sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6392: Histórias de Carlos Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (1): Nós e os mandingas de Buba, que colaboravam com o PAIGC, e que foram evacuados para Bubaque em Abril de 1969

1. Comentário deixado por  Carlos Nery (foto à direita) (*) ao poste  P2172 (**) e que transformamos bnº 1º poste da nova série Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCQAÇ 2382:

A CCaç 2382 esteve sediada em Buba desde 12 de Agosto de 1968 até 29 de Outubro de 1969. Transcrevo da História da Unidade por mim elaborada:

"Durante o Mês de Abril (1969) foi decidido pelo Comando-Chefe a evacuação de parte dos habitantes de Buba para Bubaque dado haver suspeitas de que alguns desses elementos colaboravam com o inimigo.

"Tal medida provocou natural abalo no moral da população a evacuar,  sendo notório o desejo de todos em ficar em Buba.


"Após a evacuação, como esta se fez sentir na sua quase totalidade na etnia mandiga, a etnia fula (sobretudo milícias) não escondia o seu contentamento pelo facto".


A questão prendeu-se efectivamente com as fortíssimas suspeitas de que os Mandigas informavam o PAIGC daquilo que se passava em Buba.

Recordo-me de dois factos:

Em 2 de Janeiro de 1969 apresentou-se ali a 15ª Companhia de Comandos, comandada pelo Cap Garcia Lopes, apoiado pelo Ten Robles. No dia seguinte, um dos pescadores mandingas saíu cedo, de manhã, para a pesca, só regressando a Buba muito tarde, já noite, quando parte da guarnição, no cais, aguardava a ver o que acontecia. Na altura pouco nos interessava que o PAIGC soubesse ou não da vinda dos Comandos mas tomámos nota do incidente e fizemos sentir aos "homens-grandes" mandingas o nosso descontentamento.

Passado pouco mais de um mês, em 17 de Fevereiro de 1969, perante a suspensão prolongada dos reabastecimentos IN na zona do Cruzamento, a Companhia efectuou um reconhecimento à variante dos Rios Jassonca/Uaja. Transportados por LDM, desembarcámos efectuando cuidadoso reconhecimento. Perto da nascente do Jassonca encontrámos três canoas de grandes dimensões, escondidas no tarrafo e guardadas por sentinelas que se puseram em fuga. Destruímos as canoas e transportámos para a LDM diverso material capturado.

Acontece que os pescadores mandingas, em noite próxima, deixaram ir rio abaixo duas ou três das suas canoas, alegando depois terem-nas prendido mal sem querer...

É evidente que não estávamos vocacionados para policiar a actividade dos mandigas em Buba, nem simpatizávamos com a ideia de chamar a Pide para o fazer, mas trocando impressões com o Carlos Fabião concordámos no perigo que a situação começava a constituir.

Deslocados os Mandingas, o inimigo passou a ter um total desconhecimento daquilo que se passava em Buba e convenhamos que, numa situação de guerra, o que lhes aconteceu foi o menos mau daquilo que podia ter acontecido.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6183: Tabanca Grande (213): Carlos Nery Gomes de Araújo, ex-Cap Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)


(...) Sou o Carlos Nery Gomes de Araújo, fui o comandante da CCaç 2382. Capitão Miliciano, portanto. Teria muita coisa a contar da minha experiência de Guiné... Por vezes, até, tenho a sensação de que nem saberia por onde começar (...).


(**)  Vd. poste de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

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