1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano João Vaz, ex-1.º Cabo Apontador de obus do BAC 1, Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima, 1968/70, com data de 7 de Maio de 2013:
Caro camarada Carlos Vinhal
Obrigado pela resposta do meu pedido para pertencer a TABANCA GRANDE e aqui vou enviar-te o que é preciso para o efeito.
Nome: João Vaz
Posto: 1.º Cabo;
Especialidade: Apontador de Artilharia de Campanha 8,8 que mais tarde foram substituídos em Cuntima, por obuses 14.
A minha unidade era a BAC 1 ou seja (Bateria de Artilharia de Campanha, baseada em Bissau.
Andei por Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima.
A minha chegada a Bissau foi a 24 de Janeiro 1968 e o regresso a Lisboa em Fevereiro 1970.
Se conseguir digitalizar as fotos, vai uma do tempo de Guiné e outra onde já tenho 67anos.
Também te envio uma com o meu pelotão de artilharia e uma jibóia que o Furriel Meneses matou quando cortávamos árvores
para fazermos um abrigo para os obuses 14. Como poderás ver eu sou o único branco.
A jibóia tinha engolido uma gazela e depois descansou.
Historias para contar, tenho algumas verdadeiras, umas tristes, como a morte do furriel Videira em Cuntima e outras para rir, como a da
Companhia de piriquitos que chegou a Cuntima que quando tiveram o primeiro ataque quiseram responder com o morteiro mas
não lhe puseram o prato e ao fim de algumas morteiradas o morteiro enterrou-se e só ficou com dez centímetros de fora.
Eu conto isto porque estava lá. Eu dormia no abrigo com eles pois era de rendição individual logo não pertencia à companhia.
O comandante do aquartelamento era o capitão Vasco Lourenço.
Se eu dominasse bem o computador e fosse mais rápido a escrever contava mais historias que se passaram comigo
mas para escrever estas linhas passo muito tempo.
Gostava muito de encontrar antigos militares que estiveram comigo na BAC em BISSAU.
Amigo Carlos vou deixar-te, já são duas da manhã e já começo a piscar os olhos.
Um grande abraço para ti e saúde para toda a tua família e para todos os ex-Combatentes
João Vaz
2 - Dizia-nos o nosso camarada João Vaz numa mensagem datada de 22 de Março de 2013:
Caro Luís Graça
Obrigado por ter exposto o meu telefonema no vosso Blogue.
Eu penso que
isso vai ajudar a encontrar ex-combatentes da minha unidade BAC 1 - Guiné que lá estiveram de 24 de Janeiro de 1968 a Fevereiro de 1970.
Como já
disse pelo telefone, cheguei dia 24 Janeiro 1968 e passados poucos
dias fui logo para Cameconde onde estive
mais ou menos 5 a 6 meses.
O meu alferes de artilharia chamava-se
Ferreira.
O nome do alferes que comandava os pelotões de atiradores não
me lembro mas sei
que ele era de perto de Famalicão da Serra.
Também passei por Buba e, de Junho a Dezembro de 1969 passei
por Jumbembem algum tempo. O resto foi passado em Cuntima onde tive como
comandante do
aquartelamento o capitão VASCO LOURENÇO.
Um grande abraço a todos os ex-combatentes e digam-me o que é preciso
para pertencer à TABANCA GRANDE.
Desculpem os meus erros mas eu sou um zero em informática.
Um grande obrigado ao Luís e a todos aqueles que trabalham no Blogue.
João Vaz
3. Comentário do editor CV
Caro camarada João
Começo por te pedir desculpa pelo tempo que demorei a dar-te esta resposta. Costumo ser mais rápido mas desta vez descuidei-me um pouco.
Sê bem-vindo à nossa Tabanca. És mais um dos camaradas da diáspora, pelos quais temos muita admiração e uma estima especial. Pelo teu endereço suponho que estás em França, embora o teu português traga uns toques de espanhol. Se estás em França, em que zona trabalhaste e onde assentaste arraiais? Tencionas um dia voltar a Portugal ou o sangue dos filhos e netos vai fazer com que nunca mais voltes a Portugal?
Falando do teu passado militar, foste então apontador de obus em Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima. Fizeste manga de barulho pelas bolanhas da Guiné.
Para evitar que demores muito tempo a escreveres os textos no computador, tens que treinar muito e fixar a posição das teclas. Pedes por aí umas ajudas aos filhos e aos netos e vais ver que ao fim de uns meses estás apto à licenciatura em informática.
Gostávamos que nos escrevesses algumas das tuas memórias mas não queremos que apanhes uma doença nervosa por nossa causa.
Oxalá que por nosso intermédio encontres alguns dos teus camaradas do BAC 1 e outros que não pertencendo à tua unidade foram teus contemporâneos nos quartéis por onde penaste.
Caro João, resta-me deixar-te o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça e Eduardo Magalhães.
Se precisares de alguma ajuda é só falares connosco.
Para ti, algures em França, segue um abraço do teu novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 4 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (397): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11618: Notas de leitura (485): Tarrafo, segunda edição fac-similada, por Armor Pires Mota (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2013:
Queridos amigos,
“Tarrafo” foi o primeiro dos diários da Guiné, é contemporâneo do Diário de JERO, curiosamente, é recomendável lê-los um a seguir ao outro, de Binta a Jumbembem a distância é curta.
Armor Pires Mota fez bem em apostar nesta edição fac-similada, dá para esclarecer quais os fantasmas da censura, é bom não esquecer que oficialmente as forças armadas exerciam atos de polícia, aquelas emboscadas, assaltos a bases, recuperação de populações, etc. eram pura ficção.
Lê-se “Tarrafo” e fica-nos a convicção de que o texto é perene, está lá quase tudo e estamos lá quase todos.
Um abraço do
Mário
Tarrafo, segunda edição fac-similada, por Armor Pires Mota
Beja Santos
Impunha-se esta reedição de uma obra que se pode classificar como um diário da Guiné. Com efeito, as crónicas que Armor Pires Mota publicou no Jornal da Bairrada, foram escritas a quente, estão cronologicamente organizadas, a tal ponto emerge o entusiasmo entremeado de desfalecimento, o ímpeto dos primeiros tempos até se chegar ao último texto, em que ele escreve: “dias feitos de nada, inúteis; dias impossíveis de construir, em atiramos a alma para trás das costas porque era grande o peso das sombras que lhe iam por baixo”.
Publicado em 1965, posto timidamente à venda numa livraria de Aveiro, foi imediatamente retirado. É por isso que vale a pena ver cuidadosamente as considerações do censor, do princípio ao fim, o que podia ser dito enquanto prosopopeia enaltecedora da presença portuguesa em África e que estava interdito escrever-se ou supor-se na cabeça de um combatente.
Há três momentos chave neste diário: as primeiras operações, presume-se que à volta de Bissorã; a participação na operação Tridente, de Janeiro a Março de 1964; a vivência na região de Jumbembem, um tempo sem parança, fica-se com a ideia de aquele Batalhão de Cavalaria amargou do princípio ao fim: “Tarrafo, crónicas de um alferes na Guiné”, por Armor Pires Mota, Palimage, 2013.
O que torna este livro uma obra completa é a sinceridade, os altos e baixos de um diário, intercalando-se elogios, vibrações heroicas, cuidados de um olhar etnográfico e antropológico e, gradualmente, uma canseira irremediável, um anseio em voltar para a família, em fazer família. E sempre atravessado por uma certa solenidade, temores, calafrios, a guerra não poupa ninguém. No Como, no auge dos combates, ele escreverá: “Não contarei nada com as cores carregadas. Cada palavra será tão real como a morte ou sofrimento. Não quero que ninguém fique com a impressão que este diário é pura ficção, nem, tão pouco, que me mascarem de valente. Faço tudo por vencer, cumpro e é tudo. Sei mesmo que poderia nem ter começado. Mas hoje senti uma coragem de vencer o silêncio das minhas próprias palavras. Escreverei para mim e não para a eternidade. E aqui estarei para chegar até ao fim”.
Acresce que o diário de Armor Pires Mota acaba por ficar ao dispor do historiador da guerra: nestes relatos é visível ainda um PAIGC militarmente difuso, servindo-se de abatises para emboscar, deficientemente armado, as forças portuguesas combatem de capacete, estão a abrir caminhos que se fecharam logo em 1963; temos aqui a batalha do Como desde os primeiros desembarques, as primeiras trocas de tiros, os ataques e os recuos, a valentia de ir buscar debaixo de fogo o camarada morto, passam-se todas as dificuldades, as mais indescritíveis, mas mesmo assim, o autor pode escrever: “Tivemos missa, como antigamente nas manhãs das grandes batalhas. O altar era feito com duas caixas de cervejas e montado por detrás da velha casa a ruir. De tronco nu ou descalços, mas alma cheia de esperança nos desígnios eternos, todos quanto ali estavam confiavam ao Senhor dos Exércitos as suas angústias, as horas más, as vitórias e derrotas, as saudades da terra e da família, da noiva…”; e temos também aquele norte da Guiné onde ainda tudo é tão confuso na região fronteiriça, com milhares e milhares de deslocados, o PAIGC ainda não tem liberdade de ação, move-se graças a bases que se montam e desmontam, consolidam-se posições como em Cuntima ou em Canjambari, parece que Jumbembem renasce das cinzas, por ali houve abandono, fuga de muitas populações, com ocupação efetiva do território, muitas perderam o medo, acolhem-se à sombra da bandeira portuguesa.
Mal começam as operações, entram numa casa de mato e depara-se-lhe uma situação insólita, com a população em fuga: “Quem não fugiu foi uma velhinha de faces corridas em sulcos pela vida e seios caídos. Sentada dentro de um tufo de bananeiras, a chorar, estava ali, de olhos baixos, como se alguém a tivesse condenado. Mas não. Ninguém a condenou. Tive um momento de espanto, mas não lhe perguntei nada”. Contém-se perante os primeiros mortos e feridos, trata-se de uma guerra cuja dimensão não lhe foi dada na formação para oficial, há para ali bombardeiros, o troar da artilharia, há agentes duplos, aparecem burros carregados de mantimentos, visitam-se tabancas com enfermeiros que levam mezinho.
O Armor Pires Mota que se revela no Como é do combatente que atende ao estado de espírito dos seus homens, que regista os desembarques, os acidentes estúpidos como o do Quítalo que se deixou trair por uma armadilha por ele montada e que explodiu e que apareceu gemendo, rosto mascarado se sangue e lama, peito ensanguentado e sem uma das mãos. Ele escreve no Como, a 24 de Fevereiro: “Há 40 dias que o mundo para nós é a incerteza da hora seguinte. O mundo para nós é de luta, uma terra de sangue e fogo”. E acrescenta: “Uma grande parte da tropa está já inoperacional” e dias depois reza uma oração inesquecível:
“Só Tu sabes, Senhor, a minha hora.
Mas tenho medo porque sou homem e tenho o destino de mãos vazias.
Que as minhas mãos não façam correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso castigar, matar ou morrer.
Mas tenho medo, Senhor!
Tu bem sabes que eu tenho uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro de mim como uma criança longe dos braços maternos.
Tu sabes que eu tenho sonhos de ouro e espero de olhos azuis no futuro”.
A ida para Jumbembem significa uma nova etapa, juntar populações, viver dentro do arame farpado, calcorrear tabancas, registar abandonos: “Chegámos a Jumbembem, à serração. A aldeia estava queimada, destruída e a serração tinha um ar de completo abandono. A máquina e as serras haviam gelado. Casas vazias, camionetas desmanteladas como ossos perdidos de uma vida que parou, milhentos bidões e tanto ferro velho que era dinheiro no lixo”. São tempos duríssimos, apanha-se um ciclista em fuga, toca de se disparar, descreve-se a vida na caserna, os perigos na noite, as flagelações, as emboscadas. Há a imensa curiosidade por perceber pelo conteúdo das festas até, porque é que se mata um carneiro em sacrifício, qual a essência de um batuque. Em Jumbembem escreve-se uma carta de amor: “Sei que, além do mar, pensas em mim a estas horas e, talvez, colhas a primeira flor de primavera. Falas-me de ti, de mim, da nossa rua que está mais bonita. Compreendemo-nos muito bem e de tal modo que sou capaz de acabar uma frase que tu deixes incompleta, sei que eu traia a tua maneira de pensar” e regista-se o que diz um soldado ferido a um companheiro: “Quando regressar à metrópole, se eu morrer, peço-lhe que vá a casa dos meus pais e lhes diga que nunca os esquecerei”.
Tenho muito orgulho em ter escrito quando há anos descobri “Tarrafo”: “Outro valor histórico não tivesse e ficariam parágrafos indesmentíveis, solenes, melancólicos, pensamentos que ocorreram a qualquer um de nós”.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11600: Notas de leitura (484): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
“Tarrafo” foi o primeiro dos diários da Guiné, é contemporâneo do Diário de JERO, curiosamente, é recomendável lê-los um a seguir ao outro, de Binta a Jumbembem a distância é curta.
Armor Pires Mota fez bem em apostar nesta edição fac-similada, dá para esclarecer quais os fantasmas da censura, é bom não esquecer que oficialmente as forças armadas exerciam atos de polícia, aquelas emboscadas, assaltos a bases, recuperação de populações, etc. eram pura ficção.
Lê-se “Tarrafo” e fica-nos a convicção de que o texto é perene, está lá quase tudo e estamos lá quase todos.
Um abraço do
Mário
Tarrafo, segunda edição fac-similada, por Armor Pires Mota
Beja Santos
Impunha-se esta reedição de uma obra que se pode classificar como um diário da Guiné. Com efeito, as crónicas que Armor Pires Mota publicou no Jornal da Bairrada, foram escritas a quente, estão cronologicamente organizadas, a tal ponto emerge o entusiasmo entremeado de desfalecimento, o ímpeto dos primeiros tempos até se chegar ao último texto, em que ele escreve: “dias feitos de nada, inúteis; dias impossíveis de construir, em atiramos a alma para trás das costas porque era grande o peso das sombras que lhe iam por baixo”.
Publicado em 1965, posto timidamente à venda numa livraria de Aveiro, foi imediatamente retirado. É por isso que vale a pena ver cuidadosamente as considerações do censor, do princípio ao fim, o que podia ser dito enquanto prosopopeia enaltecedora da presença portuguesa em África e que estava interdito escrever-se ou supor-se na cabeça de um combatente.
Há três momentos chave neste diário: as primeiras operações, presume-se que à volta de Bissorã; a participação na operação Tridente, de Janeiro a Março de 1964; a vivência na região de Jumbembem, um tempo sem parança, fica-se com a ideia de aquele Batalhão de Cavalaria amargou do princípio ao fim: “Tarrafo, crónicas de um alferes na Guiné”, por Armor Pires Mota, Palimage, 2013.
O que torna este livro uma obra completa é a sinceridade, os altos e baixos de um diário, intercalando-se elogios, vibrações heroicas, cuidados de um olhar etnográfico e antropológico e, gradualmente, uma canseira irremediável, um anseio em voltar para a família, em fazer família. E sempre atravessado por uma certa solenidade, temores, calafrios, a guerra não poupa ninguém. No Como, no auge dos combates, ele escreverá: “Não contarei nada com as cores carregadas. Cada palavra será tão real como a morte ou sofrimento. Não quero que ninguém fique com a impressão que este diário é pura ficção, nem, tão pouco, que me mascarem de valente. Faço tudo por vencer, cumpro e é tudo. Sei mesmo que poderia nem ter começado. Mas hoje senti uma coragem de vencer o silêncio das minhas próprias palavras. Escreverei para mim e não para a eternidade. E aqui estarei para chegar até ao fim”.
Acresce que o diário de Armor Pires Mota acaba por ficar ao dispor do historiador da guerra: nestes relatos é visível ainda um PAIGC militarmente difuso, servindo-se de abatises para emboscar, deficientemente armado, as forças portuguesas combatem de capacete, estão a abrir caminhos que se fecharam logo em 1963; temos aqui a batalha do Como desde os primeiros desembarques, as primeiras trocas de tiros, os ataques e os recuos, a valentia de ir buscar debaixo de fogo o camarada morto, passam-se todas as dificuldades, as mais indescritíveis, mas mesmo assim, o autor pode escrever: “Tivemos missa, como antigamente nas manhãs das grandes batalhas. O altar era feito com duas caixas de cervejas e montado por detrás da velha casa a ruir. De tronco nu ou descalços, mas alma cheia de esperança nos desígnios eternos, todos quanto ali estavam confiavam ao Senhor dos Exércitos as suas angústias, as horas más, as vitórias e derrotas, as saudades da terra e da família, da noiva…”; e temos também aquele norte da Guiné onde ainda tudo é tão confuso na região fronteiriça, com milhares e milhares de deslocados, o PAIGC ainda não tem liberdade de ação, move-se graças a bases que se montam e desmontam, consolidam-se posições como em Cuntima ou em Canjambari, parece que Jumbembem renasce das cinzas, por ali houve abandono, fuga de muitas populações, com ocupação efetiva do território, muitas perderam o medo, acolhem-se à sombra da bandeira portuguesa.
Mal começam as operações, entram numa casa de mato e depara-se-lhe uma situação insólita, com a população em fuga: “Quem não fugiu foi uma velhinha de faces corridas em sulcos pela vida e seios caídos. Sentada dentro de um tufo de bananeiras, a chorar, estava ali, de olhos baixos, como se alguém a tivesse condenado. Mas não. Ninguém a condenou. Tive um momento de espanto, mas não lhe perguntei nada”. Contém-se perante os primeiros mortos e feridos, trata-se de uma guerra cuja dimensão não lhe foi dada na formação para oficial, há para ali bombardeiros, o troar da artilharia, há agentes duplos, aparecem burros carregados de mantimentos, visitam-se tabancas com enfermeiros que levam mezinho.
O Armor Pires Mota que se revela no Como é do combatente que atende ao estado de espírito dos seus homens, que regista os desembarques, os acidentes estúpidos como o do Quítalo que se deixou trair por uma armadilha por ele montada e que explodiu e que apareceu gemendo, rosto mascarado se sangue e lama, peito ensanguentado e sem uma das mãos. Ele escreve no Como, a 24 de Fevereiro: “Há 40 dias que o mundo para nós é a incerteza da hora seguinte. O mundo para nós é de luta, uma terra de sangue e fogo”. E acrescenta: “Uma grande parte da tropa está já inoperacional” e dias depois reza uma oração inesquecível:
“Só Tu sabes, Senhor, a minha hora.
Mas tenho medo porque sou homem e tenho o destino de mãos vazias.
Que as minhas mãos não façam correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso castigar, matar ou morrer.
Mas tenho medo, Senhor!
Tu bem sabes que eu tenho uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro de mim como uma criança longe dos braços maternos.
Tu sabes que eu tenho sonhos de ouro e espero de olhos azuis no futuro”.
A ida para Jumbembem significa uma nova etapa, juntar populações, viver dentro do arame farpado, calcorrear tabancas, registar abandonos: “Chegámos a Jumbembem, à serração. A aldeia estava queimada, destruída e a serração tinha um ar de completo abandono. A máquina e as serras haviam gelado. Casas vazias, camionetas desmanteladas como ossos perdidos de uma vida que parou, milhentos bidões e tanto ferro velho que era dinheiro no lixo”. São tempos duríssimos, apanha-se um ciclista em fuga, toca de se disparar, descreve-se a vida na caserna, os perigos na noite, as flagelações, as emboscadas. Há a imensa curiosidade por perceber pelo conteúdo das festas até, porque é que se mata um carneiro em sacrifício, qual a essência de um batuque. Em Jumbembem escreve-se uma carta de amor: “Sei que, além do mar, pensas em mim a estas horas e, talvez, colhas a primeira flor de primavera. Falas-me de ti, de mim, da nossa rua que está mais bonita. Compreendemo-nos muito bem e de tal modo que sou capaz de acabar uma frase que tu deixes incompleta, sei que eu traia a tua maneira de pensar” e regista-se o que diz um soldado ferido a um companheiro: “Quando regressar à metrópole, se eu morrer, peço-lhe que vá a casa dos meus pais e lhes diga que nunca os esquecerei”.
Tenho muito orgulho em ter escrito quando há anos descobri “Tarrafo”: “Outro valor histórico não tivesse e ficariam parágrafos indesmentíveis, solenes, melancólicos, pensamentos que ocorreram a qualquer um de nós”.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11600: Notas de leitura (484): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P11617: Parabéns a você (579): Rui G. Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ (Guiné, 1963/65)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11598: Parabéns a você (578): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11598: Parabéns a você (578): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519 (Guiné, 1969/71)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11616: Bibliografia de uma guerra (69): "Guiné - Terra que aprendemos a amar", mais um livro em sextilhas do nosso camarada Manuel Maia
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) com data de 11 de Maio de 2013:
O blogue como sabeis, teve para mim o condão de me fazer conhecer espantosos amigos que me possibilitaram aceder à publicação da "História de Portugal em Sextilhas", obra em que tive o subido prazer de ver o prefácio assinado pelo prof. doutor Luís Graça, bem como do inexcedível trabalho de afã e empenho a que o incansável Carlos Vinhal deu corpo...
Sem o vosso estímulo e carinho, bem como obviamente do grupo do Cadaval, capitaneado pelo nosso "Almirante" Vasco da Gama, com uma "tripulação" que envolveu mais alguns "camarigos" a quem agradeço reconhecidamente, para além do editor Adelino Fernandes, para quem vai também a minha gratidão pelo esforço, dedicação e capacidade técnica postas ao dispor.
Sem este grupo desinteressadas e solidárias gentes, o desiderato de colocar o livro, não nas bancas ou escaparates das livrarias, mas nas "tabancas" e nas estantes de cada um de nós, nunca teria sido conseguido...
De novo, Vasco da Gama o empreendedor e realizador de sonhos, a quem devo o penhor de uma amizade, "pondo pés ao caminho", como soe dizer-se, em estreita colaboração com os "camarigos" Joaquim Mexia Alves, Miguel Pessoa e José Eduardo Oliveira (Jero) e a sua "Tabanca do Centro", estribados no apoio técnico qualificado e imprescindível de Adelino Fernandes, criaram as condições conducentes ao surgimento deste meu segundo trabalho, num misto de prosa e poesia onde a sextilha é de novo a aposta, voltado mais para o coração dos ex-combatentes Guinéus, a que dei o título de "Guiné terra que aprendemos a amar", prefaciado desta feita pelo nosso camarada e amigo Zé Dinis, da tabanca da Linha, a quem aproveito para agradecer.
Quem quiser adquirir o livro "Guiné - Terra que aprendemos a amar" poderá fazê-lo através do meu endereço: oliveiramaiajun50@gmail.com ou ainda para o meu telemóvel 937 574 140.
No próximo dia 8 de Junho estarei no VIII Encontro da Tabanca Grande em Monte Real, onde poderão também adquirir o meu livro que autografarei com muito gosto se assim o desejarem.
obrigado
mm
******
Pesadelo
De um e outro lado da refrega,
em sofrimento atroz, ninguém o nega,
famílias "vivem" esta guerra horrenda...
P`ra história da Guiné foi contributo,
de esposas, pais, irmãos, pesado luto,
milhares em onze anos de contenda...
A vós, familiares de contendores,
dum lado e doutro, todos sofredores,
pergunto, como estais do vosso luto?
A vós a quem roubaram entes queridos
na flor da idade, jovens destemidos
perdidas vidas em fatal minuto...
Tamanho do vazio que sentis
convosco, nós a quem destino quis,
do inferno regressados, partilhamos...
Em quantas noites pesadelo empurra,
de volta à luta tuga versus turra,
e em sofrimento horrível acordamos?
Estou certo, ser visita, a panaceia
p`ra cura destes males "cá na ideia",
que todos nós sentimos, muito ou pouco...
De "vacas magras" tempo não ajuda,
prioritária a vida, cá não muda
e a infindável espera, põe-me louco...
____________Pesadelo
De um e outro lado da refrega,
em sofrimento atroz, ninguém o nega,
famílias "vivem" esta guerra horrenda...
P`ra história da Guiné foi contributo,
de esposas, pais, irmãos, pesado luto,
milhares em onze anos de contenda...
A vós, familiares de contendores,
dum lado e doutro, todos sofredores,
pergunto, como estais do vosso luto?
A vós a quem roubaram entes queridos
na flor da idade, jovens destemidos
perdidas vidas em fatal minuto...
Tamanho do vazio que sentis
convosco, nós a quem destino quis,
do inferno regressados, partilhamos...
Em quantas noites pesadelo empurra,
de volta à luta tuga versus turra,
e em sofrimento horrível acordamos?
Estou certo, ser visita, a panaceia
p`ra cura destes males "cá na ideia",
que todos nós sentimos, muito ou pouco...
De "vacas magras" tempo não ajuda,
prioritária a vida, cá não muda
e a infindável espera, põe-me louco...
Nota do editor:
Último poste da série de 28 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11173: Bibliografia de uma guerra (68): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2) (René Pélissier / Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P11615: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (54): Respostas (nºs 119/120/121): J. L. Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1970/72); J. Casimiro Carvalho (CCAV 8350, “Piratas de Guileje”, Guileje, 1972/73; CCAÇ 19, "Lacraus de Paunca", Paunca, 1974); e Bernardino Parreira (CCAV 3365, São Domingos, 1971/72; e CCAÇ 16, Bachile, 1972/73)
Resposta > J. L. Vacas de Carvalho [. ex-alf mil cav, comandante do Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1970/72]
(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(4) Actualmente visito o blogue de tempos a tempos, ou quando recebo e-mails.
(5) O que tinha, já mandei.
(7) Vou mais vezes ao Facebook.
(8/9) O que gosto mais e o que gosto menos... Gosto do Facebook. Do Blogue, falta de interatividade. Do Facebook, a total interatividade em tempo real.
(10), Sim , embora já tenha sido bem pior [o acesso ao blogue]
(11) O blogue representou uns despoletar de emoções e ajudou-me a exorcizar más memórias e a reencontrar e conhecer novos guerreiros do Império. A Página [no Facebook] é a sua sucessão/extensão no mundo virtual.
(1) Quando é que descobriste o blogue ?
Devo ter sido dos primeiros.
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
Através do Humberto Reis.
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
Desde sempre [, pelo menos desde 23 de novembro de 2005]
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
Às vezes.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
Já mandei. Ultimamente não.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
Sim.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
Facebook
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
Dos dois.
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
N/R.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
Não.
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
Contacto com vários amigos.
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
Já.
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
Sim.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
Claro, porque é que havia de acabar ?... Nós se calhar é que acabamos primeiro!
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
Abraços Tertulianos do Zé Luis
Resposta nº 120 J. Casimiro Carvalho [, ex-fur mil op esp, CCAV 8350, “Piratas de Guileje”, Guileje; CCAÇ 19, "Lacraus de Paunca", Paunca, 1972/74]
(1/2) Descobri o blogue, por indicação do Magalhães Ribeiro (a data ele sabe)
(3) Sim, não sei a data mas o MR sabe [, 2 de dezembro de 2005]
Resposta nº 120 J. Casimiro Carvalho [, ex-fur mil op esp, CCAV 8350, “Piratas de Guileje”, Guileje; CCAÇ 19, "Lacraus de Paunca", Paunca, 1972/74]
(1/2) Descobri o blogue, por indicação do Magalhães Ribeiro (a data ele sabe)
(3) Sim, não sei a data mas o MR sabe [, 2 de dezembro de 2005]
(4) Actualmente visito o blogue de tempos a tempos, ou quando recebo e-mails.
(5) O que tinha, já mandei.
(6) Sim, conheço a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça].
(7) Vou mais vezes ao Facebook.
(8/9) O que gosto mais e o que gosto menos... Gosto do Facebook. Do Blogue, falta de interatividade. Do Facebook, a total interatividade em tempo real.
(10), Sim , embora já tenha sido bem pior [o acesso ao blogue]
(11) O blogue representou uns despoletar de emoções e ajudou-me a exorcizar más memórias e a reencontrar e conhecer novos guerreiros do Império. A Página [no Facebook] é a sua sucessão/extensão no mundo virtual.
(12) Participei em todos, menos um (coincidente com convívio dos Piratas de Guileje, mas passei por lá, no fim. Este ano é ao contrário, os Piratas reúnem no mesmo dia e vou à Tabanca. Tive que tomar uma decisão dolorosa.
(13) Sim, vou a Monte Real.
(13) Sim, vou a Monte Real.
(14) Acho que sim, [tem condições para continuar]... pois embora com menos “velocidade”, há sempre o efeito “Bola de Neve”. Como diria Galileo Galilei, “no entanto ele move-se”…
(15) Força…continuem até só existir 2 ex-combatentes, um editor e um leitor. Vosso "Herói" Tigre/Pirata/Lacrau
Resposta nº 121 > Bernardino Parreira [ex-fur mil, CCAV 3365/BCAV 3846, São Domingos, 1971/72; e CCAÇ 16, Bachile, 1972/73].
Bom dia, caro camarada e amigo Luis Graça. Peço desculpa de só hoje responder, mas tenho andado muito arredado do computador. Vou agora tentar fazê-lo.
1 - Julgo ter descoberto o Blogue em 2010.
2 - Através da minha mulher, que o encontrou numa pesquisa no Google.
3 - Sim. Desde 20 de agosto de 2010.
4 - Já o fiz diariamente mas, agora, é de tempos a tempos.
5 - Já o tenho feito, mas, agora, não têm surgido ideias ou recordações que valham a pena ser relatadas.
6/7 - Não tenho Facebook
8/9 - Como não tenho Facebook, não posso fazer comparações.
10 - Não.
11 - [O blogue é] uma parte da História da Guerra Colonial.
12/13 - Não.
14 - Sim.
15 - Os meus sinceros parabéns ao Luís Graça e a todos os editores e colaboradores deste precioso Blogue.Um abraço
Resposta nº 121 > Bernardino Parreira [ex-fur mil, CCAV 3365/BCAV 3846, São Domingos, 1971/72; e CCAÇ 16, Bachile, 1972/73].
Bom dia, caro camarada e amigo Luis Graça. Peço desculpa de só hoje responder, mas tenho andado muito arredado do computador. Vou agora tentar fazê-lo.
1 - Julgo ter descoberto o Blogue em 2010.
2 - Através da minha mulher, que o encontrou numa pesquisa no Google.
3 - Sim. Desde 20 de agosto de 2010.
4 - Já o fiz diariamente mas, agora, é de tempos a tempos.
5 - Já o tenho feito, mas, agora, não têm surgido ideias ou recordações que valham a pena ser relatadas.
6/7 - Não tenho Facebook
8/9 - Como não tenho Facebook, não posso fazer comparações.
10 - Não.
11 - [O blogue é] uma parte da História da Guerra Colonial.
12/13 - Não.
14 - Sim.
15 - Os meus sinceros parabéns ao Luís Graça e a todos os editores e colaboradores deste precioso Blogue.Um abraço
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11611: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (53): Respostas (nºs 116/117/118): Ferreira Neto (CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69); João Lourenço (PINT 9288, Cufar, 1972/74) e Jorge Coutinho (CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974)
Nota do editor:
Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11611: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (53): Respostas (nºs 116/117/118): Ferreira Neto (CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69); João Lourenço (PINT 9288, Cufar, 1972/74) e Jorge Coutinho (CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974)
Guiné 63/74 - P11614: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (13): Religiosidade
1. Em mensagem do dia 19 de Maio de 2013, o nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima terceira "Carta de Amor e Guerra".
CARTAS DE AMOR E GUERRA
13 - RELIGIOSIDADE
Vale de Figueira, 11- Janeiro-1966
(… … …)
Eu creio sinceramente no teu regresso. Sou católica, como sabes. E a minha fé na protecção divina é grande. Deus ouvirá a minha prece. Fervorosamente, eu peço-lhe que nos aproxime, que te traga de novo ao seio da tua família. E já muitas preces foram atendidas, mesmo no que a ti respeita. Não permitiu que ficasses a meu lado nesta época mas, mesmo assim, não desespero.
(… … …)
Não queria causar-te aborrecimentos tocando-te em assuntos religiosos. Desculpa-me, pois, se te enfado mas tenho de te dizer o que sinto, o que é a minha opinião.
Não terás tu, rodeado de perigos, no mais acerbo da dor, sentido necessidade de apelar para qualquer auxílio supremo, de te confiares a algum ser sobrenatural?
Essa tua fé nos bons resultados da tua actuação, a tua confiança na sorte, não serão indícios da tua credulidade em algo de divino mas de que, confuso que se te apresenta, ainda te não apercebeste?
Pelo estudo avançado de filosofia que fizeste e ao procurar explicar tudo à luz da razão, cais em contradição ao negares a existência de Deus. A meu ver só se pode negar qualquer coisa que sabemos que existe pois, se não existe, é utópico negá-la. Se negas a existência desse Deus, mesmo sem o perceberes afirmas que existe e apenas não queres reconhecê-lo.
Talvez agora estejas sentindo essa necessidade de te protegeres, de te pores à guarda de um ser divino, dum ser supremo. Talvez que na aproximação do perigo estejas também tu voltando ao caminho de católico ou de cristão que és.
(… … …)
Apetecia-me doidamente abraçar-te, beijar-te muito, muito, (…).
Meu amor querido, seja na Guiné ou em qualquer lugar recôndito da Terra por onde vagueemos, há problemas, há situações angustiantes. A cada um compete resolvê-las. Sorri um poucochito mais, meu querido …
(… … …)
Pondo em acção toda a nossa vitalidade, toda a nossa energia de jovens, não deixemos que as derrocadas diárias nos marquem ao desabarem. Deste modo venceremos, decerto. Combinado, minha jóia querida? (… … …). Confiemos então na tal “sorte”, na tão ambicionada sorte que há-de ser a tua mais fiel companheira enquanto a minha presença pessoal junto de ti nos for vedada.
(…) beijos apaixonados da sempre tua N.
Adeus meu querido.
Bissorã, 18 Jan 66
Muito obrigado pela tua carta, minha querida. Valerá a pena elogiar-te? Com certeza. Tu merece-lo.
(…… …)
Nota, no entanto, minha N. Apesar destes meus indicativos de satisfação, não quero que estagnes. Essa tua vontade de progredir que não pare, que não feneça. (…). Muito há ainda para descobrir.
(… … …)
E eu confio, tenho a certeza na tua capacidade de ascensão intelectual. Vais no bom caminho. Estás OK, minha querida!
Quero-te dizer agora uma coisa: - sê coerente contigo própria, (…). Se és católica, se és religiosa, frequenta a Igreja, professa calmamente a sua doutrina mas sem te fanatizares, com o sentido crítico, razoável, que deve ser o de alguém consciente.
(…).
Custa-me dizer-te mas, no aspecto religioso, (…), não sinto possibilidades de poder acompanhar-te. Eu não nego a existência de Deus, nota bem. Simplesmente, eu sou agnóstico. Não nego a existência de Deus mas também não há nada que ma possa provar. Nada, percebes?
Todos os argumentos que me possam indicar são, para mim, sem bases, refutáveis. Podes crer, minha querida, que em todos os momentos de aflição por que tenho passado, nunca, NUNCA, nota bem, um leve chamamento por algo sobrenatural me envolveu o espírito. (… … …). O que sinto, em todos esses momentos críticos, é ódio, um ódio extravasante. Não pelos chamados terroristas que provocam a aflição. Não tenho nada contra eles. Mas sim contra esta orgânica e seus mantenedores. Isto aqui é mesmo um inferno. (…). De um momento para o outro tudo pode acontecer. E a Guiné ficará na história de Portugal como o cadafalso de centenas de jovens, inglória e criminosamente sujeitos a megalomaníacos que não há meio de serem destruídos. Reza, minha querida, se tens fé. Agradeço-te as tuas boas intenções.
Desculpa, mas ri-me de um período da tua última carta no que respeita à negação da existência de Deus. Aquela parte que se referia à filosofia. Tudo aquilo que expuseste são trocadilhos de ideias que não levam a nada e que muita gente usa para confundir os espíritos. Eu, como já te disse atrás, não nego a existência de Deus mas também nada há que me faça acreditar nele.
(… … …)
Acho que só quem tem fé pode acreditar em Deus. Não tenho fé. Já a tive. Mas sinto-me bem assim. Não preciso de pôr à minha frente o mito de um ser superior que nos vigia, vela por nós, castiga ou salva. Se Deus significa o caminho da salvação ou da perfeição, o meu Deus é o bem, o belo, a paz, a alegria, o amor, a liberdade, a vida. É um Deus mais íntimo, que eu mais acarinho pois sou eu também um daqueles que o ajudam a viver.
(… … … ).
Sei, para terminar, que posso afirmar convictamente:
- A existência ou a não existência de Deus não é problema para mim. Sinto-me bem à margem, desinteressado do problema. Já sofri muito por causa disto. Agora sinto-me perfeitamente satisfeito com o meu agnosticismo. (… … …).
Minha querida, AMO-TE. (…).
M.
[Cerca de um mês depois de ter recebido a carta de D. (11.01.1965), onde se lê “Não terás tu, rodeado de perigos, no mais acerbo da dor, sentido necessidade de apelar para qualquer auxílio supremo, de te confiares a algum ser sobrenatural?” passei por um momento único em que me senti totalmente nas mãos do inimigo. Referi-lhe este facto, a tempo, numa das cartas mas não tocando na questão religiosa ou, melhor, indirectamente dizia que, num clima de aflição, não tinha pedido apoio sobrenatural. É que, numa emboscada e durante uns segundos intermináveis, tinha entrado no domínio do despojo absoluto (“acabou, tudo está consumado”) à espera de ser fuzilado. Mais que num grito abafado, saiu-me num murmúrio angustiante um “Ai, minha mãezinha!”. E não era aquela comum e muito vulgar expressão de aflição, era mesmo um pedido inconsciente de socorro de quem estava consciente da sua situação de total fragilidade e em que, qual bebé, “só” a sua Mãe o poderia salvar.]
Bissorã, 17 Março 66
(… … …)
Olha lá, não ouviste aí falar, na rádio ou nos jornais, numa grande operação realizada aqui, em que tivemos um êxito enorme? Foi na noite de 19 para 20 de Fevereiro. O teu M. lá andou. Vi-me tão atrapalhado nesse dia que até gritei pela minha Mãezinha e por ti. Não te rias, é verdade! Um “sacana” estava mesmo a atirar-me para cima. As balas picavam o chão à minha volta e só estava à espera de sentir uma pelo corpo dentro. Mas saí incólume. Éramos perto de 250 homens e só tivemos quatro feridos [ligeiros]. Capturámos muitíssimo material de guerra. (…). As fotografias do material capturado deveriam ter circulado pelos jornais e pela TV. Não viste? [*]
(… … …).
Foto 2
[*] [ “Vi-me tão atrapalhado nesse dia que até gritei pela minha mãezinha e por ti”:
Referência à “Operação Castor” (20/02/1966) que consistiu num bem sucedido golpe de mão a um depósito de material de guerra do IN na sua grande base de Morés. Correu tudo de tal modo que o IN só reagiu bastante tempo depois, interrompendo o serviço dos helicópteros que já tinham recolhido e transportado para o Olossato a maior parte do material (cerca de três toneladas), tendo o restante de ser levado às costas pelo pessoal participante na acção (CCaç 816, CCaç 1419 e Pel Milicias). Nesta retirada, no caminho para o Olossato, sofremos uma forte emboscada. Na preocupação de coordenar os “meus” homens, aconteceu ver-me no meio da “estrada” e ter de me deitar aí, ficando a descoberto, de bruços, com a cabeça a tentar “esconder-se” atrás de um saco de carregadores vazios que antes levava aos ombros. Dei por um levantar de poeira provocado por uma rajada com as balas a picar o chão à minha frente, a centímetros da cabeça. Comecei a sentir-me alvo de alguém que tentava acertar-me. Sem hipóteses de me levantar e de mudar de lugar fiquei, imóvel, colado ao chão, à espera de ser “costurado”. Ainda hoje, quando penso nisto, sinto um calafrio a percorrer-me a coluna, desde o “buraco” ao fundo das costas até à nuca. E é verdade, “juro”, que nesta aflição me não ocorreu qualquer ideia e/ou expressão de índole religiosa. Se “gritei” pela namorada, já me não lembro. Mas o “Ai, minha mãezinha!” continua fortemente a ecoar na minha mente quando recordo o acontecimento.
Sobre esta operação militar, “Condor”, ver neste blogue o P3806 de 27/01/2009, do camarada Rui Silva da CCaç 816, de onde foram recolhidas as imagens acima publicadas. Neste “post” do nosso estimado “tabanqueiro” há dois erros a merecer correção:
(i) não foi a CCaç 1418 quem acompanhou a CCaç 816, mas sim a CCaç 1419, a que pertenci, deslocada de Bissorã para Olossato precisamente para esta operação.
(ii) também a CCaç 1481 não foi a outra companhia que atuou “à distância” pois estava em Moçambique (BCaç 1873). Julgo que na identificação houve troca dos algarismos 1 e 8 e, por isso, creio ter sido, aqui sim, a CCaç 1418 a atuar.]
____________
Nota do editor
Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11413: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (12): A morte se fez visita estrondosa
CARTAS DE AMOR E GUERRA
13 - RELIGIOSIDADE
(… … …)
Eu creio sinceramente no teu regresso. Sou católica, como sabes. E a minha fé na protecção divina é grande. Deus ouvirá a minha prece. Fervorosamente, eu peço-lhe que nos aproxime, que te traga de novo ao seio da tua família. E já muitas preces foram atendidas, mesmo no que a ti respeita. Não permitiu que ficasses a meu lado nesta época mas, mesmo assim, não desespero.
(… … …)
Não queria causar-te aborrecimentos tocando-te em assuntos religiosos. Desculpa-me, pois, se te enfado mas tenho de te dizer o que sinto, o que é a minha opinião.
Não terás tu, rodeado de perigos, no mais acerbo da dor, sentido necessidade de apelar para qualquer auxílio supremo, de te confiares a algum ser sobrenatural?
Essa tua fé nos bons resultados da tua actuação, a tua confiança na sorte, não serão indícios da tua credulidade em algo de divino mas de que, confuso que se te apresenta, ainda te não apercebeste?
Pelo estudo avançado de filosofia que fizeste e ao procurar explicar tudo à luz da razão, cais em contradição ao negares a existência de Deus. A meu ver só se pode negar qualquer coisa que sabemos que existe pois, se não existe, é utópico negá-la. Se negas a existência desse Deus, mesmo sem o perceberes afirmas que existe e apenas não queres reconhecê-lo.
Talvez agora estejas sentindo essa necessidade de te protegeres, de te pores à guarda de um ser divino, dum ser supremo. Talvez que na aproximação do perigo estejas também tu voltando ao caminho de católico ou de cristão que és.
(… … …)
Apetecia-me doidamente abraçar-te, beijar-te muito, muito, (…).
Meu amor querido, seja na Guiné ou em qualquer lugar recôndito da Terra por onde vagueemos, há problemas, há situações angustiantes. A cada um compete resolvê-las. Sorri um poucochito mais, meu querido …
(… … …)
Pondo em acção toda a nossa vitalidade, toda a nossa energia de jovens, não deixemos que as derrocadas diárias nos marquem ao desabarem. Deste modo venceremos, decerto. Combinado, minha jóia querida? (… … …). Confiemos então na tal “sorte”, na tão ambicionada sorte que há-de ser a tua mais fiel companheira enquanto a minha presença pessoal junto de ti nos for vedada.
(…) beijos apaixonados da sempre tua N.
Adeus meu querido.
Bissorã, 18 Jan 66
Muito obrigado pela tua carta, minha querida. Valerá a pena elogiar-te? Com certeza. Tu merece-lo.
(…… …)
Nota, no entanto, minha N. Apesar destes meus indicativos de satisfação, não quero que estagnes. Essa tua vontade de progredir que não pare, que não feneça. (…). Muito há ainda para descobrir.
(… … …)
E eu confio, tenho a certeza na tua capacidade de ascensão intelectual. Vais no bom caminho. Estás OK, minha querida!
Quero-te dizer agora uma coisa: - sê coerente contigo própria, (…). Se és católica, se és religiosa, frequenta a Igreja, professa calmamente a sua doutrina mas sem te fanatizares, com o sentido crítico, razoável, que deve ser o de alguém consciente.
(…).
Custa-me dizer-te mas, no aspecto religioso, (…), não sinto possibilidades de poder acompanhar-te. Eu não nego a existência de Deus, nota bem. Simplesmente, eu sou agnóstico. Não nego a existência de Deus mas também não há nada que ma possa provar. Nada, percebes?
Todos os argumentos que me possam indicar são, para mim, sem bases, refutáveis. Podes crer, minha querida, que em todos os momentos de aflição por que tenho passado, nunca, NUNCA, nota bem, um leve chamamento por algo sobrenatural me envolveu o espírito. (… … …). O que sinto, em todos esses momentos críticos, é ódio, um ódio extravasante. Não pelos chamados terroristas que provocam a aflição. Não tenho nada contra eles. Mas sim contra esta orgânica e seus mantenedores. Isto aqui é mesmo um inferno. (…). De um momento para o outro tudo pode acontecer. E a Guiné ficará na história de Portugal como o cadafalso de centenas de jovens, inglória e criminosamente sujeitos a megalomaníacos que não há meio de serem destruídos. Reza, minha querida, se tens fé. Agradeço-te as tuas boas intenções.
Desculpa, mas ri-me de um período da tua última carta no que respeita à negação da existência de Deus. Aquela parte que se referia à filosofia. Tudo aquilo que expuseste são trocadilhos de ideias que não levam a nada e que muita gente usa para confundir os espíritos. Eu, como já te disse atrás, não nego a existência de Deus mas também nada há que me faça acreditar nele.
(… … …)
Acho que só quem tem fé pode acreditar em Deus. Não tenho fé. Já a tive. Mas sinto-me bem assim. Não preciso de pôr à minha frente o mito de um ser superior que nos vigia, vela por nós, castiga ou salva. Se Deus significa o caminho da salvação ou da perfeição, o meu Deus é o bem, o belo, a paz, a alegria, o amor, a liberdade, a vida. É um Deus mais íntimo, que eu mais acarinho pois sou eu também um daqueles que o ajudam a viver.
(… … … ).
Sei, para terminar, que posso afirmar convictamente:
- A existência ou a não existência de Deus não é problema para mim. Sinto-me bem à margem, desinteressado do problema. Já sofri muito por causa disto. Agora sinto-me perfeitamente satisfeito com o meu agnosticismo. (… … …).
Minha querida, AMO-TE. (…).
M.
******
[Cerca de um mês depois de ter recebido a carta de D. (11.01.1965), onde se lê “Não terás tu, rodeado de perigos, no mais acerbo da dor, sentido necessidade de apelar para qualquer auxílio supremo, de te confiares a algum ser sobrenatural?” passei por um momento único em que me senti totalmente nas mãos do inimigo. Referi-lhe este facto, a tempo, numa das cartas mas não tocando na questão religiosa ou, melhor, indirectamente dizia que, num clima de aflição, não tinha pedido apoio sobrenatural. É que, numa emboscada e durante uns segundos intermináveis, tinha entrado no domínio do despojo absoluto (“acabou, tudo está consumado”) à espera de ser fuzilado. Mais que num grito abafado, saiu-me num murmúrio angustiante um “Ai, minha mãezinha!”. E não era aquela comum e muito vulgar expressão de aflição, era mesmo um pedido inconsciente de socorro de quem estava consciente da sua situação de total fragilidade e em que, qual bebé, “só” a sua Mãe o poderia salvar.]
Bissorã, 17 Março 66
(… … …)
Olha lá, não ouviste aí falar, na rádio ou nos jornais, numa grande operação realizada aqui, em que tivemos um êxito enorme? Foi na noite de 19 para 20 de Fevereiro. O teu M. lá andou. Vi-me tão atrapalhado nesse dia que até gritei pela minha Mãezinha e por ti. Não te rias, é verdade! Um “sacana” estava mesmo a atirar-me para cima. As balas picavam o chão à minha volta e só estava à espera de sentir uma pelo corpo dentro. Mas saí incólume. Éramos perto de 250 homens e só tivemos quatro feridos [ligeiros]. Capturámos muitíssimo material de guerra. (…). As fotografias do material capturado deveriam ter circulado pelos jornais e pela TV. Não viste? [*]
(… … …).
Foto 1
Foto 2
Fotos 1 e 2 > Referências na imprensa (não identificada) à op. Castor.
Foto 3
Foto 4
Foto 4:
Fotos 3 e 4 > Imagens de material capturado, em espera para ser carregado no heli.
Foto 5
Foto 6
Fotos 5 e 6 > Imagens de algum do mais importante material de guerra capturado e reunido no Olossato. [*] [ “Vi-me tão atrapalhado nesse dia que até gritei pela minha mãezinha e por ti”:
Referência à “Operação Castor” (20/02/1966) que consistiu num bem sucedido golpe de mão a um depósito de material de guerra do IN na sua grande base de Morés. Correu tudo de tal modo que o IN só reagiu bastante tempo depois, interrompendo o serviço dos helicópteros que já tinham recolhido e transportado para o Olossato a maior parte do material (cerca de três toneladas), tendo o restante de ser levado às costas pelo pessoal participante na acção (CCaç 816, CCaç 1419 e Pel Milicias). Nesta retirada, no caminho para o Olossato, sofremos uma forte emboscada. Na preocupação de coordenar os “meus” homens, aconteceu ver-me no meio da “estrada” e ter de me deitar aí, ficando a descoberto, de bruços, com a cabeça a tentar “esconder-se” atrás de um saco de carregadores vazios que antes levava aos ombros. Dei por um levantar de poeira provocado por uma rajada com as balas a picar o chão à minha frente, a centímetros da cabeça. Comecei a sentir-me alvo de alguém que tentava acertar-me. Sem hipóteses de me levantar e de mudar de lugar fiquei, imóvel, colado ao chão, à espera de ser “costurado”. Ainda hoje, quando penso nisto, sinto um calafrio a percorrer-me a coluna, desde o “buraco” ao fundo das costas até à nuca. E é verdade, “juro”, que nesta aflição me não ocorreu qualquer ideia e/ou expressão de índole religiosa. Se “gritei” pela namorada, já me não lembro. Mas o “Ai, minha mãezinha!” continua fortemente a ecoar na minha mente quando recordo o acontecimento.
Sobre esta operação militar, “Condor”, ver neste blogue o P3806 de 27/01/2009, do camarada Rui Silva da CCaç 816, de onde foram recolhidas as imagens acima publicadas. Neste “post” do nosso estimado “tabanqueiro” há dois erros a merecer correção:
(i) não foi a CCaç 1418 quem acompanhou a CCaç 816, mas sim a CCaç 1419, a que pertenci, deslocada de Bissorã para Olossato precisamente para esta operação.
(ii) também a CCaç 1481 não foi a outra companhia que atuou “à distância” pois estava em Moçambique (BCaç 1873). Julgo que na identificação houve troca dos algarismos 1 e 8 e, por isso, creio ter sido, aqui sim, a CCaç 1418 a atuar.]
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Nota do editor
Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11413: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (12): A morte se fez visita estrondosa
Guiné 63/74 - P11613: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (1): Bissau, ontem e hoje
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 1 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (1)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 2 > O primeiro encontro com o passado: um antigo "djubi", hoje quadro superior estatal, reconhece o "alferes paraquedista", hoje médico, ortopedista, Francisco Silva. Do lado esquerdo, a Maria Armanda e a Elisabete.
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 3 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (2)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 4 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (3)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 5 > Uma rua de Bissau (1)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 6 > Uma rua de Bissau (2)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 7 > Um monumento Português com um “toque” independentista, a estrela.
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 8 > A Cadidjato Candé, filha de Aliu Candé, e a Maria Armanda, esposa do José Teixeira.
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 9 > Transportes públicos
Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte I
por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]
Chegamos alta madrugada ao Aeroporto de Bissau [, terça-feira, 30 de abril]. À nossa espera estavam os dedicados funcionários da AD, o Tchibi e o Bemba, que nos conduziram rapidamente para a sede desta Associação no Quelélé onde amavelmente disponibilizara dois quartos na Escola de Hotelaria, para os quatro turistas tugas: o Francisco Silva e esposa Elisabete, e o José Teixeira e esposa, a Maria Armanda
Após um sono reparador iniciamos as visitas de cumprimentos na sede da AD, ao Pepito e colaboradores. Pude abraçar de novo a Cadidjato Candé, mas conhecida por Cadi Guerra, a filha do lendário Aliu Sada Candé, dos tempos de Aldeia Formosa (Quebo). O combatente que avançava com o seu grupo, de peito aberto às balas ao encontro do inimigo que nos fazia esperas no mato com fins nada amistosos. Lamento a morte violenta a que foi sujeito, uns meses depois de termos abandonado aquele povo. Sei que, acabada a guerra, voltou à sua terra e dedicou-se como todos os ex-combatentes ao ganha-pão na lala, onde o foram buscar para julgamento popular e morte violenta. Em 2008 tive o grato prazer de conhecer a sua filha, a Cadi em Guiledje e logo ali firmamos uma grata amizade. Sou o “tio” mais novo da Cadi
Grandes amigos, os companheiros da AD. Sabem acolher como ninguém. Sentimo-nos em casa, com o calor humana que nos proporcionaram, apesar do asfixiante calor solar que se fazia sentir. Momentos gratificantes que não esqueceremos.
Fomos de seguida à procura da nova cidade de Bissau que não conseguimos encontrar. Vimos, sim, uma cidade velha esburacada, poluída e ruidosa. Muita gente em alegre movimento no seu colorido característico, muitas viaturas a rodar, umas velhas a cair de podre em disputa com a nova vaga de carros e jeeps de luxo, sinais de riqueza de alguns, mas uma cidade sem alma. Muito lixo nas ruas. O Cais do Pijiguiti completamente descaracterizado, pela imundície e pelo cheiro nauseabundo de detritos perdidos na orla marítima. Ali mesmo funciona um pequeno mercado cheio de vida.
Dando asas à saudade, fomos até à antiga messe de Oficiais em Santa Luzia, onde funciona atualmente um Hotel [, o Azarai]. Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e, se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto.
Ali mesmo se deu o primeiro encontro com o passado quando o diretor de um Instituto do Estado Guineense, de passagem, reconheceu ao primeiro olhar o “alferes paraquedista”, ou seja o nome pelo qual o Francisco Silva era conhecido por ter feito uma experiência nos paraquedistas antes de ingressar no Exército e entabulou conversa connosco, sobre os tempos em que, sendo ele um miúdo, convivia na sua tabanca natal com os militares portugueses ali estacionados. (*)
Um franguinho de chabéu no Restaurante A Padeira Africana retemperou-nos as forças, numa tarde quente que convidava ao repouso, a quem acabava de chegar do frio Portugal.
Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão, segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [, o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela Drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital.
Uma criancinha aguarda há cerca de um ano o milagre de ser vista e operada a uma perna. Faltava o médico ortopedista e eis que aparece um vindo de Portugal, sem ninguém contar e não se faz rogado. Logo, se alinham as condições para que a criança seja operada. Torna-se necessário pedir à Clinica Pediátrica de Bor para que a operação seja feita neste Hospital, pois no de Cumura não há as condições ideais. Programadas as démarches para se concretizar a operação clínica, recolhemos a Quelélé para um merecido repouso, depois de jantarmos na Baixa de Bissau e apreciarmos a ruidosa noite com carros e carros em movimento num vai e vem pela única saída da cidade, a Avenida do Aeroporto.
(Continua)
_______________Nota do editor:
(*) Vd. poste de 26 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973
(...) O Francisco Silva revelou-me na altura [, em Iemberém,] ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto na parada, pelos seus homens, africanos (ou por um dos seus homens, já não sei precisar bem) do Pel Caç Nat 51, sediado em Jumbembem, sector de Farim. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que "era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina)"...
Sabemos agora, através do Fernando Araújo, que esse infortunado camarada chamava-se Nuno Gonçalves da Costa, era natural de Arcos de Valdevez, e terá sido morto, "traiçoeiramente", a sangue frio, à queima-roupa, " com 3 tiros de G3", disparados por um militar do seu Pel Caç Nat 51, que não acatou o castigo (um reforço) que lhe imposto pelo seu comandante. A data fatídica foi em 16 de Julho de 1973. Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua freguesia natal, São Jorge. (...)
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11612: Efemérides (127): O 10 de junho da minha indignação: em 2006 o Paulo Teixeira Pinto, em 2013 a Isabel Jonet... a invocar, em vão, o nome dos combatentes! (José Colaço)
A minha indignação
por José Colaço
Decorria o ano de 2006, levanto-me trato da minha higiene pessoal, tomo o meu pequeno almoço, procuro a minha velha boina, as barretas de identificação de ex-combatente e toca marchar a caminho do forte do Bom Sucesso para comemorar o 10 de Junho, sem saber quem discursava.
Ao chegar vejo o programa e deparo quem ia usar da palavra em homenagem aos combatentes caídos no campo da Batalha na guerra colonial era o Sr. que dá pelo nome de Paulo Jorge de Assunção Rodrigues Teixeira Pinto, mais conhecido por Paulo Teixeira Pinto, ex-quadro superior do Millennium BCP.
Aqui a minha desilusão pessoal e falei para mim próprio, este tipo a homenagear os quase 10.000 ex-combatentes que morreram na guerra Colonial, ele no tempo em que a guerra se desenrolou, era um puto... Porque será que não usa da palavra um militar ou ex-militar mas ex-combatente?!
Hoje [, 21 de maio de 2013], ao folhear o Correio da Manhã, na última página deparo com o comentário do jornalista Manuel Catarino [, 'Cilinha' Jonet] que transcrevo na íntegra :
"Compreende-se o convite a Isabel Jonet, para discursar na homenagem do 10 de Junho aos militares mortos em combate. A senhora é, a seu modo, uma combatente - que caiu ferida de ridículo ao fazer o elogio da pobreza e agora, amparada pelo presidente da comissão organizadora da cerimónia, almirante Melo Gomes, regressa ao campo de batalha da reabilitação pública.
"A homenagem aos combatentes mortos é um assunto demasiado sério. Transformá-la noutra coisa é uma indignidade que ofende a memória dos quase 10 mil mortos no Ultramar. Não sei o que
senhora vai dizer - mas desconfio que a ‘Cilinha’ Supico Pinto não diria melhor"...
Um abraço, Colaço.
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11610: Efemérides (126): "O dia em que Satanás andou à solta"! Cufar, 2 de Março de 1974 (António Almeida, Pel Rec Fox, 8870/72)
por José Colaço
Decorria o ano de 2006, levanto-me trato da minha higiene pessoal, tomo o meu pequeno almoço, procuro a minha velha boina, as barretas de identificação de ex-combatente e toca marchar a caminho do forte do Bom Sucesso para comemorar o 10 de Junho, sem saber quem discursava.
Ao chegar vejo o programa e deparo quem ia usar da palavra em homenagem aos combatentes caídos no campo da Batalha na guerra colonial era o Sr. que dá pelo nome de Paulo Jorge de Assunção Rodrigues Teixeira Pinto, mais conhecido por Paulo Teixeira Pinto, ex-quadro superior do Millennium BCP.
Aqui a minha desilusão pessoal e falei para mim próprio, este tipo a homenagear os quase 10.000 ex-combatentes que morreram na guerra Colonial, ele no tempo em que a guerra se desenrolou, era um puto... Porque será que não usa da palavra um militar ou ex-militar mas ex-combatente?!
Hoje [, 21 de maio de 2013], ao folhear o Correio da Manhã, na última página deparo com o comentário do jornalista Manuel Catarino [, 'Cilinha' Jonet] que transcrevo na íntegra :
"Compreende-se o convite a Isabel Jonet, para discursar na homenagem do 10 de Junho aos militares mortos em combate. A senhora é, a seu modo, uma combatente - que caiu ferida de ridículo ao fazer o elogio da pobreza e agora, amparada pelo presidente da comissão organizadora da cerimónia, almirante Melo Gomes, regressa ao campo de batalha da reabilitação pública.
"A homenagem aos combatentes mortos é um assunto demasiado sério. Transformá-la noutra coisa é uma indignidade que ofende a memória dos quase 10 mil mortos no Ultramar. Não sei o que
senhora vai dizer - mas desconfio que a ‘Cilinha’ Supico Pinto não diria melhor"...
Um abraço, Colaço.
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11610: Efemérides (126): "O dia em que Satanás andou à solta"! Cufar, 2 de Março de 1974 (António Almeida, Pel Rec Fox, 8870/72)
Guiné 63/74 - P11611: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (53): Respostas (nºs 116/117/118): Ferreira Neto (CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69); João Lourenço (PINT 9288, Cufar, 1972/74) e Jorge Coutinho (CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974)
Resposta nº 116 > [Joaquim Lúcio] Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]
Realmente não poderei estar presente no convívio, mas espero que tudo decorra em ambiente saudável, seja profícuo, e reine o entendimento (12/13). Um abraço para todos, e obrigado!
_____________
(1) Quando é que descobriste o blogue ? Agosto 2007
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? Bastante. Foi numa óptima ideia.
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não.
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. Nada a acrescentar. Tive muito gosto em satisfazer o pedido. Felicito o trabalho dos responsáveis. Bem hajam.
Resposta nº 117 > João [José] Lourenço [, ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) Pesquisa no Google
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Sim, desde 14 de agosto de 2007
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...). De tempos a tempos.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Mandei enquanto foi oportuno.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não. Detesto tal coisa.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Respondido.
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Tudo o que foi dito de uma forma simples.
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? Conversa balofa.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Não.
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? Bastante. Foi numa óptima ideia.
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não.
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Penso que sim, enquanto houver disposição e força anímica dos guerreiros.
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. Nada a acrescentar. Tive muito gosto em satisfazer o pedido. Felicito o trabalho dos responsáveis. Bem hajam.
Resposta nº 117 > João [José] Lourenço [, ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]
Bom dia, meu caro Luís, as minhas desculpas por não ter respondido mais cedo mas eu e a internet não somos os “maiores amigos”... Vou ser o mais sucinto possível:
1) Maio 2009
2) Pesquisa no Google feita por uma filha
3) Acho que sou membro… [, desde 19 de maio de 2009]
4) Tempos a tempos mas está nos favoritos para eu encontrar…
5) Não sei como…..
6) Redes sociais não são a “minha praia”…
7) Nem por isso….
8) Saber novidades, de antigos companheiros e foi giro reencontrar o Franco e o [António Graça de ] Abreu, por exemplo.
9) Sem opinião especifica…
10) Não me apercebi.
11) O blogue foi uma grata descoberta de boas recordações de tempos não tão bons…
12) Já fui a um ou dois, o da Ortigosa (excelente) e um ou dois no Hotel de Monte Real.
13) Não me vai ser possível, por razões familiares.
14) Acho que deve continuar para não quebrar a corrente, mas percebo que é uma tarefa complicada, pelo amor à causa que têm dedicado, bem hajam.
15) No comments.
1) Maio 2009
2) Pesquisa no Google feita por uma filha
3) Acho que sou membro… [, desde 19 de maio de 2009]
4) Tempos a tempos mas está nos favoritos para eu encontrar…
5) Não sei como…..
6) Redes sociais não são a “minha praia”…
7) Nem por isso….
8) Saber novidades, de antigos companheiros e foi giro reencontrar o Franco e o [António Graça de ] Abreu, por exemplo.
9) Sem opinião especifica…
10) Não me apercebi.
11) O blogue foi uma grata descoberta de boas recordações de tempos não tão bons…
12) Já fui a um ou dois, o da Ortigosa (excelente) e um ou dois no Hotel de Monte Real.
13) Não me vai ser possível, por razões familiares.
14) Acho que deve continuar para não quebrar a corrente, mas percebo que é uma tarefa complicada, pelo amor à causa que têm dedicado, bem hajam.
15) No comments.
Resposta nº 118 > Jorge Coutinho [, ex-alf mil op esp/ranger, CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974]
Olá, amigos! Fui entronizado no blogue através do camarada e amigo Ranger Magalhães Ribeiro. (1/2). [Sou membro da Tabanca Grande desde 21 de abril de 2011] (3)
Olá, amigos! Fui entronizado no blogue através do camarada e amigo Ranger Magalhães Ribeiro. (1/2). [Sou membro da Tabanca Grande desde 21 de abril de 2011] (3)
De tempos a tempos dou uma voltinha por este, mas com mais assiduidade visito o Blogue MR (4).
Não uso Facebook (6/7).
Creio que o trabalho desenvolvido por vocês é ótimo, e devem continuar, pois, embora eu não seja participante ativo, gosto sempre de ver o empenho e dedicação; é certo que tudo isto funciona altruisticamente, o que é de louvar (11).
Realmente não poderei estar presente no convívio, mas espero que tudo decorra em ambiente saudável, seja profícuo, e reine o entendimento (12/13). Um abraço para todos, e obrigado!
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11603: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (52): Respostas (nºs 113/114/115): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566; Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM e Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208
Último poste da série > 21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11603: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (52): Respostas (nºs 113/114/115): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566; Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM e Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208
Guiné 63/74 - P11610: Efemérides (126): "O dia em que Satanás andou à solta"! Cufar, 2 de Março de 1974 (António P. Almeida, Pel Rec Fox, 8870/72)
Guiné > Região de Tombali > Cufar > Porto do rio Manterunga > 2 de março de 1974 > Batelão ao serviço do BINT (Batalhão da Intendência, de Bissau), em chamas, depois de ter accionado uma mina.
Foto: © António Graça de Abreu (2009). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) António P. Almeida, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande. [Foto à esquerda, cortesia do blogue do Pel Rec Fox 8870/72]
De: António Almeida
Data: 21 de Maio de 2013 às 23:51
Assunto: Cufar, 2 de Março de 1974. "O dia em que Satanás andou à solta"!
"Os homens ardiam como tochas, gritavam, vinham direitos a mim. O inferno deve se um lugar bem mais agradável do que aquelas dezenas de metros de picada com pessoas a serem consumidas pelas chamas, o ar, o escuro da noite empestado por um horrível, um nauseabundo cheiro a carne humana queimada. Despi a minha camisa e com ela tentei apagar restos do fogo que cobria aqueles homens. Meti quatro negros no carro, dei a volta com o jipe e subi, acelerando em direcção a Cufar. Uma viatura blindada Fox descia a picada com os faróis e as metralhadoras apontadas para nós.
"Eram os primeiros militares que acorriam à explosão dos barcos. Gritei-lhes para pararem. Ficaram espantadíssimos por encontrarem ali o alferes Abreu em tronco nu com homens todos queimados dentro do jipe. Rodeei a Fox com dificuldade – ocupava quase toda a picada, – e em segundos cheguei com os desgraçados à enfermaria de Cufar. Foram deitados em macas e regados com água. Dois grupos de combate da 4740, bem armados, desciam entretanto para o porto interior e havia mais pessoas atingidas pela gasolina a arder, a caminho. Não era mais comigo." (*)
Camarada Graça de Abreu.
Boa noite.
Para além do texto bem escrito, documentas fielmente o que se passou nesse dia tenebroso. A Fox era conduzida pelo José Almeida Barbosa, de Suzão, Valongo, e por mim, António Almeida, como manuseador do armamento da viatura.
(*) Vd. poste de 12 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5258: A tragédia de Cufar, sábado, dia do Diabo, 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)
De: António Almeida
Data: 21 de Maio de 2013 às 23:51
Assunto: Cufar, 2 de Março de 1974. "O dia em que Satanás andou à solta"!
"Os homens ardiam como tochas, gritavam, vinham direitos a mim. O inferno deve se um lugar bem mais agradável do que aquelas dezenas de metros de picada com pessoas a serem consumidas pelas chamas, o ar, o escuro da noite empestado por um horrível, um nauseabundo cheiro a carne humana queimada. Despi a minha camisa e com ela tentei apagar restos do fogo que cobria aqueles homens. Meti quatro negros no carro, dei a volta com o jipe e subi, acelerando em direcção a Cufar. Uma viatura blindada Fox descia a picada com os faróis e as metralhadoras apontadas para nós.
"Eram os primeiros militares que acorriam à explosão dos barcos. Gritei-lhes para pararem. Ficaram espantadíssimos por encontrarem ali o alferes Abreu em tronco nu com homens todos queimados dentro do jipe. Rodeei a Fox com dificuldade – ocupava quase toda a picada, – e em segundos cheguei com os desgraçados à enfermaria de Cufar. Foram deitados em macas e regados com água. Dois grupos de combate da 4740, bem armados, desciam entretanto para o porto interior e havia mais pessoas atingidas pela gasolina a arder, a caminho. Não era mais comigo." (*)
Camarada Graça de Abreu.
Boa noite.
Para além do texto bem escrito, documentas fielmente o que se passou nesse dia tenebroso. A Fox era conduzida pelo José Almeida Barbosa, de Suzão, Valongo, e por mim, António Almeida, como manuseador do armamento da viatura.
Recordo-me desses momentos dantescos, agora ainda mais, avivados pelas tuas palavras.
Estávamos de reforço ali bem perto do início da picada e dos batelões. Depois da primeira explosão e da autorização dada pelo alferes Fernando Faria, comandante da Fox, para sairmos do local onde estávamos estacionados, saímos para prestar auxílio.
Foi quando passaram quatro ou cinco africanos pelo lado esquerdo da Fox a gritar, com a roupa a arder no corpo. Situação indescritível, horrorosa, mais parecida com um filme de terror, produzida por uma qualquer empresa de cinema de Hollywood.
Estávamos de reforço ali bem perto do início da picada e dos batelões. Depois da primeira explosão e da autorização dada pelo alferes Fernando Faria, comandante da Fox, para sairmos do local onde estávamos estacionados, saímos para prestar auxílio.
Foi quando passaram quatro ou cinco africanos pelo lado esquerdo da Fox a gritar, com a roupa a arder no corpo. Situação indescritível, horrorosa, mais parecida com um filme de terror, produzida por uma qualquer empresa de cinema de Hollywood.
Mais tarde, a proteção e iluminação da pista de Cufar pela Fox e por vários elementos da CCAÇ 4740, para a evacuação dos feridos e que documentas tão bem no vosso blogue.
Falta acrescentar o local e da maneira como foram sepultados, os que pereceram nos batelões.
Histórias de Guerra que não podemos esquecer e que fazemos votos que não voltem a repetir-se. (**)
Calorosas saudações.
António Pereira de Almeida
Falta acrescentar o local e da maneira como foram sepultados, os que pereceram nos batelões.
Histórias de Guerra que não podemos esquecer e que fazemos votos que não voltem a repetir-se. (**)
Calorosas saudações.
António Pereira de Almeida
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 12 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5258: A tragédia de Cufar, sábado, dia do Diabo, 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)
(**) Último poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11471: Efemérides (125): No passado dia 20 de Abril fez 43 anos que foram assassinados os Majores Passos Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva, O Alferes João Mosca, dois Condutores e um tradutor (Manuel Resende)
Guiné 63/74 - P11609: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (8): Mansoa, espaldão do morteiro 81, e pessoal na caserna matando o tempo a jogar cartas...
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 35 > Espaldão do morteiro 81 (1)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 81 > Espaldão do morteiro 81 (2)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 80 > Pessoal da 3ª Companhia. Na caserna a passar o tempo na jogatana (1)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 30- Pessoal da 3ª Comp. Na caserna a passar o tempo na jogatana
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 47 > Pessoal da 3ª Comp na caserna. Na foto vê-se uma rede mosquiteira.
Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga (*), nosso tabanqueiro que esteve em Mansoa, no 2º semestre de 1973, como alf mil (da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72), indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.
Publicam-se hoje fotos de Mansoa, de militares da 2ª CCAÇ e da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 na caserna. a matar o tempo na jogatana de cartas.
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11569: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (7): Armamento do PAIGC (fotos de Ângelo Gago; legenda de Luís Dias)
Guiné 63/74 - P11608: Os nossos médicos (46): Dá-me os meus olhos! Homenagem ao Oftalmologista, Dr. José Luís Bettencourt Botelho de Melo (Mário Beja Santos)
Ponta Delgada, 11 de Maio de 2013 - Mário Beja Santos com o Oftalmologista José Luís Bettencourt Botelho de Melo
Dá-me os meus olhos!
Beja Santos
Em 16 de Outubro de 1969, passava das seis horas da tarde, uma mina anticarro despedaçou o Unimog em que vínhamos de Finete, carregado de bidons de gasóleo e petróleo, sacas de arroz, algum material de construção civil, cartuchame e granadas de mão.
A total responsabilidade daquele desastre coube-me, era impróprio viajar ao fim do dia, baixei as guardas, perdi o condutor, Manuel Guerreiro Jorge, da CCS/BCAÇ 2852, e tivemos sete feridos, alguns com gravidade, caso de Cherno Suane (duplo traumatismo craniano) e o comandante da milícia de Missirá, Albino Mamadu Baldé, com ambas as pernas fraturadas. Este infausto evento aparece descrito a páginas 278 em diante em "A Viagem do Tangomau".
Com a cara queimada, os óculos volatizados com a explosão que me atirou ao ar, com a visão perturbada pela carga dos ácidos, segui para Bissau, urgia ser visto por um oftalmologista. Começou aí uma grande amizade, como o Tangomau relatou: "Na manhã seguinte, lá vai para a primeira consulta, os olhos têm prioridade, não são as queimaduras que o preocupam, é o ardor permanente no olho direito. Já tinha passado a hora do almoço quando foi chamado para a consulta, foi recebido por um calmeirão aí de 40 anos, tonitruante, procede ao exame, tece um diagnóstico tranquilizador, prescreve uma receita com a graduação das lentes, recomenda o oculista. Tem um acento irrecusável de São Miguel, começam os dois a falar da ilha, nunca mais se calam, o outro militar ali presente, servente de bata branca, chama a atenção para a fila que há para atender, o açoriano não se cala, já descobriram imensos amigos comuns, faz-lhe uma proposta para uma janta conjunta, prontamente o Tangomau acedeu".
Jantaram no Grande Hotel, em 20 de Outubro, tinha nascido uma amizade inquebrantável, sempre que se visitam os Açores, previamente se telefona para o consultório do José Luís Bettencourt Botelho de Melo, a caminho dos 85 anos, ninguém o tira do trabalho. E combina-se encontro, pois claro, para as recordações da Guiné não falha a disponibilidade, arredam-se compromissos, a camaradagem tem sempre precedência.
Fui até às Flores, acordou-se que passaria por Ponta Delgada no sábado, 11 de Maio. O José Luís lá estava, acompanhado pela filha. E fomos comer filetes de peixe porco e de abrótea, com arroz e açorda, num restaurante aprazível na praia do Pópulo, nos arredores de Ponta Delgada. No final, houve fotografia, de braço dado e uma alegria sem igual. E fica-nos sempre aquela sensação de que a guerra muda tudo, engendra mecanismos silenciosos da relação fraterna que escapam à erosão do tempo.
Enquanto almoçava, não me saia da cabeça como este oftalmologista, o único da Guiné, salvou olhos, fez prodígios, evitou dramas para todo o sempre. Recordava mesmo um dos nossos últimos jantares em que ele praticamente dormia em pé, houvera durante o dia a chegada de gente em estado calamitoso, ao que me recordo explosões de fornilhos que atingiram muita gente, estivera mais de 12 horas seguida no bloco operatório.
Destes heróis não se fala, tudo aquilo era trabalho de bastidores, inclusive ele saia do HM 241, comia umas coisas e entrava no hospital de Bissau, os civis também contavam. O José Luís sente-se confortado pelo dever cumprido. Ofereci-lhe "A Viagem do Tangomau", com profunda gratidão e estima. Há profissionais de saúde que nos restituem a saúde mental, o andar ou a alegria na visão plena. Depois a vida prossegue, mas aqueles atos nobres, obscuros, inenarráveis, perduram. No nosso caso, para todo o sempre. E já estou ansioso por voltar aos Açores. Temos tanta coisa para conversar!
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Nota do editor
Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10801: Os nossos médicos (45): O dr. Soares Oliveira na Tabanca de Matosinhos com o João Rebola (Armando Pires)
Dá-me os meus olhos!
Beja Santos
Em 16 de Outubro de 1969, passava das seis horas da tarde, uma mina anticarro despedaçou o Unimog em que vínhamos de Finete, carregado de bidons de gasóleo e petróleo, sacas de arroz, algum material de construção civil, cartuchame e granadas de mão.
A total responsabilidade daquele desastre coube-me, era impróprio viajar ao fim do dia, baixei as guardas, perdi o condutor, Manuel Guerreiro Jorge, da CCS/BCAÇ 2852, e tivemos sete feridos, alguns com gravidade, caso de Cherno Suane (duplo traumatismo craniano) e o comandante da milícia de Missirá, Albino Mamadu Baldé, com ambas as pernas fraturadas. Este infausto evento aparece descrito a páginas 278 em diante em "A Viagem do Tangomau".
Com a cara queimada, os óculos volatizados com a explosão que me atirou ao ar, com a visão perturbada pela carga dos ácidos, segui para Bissau, urgia ser visto por um oftalmologista. Começou aí uma grande amizade, como o Tangomau relatou: "Na manhã seguinte, lá vai para a primeira consulta, os olhos têm prioridade, não são as queimaduras que o preocupam, é o ardor permanente no olho direito. Já tinha passado a hora do almoço quando foi chamado para a consulta, foi recebido por um calmeirão aí de 40 anos, tonitruante, procede ao exame, tece um diagnóstico tranquilizador, prescreve uma receita com a graduação das lentes, recomenda o oculista. Tem um acento irrecusável de São Miguel, começam os dois a falar da ilha, nunca mais se calam, o outro militar ali presente, servente de bata branca, chama a atenção para a fila que há para atender, o açoriano não se cala, já descobriram imensos amigos comuns, faz-lhe uma proposta para uma janta conjunta, prontamente o Tangomau acedeu".
Jantaram no Grande Hotel, em 20 de Outubro, tinha nascido uma amizade inquebrantável, sempre que se visitam os Açores, previamente se telefona para o consultório do José Luís Bettencourt Botelho de Melo, a caminho dos 85 anos, ninguém o tira do trabalho. E combina-se encontro, pois claro, para as recordações da Guiné não falha a disponibilidade, arredam-se compromissos, a camaradagem tem sempre precedência.
Fui até às Flores, acordou-se que passaria por Ponta Delgada no sábado, 11 de Maio. O José Luís lá estava, acompanhado pela filha. E fomos comer filetes de peixe porco e de abrótea, com arroz e açorda, num restaurante aprazível na praia do Pópulo, nos arredores de Ponta Delgada. No final, houve fotografia, de braço dado e uma alegria sem igual. E fica-nos sempre aquela sensação de que a guerra muda tudo, engendra mecanismos silenciosos da relação fraterna que escapam à erosão do tempo.
Enquanto almoçava, não me saia da cabeça como este oftalmologista, o único da Guiné, salvou olhos, fez prodígios, evitou dramas para todo o sempre. Recordava mesmo um dos nossos últimos jantares em que ele praticamente dormia em pé, houvera durante o dia a chegada de gente em estado calamitoso, ao que me recordo explosões de fornilhos que atingiram muita gente, estivera mais de 12 horas seguida no bloco operatório.
Destes heróis não se fala, tudo aquilo era trabalho de bastidores, inclusive ele saia do HM 241, comia umas coisas e entrava no hospital de Bissau, os civis também contavam. O José Luís sente-se confortado pelo dever cumprido. Ofereci-lhe "A Viagem do Tangomau", com profunda gratidão e estima. Há profissionais de saúde que nos restituem a saúde mental, o andar ou a alegria na visão plena. Depois a vida prossegue, mas aqueles atos nobres, obscuros, inenarráveis, perduram. No nosso caso, para todo o sempre. E já estou ansioso por voltar aos Açores. Temos tanta coisa para conversar!
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Nota do editor
Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10801: Os nossos médicos (45): O dr. Soares Oliveira na Tabanca de Matosinhos com o João Rebola (Armando Pires)
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