Camarada Carlos Vinhal:
Obrigado pelas modificações e acrescentos que tens (isto do tu é mesmo difícil) vindo a fazer às minhas pretensiosas escrevinhadelas, e tal tem-me vindo a fazer aprender um pouco mais de português, e até estou de novo a consultar a Gramática elementar. Por vezes os dois pontos aqui e não além, alteram completamente a coisa. Obrigado e continua por favor.
Aí vai o 8.º episódio, pois que apesar dos poucos leitores mas dada a vossa disponibilidade, hei-de continuar até que os temas de acabem.
Abraços
Veríssimo Ferreira
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA
8.º episódio - Uma emboscada perigosa
Mas nem tudo foi menos feliz e "tocaram-me" as lotarias várias vezes, como naquela em que, indo nós (a minha secção) a fazer um patrulhamento pelo circuito pedonal e até aos "carreiros" (a 3Km do quartel, estrada para Mansabá) local onde os mariolas costumavam "semear" minas, porque sabiam - hoje creio nisso - mas quem lhes dizia não sei, senão escarrapachava aqui, porque sabiam, repito, quando por ali iriam passar os reabastecimentos.
Saliquinhedim (K3) > Dia de ir buscar água a Farim, que se vê do lado de lá do rio. > A minha Secção. Em baixo: o 44, Gomes e Domingues; De pé: Mamadú, Samba, Soares, Kinta, Fernando Nascimento e eu.
Foto © e legenda de Veríssimo Ferreira
Pois aconteceu, que fomos emboscados, apesar de que e como era costume, a progressão estivesse a ser feita bem e como mandam as regras. De lá, vieram uns tiritos para cá... e de cá também nada meigos fomos.
É que não gostávamos mesmo... mesmo... que nos interrompessem enquanto trabalhávamos. Organizámo-nos depois em triângulo e avançámos mato dentro, e estávamos-lhes com uma sede !!!
Ficaram cientes que contra nós dez, a coisa piava mais fino. A certa altura porém, caíram-me umas folhas de embondeiro na cabeça (um tronco passou ao lado), desmanchando-me o penteado à James Dean, com risco do lado direito e tudo. Irritei-me tá visto, porque não gosto que me atirem coisas à cachimónia e olhei para cima.
Entretanto mandei parar a festa, mas do outro lado, não me ouviram decerto e as folhas continuaram a cair.
- Estes gajos são recrutas, não respondam - disse.
Rastejando, mato adentro lá debandaram gemendo. A minha teoria confirmou-se, pois que a cara dos "filhos duma mulher menos séria" estava desenhada no solo e enquanto isso fogueteavam para o ar, dando assim início à destruição da floresta, poiso de tanto macacóide e de alguns jagudis, ali a viver. Operação terminada, correra bem, continuámos...
Troço Bironque - K3, da estrada Mansabá - Farim, alcatroado no tempo da CART 2732 (1970/72)
Foto © e legenda de Carlos VinhalÀs tantas segredam-me:
- Ali à frente, devem estar à nossa espera, vi passar uns gajos e são mais de vinte...
Estudada a nova situação, pensámos como resolver o conflito iminente... avançámos com redobrados cuidados e no sentido de os envolvermos numa teia donde não saíssem.
Após quase uma hora para percorrer 300 metros, portanto tal aproximação estava a ser enquadrada como nas mais vitoriosas tácticas militares, antes usadas, eis senão quando, estabeleço finalmente, contacto visual e sim eram realmente mais de vinte. Eram mais do dobro do que nós, mas para combatentes experimentados e conhecedores do terreno, a coisa estava destinada a ser "canja", e dali não sairiam impunes.
Último olhar que a neblina dissipava-se e vi que estavam desarmados. E porra... eram gorilas. Daqueles bem grandes. Também me viram... continuaram a comer...
E nós?
Retirámos tristes pelo falhanço do que esperávamos ter sido "manga de chocolate", mas com o sentimento do dever cumprido.
(continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10590: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (6): 7.º episódio: O quotidiano no K3
1 comentário:
Caro Veríssimo
O relato tem em vista, conforme o título, 'uma emboscada perigosa'. E isso, esse relato, foi feito.
O que se seguiu depois é que deve ter sido frustrante, pelo menos para quem estava à espera de conseguir um êxito retumbante, seja dito 'eliminar' uns quantos 'inimigos' e/ou recolher quantidades significativas de material bélico.
Os macacos parece que estragaram esses propósitos e ainda por cima com a indiferença que alardearam. Daí que só houve então "uma emboscada", pelo menos nesse dia, mas certamente outras irão acontecer, pelo que se aguardam os respectivos relatos.
Não conheci o "K3" pessoalmente mas era um dos 'nomes/referência' que a minha memória da Guiné retém, a par de vários outros também significativos.
Abraço
Hélder S.
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