terça-feira, 14 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4683: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Cansamba II, o Serra e o Burro




Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > 2º Gr Comb da CART 2339 (Julho/Agosto de 1969) > Fotos Falantes II (9) e I (20) > Aspectos da vida do 2º Gr Comb, vindo de Mansambo, destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Serra, guarda-costas do Alf Mil Torcato Mendonça, em cima, de toalha ao ombro na Tabanca de Candamã (FII, 9). Ou de T-Shirt, branca, num burrinho (Unimog 411), na picada Candamã-Áfia.

Fotos: © Torcato Mendonça (2009). Direitos reservados.


Estórias de Mansambo II

CANSAMBA – II > O SERRA E O BURRO (*)
por Torcato Mendonça

Há tempos, ao ver, no blogue, a foto de um burro do Saltinho (**) lembrei-me do Serra.

Na vida civil era negociante de gado. Só fez a 4ª classe na tropa. Contudo era, em cálculo mental, de uma agilidade prodigiosa. Contas com Notas – terminologia empregue nas feiras de gado – tinham resultado certo.

Quando tirou a especialidade em Évora não parecia vir a ser grande combatente. A sua parte física era fraca; estava perro, descoordenado. A saltar o muro, mesmo o mais baixo, dizia:

- Não me astrevo... - E ficava grudado ao chão.

Evoluiu com o avançar da instrução. Na Guiné foi excelente combatente e meu guarda-costas. As aparências enganam às vezes; mas só às vezes e raramente. Este caso foi a excepção à regra.

Estávamos em Cansamba e havia ou apareceu por lá um asno. Não me lembro como. Era raro aparecerem burros ou cavalos naquela terra quando, anos antes, havia bastantes. Há Lendas lindas sobre os feitos dos guerreiros, Fulas e Mandingas, com os seus cavalos. Diziam os velhos que o cheiro da gasolina os matou. Claro que não foi. Deve ter sido a febre equídea ou outra parecida.

O Serra descobriu o burro. A alegria foi enorme. Por força queria dar uma volta com o asno. O dono não estava pelos ajustes e, temendo qualquer contratempo, teve que ser convencido pelo dinheiro. Talvez cinquenta escudos. Parece muito dinheiro para aquele tempo. Não sei ao certo.

O que sei é que o Serra cavalgou o burro e ficou tremendamente feliz.

O dono, certamente a temer algo, desapareceu com o burro para desgosto no nosso feirante cavaleiro.

Voltei a encontrar o Serra, em Évora trinta e cinco anos depois mas não falámos em burros. Talvez um dia falemos.


Fá > Junho de 1968 > Carlos Marques Santos, o Costa (Furriel Vag.) e os burros - CART 2339

Foto: © Carlos Marques Santos (2009). Direitos reservados.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anteriore desta série >

3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4633: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Bafatá, Amor e Ódio

(**) Vd. postes de:

1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2019: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)

Vd. também poste de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos)

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