terça-feira, 26 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18780: Historiografia da presença portuguesa em África (120): O primeiro voo, ligando Lisboa a Bolama, em 1925, e a primeira tentativa de usar a aviação com fins militares naquele território (Armando Tavares da Silva) (Parte I)





Lisboa > 1955 > O caça F-84, a ser descarregado, de um navio da armada dos EUA, no cais do Poço do Bispo.

Fotos ( e legenda): © Armando Tavares da Silva (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 4 do corrente, :do nosso amigo e grã-tabanqueiro Armando Tavares da Silva, historiador, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926”:

Caro Luís Graça,

A publicação do Post P18647 de 18.5.2018 relativo ao voo dos caças F-86 para a Guiné – Operação ATLAS (*) – fêz-me rever o que havia escrito sobre os primeiras desejos e tentativas de utilizar na Guiné a aviação com fins militares.

Como naquele Post se mencionam os caças F-84 (e que foram deslocados para Luanda com o início da guerra em Angola), ao texto que segue [sobre o raide Lisboa-Bolama em 1925]  junto algumas imagens por mim tiradas e que mostram os F-84 a serem descarregados de um navio da armada dos EUA no cais do Poço do Bispo, aquando da sua chegada a Lisboa em 1955. Pode ver-se que ainda mantinham o distintivo da USAF, e a respectiva numeração.

Anexo ainda algumas imagens tiradas de um texto da Net sobre o raide Lisboa-Bolama, o primeiro voo para a Guiné (1925), e que em parte utilizei.

Abraço,
Armando Tavares da Silva

(Continua)
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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18779: O segredo de... (31): António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)... O senhor alferes que estava mesmo a pedir... uns abatises, à hora do almoço, no cruzamento da estrada Bula / Binar / Pete


Guiné > Região Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71) >  A AM [autometralhadora] Panhard, insubstituível companheira das nossas colunas.

Foto (e legenda): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem de António Ramalho, com data de 20 do corrente

Caro Luís Graça boa noite.

Não me recordo dessa aventura do Victor Garcia (*),  talvez estivesse em Bissum, mas há uma que ele e todos os elementos do nosso Pelotão se recordarão ao consultar o nosso Blogue,  que envio em anexo.

Se achares interessante,  publica-a.

Um forte abraço para todos.


2.  Abatises à hora de almoço no cruzamento 
da estrada Bula/Binar/Pete

por António Ramalho

[ ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas]

Numa vinda matinal a Bula, uma coluna de Pete, comandado pelo senhor alferes Queirós, este ao chegar ao cruzamento decidiu afinar a pontaria na placa de madeira indicativa de Capunga com a sua Walther!

Era um militar destemidíssimo! Assistimos à prova bélica impávidos e serenos sem lhe darmos a devida importância, como ele certamente esperaria! 

Perplexos com tão inusitada atitude e atentado à nossa propriedade, não hesitámos [, o Grupo de Combate destacado em Capunga,] em presenteá-lo com uma merecida surpresa de regresso a Pete com a devida autorização e cumplicidade do nosso alferes, outro militar destemidíssimo!

Dado haver algumas árvores caídas por velhice, arrastámo-las para a estrada,  formando uma enorme mancha arbórea que provocou um enorme susto à rapaziada! O senhor alferes e restante comitiva, que regressava de Bula, a caminho de Pete, colocaram-se em posição ofensiva /defensiva com um enorme “fogachal” que foi ouvido em Bula!

Comunicações para cá e para lá, não me recordo se houve apoio do Pelotão de Panhards,  sedeado em Bula!

Desmascarada a brincadeira, foi abafada, o IN ficou com as culpas, desobstruiram a picada e lá seguiram para Pete onde um lauto almoço os esperava!

Em pleno teatro de guerra,  estas brincadeiras poderiam ter dado mau resultado, estávamos a pouquíssimos quilómetros do Choquemone, importante base do IN, mas, pronto, já fazem parte da história!... Aqui fica o meu "pequeno segredo"...

20/6/2018


Guiné > Região do Cacheu > Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bula,  Capunga, Binar e Pepe.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18778: Agenda cultural (644): Convite para a Inauguração da Exposição de Pintura de Adão Cruz, dia 30 de junho de 2018, pelas 16h00, na Galeria Zeller, Rua 14, n.º 750, em Espinho



Inauguração da exposição de pintura de Adão Cruz 
"... como um dia de Primavera nos olhos de um prisioneiro" 

30 de Junho de 2018, pelas 16 horas
Galeria Zeller, Espinho 

Patente até 30 de Julho de 2018


Adão Cruz,  Médico Cardiologista. 
Nasceu em Vale de Cambra há oito décadas. 

********************

Como prisioneiro atrás das grades, sempre amou a Liberdade do Pensamento e da Razão, a verdadeira riqueza do ser humano. Foi com este amor que sempre sonhou libertar-se ao longo da vida pelos caminhos da ciência, da escrita e da pintura.

Ao fim de uma vida, o futuro vai-se naturalmente dissolvendo, entre a razão e o sentimento, dentro de um ser humano preso à sua natureza antropocêntrica. A desilusão, como subtil nevoeiro, vai invadindo todos os cantos e recantos onde antes havia sol. 

Ao fim de uma vida, para a vida entender, o ser humano já não precisa dos caminhos da arte e da poesia, principais sentimentos que sempre o conduziram à interface entre o Homem e a sua dimensão universal. Contenta-se com a restrita paisagem de um dia de Primavera, atrás das grades da sua ‘mente cultural’. Ele sabe que isso o derrota e, paradoxalmente, o alivia. Ele sabe ainda que são escassos os dias de Primavera, mesmo que a parte sã da humanidade procure tecer o ciclo da vida com fios de esperança. Ele sabe que há dias de penoso inverno que a parte mais podre da humanidade aproveita para romper o ciclo da vida rasgando a esperança. Ele sabe, ao fim de uma vida, que o estatuto de cada ser humano assenta num contexto de vivências e memórias que fazem o futuro e o desfazem na altura própria, sendo o último suspiro o momento mais democrático da nossa existência. Por isso as lágrimas secam e os olhos passam a ver a vida humana com outros olhos. 

Por isso, esta singela exposição de pequenos gestos que se alimentam de corpos e sentimentos, na procura de uma última homeostasia entre a natureza humana e a humanização da vida. 

Adão Cruz

********************

O Adão Cruz é um grande pintor e encanta-me o entrosamento perfeito do homem com a obra como acontece entre ele e a sua pintura. Conhecê-lo é verdade que me ajuda a fazer esta afirmação, mas já expôs em alguns países, tem aparecido em tantas mostras que muitos mais saberão encontrar essa estreita identidade. A sua arte não é inócua, sem que, contudo, obedeça a qualquer cânone. 

Fossem as palavras os interlocutores felizes para desvelar a ligação entre a serenidade e o conflito que se digladiam na sua pintura, e eu saberia em que recantos da paleta as ir buscar. As cores e as formas não me deixam. Elas tanto gritam como sussurram, tanto apelam às raízes como ao sol e às invernias da árvore da vida, aos vendavais do mundo. E não toleram que lhes toquemos. ‘Podes intuir, mas não venhas perturbar-nos’ avisam mal me vêem por perto. No entanto, sabem que não me são indecifráveis porque à pintura do Adão Cruz nada é indiferente e deixa um ténue fio por onde se pode chegar à teia dos afectos e das revoltas que a permeiam, por vezes apenas ao puro reino da beleza. 

Mas não me vencem! Como se se pudesse perder o que ainda é humanidade e, se não nos salva, nos reafirma neste caminho de altos e baixos das montanhas e das planícies, das marés vazias e do mar alto da existência. 

Tudo lá está nos quadros do Adão Cruz. 

Augusta Clara de Matos 

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Tomei contacto com a obra de Adão Cruz tardiamente no blogue ‘Estrolábio’, onde ambos colaborávamos, despertando de imediato a minha atenção. De seguida, chegou-me o convite para a inauguração da sua exposição ‘rente ao cair da folha’, na Galeria Zeller, em Espinho, a que não pude assistir por razões profissionais. Na manhã do Sábado seguinte, fui o primeiro visitante da exposição, tendo tido o privilégio de a percorrer sozinho. Momento de felicidade que a vida me proporcionou! 

Ao primeiro olhar fui de imediato atraído pela cor e, de seguida, pela luz, por uma luz que afasta a escuridão, ajudando-nos a ver o que, às vezes, os olhos não detectam. Depois, ao passar de um quadro para outro, algo me obrigava a regressar ao anterior por sentir, nesse curto afastamento, que havia mais um pormenor a atrair a minha atenção. O diálogo entre mim e o autor estabeleceu-se, a pintura do Adão levava‑me a ver o real muito para lá do que a minha simples visão me permitia quando olhava esse mesmo real, ajudando-me assim a procurar a verdade, a procurar a resposta para alguns dos enigmas com que somos confrontados. Regressado a casa, sentei-me ao computador e escrevi quase tudo o que senti nesse diálogo com a pintura do Adão. 

A necessidade de conhecer toda a sua obra nasceu em mim. 

Lia a sua poesia, lia a sua prosa e a sua pintura logo se me tornava presente, seguindo-se o necessário encontro pessoal, que aconteceu por mero acaso. O médico, o pintor, o poeta, o contista faz do seu saber e da sua arte uma das formas de actuar em prol do humano, numa acção, que é também política e social, assim contribuindo para a necessária transformação do mundo em que vive. 

António Gomes Marques
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Notas do editor:

O Dr. Adão Cruz foi Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 e esteve em Canquelifá e Bigene nos anos de 1966 a 1968

Último poste da série de 18 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18753: Agenda cultural (643): Convite: 19 de junho, 3ª feira, às 18h30, no Museu Bordalo Pinheiro, Campo Grande, 382, Lisboa: conversa de João B. Serra sobre a cerâmica artística do pai do "Zé Povinho"... Convite

Guiné 61/74 - P18777: Fotos à procura de...uma legenda (106): "As sobras do rancho da tropa"... e as latas de conservas, "made in Portugal", que as crianças levavam à cabeça (Valdemar Queiroz / Museu de Portimão / Virgílio Teixeira)


Foto nº 1 A


Foto nº 1

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > "As sobras do rancho da tropa"... [as crianças da vizinhança que vinham, de lata, à cabeça, recolher as sobras dos ranchos e das messes dos nossos aquartelamentos; na foto, pelo menos três delas trazem latas, amarelas, de vários tamanhos,  de conservas de peixe, da marca (branca) "Manos" ou "[Her]manos", da empresa conserveira de Portimão La Rose - Feu Hermanos, fundada em 1902]


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem, com data de 22 do corrente,  do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]:

Assunto: Esclarecimento de uma curiosidade

Boa tarde Luís Graça.

Antes de mais os meus cumprimentos e bom regresso de férias.

A interessante fotografia 'rancho dos pobres' [foto nº 1], do Virgílio Teixeira (*), dá pano para mangas. Eu, que sempre fui bom observador, descobri o... 'MANOS' na lata amarela à cabeça do rapaz ao lado da rapariga de vestido branco [vd. foto nº 1A].

Depois lembrei-me do Museu de Portimão, quase todo ele inserido na antiga Fábrica de Conservas Feu Hermanos.

Depois contactei com o Museu para esclarecimento da minha curiosidade.

Parece muito provável que o djubi tenha à cabeça uma peça de museu.

Luis, se achares interessante publica esta minha troca de emails, com o Museu de Portimão, para esclarecimento da minha curiosidade.

Um grande abraço
Valdemar Queiroz


2. Mensagem de 21 do corrente, enviada pelo Valdemar Queiroz ao Museu de Portimão:

Assunto: Esclarecimento de uma curiosidade

Exmos. Senhores

Boa tarde.

Antes de mais quero enaltecer o extraordinário desempenho para a Cultura a actividade do Museu de Portimão.

Assisti há dias, na RTP2, ao programa 'Visita Guiada' no Museu de Portimão e fiquei encantado.

Agora e por razões de frequentador/comentador no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, cujo principal conteúdo é o convívio/recordações dos tempos passados na guerra colonial, na Guiné, e não só, surgiu uma curiosidade sobre a extraordinário fotografia 'o rancho dos pobres', de autoria do ex-alferes miliciano Virgílio Teixeira (*).

A fotografia, do ano de 1968, é uma chapa do que habitualmente acontecia: crianças de lata na mão à espera das sobras do rancho da tropa.

Esta fotografia, embora comovente, não representa aparência real e apenas tem um ar sério por se tratar de 'vamos a estar quietos para todos ficarem na foto', bem pelo contrário do que, agora, acontece com as crianças engaioladas nos EUA.

Mas a fotografia levantou-me a curiosidade de me parecer que o rapaz mais crescido, que está ao lado da rapariga de vestido branco, ter à cabeça uma lata amarela de conservas Feu Hermanos. Será?

É esta curiosidade que eu gostava ficar esclarecido e ter um motivo, não só para enaltecer o Museu de Portimão, mas também dar a conhecer que na fotografia aparece um rapaz com uma peça de museu á cabeça.

Agradeço a Vossa melhor atenção.

Os meus respeitosos cumprimentos.

Valdemar Queiroz da Silva


Foto da página inicial do sítio Museu de Portimão (que está instalado na antiga fábrica de conservas La Rose - Feu Hermanos. fundada em 1902). Foto reproduzida com a devida vénia...

[É um dos museus portugueses mais premiados, a nível nacional e internacional, tendo-lhe sido atribuídos, desde a sua abertura em 2008, tendo ganho nomeadamente o Prémio “Museu Conselho da Europa 2010”, atribuído pelo Conselho da Europa, o Prémio “DASA – Mundo do Trabalho 2011”, primeira edição deste prémio atribuído na cidade de Dortmund, na Alemanha.]

3. Resposta do Museu de Portimão:

Boa tarde,  Valdemar Silva,

De facto parece ser uma das latas produzidas pela Feu Hermanos, só é pena que o braço do jovem não permite mais leitura, mas tendo em conta que a política de exportação para África era mais "marca branca" do que enviar outras marcas prestigiadas como era o caso da "La Rose", é bastante provável. E obrigado pelos elogios que nos coloca!

Votos de um bom fim-de-semana.

Com os melhores cumprimentos,

Pedro Branco
Museu de Portimão
Rua D. Carlos I – Zona Ribeirinha
8500-607 Portimão

Portugal

Tel: +351 282 405 232 | Fax: +351 282 405 277
museu@cm-portimao.pt
www.cm-portimao.pt


4. Comentário do editor:

Parabéns, Valdemar, és um grande observador, ou não fosses um "comercial", batido, treinado e experimentado... Pois claro que vamos publicar... Ampliando a foto, não há dúvida que a lata, amarela, que o miúdo (o "djubi", à esquerda da miúda de branco) leva à cabeça, ostenta as letras da marca "MANOS" (ou "[HER]MANOS"... Inclino-me mais para a primeira hipótese, "MANOS", e de se tratar de um lata de atum, talvez de um quilo... A lata que a "bajudinha" leva à cabeça, embora também de cor amarela, parece ser de outra marca, e de outro produto...

A indústria conserveira portuguesa sempre ganhou com as guerras... Muito conserva de peixe (atum, cavala e sardinha...) se consumiu nos nossos "ranchos", de todas as maneiras e feitios, acompanhadas com feijão, arroz, massa, esparguete,  etc. Hoje adoro conservas de peixe ("portuguesas", que são as melhores do mundo, e um autêntico produto "gourmet"...), mas durante anos não suportava sequer o seu cheiro... O que chegava à Guiné, no tempo da guerra,  devia ser o que não se exportava... 

Já mandei ao Virgílio Teixeira, em primeira mão, para ele poder comentar. Ab, Luis


5. Comentário do Virgílio Teixeira, com data de 23 do corrente:



Olá, Luís.

Obrigado pela prioridade. Realmente esta foto não vai ficar por aqui.

Acho que o Valdemar Silva tem olho clínico, para mim isto é mais uma das 1000 fotos que estavam no baú das recordações que iriam para o lixo um dia, quando passasse para o lado daqueles "que da lei da morte se foram libertando"...

Sucintamente, já não tenho duvidas de que se trata dessa peça de museu, já vi na página do Museu de Portimão, caixas muito parecidas e a cor amarela e o tipo de letra não deixa margem para dúvidas. Mas vou mais longe, acho que estão lá mais 3 latas dessas, só que não se percebe o nome, mas o estilo é o mesmo.

Como foram lá parar à tropa conservas de tanta qualidade? Não sei. Eu nunca vi, mas eram latas grandes para servir nas messes e cantinas, não era uso individual. Posso adiantar,  por exemplo, que poderão ter vindo da África do Sul, país de onde vinha tanta coisa que não havia em Portugal, as águas Perrier, a Coca Cola, todas as bebidas e tabaco do mais caro na altura no mundo, bem como, tanta lata de conservas de frutas, ananás, pêssego, pêra,  tudo em calda, isso lembro-me bem, comia muita fruta dessa.

Se não era da Africa do Sul, poderia ser de outro país europeu para onde a marca exportava, e porque eram latas de qualidade, pela amostra que vemos, ali na foto estão 4 dessas espécies.

Vamos explorar mais este assunto, e podes á vontade publicar no Blogue, podem vir mais comentários para chegarmos lá, e ainda vamos mandar para o Museu de Portimão a foto representativa daquilo que agora vou chamar de «As sobras do rancho da tropa na Guiné" (**).
Vou mandar cópias disto para a minha nora, pois ela é especialista em Museus etc.... Pode ser que ela nos dê uma ajuda, e assim o nosso trabalho nunca será esquecido. 

Ab, Virgílio





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > "Laranjada Convento / Mafra / Marca registada"... Restos arqueológicos de uma guerra... e que hoje figuram no Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Foram-nos enviadas pelo nosso saudoso amigo e grã-trabanqueiro Pepito, o o engº Carlos Schwarz da Silva (1949-2012), na altura diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau.

Na imagem pode ler-se: "Composição: Sumo - Popa e óleo de laranja - Açúcar granulado - Água esterelizada / Corado artificialmente / Fabricado por Francisco Alves & Filho Lda / Venda do Pinheiro"...

Houve muita gente, na Metrópole, a ganhar dinheiro com a guerra, a começar pelos industriais do sector agroalimentar ... Ainda conheci o Sr. Francisco Alves e um dos seus filhos, quando trabalhei na administração fiscal em Mafra, em dezembro de 1973, num "jantar de Natal" que ele ofereceu ao "pessoal das Finanças", como era da tradição: foi na fábrica, em Venda o Pinheiro, tudo muito bem "regado", eu, que era "novato" no ofício e na repartição, não me membro de ter bebido "produtos da casa"... Constava que o seu sucesso, nos negócios, tinha começado no tempo da guerra de Espanha (1936-1939)...

Uma das marcas famosas da firma era a Laranjinha C, cuja história, ao que parece, remontava  já  a 1926, "ano da fundação da empresa Francisco Alves e Filhos, na Venda do Pinheiro", e "em que o empresário Francisco Alves começou a produzir pirolitos, para além de outros refrigerantes".

(...) "As garrafas da empresa ostentavam a forma da mole granítica de Mafra e a designação de Convento, mas apesar da fama conquistada, só ocasionalmente, a distribuição das bebidas ultrapassava os limites do concelho de Mafra. Com o final da 2ª Guerra Mundial, a empresa dá o grande passo e lança no mercado a Laranjina C, com a sua garrafa original e distribuição a nível nacional. A marca Larangina C, teve um período de ouro, com publicidade constante na televisão, um grande prémio de ciclismo, e chegou a patrocionar a equipa de ciclismo do Sporting.  No ano de 1970, através de um acordo com a multinacional Gesfor, é introduzida em Portugal a marca TriNaranjus, um produto natural, SEM BORBULHAS e com verdadeiro sumo de fruta. Nesta altura, a família Alves vê-se forçada a optar por uma das marcas produzidas. Em 1990, a empresa da família Alves, foi adquirida pelo grupo Cadbury-Schweppes Portugal, SA." (...)

Na Guiné (como de resto nos outros Teatros Operacionais), o "ventre da guerra" obrigava, por seu turno, a uma tremenda logística... Quantos camaradas nossos não terão morrido ou sofrido para que esta garrafa de laranjada "Convento de Mafra" chegasse a Guileje, no sul da Guiné ? Ou as latas de conservas da marca "[Her]Manos" chegasse a São Domingos, no norte ?

5. Comentário de LG:

Virgílio, já descobrimos outras marcas de produtos portugueses, usados pelas NT... Por exemplo, a laranjinha C e outros refrigerantes, em garrafas que ficaram enterradas sob as ruínas do quartel de Guileje,  arrasado pela nossa aviação... Deves lembra-te de mais marcas, de fornecedores das NT, até pelas tuas funções, para além das que já mencionaste, oriundas da África do Sul (a Coca-Cola, a Fanta, etc.).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18758: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVI: História e imagens de São Domingos: fotos de 1 a 8

(***) Último poste da série > 21 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18762: Fotos à procura de...uma legenda (105): O 'rancho dos pobres'... (Virgílio Teixeira / Luís Graça / Cherno Baldé / Valdemar Queiroz)

Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Setembro de 2016:

Queridos amigos,
Caminhamos para o termo desta resenha sobre a atividade missionária na Guiné, até à independência. Não conheço obra mais completa que a do padre Henrique Pinto Rema. Fico recetivo a toda e qualquer ajuda que me possam dar relativamente à islamização da região, o seu quadro evolutivo e a orgânica atual na Guiné-Bissau do trabalho do padre Pinto Rema resulta claro que uma parte substancial do insucesso missionário decorreu da inexistência de uma colonização efetiva que desse suporte àquele grupo minoritário de religiosos sempre confrontado com a inclemência do clima, o desconhecimento das línguas nativas, os muitos casos de hostilidade à missionação e o profundo isolamento a que eram votados os missionários.
Recordo que na Guiné do período da luta armada aventava-se que a religião católica se situasse entre os 3 a 5%. Esta percentagem, como é de todos sabido, tem vindo a crescer significativamente, há hoje muita tolerância religiosa na Guiné e respeito mútuo. Se assim não fosse, não teria havido aquele poderoso movimento em prol da paz, no tempo do conflito de 1998-1999, em que todos os credos religiosos apoiaram o movimento cívico-político para o fim da guerra e a reconciliação nacional.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (6)

Beja Santos

Em “História das Missões Católicas na Guiné”, Editorial Franciscana, Braga, 1982, o padre Henrique Pinto Rema oferece-nos uma visão integrada não só das missões franciscanas mas como de toda a missionação durante o período colonial. Como se referiu anteriormente, o período do liberalismo e da I República foram extremamente nefastos para a obra missionária. No capítulo “A segunda missão franciscana da Guiné Portuguesa”, tendo como balizas 1932 a 1973, o investigador analisa a missão franciscana no Vicariato Geral da Guiné, entre 1932 e 1940, refere o papel dos franciscanos na missão decorrente do Acordo Missionário (1941-1955). Deixaremos para o próximo e último texto a atividade franciscana na Prefeitura Apostólica, entre 1955 e 1973.

As “missões laicas” criadas em 1913 pela República, não deram os resultados esperados e não substituíram efetivamente as “missões religiosas”. Estas conseguiram sobreviver à primeira tempestade republicana e obtiveram um reconhecimento legal em 1919. O bispo de Cabo Verde levou às autoridades civis o problema da missionação da Guiné. Mas só no tempo do ministro João Belo, em 1926, se regulamentará a atividade missionária. A segunda missão franciscana chega à Guiné em Fevereiro de 1932. Serão mais tarde chamados, já em 1947, os missionários do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, de Milão. A Santa Sé elevará, em 1955, a missão à categoria de Prefeitura Apostólica. E em Maio desse ano chegarão os primeiros franciscanos italianos da província de Santo António de Veneza. E com a independência, depois de 1974 será criada a diocese da Guiné-Bissau.

Temos, pois em análise, os franciscanos no Vicariato Geral da Guiné, ao longo da década de 1930. O autor recorda que em 1929 havia somente um missionário na Guiné, a situação religiosa na região piorara de dia para dia, o Vigário-Geral foi morto em Bolama pouco antes do 28 de Maio de 1926. Tomam-se diligências ao nível mais alto: o Núncio Apostólico insiste com o provincial dos franciscanos para um reforço missionário na Guiné. Eugénio Pacelli, futuro Papa Pio XII, escreve em 1930 ao superior da ordem dos frades menores: “A Santa Sé considera improrrogável a necessidade de missionários na Guiné”. Em 1930, o Padre João Augusto de Sousa, do clero do Funchal, chegou à paróquia de S. José de Bolama. Em 1931, o cónego António Miranda de Magalhães, das missões ultramarinas, encarrega-se da paróquia de Bolama e assumirá pouco depois o cargo de Vigário-Geral. A presença missionária é verificável em Bolama, Bissau, Cacheu e Geba/Bafatá. Vale a pena destacar um trecho da Provisão de D. José Alves de Martins, bispo de Cabo Verde e da Guiné Portuguesa, com data de Outubro de 1926: “Mercê talvez do seu clima, do espírito belicoso das suas tribos, da influência islamática há séculos exercida entre eles, a verdade é que não conseguirá nunca radicar-se a influência cristã de um modo decisivo, nem antes do século XIX, quando a acção missionária era quase exclusivamente exercida pelas ordens religiosas, nem depois da grande crise religiosa que se deu em Portugal na primeira metade do século XIX, quando tal acção ficou a cargo do clero formado no Seminário Diocesano de Cabo Verde e dos missionários formados no antigo colégio das missões ultramarinas (…) resolvemos nós, de acordo com o excelentíssimo governador daquela colónia dotá-la com três missões centrais em Bolama, Cacheu, Bafatá ou Gabu”.
Segue-se o reconhecimento das dificuldades, acabaram por só ser criadas duas missões centrais em Bolama e Cacheu, sem prejuízo de haver paróquias missionárias em Bissau, Geba e Buba. E define-se o essencial do programa da ação missionária: o ensino obrigatório da doutrina cristã; o cumprimento das instruções pastorais; o ensino da língua portuguesa.

Temos assim cinco missionários franciscanos chegados a Bolama em 1932. Em Agosto desse ano, o padre Pedro Araújo escreve ao Núncio Apostólico, envia-lhe um estudo religioso geral da colónia, e não ilude as realidades: “Se cristão mesmo há nesta colónia eles são-no apenas pelo batismo” e identifica duas coisas que seriamente embaraçam o missionário: a heterogeneidade das tribos, cada qual com a sua língua, os seus costumes e características étnicas, o que impossibilita ao missionário de contactar todas as raças; e o imperativo do plano missionário franciscano passar pela fundação de uma missão central em meio indígena, seria aqui que se abriria uma escola de professor-catequistas. A missão central ficará sediada em Bula. Por essa época chegarão à Guiné algumas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas. O governador Carvalho Viegas irá manifestar-se muito crítico quanto à escolha da missão central em Bula, preferia o território dos Felupes.

O padre Pinto Rema lembra qual o dispositivo missionário na Guiné nessa década de 1930: 2 padres do clero diocesano, 2 padres das missões ultramarinas, 9 padres franciscanos, dois irmãos franciscanos e 14 irmãs da Congregação dos Franciscanos Hospitaleiros Portugueses.

O estado geral dos edifícios religiosos deixa muito a desejar. A igreja de Geba estava em ruínas, mas havia fé na população nativa, ofereceram pedras, madeira e demais material para a construção de uma nova igreja, que ficou concluída em 1934. É neste contexto de reedificações que é lançado o projeto de uma igreja na cidade de Bissau, a catedral será inaugurada em 1950.

Em 1940, o Vicariato-Geral da Guiné ficou independente da diocese de Cabo Verde, nomeou-se em 1941 o primeiro prefeito apostólico. E dá-se então uma nova organização das missões da Guiné. O autor refere as publicações periódicas correspondentes ao período em análise, algumas de curtíssima duração e até só de uma edição: Boletim Oficial, Pró Guiné, o Comércio da Guiné, 5 de Outubro, o Arauto. Aparece um número apreciável de estabelecimentos, o autor dá destaque ao colégio católico de Bissau e refere um projeto que se tornou emblemático na Guiné: o Asilo de Bor.

No próximo texto, derradeiro desta série, passa-se em revista a atividade franciscana na Prefeitura Apostólica, entre 1955 e 1973.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 18 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18752: Notas de leitura (1076): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (5) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18766: Notas de leitura (1077): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (40) (Mário Beja Santos)

domingo, 24 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18775: Blogues da nossa blogosfera (95): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (14): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

HOMENS DE ENTULHO

ADÃO CRUZ

© ADÂO CRUZ


Para além de nós há o mundo
e durante muito tempo ignoramos o mundo
esquecemos as valas comuns que toquei ao de leve
muito ao de leve
não fosse os mortos magoar.
Nas margens verdes do Dniepre
regadas de lágrimas
onde cresceram flores sobre o chão de Babi-yar
umas de sal e água no mar quente de Bissau
bordando a lodo o cais de Pidjiguiti
outras de sangue esguichado das cabeças
à tona de água em último respiro
outras de terra ensopada em rios de morte
no ventre de um Wiriyamu fuzilado
na penugem de Chinteya
nas balas de Vaina
no esventrar de Zostina
nos gestos de um vulcão de raiva
em cada taça de vingança
que nem a morte amansa
nos túmulos da Palestina.
Sangue de Cristo
In Nomine Patris
mártires sem martirológio
corpos fecundos
erguei bem alto os ossos descarnados
que a morte é de acordar
e semear flores na aposta de outros mundos
erguei os rostos mirrados dos famintos da Terra
dos homens-entulho da grande vala comum
cavada no peito dos Humilhados e Ofendidos
pelos homens sem rosto
rasgada no ventre dos Condenados da Terra
pelos homens sem alma.
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Nota do editor

último poste da série de 27 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18684: Blogues da nossa blogosfera (94): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (13): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P18774: Blogpoesia (572): "Festa das ventanias", "Lagoa de Melides" e "Pérolas na vidraça", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Festa das ventanias

Vinha de tempos imemoriais.
Todos os anos, pelo São Pedro,
Arribavam de todo o mundo
Os ventos intemporais.
Como migrações.
Era a peregrinação universal das intempéries, com seus matizes.
Do oriente, os mais ferozes.
Habituados às asperezas asiáticas,
Desde o Evereste aos Himalaias.
O que valia era a distância.
Quando ali chegavam, vinham brandos. Ninguém suponha o que eles seriam na sua origem.
Chegavam à praça rodopiando em arcos leves. Descreviam formas vistosas de iluminuras.
Como serão as ninfas orientais.
Contrastavam com os do ocidente ameríndio, enigmático e imprevisível, das florestas amazónicas, com volutas voluptuosas das planícies verdes.
Vinham arfantes da travessia longa do oceano.
Se instalavam pacíficos pelas bancadas como se turistas.
Os do norte vinham trementes nas suas vestes longas. Insuficientes. Tiniam de frio. Aspiravam calor.
Para recuperar quem eram. O seu vigor.
Os do sul cheiravam a África. Eram agrestes como as vertentes do Killinmanjaro.
Exalavam perfumes inebriantes do equador.
Insinuantes como as dunas desérticas que atravessaram.
Só depois da primeira noite cada vento, já recomposto, mostrava quem era.
A seguir, era a festa da convivência.
Durava um mês.
Onde a fraternidade universal era a rainha…

Mafra, 23 de Junho de 2018
7h14m
Jlmg

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Lagoa de Melides

Abriram-lhe a porta...
Vi-a fugir.
Abriram-lhe a porta.
Pôs-se a correr.
Parecia uma louca.
Afogou-se no mar.
Escrava da terra.
Espelho do céu.
Queria ser livre.
Bem se enganou.
O mar a engoliu,
Sem faca nem garfo.
Ficou só o leito,
Ao vento e ao sol,
Até que a terra o vista de verde
E o dê a pastar.

Bar Castelão, 22 de Junho de 2018
9h57m
Jlmg

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Pérolas na vidraça

Escorrem-me pérolas na vidraça que dá para a Mata.
São da chuva intemperã.
Escorraçou o sol e pintou de cinza o tempo.
Um bombo de festa nas suas mãos.
Nunca sabe onde vai parar.
Ainda, ontem, radioso, reinou toda a manhã.
Fui ver o mar a brilhar de verde.
Me regalei sentado na minha cadeira à sombra, absorvendo a brisa.
Afinal, quem manda nesta república?
O rei não é…

Mafra, 21 de Junho de 2018
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18748: Blogpoesia (571): "Catedral do Universo", "Corrimão da escada" "Com sentimento..." e "Parece que já não há mais...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18773: Manuscrito(s) (Luís Graça) (142); Autobiografia: no tempo em que havia um santo para cada estação, do são Sebastião ao são João... e os soldados partiam para a Índia



Foto e texto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]



No tempo em que havia um santo para cada estação,
do são Sebastião ao são João… e os soldados partiam para a Índia


por Luís Graça



Domingo à tarde…
Sempre detestaste os domingos à tarde:
ou chovia ou fazia vento
e um cão uivava
na vinha vindimada pelo Senhor,
sobretudo nada acontecia,
de assinalável, 

no domingo à tarde,
e até o tempo parava
no relógio da torre da igreja da tua aldeia. 



Mesmo que a vida tivesse um sentido,
e tu escutasses a boa nova do padre Escudeiro,
no largo do convento,
às vezes soalheiro,
a vida ia no sentido inexorável
dos ponteiros do relógio,
dextrorsum,
aprenderás mais tarde, na escola,
ou, por outras palavras,
do berço à cova,
donde ninguém escapava
,
os novos sucedendo-se aos velhos na fila da morte.
E quem acabava, sua cova tapava.
 



Mentes: pelo menos, havia a bola,
as pequenas alegrias da bola, de trapos,
as paixões da bola,
os cromos do Sporting e do Benfica, e a escola,
(não, nesse tempo não se dizia escolinha!),
o bibe azul às riscas,
mais a sacola
onde levavas o caderno,  de caligrafia,
a tabuada, a caneta de aparo,
o pau de giz, a ardósia,
o pão seco com marmelada,
ou com toucinho fresco, ou salgado,
que era o presunto dos pobres,
e o livro de leitura da 3ª classe
com os meninos, na capa,
da Mocidade Portuguesa,
cantando e rindo,
e, como tu, às vezes,

chorando, suspirando e sonhando. 



Havia o jogo dos cinco cantinhos,
e o da cabra-cega,
mais o berlinde,
o arco e o balão,
o abafa, as caricas,  o pião,
a alegria (e às vezes o medo)
da hora do recreio.
Foi lá que aprendeste
que a vida tem horas
e dias e semanas e anos (…) 



E, com sorte,
haveria o bife ao domingo,
o polvo na maré-baixa,
o bacalhau com grão-de-bico à sexta-feira,
no tempo da quaresma,
se a gente lá chegasse,
ao domingo,
à maré-baixa,
à quaresma. (…)



Ah!, e as feiras!,
não te esqueças de referir as feiras,
havia as feiras e os mercados,
no Rossio, junto ao rio,
a merda dos bois e das vacas no terreiro,
e os pobres dos ciganos
sem eira bem beira,
de que tinhas medo que te pelavas,
mais as labaredas do inferno,
as fogueiras de são João,
a queima das alcachofras,
um tostãozinho para os santos populares,
as bichas de rabear,
o calvário e as suas treze estações,
a rua da Misericórdia,
a rua Grande,
a rua do Castelo,
havia três ruas, não mais, na tua aldeia,
e chegavam… 



A
h!, havia ainda a banda filarmónica,
o ti-nó-ni dos carros dos bombeiros,
a sirene do quartel dos bombeiros
que marcava as doze horas de domingo.
E o sino da igreja da tua aldeia
que tocava a finados
quando morria algum cristão.
E o são Sebastião, no inverno,
em janeiro no frio de rachar,
havia santos para cada estação,
o são João, no verão,
no 24 de junho,
o dia em que os camponeses da tua aldeia
iam à praia molhar os tornozelos,
os homens, de ceroulas arregaçadas,
as calças de cotim, remendadas,
os mais velhos de barrete preto,
e elas, de saias compridas, de flanela,
que não podiam mostrar a barriga da perna,
os matulões pegando nos putos a berrar e a espernear
e batizando-os na água salgada,
do grande oceano,
para que as carnes enrijassem,
e os meninos medrassem,
e lá voltassem pró ano,
todos os anos até ao dia das sortes,
e fossem grandes homens,
fortes e valentes,
marinheiros,  aventureiros,
soldados façanhudos
ou simples cavadores de enxada,
como os seus pais e os seus avós o tinham sido,
que os bisavós e os tetravós,
esses, já ninguém sabia quem eram,
nem de onde teriam vindo,
nem se chorava por eles,
porque
na época do trinta e um,
poucos moços, velhos nenhum
.


Ah, os camponeses e os seus burros
que ainda não estavam em extinção,
nem uns nem outros,
iam aos magotes
até à praia da Areia Branca,
no feriado do são João,
entre brincadeiras e dichotes,
levavam a trouxa e a merenda,
os tremoços e as pevides,
as peras, as ameixas e os abrunhos,
os melões e as melancias,
o pão de trigo do moleiro cozido em forno a lenha,
a broa de milho com sardinha,
as azeitonas mal curadas,
bebiam vinho pelo garrafão de palha,
comiam o arroz de cabidela,
de galo ou de coelho,
misturado com a areia e o vento e as lágrimas de sal, 

e as saudades dos mortos 
e dos perdidos pelos mares 
e pelos quintos do inferno do império...
Comiam o arroz, escuro, de cabidela,
em cima de mantas grossas,
feitas de trapos,
berrantes, multicolores,
e usavam canivetes multiusos
que tanto serviam para limpar a cera dos ouvidos
ou o lixo das unhas,
como para cortar grandes nacos de pão,
ou apanhar lapas e ouriços do mar...

Sangravam de saúde, 
pelo são João,
os camponeses da tua aldeia,
muita saúde, pouca vida,
que Deus não dava tudo,
no tempo em que beber vinho
era dar de comer a um milhão de portugueses
. (…) 



Na Praia da Areia Branca, pelo são João, lembras-te?,
o teu querido ti Silvano,
carpinteiro e cavaleiro,
utilizando-te como escudo
em luta contra as forças de Neptuno.
Foi num 24 de junho
(ou terá sido no dia de são Bartolomeu,
a 24 de agosto?)
de mil novecentos cinquenta e tal,
que passaste a ter medo do mar
e prometeste a ti mesmo
(vã promessa de menino!)
nunca vir a ser marinheiro,
que na água de mares,
não procures cabelos para te agarrares
.




Havia ainda a festa de são Sebastião,
Sabastião, dizia o povo, come tudo, come tudo,
o pobre de Cristo,
coitadinho do soldadinho,
do tamanho de um menino,
com ar de quem não tinha nenhum jeitinho para santo, 

nem muito menos para herói e mártir,
o corpo trespassado pelas setas dos maus,
havia os carros de pão,
as promessas, os leilões, as rezas,
os exorcismos, os amuletos,
os unguentos, as benzeduras da ti’ Adelina, 

(tua vizinha da rua do Clube,
que irá morrer nas Américas)
contra o mau olhado, 

as bruxas, os losibomens, o diabo,
cruzes, canhoto!,
o sarampo,  o sarampelo, a varíola,  a varicela,
a cólera, a raiva,  
a peste, a fome, a guerra, 
e o bispo da nossa terra, libera nos, Domine,
a tuberculose,  o tifo, a rubéola,
a febre amarela, a tosse convulsa, a diferia,
a disenteria, as sezões, e os males de amores,
e ainda estava para vir o ébola, a sida, o dengue
e os quatro cavaleiros do apocalipse. (...)



Havia, por fim, os soldados que partiam para a Índia,
e as mães da rua do Castelo
comprida, do cemitério ao largo das Aravessas,
que, desgrenhadas, rasgando saias e arrancando cabelos,
gritavam
para que a Virgem Maria velasse por eles,
os seus meninos,
e os trouxesse de volta, sãos e salvos,
no veleiro de torna-viagem. (...)

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Excertos:

In: Luís Graça - Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde, 2005, c. 50 pp. (inédito)

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18491: Manuscrito(s) (Luís Graça) (141): Soneto para ti, Joana, ao km 40 da tua autoestrada da vida

Guiné 61/74 - P18772: Parabéns a você (1460): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Material da CCAÇ 16 (Guiné, 1972/74) e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18768: Parabéns a você (1459): João Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 5 (Guiné, 1973/74)

sábado, 23 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18771: Efemérides (286): Comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira

Realizou-se em Matosinhos - Leça da Palmeira, a cerimónia de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira. 

Pelas 10H00 iniciou-se a comemoração com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo representante do Presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, Sr. Fernando Monteiro. 

Ao mesmo tempo que o Grupo Coral do Núcleo entoava o Hino Nacional, o clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira, solicitado para o efeito, fez os toques adequados àquela cerimónia. 

Pelas 10H30 realizou-se uma missa presidida pelo Rev. Padre Francisco Andrade, na Igreja de Leça da Palmeira, por intenção de Portugal e de sufrágio pelos que tombaram pela Pátria e que teve como destaque o toque executado pelo clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira. 




Pelas 11H30 foi dada continuidade à cerimónia no cemitério local - Talhão Militar da Liga, onde se encontravam posicionados o grupo coral, o porta-guião e uma Guarda de Honra composta por sócios combatentes. 

Procedeu-se de seguida por um sócio combatente à chamada dos combatentes leceiros mortos na Guerra do Ultramar seguida da deposição de duas coroas de flores no Talhão pelo representante do Presidente da União de Freguesias e pelo Presidente do Núcleo, Tenente-Coronel Armando Costa. 

A cerimónia continuou com o Toque de Homenagem aos Mortos e foi guardado um minuto de silêncio com cântico de um salmo pelo Grupo Coral, terminando a cerimónia com uma evocação religiosa pelo Rev. Padre Francisco Andrade. 

As alocuções alusivas ao ato ocorreram de seguida pelo Presidente do Núcleo e pelo representante do Presidente da União de Freguesias. As palavras ditas realçaram a importância de homenagear a memória de todos aqueles que, ao longo da nossa História, tombaram no campo da honra, nomeadamente na Guerra do Ultramar. 

Para terminar, o Grupo Coral cantou o Hino da Liga dos Combatentes na presença de dezenas de sócios, seus familiares, combatentes e público em geral que estiveram presentes nesta comemoração.








Fotos e texto: Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18761: Efemérides (285): O "Dia da Consciência", 17/6/2018... Agradecimento a todos (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P18770: Os nossos seres, saberes e lazeres (273): De Aix-en-Provence até Marselha (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 18 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Muito havia a ver em Arles, a UNESCO consagra a arte romana e o românico provençal, mas há a modernidade que aqui se entrelaça, a memória de Van Gogh que por aqui andou, de Picasso que ofereceu uma soberba coleção e há a fotografia, o acervo do Museu Réattu é impressionante.
O viandante aqui acampou alguns dias, Avignon era perto, foi-se de comboio de manhã e regressou-se à noite, às vezes sente-se um amargor de tudo aquilo que não se vê porque o tempo não é elástico, nem se pôs os pés na Camarga, havia uma vontade imensa de visitar o teatro antigo de Orange e apanhar um banho de Picasso em Les Baux-de-Provence, fica para a próxima, é para isso que servem as viagens, para deixar saudades e apetite desbragado para regressar, tal a imensidão de belezas que não se podem abraçar em tão poucos dias.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (5)

Beja Santos

O viandante entrou lampeiro neste reduto da Roma das Gálias, Arles, outrora uma encruzilhada comercial da maior importância, o Ródano passa na sua berma, bem caudaloso. Dos tempos medievos pouco resta, há esta porta fortificada, suficientemente impressionante para não se ficar aqui especado, sem se saber muito bem o que o miolo da cidade nos reserva, mesmo sabendo que os testemunhos do período romano são de um valor enorme, bem como o românico provençal.


O viandante já entrou na capital romana e refúgio de Van Gogh, pertenceu ao Condado da Provença-Barcelona, veio depois a Casa Anjou, a partir do século XIII a cidade entrou numa doce obscuridade, mas há marcas de valor estético, na arquitetura e na decoração, o turismo foi imperativo para a manutenção de um casco histórico de incontestável interesse, acresce que Arles se orgulha de ter um poderosíssimo centro internacional de fotografia e um museu romano em instalações modernas que é de uma enorme beleza. O viandante vai por ali fora, em demanda do monumento romano número 1, o anfiteatro.


O anfiteatro foi e é o símbolo da cidade. É semelhante ao anfiteatro de Nîmes, tanto nas suas dimensões (eixo longitudinal 136 metros, eixo transversal 108), como no que se refere à parede exterior. Tem duas ordens de arcadas e 60 eixos, que emolduram o exterior do edifício de forma oval. O anfiteatro continha 34 filas de assentos distribuídos por 4 ordens que permitiam a ocupação de mais de 20 mil lugares.


Esta construção foi provavelmente edificada durante as duas últimas décadas do século I, é uma construção idêntica não só à de Nîmes como ao Coliseu de Roma. O anfiteatro foi alterado na Idade Média para defesa da cidade. Três torres são disso testemunho. Entre as casas de habitação existentes no seu interior podiam ver-se, até ao século XIX, duas igrejas.


Quando as escavações puseram a descoberto as arenas, restabeleceu-se uma ligação à antiga tradição das lutas de gladiadores com as famosas corridas de toiros de Arles. O viandante está esmagado pelas possantes galerias, sente-se minorca diante desta grandeza do tempo dos imperadores flávios, e mais, vai encontrando indícios da continuidade da arquitetura antiga, a cultura grega na época helenística marca aqui presença.


Antes de partir para as Termas de Constantino, o viandante sentiu-se atraído por este caudaloso Ródano que vem lá dos confins da Suíça e vai todo buliçoso espraiar-se perto de Marselha, les Bouches du Rhône, um nome que aparece associado a uma importante região vinícola, ali produz-se bom vinho, exportado para todo o mundo.


O viandante sabia de antemão a fartura de sítios e monumentos que o esperavam em Arles, já se falou do anfiteatro, do teatro antigo, dos criptopórticos, da Igreja de S. Trófimo e do seu esplendoroso claustro, deu-se uma olhadela pela necrópole antiga e medieval, a peregrinação prossegue pelas termas de Constantino. As termas eram um ponto marcante da vida urbana na época romana, eram um marco de civilização para a fruição da higiene e um ponto de encontro. As termas de Constantino datam do século IV. O que aqui se vê dá a dimensão do que foi este edifício, os visitantes podem percorrer os locais do banho quente, tépido e frio, balneário e tudo mais.


O viandante não resistiu a ver esta parede adossada a construção mais moderna, é prática comum o aproveitamento do antigo, aqui resulta muito bem, impressiona o casamento entre Roma e a Idade Média, até chegar às beneficiações que a contemporaneidade permite. É bom de ver!


As termas romanas tinham características comuns. Os salões dos banhos, abobadados e fechados, alternavam com dependências abertas para o exterior. Os banhos eram aquecidos através de ar quente que circulava sob o pavimento apoiado em pilares.


A digressão termina na Fundação Vincent Van Gogh em Arles, veja-se a beleza da fachada, é uma casa de agenda carregada, desde exposições a programas de educação artística, há conferências, acolhimento de artistas, faz-se intercâmbio de obras de Van Gogh, vêm da Fundação em Amesterdão, à data, a obra de referência era L’entrée dans une carrière, datada de 1889.




Amanhã o viandante parte para Avignon, mas regressará a Arles, há museus a visitar, o Museu Réattu, um primor de pintura e fotografia e o museu de arte antiga, um reservatório colossal de arte romana. O palácio dos Papas, acreditem, é de uma monumentalidade esmagadora.

(Continua)
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 Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18745: Os nossos seres, saberes e lazeres (272): De Aix-en-Provence até Marselha (4) (Mário Beja Santos)