invasão a Conakry e, Entre Cacine e Cameconde

1. Parte V de "3 anos nas Forças Armadas", série do nosso camarada Tibério Borges (ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72).


3 anos nas Forças Armadas (5)

Invasão à Guiné Konakry

Estava eu de férias em S. Miguel quando ao ler os jornais comecei a ver toda a literatura Salazarista. Histórias rocambolescas. Eu que estava despolitizado, achei ridículo. Eu que estava na Guiné e nada daquilo condizia com a realidade.

Ao regressar a Cacine estava o grupo de comandos africanos que tinha tomado parte na operação. Segundo diziam eles, esperava-se retaliação por parte de Konakry. O que é certo é que o tempo se foi passando e nada aconteceu. Segundo contaram, a operação foi nocturna, em barcos. Não destruíram os Migs, libertaram os militares prisioneiros portugueses mas deixaram lá um pelotão que fugiu para se aliar as tropas de Sekou, e não apanharam Amílcar Cabral. As informações que o General Spínola possuía saíram algumas incertas mas na generalidade foram bem sucedidos.

A Operação Mar Verde é uma acção singular entre todas as realizadas durante a guerra, nos três teatros de operações. Na clássica divisão dos manuais militares, que consideram três grandes grupos de operações - convencionais, especiais e irregulares -, ela pertence ao grupo das irregulares, e foi neste âmbito a de maior envergadura, complexidade e impacte internacional.

Foi realizada para obter efeitos políticos directos através da execução de um golpe de Estado em país estrangeiro, a Guiné-Conacri, por militares portugueses a actuarem com uniformes e equipamentos das forças desse país e em conjunto com elementos estrangeiros oposicionistas ao Governo, prevendo a eliminação de um chefe de Estado, Sekou Touré.

Como escreve o comandante da operação, o capitão-tenente da Marinha Portuguesa Alpoim Calvão, no seu livro "De Conacri ao MDLP", que constitui a base de informações que sobre ela se conhece, a proposta que fez ao Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné tinha por objectivo principal a execução de um golpe de Estado na Guiné-Conacri, sendo os objectivos secundários a captura do líder do PAIGC, Amílcar Cabral, e a libertação dos militares portugueses prisioneiros que se encontravam em Conacry.

A operação, que nunca foi assumida por Portugal, aproveitou a existência de oposicionistas ao regime de Sekou Touré, disponíveis para participarem numa acção deste género, e visou a instalação, em Conacri, de um regime mais favorável às posições portuguesas. Para atingir este fim, foram equacionadas duas alternativas, uma prevendo a instalação no território da Guiné-Bissau de bases a partir das quais esses oposicionistas pudessem realizar acções de guerrilha no seu país, e a outra considerando o lançamento de uma operação rápida e decisiva. A análise de vantagens e inconvenientes levou os autores da proposta a optar pela segunda alternativa.

Seguiu-se um período de preparação essencialmente de âmbito político e das informações estratégicas, que envolveu o Governo de Lisboa, o Governo da Guiné e os serviços de informações de vários países, com a participação decisiva da DGS.

Por fim, realizou-se a operação militar propriamente dita, com o planeamento, a reunião dos meios, o gizar da manobra e a execução.

Este Comando às refeições comia um peixe grande inteiro e uma terrina de arroz.


Entre Cacine e Cameconde

O patrulhamento diário entre Cacine e Cameconde, passando pela Tabanca Nova, era uma tarefa diária de um dos dois pelotões sediados em Cacine. Esta tarefa abrangia todos os quatro pelotões ao dar-se a rotação mensal de Cacine para Cameconde. O maior perigo era transformar esta obrigação em rotina. Normalmente o perigo aparece durante a rotina e como tal era preciso estar sempre alerta.

O pelotão de milícias era o primeiro neste trajecto pois a picagem da rota estava à sua responsabilidade. Saíam da aldeia, onde moravam, mais cedo do que o pelotão de soldados que depois da formatura tomavam os seus lugares quer nos Unimogs ou Daimlers, quer na GMC que ia com lastro de sacos de areia, não fosse alguma mina rebentar.

A situação estratégica de Cacine era favorável a não acontecer algo de grave a não ser por flagelações e mesmo assim ficava fora do alcance das armas da altura. Aquela zona mais aberta no terreno estreitava para além da Tabanca nova, predominando uma floresta densa e intransponível. No meio duma floresta densa abria-se um círculo no qual residia o destacamento de Cameconde. Este era a defesa da retaguarda de Cacine que virada para o rio tinha como defesa natural as águas. Para entrar em Cacine pela retaguarda teria que se passar por Cameconde que numa hipótese de ataque a Cacine as hostes inimigas ficariam encurraladas. Esta deve ter sido a razão mais forte de Cacine nunca ter sido atacado.




Tabanca Nova ou Aldeia Nova

Entre Cacine e Cameconde existia um pequeno aldeamento que foi denominado Aldeia Nova em virtude da política do General Spínola albergar toda a população em novos modelos de tabancas. Estas eram feitas de blocos, palha misturada com barro ou terra, cobertas com chapas de zinco. Muitos nativos depois cobriram o zinco com a cobertura das suas tão naturais palhotas pois o calor em chapa de zinco dava para esturrar.

Nesta localidade fazíamos sempre uma breve paragem. Aconteceu numa dessas paragens que o soldado que ia na GMC tendo por responsabilidade a metralhadora Browning disparou uma rajada que por sorte não apanhou ninguém.




Cameconde

Cameconde era o último reduto do Sul da Guiné. Para além de Cameconde ficavam uns trilhos que iam dar a terras fora do nosso controlo (Cacoca ou Quitafine). Este destacamento já ficava ao alcance dos morteiros dos turras e como tal ao anoitecer chegava a hora “sexual”. Banho tomado, ouvido à escuta e todos os dias era esta tensão do ser ou não atacado à morteirada. Este destacamento possuía bons abrigos, feitos de betão ou cimento armado, uma boa camada de areia por cima e com troncos de árvores o que de certa forma dava para proteger de granadas que viessem a cair em cima.
Este destacamento ficava no meio do mato numa clareira aberta mesmo para implantar tropas neste ponto estratégico. Num ângulo do trilho que vinha da aldeia nova e que se desviava para o interior, Cameconde era uma autêntica prisão no meio da floresta. A guerra morava nesta zona.
Os patrulhamentos faziam-se no trilho que dava para além de Cameconde. Tudo era verde, um verde bonito, com as mais diversas aves a chilrear, bonitas, com os bandos de macacos que repentinamente nos assustavam e que ao longe pareciam cães a ladrar.
No início todos os ruídos eram estranhos mas aos poucos fomo-nos habituando ao mundo que nos rodeava. Lembro-me uma vez que ao ver um bando de macacos empoleirados nas árvores atirei um tiro acertando na mão dum deles. Toda a gente se atirou para o chão. E como gostava de desvendar fomos sempre em frente até uma zona em que ouvimos gente a falar. Segundo o comandante das milícias era uma aldeia que ficava ali.


Acordando depois de uma noite protegido com o mosquiteiro e a ventoinha ao fundo da cama e por dentro do mosquiteiro, tal era o calor. Muitas vezes acordava repentinamente com a ventoinha a bater-me nos pés. Outras vezes acordava com os pés fora do mosquiteiro e cheios de mosquitos. Sei que tomava os meus comprimidos e nunca apanhei doenças tropicais.


O corte do cabelo era obrigatório e para isso havia barbeiro na companhia. Cercados, sem nada para fazer, as brincadeiras faziam parte do dia a dia. Imitar o barbeiro era uma delas.



Como nem sempre a cerveja sabia bem, dependia do momento, antes de sair para um patrulhamento colocava no congelador do frigorífico, que trabalhava a petróleo, umas três latas de leite, vindos da Holanda.



Em Cameconde havia a artilharia pesada, o obus 14, um meio essencial na nossa defesa e que segundo informações que tínhamos metia muito respeito ao outro lado da barricada. Atingia uma distância muito boa e para bater zonas mais perto dispúnhamos do morteiro 80 e 60, cujas granadas varriam a zona periférica do destacamento. Para colocar a granada no obus 14 eram normalmente dois homens que o faziam. Era um rebuçado com 45 kg. Estas armas de artilharia estavam protegidas com bidões cheios de terra ou areia.
Na nossa companhia os diversos sectores, artilharia, Daimler e companhia que englobava comunicações, mecânica e pelotões, eram independentes na rendição. Evidentemente todos sob o comando do capitão.






Como tinha a especialidade de minas e armadilhas, o paiol estava por minha conta. A requisição de munições era feita na medida das necessidades, com antecedência. Ao chegar a Cacine havia muitas munições fora de prazo e já com ferrugem pelo que adquiri novo material. Com o material velho comecei a minar Cameconde, um nada dentro da floresta.

E chegou a nossa vez de sermos rendidos.

(Continua)

Texto e fotos: © Tibério Borges
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Nota do editor

Poste anterior da série de 5 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14974: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (4): Cacine

Guiné 63/74 - P15005: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXVI: março de 1974: regresso a casa 27 meses depois...

1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)


[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].



O destaque do mês de março de 1974 (cap II, p. 89) vai para:o fim da comissão do BART 3873, no setor L1,  e sua partida para Bissau, de LDG, em 8 de março. Acerimónia de despedida teve lugar no quartel do Depósito de Adidos em 21. No início de abril, o pessoal começou a regressar à metrópole atravaés dos TAM - Transportes Aéreos Militares. Vinte e sete meses depois da partida (que fora em finais de 1971)...

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15004: O segredo de... (24): Segredo desvendado (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 8 de Agosto de 2015:


Segredo desvendado*

Num certo dia, quando estávamos quase em fim de comissão, depois do jantar o capitão chamou-me, e disse-me:
- Mande preparar o pelotão para, pelas sete horas de amanhã, escoltar uma coluna de viaturas, para Farim.
- Qual a finalidade? - Perguntei-lhe.
- Trazer um envelope, com oitenta contos, para pagamento ao pessoal nativo.

De imediato tomei as medidas necessárias para que no amanhecer do dia seguinte tudo estivesse pronto para ir a Farim.

Acontecia que as lanchas da Marinha, que patrulhavam o rio Cacheu, acostavam muitas vezes no cais de Binta. Foi o que aconteceu naquela noite. Como tinha um bom relacionamento com os marinheiros, fui jogar cartas para uma das lanchas.

Em conversa normal, disse ao patrão da lancha que na manhã seguinte ia a Farim.
- Que vão lá fazer? - Perguntou-me.
- Buscar o dinheiro para pagar ao pessoal nativo. - Respondi-lhe.
- Se é só isso, - continuou ele ., nós damos-te boleia.

Aproveitei a disponibilidade dos marinheiros e combinei aparecer no cais, às sete horas do dia seguinte. Entretanto, avisei os furriéis no sentido de manter o pelotão pronto para sair, mas que isso talvez não fosse necessário.

Quando regressei, para dormir, o capitão não estava. Esfreguei as mãos de contente, pois não se podia queixar, ou acusar-me de não lhe ter dito.

Às sete da manhã, quando fui para o cais, ele dormia. Esfreguei de novo as mãos. Entrei na lancha, pelas nove horas levantei o dinheiro na secretaria do batalhão, e regressei a Binta, todo satisfeito, ao leme da lancha, feito turista.

Desembarquei, agradeci a gentileza aos marinheiros, e entreguei o dinheiro ao sargento da companhia. O capitão continuava a dormir.

Entretanto, o sargento mandou chamar os caçadores nativos, para proceder ao respectivo pagamento. O espaço onde funcionava a secretaria ficava ao lado do quarto do capitão. Quando chegaram para receber, os nativos fizeram barulho, e o capitão acordou, mas mal disposto.

Ainda em trajes menores, abriu a porta do gabinete e foi perguntar ao sargento:
- Mas que barulho é este? O que se passa aqui?
- Não se passa nada. Estou a pagar a este pessoal.

Sempre com voz exaltada continuou:
- O Gonçalves já chegou?
- Já, meu capitão. - Respondeu-lhe. Já me entregou o dinheiro.
- É um irresponsável. Não picou a estrada.

E mandou-me chamar.
Quando estava, já, na presença dele, vociferou um palavrão, e disse-me:
- É um irresponsável. Não picou a estrada.
- Não foi necessário. Fui a Farim, na lancha da Marinha.
- Não foi pela estrada?
- Não. Arranjei boleia.
- Desobedeceu a uma ordem! Isso é grave!
- Pois desobedeci. Mas a companhia tem falta de gasolina, e eu poupei.lhe algumas dezenas de litros. E poupei o pessoal, que anda cansado, até doente. Mais, a mais, no rio ainda não há minas.
- Vou dar-lhe uma porrada.

Naquele momento, a conversa ficou encerrada.
Ainda nesse dia, o sargento veio ter comigo, dizendo-me:
- Olhe que o capitão vai mesmo dar-lhe uma porrada.
- A sério?
- Sim, a sério. Já me pediu o RDM, para ver o castigo a aplicar.

Naquela altura, quase no fim da comissão, uma porrada era algo complicado. No entanto, disse ao sargento:
- Diga-lhe que eu até esfreguei as mãos, de contente, quando me falou no assunto. A tal porrada, não vai ser um castigo, mas sim um prémio.
- Um prémio?
- Sim, um prémio. Não terei mais de o aturar. Quer prémio melhor?

Não sei se o sargento trocou com o capitão mais alguma conversa, sobre o assunto. O certo é que os dias foram passando, e acabei por não sofrer porrada nenhuma.
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Notas do editor

(*) Outro segredo de Domingos Gonçalves no poste de 7 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14981: O segredo de... (22): O problema não eram os pecados, - os nossos segredos -. O problema acontecia quando quem mandava em nós desvendava os pecados (Domingos Gonçalves)


Último poste da série de 10 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14991: O segredo de... (23): Histórias escondidas com o rabo de fora (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P15003: Notas de leitura (747): “A Epopeia da LDM 302”, por A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
Não deve haver história mais rocambolesca de uma lancha da Armada como a 302 que A. Vassalo descreve com vivacidade e grande didatismo.
Primeiro, contextualiza a guerra e revela quais as unidades da esquadrilha de lanchas na Guiné. A 302 entra em cena, parece afundar-se, os seus marinheiros revelam heroísmo, recuperada volta a atividade e incendeia-se, será novamente rebocada até Ganturé. Recuperada, não voltará ao rio Cacheu, estará operacional no rio Grande de Buba.
Nesta sua nova área de atuação, virá novamente a ser atacada, na foz do rio Uajá. Irá ser desmantelada depois de toda esta saga em Novembro de 1972.
A. Vassalo homenageou tocantemente uma lancha e quem nela combateu, pena é que esta BD não tenha mais notoriedade e possa ser facilmente adquirida.

Um abraço do
Mário


A Epopeia da LDM 302

Beja Santos

A. Vassalo é um nome já conhecido dentro da nossa confraria, em termos de BD relacionada com a guerra da Guiné é mesmo um nome proeminente que dispomos. Publicado pelas Edições Culturais da Marinha em 2011, a BD “A Epopeia da LDM 302” não desiludirá os aficionados e mesmo de quem gosta de história. O blogue dos especialistas da Base Aérea 12, sempre atentos ao que se publica sobre o nosso território de bolanhas e lalas, já tinha dado notícia pormenorizada que, com a devida vénia, aqui se reproduz:

“A LDM 302 foi aumentada ao efetivo dos navios da Armada em 18 de Janeiro de 1964. Chegou à Guiné Bissau a bordo de um navio da Marinha Mercante. Era seu patrão de então o marinheiro de manobra n.º 2156, Aristides Lopes. Após um curto período de adestramento da guarnição, foi atribuída ao DFE 2, ao qual competia a fiscalização da zona do rio Geba. De 9 a 11 de Abril, pela primeira vez, em conjunto com a LDM 101, 201, LFG Escorpião, LFP Canopus e os DFE’s 8 e 9, foi incluída numa missão de apoio e transporte de fuzileiros, levada a cabo no rio Cumbijã.

Em 22 de Abril, conheceu o batismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM’s procedia a um desembarque de fuzileiros, o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque.

No dia 22 de Julho, foi atacada pela segunda vez, desta feita no rio Cacheu, em Porto de Coco. O inimigo, emboscado nas margens, utilizou metralhadoras pesadas e morteiros, sem consequências. Durante o resto do ano de 1964, tomou parte em várias operações do rio Geba e recolheu ao Serviço de Assistência Oficinal, para benfeitorias, protegeu-se com chapa balística a casa do leme e o escudo da peça Oerlinkon de 20mm.

1965 veio a revelar-se para a LDM 302 um ano muito duro. No dia 4 de Fevereiro, em frente de Tambato Mandinga, no rio Cacheu, foi violentamente atacada mas margens com morteiros e metralhadoras ligeiras, sofrendo trinta impactos no costado e superestruturas. A lancha foi atingida e com o patrão gravemente ferido ficou sem leme, entrando pelo tarrafo da margem norte. Os ramos vergaram de imediato e, de seguida, ao recuperarem a posição normal, projetaram LDM que recuou, ficando à deriva. A lancha metia água e afundava-se rapidamente de popa. Sentindo, de todo, que o navio estava perdido, os artilheiros viram-se forçados a abandonar a peça, tentando então o telegrafista socorrer o patrão. Fez um esforço para o por de pé mas foi de todo impossível. Fora atingido em cheio, estava quase cortado em dois.

O inimigo deixou de fazer fogo. O telegrafista, o mais antigo depois do patrão, assumiu o comando e deu ordem para abandonar a lancha. Arriaram então o bote de borracha, colocaram lá dentro o patrão, nessa altura já morto, os papéis de bordo e uma G3, dirigiram-se para a margem e esconderam-se no tarrafo. Era imperioso ir alguém a Bigene, o aquartelamento do Exército mais próximo, situado a cerca de 3 quilómetros e regressar com socorros. Sendo os restantes elementos novos na guarnição e o telegrafista o único conhecedor da zona, empunhou a arma e foi ele próprio, conseguindo lá chegar coberto de lama e sem percalço pelo caminho. Entretanto, a LDM 304, que navegava não longe do local, alertada pela ruído das explosões, dirigiu-se ao local, deparando, para espanto da guarnição, com uma lancha totalmente afundada. Passaram-lhe um cabo de reboque e seguiram rio abaixo, avistando pouco depois os sobreviventes que embarcaram. Mas nesse dia a má sorte acompanhava a LDM 302. Ao aportarem a Ganturé, local escolhido para encalhar a lancha, o artilheiro Carvalho, que saltara do bote para a 302, a fim de manobrar os cabos de reboque, caiu à água e nunca mais foi visto.

A LDM 302 seria rapidamente recuperada e voltaria a navegar. No dia 4 de Outubro, no rio Armada, um afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, foi atacada das margens, resultando dez feridos ligeiros. Novamente, em 28 de Outubro, a leste de Farim, na margem do Cacheu, foi alvejada sem consequências. Foi de relativa tranquilidade 1966. Trágico viria a revelar-se o ano de 1967. A 19 de Dezembro, pelas onze horas, a 302 descia o rio Cacheu, margens de tarrafo denso a entranhar-se pelo rio. No leme, o patrão, marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros; nos seus postos, junto à Oerlinkon, os marinheiros artilheiros Manuel Luís Lourenço e Silva e Manuel Santana Carvalho; no posto telefonia, o marinheiro telegrafista Joaquim Claudino da Silva; e na MG 42 o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira. A lancha deixara para trás uma das muitas curvas sinuosas do rio e passava frente à clareira de Tancroal. Subitamente, observaram-se fumos na margem sul à boca de peças e, quase de seguida, fortes rebentamentos. O navio estremeceu violentamente e os motores paravam. Estavam sob violentíssimo ataque de canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras”.



Página alusiva ao ataque que a 302 sofreu em Porto Coco, em 19 de Dezembro de 1967, em que tudo parecia acabado

Confronto no rio Cacheu em 19 de Junho de 1969, incêndio na 302. Resta dizer que no dia 27 de Junho de 1972, a 302 passou à situação de desarmamento, parar ser abatida em 30 e Novembro desse ano. Acabava assim a saga de uma lancha que foi uma autêntica Fénix Renascida.
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Nota do editor

Último poste da série de > 10 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14990: Notas de leitura (746): O “Ericeira”: nos primórdios da BD sobre a guerra colonial (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15002: Blogpoesia (419): as romarias do Portugal profundo que teima em não morrer...(J. L. Mendes Gomes)


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz  > Girassol, símbolo do nosso querido mês de agosto, o mês das festas do Portugal profundo que ainda teima em não morrer... Os mais velhos, nas aldeias do interior, queixam-se de que os mais novos não querem mais saber das tradições populares...


Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados




O poeta J. L. Mendes Gomes,
ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66;
autor de Baladas de Berlim
 [Lisboa, Chiado Editora, 2013, 229 pp.]
Romarias

por J. L. Mendes Gomes


Em Agosto multiplicam-se as        
               [festas pelo meu País.
Há foguetes.
Se estreiam roupas.
Fazem-se farnéis
e, pela sombra fresca,
sobe-se aos montes.
Fazem-se festadas.
Toca-se viola.
Dançam as moças,
estremecem-lhe os seios,
mostram as pernas.
à rapaziada.

Até os pedintes,
de mão estendida,
expõem as chagas,
morrem de esperança.
Há o sermão de entrada.
Das boas vindas.
Um prégador distinto.
E, pelas tendas de pano,
serve-se o vinho,
caneca ou canada.

Tanta alegria brilhando nos olhos.
E a pequenada corre atrevida,
ao meio da mata,
no foguetório.
Buscam as canas
para o papagaio.
Na procissão, passam andores,
nos ombros bem firmes
da rapaziada.
Chovem flores.
Há rosmaninho.
Anjinhos que choram,
vão de mão dada.
E os corações batem tão quentes.
Se enlaçam as famílias.
É dia de festa!...

Mafra, 1 de Agosto de 2015, 17h50m

Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14913: Blogpoesia (418): J. L. Mendes Gomes, em mês de aniversário natalício: seleção de cinco baladas de Berlim, Roses e Mafra