terça-feira, 26 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8603: Recortes de imprensa (42): Ex-combatentes da guerra colonial são grupo de risco de hepatite, alerta a SOS Hepatites Portugal (Agência Lusa / Carlos Pinheiro)





Primeira página do sítio SOS Hepatites Portugal, associação de apoio aos portadores de hepatite(s)... Recorde-se que,  no decurso da guerra colonial (1961/74), e pelo menos na Guiné, esta era uma das doenças transmissíveis que dava direito a "passaporte" para a Metrópole, ou melhor, para uma imediata evacuação para o Hospital Militar Principal, em Lisboa...

Recordo-me de ter conhecido camaradas que comiam, logo pela manhã uma  ou mais bananas, e bebiam uma bazuca  (0,6 l de cerveja) com a a crença (íntima) de que rapidamente contrairiam a milagrosa doença... que dava direito a "férias na Metrópole" ...

Sobre esta associação convirá dizer o seguinte:

(i) A Associação Grupo de Apoio SOS Hepatites foi fundada em Abril de 2005;

(ii) É uma IPSS - Instituiçãop Privada de Solidarieddae Social;

(iii) É uma Associação não governamental e sem fins lucrativos:

(iv) É  composta por pessoas infectadas e afectadas com os vírus das Hepatites;

(v) Surgiu da necessidade de "partilhar experiências, forças e esperança, com o objectivo de criar um espaço onde os doentes com hepatites virais e seus familiares encontrassem um modo de se ajudarem mutuamente, partilhando problemas comuns derivados da doença e de forma a melhorar a sua qualidade de vida";

(vi) Tem, como um dos seus principais objectivos, "a divulgação e a consciencialização da população em geral e dos profissionais da área da saúde para o problema das Hepatites Virais, os seus riscos, formas de contágio, tratamento e prevenção";

(viii) Pretende também "acabar com a marginalizarão, discriminação e ostracismo a que são votados os doentes". (Fonte: SOS Hepatites Portugal > Quem Somos) (LG).


1. O nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70;  foto actual, á direita) mandou-nos, em 25 do corrente, a seguinte peça da Agência Lusa, da autoria da jornalista Ana Rute Peixinho, que se reproduz, parcialmente, com a devida vénia:

Ex-combatentes são grupo de risco de hepatite, 50 anos depois da Guerra Colonial

Lisboa, 25 jul (Lusa) - Muitos ex-combatentes da Guerra Colonial começam agora a descobrir, quase 50 anos depois, que contraíram hepatite B ou C, doença que pode ser fatal, alerta a associação portuguesa que dá apoio aos doentes hepáticos.

"Temos hoje imensas pessoas que descobrem que estão infetadas, mas já o estão há mais de 40 anos, como o caso dos ex-combatentes", afirma à agência Lusa a presidente da Associação SOS Hepatites, nas vésperas do Dia Mundial da doença [, que se comemora a 28 de Julho] .

[Para saber mais sobre a Associação SOS Hepatites clicar aqui]

E continua o despacho da LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.:

[ A Associação SOS Hepatites ] suspeita que os ex-combatentes foram expostos ao vírus em território português, porque antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários.

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 – P8050: Recortes de imprensa (41): Assistência religiosa ao pessoal (açoriano) da CCE 274, 1962/64 (Manuel F. de Almeida/Carlos Cordeiro)

14 comentários:

Anónimo disse...

Amigo C. Pinheiro, Saudações.

Aquando me encontrava em Comissão de Serviço na Guiné, também tomei conhecimento presencial de várias situações entre as quais como a que mencionas e os Camaradas arriscavam padecer de Cirrose Hepática (não pagas em Maio pagas em São João), com o provável intuito da sua "convalescença" dar-se na Metrópole.

Com um Abraço
Arménio Estorninho

Anónimo disse...

Também estar atento a possível contaminação com a variante menos agressiva de HIV...
Tenho conhecimento de alguns casos que só se manifestaram (ou foram detectados em análises), agora nos nossos "anos 60".
Esta variante foi descoberta em Portugal, é pouco agressiva, tardia, mas não deixa de ser SIDA.
Abraço a todos.
Luis Nabais

Hélder Valério disse...

Pois é claro que estas informações são importantes.

Para alguns pode ser já tarde mas para outros pode constituir um poderoso alarta.
Obrigado.

Hélder S.

Anónimo disse...

CAROS CAMARADAS
QUERO ESCLARECER O SEGUINTE :
A HEPATITE CRÓNICA PODE EXISTIR DURANTE MUITO TEMPO SEM SINTOMAS, MAS MAIS TARDE (VÁRIOS ANOS)VAI DAR SINTOMAS E PODE EVOLUIR PARA UMA SITUAÇÃO CLÍNICA MAIS OU MENOS GRAVE, POR ISSO QUEM EVENTUALMENTE TIVESSE SIDO CONTAMINADO NA GUINÉ E FICASSE COM HEPATITE CRÓNICA, JÁ TEVE SINTOMAS.
SOBRE A S.I.D.A. HÁ DOIS TIPOS ; HIV 1 E 2.
A TIPO 2 FOI ISOLADA NO INSTITUTO PASTEUR EM PARIS DE UM GUINEENSE INTERNADO NO H.EGAS MONIZ, QUE POR ACASO ERA MEU DOENTE.
É MUITO MAIS VIRULENTA QUE A 1, E OS TRATAMENTOS SÃO MENOS EFICAZES.
A S.I.D.A. PODE ESTAR VÁRIOS ANOS(DEZ ANOS) APÓS O CONTÁGIO SEM DAR SINTOMAS.
NESTE MOMENTO JÁ HÁ DOENTES COM 20 ANOS DE SOBREVIDA,APÓS O CONTÁGIO E TRATAMENTO,E ALGUNS CASOS DE SEROPOSITVOS QUE NEGATIVARAM (AINDA NÃO SE SABE PORQUÊ).
AO VOSSO INTEIRO DISPOR PARA QUALQUER ESCLARECIMENTO.

C.MARTINS

Anónimo disse...

PS
DESCULPEM
MAS ESSA DE CONTÁGIOS NA GUINÉ (SIDA E HEPATITE)E SÓ AGORA SE MANIFESTAREM ...SÃO TRETAS,A NÃO SER PARA AQUELES QUE A VISITARAM RECENTEMENTE E NÃO TOMARAM AS DEVIDAS PRECAUÇÕES (EX. SEXO NÃO PROTEGIDO).
ENFIM A GUINÉ TAMBÉM SERVE PARA ESTAS COISAS.

C.MARTINS

Anónimo disse...

MAIS UM ESCLARECIMENTO
AQUELES QUE EVENTUALMENTE FORAM CONTAGIADOS (HEPATITE)AINDA NA GUINÉ,JÁ HÁ MUITO TEMPO QUE TÊM SINTOMAS, E SE NÃO FORAM TRATADOS DE CERTEZA QUE JÁ ESTÃO NOS "JARDINS COM TABULETAS".
LAMENTO DIZÊ-LO MAS NA ESMAGADORA MAIORIA DAS NOTÍCIAS, NOMEADAMENTE SOBRE MEDICINA,VEICULADAS POR AGÊNCIAS NOTICIOSAS..SÃO QUASE SEMPRE MEIAS VERDADES..INVERDADES OU ATÉ PURAS TRETAS..ISTO PORQUE OS SRS. JORNALISTAS NÃO FAZEM O TRABALHO DE CASA.. ISTO É INFORMAREM-SE COM QUEM SABE..NO MÍNIMO, E QUANDO ISSO ACONTECE QUASE SEMPRE SAI DETURPADA A INFORMAÇÃO.

C.MARTINS

Anónimo disse...

VOLTO À CARGA
NÃO HÁ NENHUMA DOENÇA INFECTO-CONTAGIOSA (BACTERIANA,VIRAL OU PARASITÁRIA)QUE SE MANIFESTE SÓ 40 OU MAIS ANOS DEPOIS.
CÁ TAMBÉM SE É INFECTADO COM SIDA E HEPATITE.
A GUINÉ NÃO PODE SER DESCULPA PARA TUDO..NÃO SEI SE ME FAÇO ENTENDER.
O MESMO NÃO SE PODE DIZER DAS DO FORO PSICOLÓGICO, NOMEADAMENTE A SINDROME PÓS-TRAUMÁTICA..E MESMO EM RELAÇÃO A ESTA.. HÁ PARA AÍ MUITO OPORTUNISTA..EU JÁ ENCONTREI ALGUNS.

C.MARTINS

Anónimo disse...

Caro C.Martins:
Perfeitamente de acordo com o teu parecer sobre o stress po-traumático.Nós na ADFA temos tido um pouco de tudo (até esses tais oportunistas).
Mas casos há, infelizmente , que carecem de apoio e tratamento.Alguns são por demasiado evidentes, têm levado a famílias desfeitas,e nalguns casos actos de loucura.
Nem sempre têm sido reconhecidos, e por causa de uns pagam muitos.Temos na ADFA 2 psiquiatras e uma psicóloga, diria que com especialização em stress post-traumático.
Se assim o entenderes, aconselha-os a aparecer por lá...todos os ex-combatentes têm lá lugar, sócios ou não.Falar com Janeiro (Presidente da Delegação de Lisboa).
Abraço
Luis Nabais

Luís Graça disse...

1. Estou de acordo com o nosso leitor (e camarada de armas) C. Martins, que é médico: É preciso ser cauteloso com a informação de saúde que é veiculada pela imprensa... e pela NET.

Há doenças (como por exemplo a silicose, mas esta profissional, não infecto-contagiosa) que têm um tempo de "latência clínica" muito grande: 15 anos ou mais... Não sou médico, nem epidemiologista, nem investigador clínico, não posso "validar" a notícia da Lusa...

Inclino-me mais para a hipótese do C. Martins: os ex-combatentes da guerra colonial são um grupo de risco de hepatite por, alguns deles, terem voltado a África... E com frequência. A Guiné não pdoe ter as costas largas... 40 anos é muita para um animal, primata, como nós...

A notícia pode ser eventualmente alarmista... Mas mais vale prevenir do que remediar... Seria bom aprofundar isto... E já agora as questões de segurançpa do doente (que não se punham nesse tempo com tanta acuidade como hoje...). Lembro-me como fui vacionado... em massa. Por outro lado, haverá muitos casos de cancro e de cirrose hepática, sem que a gente associe isso à guerra colonial, os nossos fígados sofreram a bom a sofrer, a guerra aqui também deixou sequelas... Mas seria bom ouvir os especialistas médicos, os epidemiologistas (que nunca se interessaram pelo milhão de portugueses que fez a guerra)...

Atenção: a Associação SOS Hepatites Portugal não é uma associação científica, profissional, é uma organização de doentes crónicos... o que não quer dizer que não seja séria, respeitada, assessorada por profissionais de saúde devidamente qualificados... Mas há uma diferença em termos de "autoridade" relativamente a questões técnicas, científicas, profissionais...

(Continua)

Luís Graça disse...

Continuação)

2. No portal Ciência Hoje, esta noticia da Lusa vem mais desenvolvida:

"Falta de cuidados na vacinação deu origem a muitas infecções
2011-07-26

"Agulha era utilizada várias vezes, durante a vacinação

"Muitos ex-combatentes da Guerra Colonial começam agora a descobrir, quase 50 anos depois, que contraíram hepatite B ou C, doença que pode ser fatal, alertou a associação portuguesa que dá apoio aos doentes hepáticos.
'Temos hoje imensas pessoas que descobrem que estão infectadas, mas já o estão há mais de 40 anos, como o caso dos ex-combatentes', afirmou a presidente da Associação SOS Hepatites, nas vésperas do Dia Mundial da doença, que se assinala quinta-feira, dia 28 de Julho.

"Esta organização suspeita que os ex-combatentes foram expostos ao vírus em território português, porque antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários. 'Eram colocados em fila e a agulha era reutilizada muitas vezes. Isso deu origem a muitas infecções. Tenho casos de homens com 66/67 anos que descobriram por mero acaso. Andavam cansados, foram ao médico e descobrem que têm uma hepatite desde o tempo da Guerra', contou Emília Rodrigues.

"Quando a doença é detectada tarde, as consequências são as piores: cancro e cirroses, que aumentam as probabilidades de um desfecho fatal. Em Portugal não há dados de prevalência das hepatites, mas com base em projecções da Organização Mundial de Saúde estimam-se 120 mil portadores de hepatite B e 170 mil de hepatite C.

"O vírus da hepatite B transmite-se através do contacto com o sangue e relações sexuais desprotegidas, tal como o vírus da sida, mas o da hepatite é 50 a 100 vezes mais infeccioso. Já a hepatite C, transmitida por via sanguínea, pode tornar-se crónica em 80 por cento dos casos, podendo evoluir para a cirrose ou cancro do fígado.

"Segundo o site da Associação SOS Hepatites, esta doença é uma infecção no fígado que pode ser provocada por bactérias, por diferentes vírus (A, B, C, D, E e G ) ou pelo consumo de produtos tóxicos como o álcool, medicamentos e algumas plantas.
A gravidade é variável em função do tipo da doença e dos danos já causados ao fígado e o tratamento pode passar por mero repouso ou pode exigir uma terapia mais prolongada e complexa, que nem sempre leva à cura completa".

Transcrito com a devida vénia de:

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=50214&op=all

Anónimo disse...

Meu caro Prof. Dr. Luis Graça
Preciso e conciso como deve ser um professor.
Se bem que este blog não seja da área da ciência médica,nem sequer relacionado, verifico com freqência que alguns camaradas, sendo leigos, "amandam uns bitaites" sobre a mesma, o que é grave porque induz em erro grosseiro..e com a saúde não se brinca.
Se têm dúvidas aconselhem-se com quem sabe (alguma coisa)..os médicos.

Um alfa bravo
C.Martins

Luís Graça disse...

Entendamo-nos:

Quanto às doenças do "físico", a Guiné não pode ter as "costas largas"... Por exemplo, seria absurdo dizer que os ex-combatentes da Guiné (que saíram, os últimos tugas, em Outubro de 1974,)são um grupo de risco para o HIV/SIDA... A doença nem sequer existia em 1974...

Já quanto às "paixões da alma" (como se dizia no Séc. XVIII para os problemas do "sofrimento psíquico" ou "saúde mental"), a Guiné se calhar tem é as "costas estreitas"...

Em muitos casos, são "paixões" (sofrimento psíquico) que só morrem com o desaparecimento do corpinho...

Apoiado, Luis Nabais, por valorizares o trabalho da ADFA neste capítulo...

C. Martins: o risco de generalização é sempre abusivo. Em epidemiologia precisamos de evidência empírica... Concordo contigo: sejamos cautelosos com os números, mas não deitemos fora a criancinha com a água do banho...

Não é por haver "baixas fraudulentas" (?) e subsídios de doença pagos indevidamente pela Segurança Social (nos anos 90,quando estudei o problema, falava-se de um em cada três casos...), que vamos a negar a superevidência do absentismo por incapacidade para o trabalho devido a doença e acidente, com os seus brutais custos, económicos, sociais e outros, para o país, as empresas, os serviços de saúde, o Estado, as famílias, os indivíduos...

Opto, pois, pelo princípio da presunção: mesmo numa guerra de baixa intensidade, há/houve sempre acontecimentos traumáticos, "life events", que deixaram, sequelas no corpo e na alma...

Não somos todos feitos da mesma massa, nem temos todos a mesma maneira de lidar com os acontecimentos, não tivemos todos a mesma preparação técnico-militar para actuar num teatro de operações, etc....

Em resumo, não subscrevo a teoria dos que pensam (não é o caso do C. Martins, seguramente) que a PSPT (perturbação do stress pós-traumático) é um "artefacto" científico dos psi... Mesmo que eu seja um pouco suspeito: tenho dois em casa, um psiquiatra e uma psicóloga...

Um Alfa Bravo para os dois... "comentaristas".
Luís Graça (escrevendo aqui a título pessoal, e não como editor)


PS - Não devia estar a fazer "comentários laterais", de acordo com as nossas regras, mas a conversa é com as cerejas, e o que é importante é não perder de vista o problema levantado pelo P8603: Os ex-combatentes são ou não um "grupo de risco" para certas e determinadas doenças...

Anónimo disse...

Meu caro Luis Graça
claro que sim...
A "s.pt.de guerra" diz muito pouco ou nada à classe médica, com excepção daqueles que foram combatentes e hoje são médicos(o meu caso).Na faculdade não fomos minimamente preparados para esta situação e não sei se hoje o são(pergunta ao teu filho).
Confesso que eu próprio sofro(nada de grave)de insónias,principalmente nesta época de calor, sonho que estou na guiné,sou agressivo(para mim próprio)quando confrontado com situações provocatórias..domino-me..domino-me.Por isso leio e comento este blog(é tão paliativo).Tive necessidade de voltar lá aos sítios..parar na picada a olhar para a mata e saber que não estava sobre a mira de uma kalash. ou rpg...não sou masoquista ..mas foi bom.Sei que nem todos o podem fazer..mas recomendo.
Desculpem este desabafo.Ah..agora arranjei um novo "soporífero".. é ouvir os discursos do actual ministro das finanças..tão monocórdico..tão diccional.. que adormeço(os psd e cds que me desculpem).
Olha aqui tens uma das razões porque não quero fazer parte do blog.Fui pouco racional..confesso..é que estou um bocadinho deprimido..ai este calor..nem a porra do ar condicinado resolve.
Um alfa bravo
C.Martins

António Rodrigues disse...

No início dos anos noventa a empresa onde eu trabalhava decidiu vacinar contra a hepatite B um determinado numero de funcionários que no seu dia a dia estavam expostos a factores de risco pelas tarefas que executavam eu fui um deles levei 1ª. 2ª. e 3ª. Dose. Para alem da vacina fiz também análises específicas,e felizmente pelo menos naquela altura estava tudo bem, por isso nesse aspecto a Guiné não me afectou.

Um Abraço do António Rodrigues