Extractos de História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II, pp. 1-3.
Capítulo II - Actividade da CCAÇ 12 no TO da Guiné
1.Intervenção ao Agr 2957 (Zona Leste)
Atendendo à origem étnico-geográfica das suas praças africanas, e por sugestão do Comando-Chefe, a CCAÇ 2590 ficou radicada em "chão fula", em Bambadinca, constituindo uma unidade de intervenção ao agrupamento 2957 (hoje COP 2) e ficando pronta a actuar à ordem de qualquer dos sectores da Zona Leste (em especial nos Ll, L3 e L5).
A partir de Janeiro de 1970, a CCAÇ 2590 passaria a designar-se por CCAÇ 12 por ter sido considerada uma unidade da guarnição normal.
Durante a actual comissão [ Maio de 1969 / Março de 1971 ], a CCAÇ 12 actuou no Sector L1 às ordens do BCAÇ 2852 (até Maio de 1970) e do BART 2917 (até Fevereiro de 1971), tendo estado uma única vez em reforço temporário a outros tectores (l Cr Comb no L2 durante a 1ª quinzena de Agosto de 1969).
2. Sector Ll
2.1. Referências - Cartas 1/50.000
NAMBOCÓ / BAMBADINCA / BAFATÁ
FULACUNDA / XIME / DUAS FONTES
XITOLE / CONTABANE
2.2. Generalidades
Podemos caracterizar o Sector Ll [ vd o respectivo mapa ] pela importância estratégica que representa tanto para o IN como para as NT a charneira RCeba/Corubal. Constitui a "chave" das comunicações terrestres e fluviais da Zona Leste.
Para uma avaliação geral da situação militar, dividimos o actual sector em 3 partes: uma, a (i) norte do RGeba, compreendendo os regulados do Cuor e parte do Enxalé; outra formando (ii) o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole;
e uma outra, (iii) a leste da estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, que engloba os regulados de Badora e parte do Corubal. As duas primeiras correspondem a áreas afectadas, actuando o IN só esporadicamente na última.
0 Sector LI foi redefinido em Agosto e Outubro de 1969, ficando a ZA a este e sudeste de Badora sob a responsabilidade do COP 7 e passando a englobar, a Norte do RGeba, a área do Enxalé que fazia parte até então de Mansoa.
2.3. Terreno
2.3.1. Relevo e hidrografia
0 terreno caracteriza-se genericamente pela ausência de relevo e por uma grande rede hidrográfica, orientada para os Rios Colufe, Geba e Corubal, o que origina uma predominância de bolanhas e lalas no N e NW do sector e um nivelamento das águas dos rios e bolanhas, durante o tempo das chuvas, tornando a maior parte das vias de comunicação intransitáveis.
2.3.2. Vegetação
Podemos distinguir dois tipos de vegetação no sector:
(i) uma floresta tropical,com palmares cerrados sobretudo nas nascentes dos cursos de água, coincidindo com a área definida pelos RGeba/Corubal onde o IN se encontra instalado;
e (ii) outra de savana arbustiva, mais para o interior, com núcleos de floresta muito espelhados.
Nas bacias hidrográficas do Geba e Corubal, a população sob controle IN cultiva as bolanhas e lalas mais propícias à rizicultura, como a bolanha do Poindon que é considerada um dos "celeiros" do IN no sector.
2.4. Inimigo
2.4.1. Sector 2
O Sector LI corresponde na divisão territorial do IN ao Sector 2, também conhecido por região de Xitole (hoje incluída na Frente Xitole/Bafatá) e cujo Comando está localizado em Mina.
Nesta região o IN mantém uma estrutura politico-administrativa organizada, numa vasta área correspondente aos regulados de Xime e Bissari donde irradia a sua actividade de guerrilha que se caracteriza por (i) ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos das NT e às tabancas em autodefesa, (ii) acções de barragam à navegação, (iii) emboscadas e (iv) minagem dos itinerários.
2.4.2. Zonas de instalação
No Sector L1 consideram-se como zonas de instalação permanente do IN a área compreendida entre a margem direita do RCorubal e a linha geral Xime-Xitole (regulados de Xime e Bissari) e a região a norte do RGeba (Cuor).
0 IN tem-se instalado temporariamente no regulado do Corubal a fim de desencadear acções contra as tabanacas em autodefesa de Corubal, Cossé e Badora.
2.4.3. Linhas de infiltração e irradiação
Podemos considerar as seguintes linhas de infiltração e zonas de actividade do IN:
(i) a norte da estrada Bambadinca-Bafatá, da área de Madina / Belel sobre Enxalé, Missirá, Finete e baixo curso do RGeba Estreito;
(ii) A sul da estrada de Bambadinda-Bafatá, dos regulados do Xime e Bissari sobre os regulados de Corubal, Badora e Cossé, e ainda sobre os RGeba e Corubal.
2.4.4. Efectivos referenciados
(i) Nos regulados de Xime e Bissari:
5 bigrupos distribuídos pelas áreas de Poindon/Burontoni (1), Culobo/Galo Corubal (1), Mina (2), Ponta Luís Dias/Tubacuta (1), além de 1 grupo de artilharia (Mort 82, Canhão s/r 75 e 82) e 1 grupo especial de bazuqueiros em Mamgai. Os efectivos deste sector poderão ser reforçados por unidades da Frente Sul, e em especial da Região de Quinara.
(ii) No regulado do Cuor, a norte do R Geba:
1 bigrupo em Madina/Belel. Esse bigrupo pode ser reforçados por Sara-Sarauol, região a que Madina/Balel se encontra intimamente ligada para efeitos operacionais e logísticas.
2.4.5. Possibilidades do IN
(i) No plano militar:
(i) Manter as acções de fogo sobre os aquartelanentos das NT;
(ii) Intensificar as acções de guerrilha preferencialnente sobre as tabancas em autodefesa, pelotões de milícia e seus itinerários de socorro;
(iii) Realizar acções de reconhecimento nos regulados de Badora e Cossé, a partir dos regulados de Xime, Bissari e Corubal;
(iv) Utilizar as linhas de infiltração que do Boé conduzem aos regulados de Xime e Bissari através da faixa norte do regulado do Corubal, e que da área Xime-Mansambo conduzem à estrada Bambadinca-Mansambo;
(v) Efectuar acções de barragem á navegação no RGeba, em especial nas áreas de Ponta Varela e Mato Cão;
(vi) Reagir à acção de contrapenetração das NT.
(ii) No plano político e psicológico:
(i) Intensificar o esforço de propaganda junto das populações fiéis às NT ou sob duplo controlo, explorando as “contradições objectivas” da nossa acção psicossocial.
(continua)
Abreviaturas
CCAÇ = Companhia de Caçadores
COP = Comando Operacional
IN = Inimigo
NT = Nossas Tropas
RCorubal = Rio Corubal
RGeba = Rio Geba
TO = Teatro de Operações
s/r = Sem recuo (canhão)
ZA = Zona de Acção
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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