domingo, 24 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18774: Blogpoesia (572): "Festa das ventanias", "Lagoa de Melides" e "Pérolas na vidraça", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Festa das ventanias

Vinha de tempos imemoriais.
Todos os anos, pelo São Pedro,
Arribavam de todo o mundo
Os ventos intemporais.
Como migrações.
Era a peregrinação universal das intempéries, com seus matizes.
Do oriente, os mais ferozes.
Habituados às asperezas asiáticas,
Desde o Evereste aos Himalaias.
O que valia era a distância.
Quando ali chegavam, vinham brandos. Ninguém suponha o que eles seriam na sua origem.
Chegavam à praça rodopiando em arcos leves. Descreviam formas vistosas de iluminuras.
Como serão as ninfas orientais.
Contrastavam com os do ocidente ameríndio, enigmático e imprevisível, das florestas amazónicas, com volutas voluptuosas das planícies verdes.
Vinham arfantes da travessia longa do oceano.
Se instalavam pacíficos pelas bancadas como se turistas.
Os do norte vinham trementes nas suas vestes longas. Insuficientes. Tiniam de frio. Aspiravam calor.
Para recuperar quem eram. O seu vigor.
Os do sul cheiravam a África. Eram agrestes como as vertentes do Killinmanjaro.
Exalavam perfumes inebriantes do equador.
Insinuantes como as dunas desérticas que atravessaram.
Só depois da primeira noite cada vento, já recomposto, mostrava quem era.
A seguir, era a festa da convivência.
Durava um mês.
Onde a fraternidade universal era a rainha…

Mafra, 23 de Junho de 2018
7h14m
Jlmg

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Lagoa de Melides

Abriram-lhe a porta...
Vi-a fugir.
Abriram-lhe a porta.
Pôs-se a correr.
Parecia uma louca.
Afogou-se no mar.
Escrava da terra.
Espelho do céu.
Queria ser livre.
Bem se enganou.
O mar a engoliu,
Sem faca nem garfo.
Ficou só o leito,
Ao vento e ao sol,
Até que a terra o vista de verde
E o dê a pastar.

Bar Castelão, 22 de Junho de 2018
9h57m
Jlmg

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Pérolas na vidraça

Escorrem-me pérolas na vidraça que dá para a Mata.
São da chuva intemperã.
Escorraçou o sol e pintou de cinza o tempo.
Um bombo de festa nas suas mãos.
Nunca sabe onde vai parar.
Ainda, ontem, radioso, reinou toda a manhã.
Fui ver o mar a brilhar de verde.
Me regalei sentado na minha cadeira à sombra, absorvendo a brisa.
Afinal, quem manda nesta república?
O rei não é…

Mafra, 21 de Junho de 2018
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18748: Blogpoesia (571): "Catedral do Universo", "Corrimão da escada" "Com sentimento..." e "Parece que já não há mais...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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