20 de Maio de 2005:
Castro:
A CART 3492 (Xitole, Janeiro de 1972-Março de 1974) foi exactamente a Companhia que rendeu a CART 2716 a que eu pertenci e fomos nós que fizemos a sobreposição... Também esse Capitão era miliciano.....
Muito gostaria de ter narrações do que se passou no Xitole, mais concretas, por que eu sei que houve para lá muita porrada com eles, segundo me soou aos ouvidos....
Um dia o Comandante do BART 2917, já na sobreposição, apareceu no Xitole. O Luís Graça e o Humberto Reis conheciam-no. Era o Tenente Coronel Polidoro Monteiro... Conto-vos uma peripécia passada com ele.
Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....
Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca....
Deu em riso, como é evidente....
O Polidoro Monteiro foi o único Tenente-Coronel que usava arma e eventualmente percorria um pedaço de caminhos connosco... Gostava muito de passear no Xitole, pois de manhã gostava de ir até Cussilinta, ao banho, no Corubal e à noite ir à caça às lebres que iam para junto da mancarra (amendoím], na Tabanca de Cambessé, à guarda do aquartelamento do Xitole....
Sempre vi nele um bom militar e era da inteira confiança de Spínola.... Aliás ele era Tenente-Coronel de Infantaria e foi colocado por Spínola em Bambadinca para ir comandar o BART 2917, tendo o Tenente-Coronel Magalhães Filipe, que era o Comandante inicial do Batalhão, sido posto fora deste e da Guiné por "ser incompetente de Comandar um Batalhão" (assim saiu á ordem)...
A gota de água para retirar o Comando ao Magalhães Filipe foi a operação na Ponta do Inglês onde morreu aquela secção do Cunha [da CART 2716]... Quem merecia a porrada acabou por não a apanhar: é que o incompetente do A.C. vinha de professor da Academia Militar e deveria ter uma grande cunha... O Magalhães Filipe, bom homem e mau comandante, coitado, apanhou a porrada quando estava de férias. Não se percebe como um faz a asneira e o que está de férias é que apanha a porrada (...).
Ainda sobre o Polidoro Monteiro... Um dia ele manda um rádio para o Xime com a seguinte nota: "Dois pelotões formados às 5.30 para sair com CMDT" (...). O Polidoro Monteiro chama o condutor de dia e percorre sem qualquer escolta aquele caminho de Bambadinca ao Xime, a alta velocidade... Resultado: 10 dias de prisão para o Rodrigues, 2º Comandante, e 10 de detenção para outro Alferes... É que eles nunca se fiaram que àquela hora ele aparecesse lá e como tal não estavam prontos como ele mandara....
Luís Graça e Humberto Reis: vocês já não estavam lá, creio, mas que isto se passou, passou... O Polidoro era assim, um bom Comandante, a nível operacional: dizia quantas asneiras havia no dicionário... Muito operacional mas bom sujeito... Vocês conheceram-no ainda....
Abraço. David Guimarães
Nota de DJG e LG: Tanto o Magalhães Filipe como o Polidoro Monteiro já faleceram. O A.C. ainda é vivo, razão pro que não o identificamos. Mas o que lá, lá vai... Aqui estamos apenas a recordar estórias que se passaram connosco, não estamos a julgar ninguém...
20 de Maio de 2005:
Amigos: O sacana do Guimarães tem boa memória. Confirmo o que ele diz. Do Polidoro Monteiro recordo-me bem, tal como do filho da p... do A.C. (que poderia ter-me dado um porrada…). Não sabia que o gajo tinha sido professor na academia. Era um militarista (incompetente…). Os milicianos não gostavam do gajo: obrigava-nos a bater pala. Em Bamdinca, imaginem! Se ele ainda é vivo, deve ter tido muita sorte… Nas operações, o gajo gostava de andar de cu tremido, de avioneta, lá por cima… Nos relatórios das operações, aparece a sigla PCV. È isso mesmo quer dizer.
Nos meus apontamentos escritos tenho o seguinte: “No dia 6 de Fevereiro de 1971, participação na Acção Hipopótamo, integrado no 4º Grupo de Combate da CAÇ 12, mais um 1 Gr Com da CART 2715 [do Xime], numa operação de reconhecimento da região de Madina Colhido, Gundagué Beafada, Gidemo e Lantar. Nessa patrulha tomou o parte o Comandante do BART 2717, o Tenente-Coronel João Polidoro Monteiro, a quem fui dando diversas informações sobre a região”.
Fui o único "cão grande" (como eu costumava chamar, no meu diário, aos oficiais superiores) que se dignou acompanhar-nos no mato, de camuflado e G-3… Quase que ia ficando a admirá-lo, como militar e como homem. Confesso que simpatizei com o homem. Diz-me o Guimarães que ele já morreu… É verdade ?
Quanto aos capitães, já não me lembro do nome de nenhum. Lembro-me do meu, o Carlos Brito, que era um bom homem, muito pouco ou nada militarista...
Este mês, o de Fevereiro de 1971, já na véspera da peluda, foi divertido: o Levezinho e o Humberto (do 2º Gr Comb da CCAÇ 12) e outros camaradas (3º Gr Com), juntamente com um Gr Comb da CART 2715, do Xime, foram levar os nossos periquitos, furriéis, a dar um passeio até à Ponta Varela… Até o nosso Piça, o sorja da secretaria, que deveria estar já com os seus 37 ou 38 anos, foi na excursão turística… Saíram do Xime pela fresquinha, com o cacimbo matinal, pelas 4.30, a caminho do local de piquenique, pela antiga estrada, de má memória, do Xime-Ponta do Inglês…
Por volta das 8 e tal, a caminho da bolanha do Poindon, avistaram população a trabalhar, progredindo com cautela até darem de caras com um grupo IN que fazia a segurança à bolanha (mas que felizmente não era muito numeroso: 10 a 15 gajos)… Zás, embrulharam-se em tiroteiro e roquetada durante um quarto de hora…
Infelizmente eu perdi este espectáculo (não se podia estar em todas…). Felizmente não houve baixas, de parte a parte, que eu me lembre. Mas os periquitos e o Piça não ganharam para o susto. Foi assim ou não ? Mas eu gostaria que fossem eles, o Levezinho e o Humberto, a recordar este episódio… A partir de 1 Março começámos a apresentar-nos no Depósito Geral de Adidos, em Bissau, aguardando o regresso a Lisboa… Até lá, fomos esvaziando tudo o que era garrafa…
Ciao. Luís Graça
18 de Maio de 2005:
Amigo Sousa de Castro: Preciso de ajuda para tentar arrumar um puzzle de Mansambo, a partir da CART 2714, do BART 2917 de Bambadinca, que vocês foram substituir.
O BART 3873 esteve na Guiné de Janeiro de 72 a Abril de 74, certo? E a CART 3493 esteve sempre em Mansambo? Quem é que esteve em Mansambo durante esse tempo depois da CART 2714?
Um abraço.
Humberto Reis
18 de Maio de 2005:
Ora, bem...
- O BART 3873 (CCS), Bambadinca, de Janeiro de 1972 a Março de 1974;
- A CART 3492, Xitole, de Janeiro de 1972 a Março de 1974;
- A CART 3493, Mansambo, de Janeiro de 1972 a Março de 1973, sendo transferida para zona do Cantanhês (Cobumba), onde ficou de Abril de 1973 a Março de 1974;
- A CART 3494, Xime, de Janeiro de 1972 a Março de 1973, sendo transferida para Mansambo, onde ficou de Março de 1973 a Março de 1974;
- A CCAÇ 12 substituiu a CART 3494 no Xime;
- Em Fevereiro de 1974, o BCAÇ 4616 rendeu o BART 3873.
Castro
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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