sexta-feira, 14 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6390: Agenda cultural (76): Memória do Campo de Concentração - Tarrafal, até 27 de Agosto no Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Maio de 2010:


Guineenses no Campo de Concentração do Tarrafal

Beja Santos

Em 1935, Salazar determinou a criação do Campo de Concentração do Tarrafal destinado a presos políticos e sociais. Por este campo passaram 357 deportados, na sua maioria portugueses. O Tarrafal só deixou de funcionar como colónia penal para criminosos políticos em Janeiro de 1954, tendo nele morrido 32 antifascistas. Em 1961, foi reaberto o Tarrafal, agora com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom. Em Fevereiro de 1962 chegou os primeiros 31 presos políticos, oriundos de Angola, e em Setembro desembarcam mais 100 nacionalistas guineenses. Entre 1968 e 1971, foram também ali encarcerados 20 presos políticos cabo-verdianos. No total, estiveram ali aprisionados 227 nacionalistas das ex-colónias de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em 1 de Maio de 1974, pôs-se termo a mais de 30 anos de funcionamento do chamado “Campo da Morte Lenta”.

Até 27 de Agosto, é possível visitar no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, a exposição “Memória do Campo de Concentração do Tarrafal”, de colaboração com as Fundações Mário Soares e Amílcar Cabral.

Um importante catálogo permite passar em revista os desterros do Império, uma análise da consolidação do regime de Salazar, os estudos efectuados para instalar um campo de concentração para presos políticos, a natureza dos castigos e trabalhos forçados, a vida no campo, os mecanismos da solidariedade e como se repercutiu a acção dos movimentos de libertação na vida do Tarrafal. É assim que ficamos a saber que antes mesmo do início da luta armada (no calendário do PAIGC, Janeiro de 1963) 100 presos políticos guineenses foram deportados para o Tarrafal. De facto, em 13 de Março de 1962, a PIDE assaltou uma casa clandestina do PAIGC nos arredores do Bissau, prendendo os dirigentes Rafael Barbosa, Mamadu Turé e Albino Sampa. Na sequência destas prisões muitas outras se sucederam. Em Setembro desse ano chegaram ao Tarrafal 100 prisioneiros guineenses (entre os quais um cabo-verdiano) transportados no navio “África Ocidental”, escoltado pelo “Vouga”. O catálogo mostra importantes documentos referentes a estas prisões. Em 1969, numa tentativa de reconciliação, largas dezenas desses presos guineenses regressaram à Guiné.

A exposição mostra o dia-a-dia destes presos políticos, os protestos e castigos, as provas de solidariedade internacional. Morreram dois guineenses no Tarrafal, ambos em Novembro de 1962: Cutubo Cassamá e Biaba Nabué.
O catálogo ficará a pertencer à biblioteca do blogue.

Capa do catálogo da exposição patente até Agosto no Museu do Neo-Realismo
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6383: Agenda cultural (75): Iniciativas culturais na Livraria Verney e no Palácio da Independência (Mário Beja Santos)

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