sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11079: Álbum fotográfico do Delgadinho Rodrigues (cap pára ref, CCP123/BCP 12, Bissalanca, 1972/74): Gadamael, junho de 1973 (Manuel Peredo, ex-fur mil, CCP 122, 1972/74, hoje a viver em França)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-B


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3-A

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Fotos do álbum do  Rodrigues Delgadinho, na altura fur mil pára, da CCP 123/BCP 12, força de elite que conseguiu travar a ofensiva do PAIGC contra aquele aquartelamento de fronteira. Gadamael faz parte dos três famosos G - Guidaje, Guileje, Gadamael...

Fotos: ©  Delgadinho Rodrigues / Manuel Peredo (2013). Todos os direitos reservados [Editadas por L.G.]


1. Mensagem, com data de 4 do corrente, enviada pelo nosso camarada Manuel Peredo (ex-Fur Mil Paraquedista (CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74) [, foto à esquerda: é o primeiro lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122]

Caro Luis Graça, aqui vão três fotos de Gadamael que me foram oferecidas pelo Delgadinho Rodrigues, capitão pára na reforma e furriel em Junho de 73. Sei que há elementos do blogue que já não suportam ouvir falar em Gadamael, mas esses certamente não estavam lá naqueles dias difíceis. (*)

Um abraço, Manuel Peredo [, foto atual à direita]

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Manel, sê bem aparecido. Julgo que ainda estás por França, não ? E,  se sim, tencionas voltar ? Espero bem que sim, afinal esta é a Pátria pela qual já verteste sangue, suor e lágrimas.

Obrigado, antes de mais pelas fotos, de Gadamael.  A preto e branco, e em dia de céu carregado, e com vestígios,  bem evidentes, dos ataques do PAIGC(que começaram em finais de maio de 1973), elas conseguem transmitir-nos  o dramatismo desses dias que lá vivestes, com os teus valorosos camaradas da CCP 122 e da CCP 123, até ao dia 10 de junho, em que foste ferido.

Agradece, por todos nós, ao Joaquim Manuel Delgadinho Rodrigues, o ter-te facultado estas fotos e, através de ti, tê-las feito chegar ao nosso blogue (que está aberto a todos os camaradas da Guiné, como sabes). Diz-lhe (, no caso de ele não ler esta mensagem, ) que a sua presença, na nossa Tabanca Grande, nos honraria muito, a todos, e seria também uma forma de homenagear os mortos e os feridos da batalha de Gadamael. Ele só precisa de nos mandar as duas fotos da praxe, e escrever meia dúzia de linhas sobre as férias que ele passou nesse paraíso tropical chamado Guiné... Podes (e queres) ser o padrinho dele ?

 Quanto a Gadamael, nunca será demais falar... E continuaremos a falar, de Gadamael,  "ad nauseam"... Temos já cerca de 200 referências a esse lugar, que ficará na história desta guerra e deste país pelo patriotismo, coragem, abnegação e camaradagem de homens como tu, o Carmo Vicente (CCP 122),  o Manuel Rebocho (CCP 123), o Victor Tavares (CCP 121), o J. Casimiro Carvalho (CCAV 8350) e tantos outros. Desejo-te boa saúde e longa vida. Vai aparecendo.

Parafraseando o Virgínio Briote, no seu poste sobre o livro do Carmo Vicente ("Gadamael"), "foi a Guerra que vivemos (é sempre assim em todas, em poucos minutos, horas ou dias, somos capazes do melhor e do pior")... Em 26 de junho de 1975, o nosso grã-tabanqueiro J. Casimiro  Carvalho podia escrever â mãe, com os dizeres , em caixa alta, "Now we have peace" [, Finalmente temos paz].




Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / BlogueLuís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Excerto de uma das cartas enviadas de Gadamael. Na resenha biográfica do J. Casimiro Carvalho, não há grande precisão nas datas,   no que diz respeito ao período em que esteve em Gadamael. O BCP nº 12, a duas companhias (CCP 122 e CCP 123) é enviado para Gadamael a 2 de Junho, seguindo-se a 13 a CCP 121, do Victor Tavares. Regressa a Bissau a 7 de Julho (as CCP 122 e 123) e a 17 de Julho (a CCP 121). Os páras conseguirão travar a ofensiva do PAIGC a partir do momento em que se instalam em Gadamael. 

______________


(...) Já agora vou descrever um pouco por alto aquilo que ainda está gravado na minha memória. Quando nos disseram em Bissau que íamos para Gadamael, informaram-nos que a situação era muito grave e que não valia a pena irmos carregados, só o necessário para três ou quatro dias. Quando nos aproximávamos de Gadamael, recordo-me muito bem de ver muita tropa à beira do rio, com uma expressão de terror na cara.

Alguns dizem que desembarcámos em botes, mas eu quase afirmava que foi de LDM e era capaz de jurar que só a minha companhia, a [CCP] 122, é que desembarcou nesse dia e não me lembro de estarem lá duas companhias de páras ao mesmo tempo. Penso que a 123 nos foi render para a 122 poder descansar uns dias em Cacine.

Mal chegámos a Gadamael, dois pelotões foram logo para a mata, onde passaram a noite. Em Gadamael apenas se encontravam lá uns quinze ou vinte homens, o resto tinha fugido. Recordo-me que veio logo uma Berliet conduzida por um açoriano muito destemido para evacuar os mortos e feridos. Soube pelo blogue que o José Casimiro Carvalho também fazia parte dos que não fugiram. 

O meu pelotão, o quarto, fazia parte do bigrupo que passou a primeira noite no mato e, quando estávamos a regressar ao quartel, este foi fortemente bombardeado, originando a morte de alguns soldados do exército que tentaram fazer fogo com o obus 140, salvo erro. Estivemos à espera que os rebentamentos acabassem para poder entrar no quartel.

Um dia ou dois mais tarde morreram mais três soldados e um alferes miliciano, vítimas duma emboscada, muito próximo do quartel. Alguém devia ter um grande peso na consciência por ter mandado para o mato um grupo de apenas duas dezenas de militares, se tanto. Este ataque já foi contado pelo José Casimiro e pelo [Carmo] Vicente.

Aqui o Vicente deve estar enganado. Quem foi primeiro recuperar os corpos foi outro pelotão, o nosso pelotão foi enviado em reforço porque tínhamos acabado de chegar do mato. Encontrámo-nos a meio caminho e demos uma ajuda a transportar os corpos que estavam muito mal tratados : tinham o corpo queimado e ferimentos causados pelas balas. O alferes tinha um grande buraco na cara derivado a uma rajada e um soldado nem calças trazia vendo-se bem o efeito das chamas.

Quando chegámos ao quartel, os colegas dos militares mortos estavam no cais à espera e houve um pormenor que me deixou surpreendido e até chocado. Nenhum deles teve a coragem de nos ajudar a carregar os mortos para a Berliet. Os corpos eram postos no chão e o pessoal ia para as valas. Eu próprio os carreguei com a ajuda de colegas. 

Quando estávamos com este trabalho, o IN lançou novo ataque e eu só tive tempo de saltar do paredão do cais para me proteger. Foi a minha salvação pois uma granada caiu no local que tinha deixado. Escapei à uma morte certa por décimos de segundo.

Outro pormenor que me surpreendeu : quando íamos resgatar os corpos, um dos soldados que tinha fugido da emboscada dirigiu-se a mim, suplicando-me por,  tudo quanto me era sagrado, que tentasse recuperar uma medalha ou um fio que a mãe lhe tinha dado. Essa medalha ou fio devia estar no casaco que ele largou durante a fuga. Os ataques iam-se sucedendo e talvez mais espaçados e a tropa que tinha fugido ia regressando ao quartel talvez por se sentirem mais seguros com a nossa presença.

No dia dez de Junho (ninguém no mundo me convencerá que não foi neste dia ) sofremos então uma emboscada que deixou a 122 muito debilitada. Pela manhã fomos montar uma emboscada um pouco distante do quartel. Nada se passou de anormal a não ser uma tentativa do IN em abater um Fiat que voava bem lá no alto:  distinguia-se perfeitamente o fumo do míssil que tinha rebentado.

A meio da tarde, iniciámos o regresso ao quartel. Estava previsto o meu pelotão e mais um pernoitarem na mata, já muito próximo do quartel e estávamos já nesses preparativos, quando se deu a emboscada. Os dois pelotões que lá deviam pernoitar encontravam-se já na mata e os outros dois seguiam pelo caminho que dava acesso ao quartel. Os dois bigrupos encontravam-se em posição paralela,  o que podia ter custado muito caro. 

Claro que foi um erro de quem dirigiu a manobra. Os dois pelotões que iam para o quartel é que deviam ir na frente. Eu por acaso apercebi-me do erro e disse aos meus homens para não dar fogo. Aquilo nunca mais acabava. Quando os caças Fiat vieram em nosso auxílio ainda o combate não tinha acabado. Não havia árvores de grande porte para nos protegermos. O meu colega do lado esquerdo tentava proteger-se atrás dum arbusto que foi ceifado por uma granada logo por cima da cabeça. O que estava do meu lado direito foi levantado pelo sopro duma granada.  possivelmemte dum RPG 7. 

Acreditem que foi verdade,  pois vi com os meus próprios olhos. Há minutos na vida que duram uma eternidade. Resultado da brincadeira :17 feridos, todos causados por estilhaços,  fazendo eu parte desse grupo com um ferimento na cabeça.

Por absurdo que pareça eu fiquei bem disposto e até brinquei com os meus colegas. Quando estes me viram a sangrar da cabeça disseram-me : "Ó meu furriel já pode estar descansado, já acabou a comissão". Mal eles imaginavam que passados oito ou dez dias estava de novo junto deles. Claro que o ferimento não era grave e, derivado ao medo que os médicos tinham do comandante, eu próprio pedi para voltar à minha companhia. 

Quando voltei, já a 122 estava a descansar em Cacine e mal cheguei lá fui presenteado com um ataque de paludismo. Veio logo o capitão Terras Marques dizer-me que tinha que recuperar depressa pois precisava de mim para irmos fazer uma operação à fronteira da República da Guiné.

Voltando um pouco atrás. Fomos então evacuados para Cacine em dois botes que iam superlotados e de Cacine seguimos de helicóptero para Bissau. Quando eu estava no hospital a aguardar transporte para Bissalanca, chegou o homem do monóculo [, o gen Spínola,]  para ver como estavam os feridos. O médico que o acompanhava apontou para mim e disse-lhe que eu era um dos feridos. Dirigiu-se a mim e perguntou-me como se tinha passado. Quando lhe disse que foi no regresso, logo me perguntou se vínhamos pelo mesmo caminho. Pensei logo que estava ali uma armadilha e lá lhe enfiei o barrete. (...)

15 comentários:

Anónimo disse...

Caro Camarada Delgadinho Rodrigues,
Cordiais saudações
Foi com bastante emoção que vi as tuas fotos de Gadamael.
Lá estive por 15 ou 16 meses, em 70/71/ , 72 não tenho certeza pois não lembro a data exata em que saí de Gadamael.
Como dizia o meu avô, do alto da sua sabedoria bairradina: "cada um sabe das suas...".
forte abraço
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23° Pel Art

Luís Graça disse...

Seria interessantes que os "gadamaelistas" (de todos os tempos...) ajudassem a legendar estas e outras fotos... Vá lá, façam agora a vossa parte. Eu nunca lá estive... Por exemplo, identificar e descrever os edifícios...

Pelas imagens que temos publicado (tanto as do Delgadinho Rodrigues como as do Jorge Canhão) os artilheiros do PAIGC fizeram estragos (consideráveis) mas não se pode dizer, por mor da verdade, que tenham reduzido Gadamael a cinzas...

É caso para dizer, parafraseando Mark Twain, que a notícia da destruição de Gadamael, em junho de 1973, foi deveras exagerada...

Anónimo disse...

Caro Luis,
No canto direito da fotos 3 e 3A, aperece uma ponta da casa onde funcionava a messe. As restantes me parecem tiradas de costas para o mesmo edifício no sentido da fronteira/pista, contudo não tenho certeza destas.Alguém com melhor memória poderá esclarecer.
cordiais saudações
Vasco Pires

Manuel Reis disse...


Caro Luis,

Como diz o meu grande amigo e conterrâneo Vasco Pires cada um sabe das suas. Estive em Gadamael de 22 de Maio a 18 de Julho de 1973, mas apenas me foi dado avaliar a violência da guerra, o seu grau de destruição e algum vandalismo que a guerra sempre propicia a alguns camaradas sem escrúpulos.
Os camaradas mais bem situados para identificarem as fotos são os da C.CAÇ que já lá se encontravam instalados, antes de 31 de Maio.

Um abraço.

Manuel Reis

Luís Graça disse...

Camarada Manuel Reis, às vezes não podemos fazer humor com coisas que doem aos outros... A destruição, física, material, exterior, da guerra, visível nas fotos dos nossos aquartelentos, destacamentos, tabancas (ou, as do outro lado, que numa guerra há sempre dois contendores, no mínimo) não nos pode fazer esquecer a violência, interior, psicológica, que afeta os combatentes e as populações.... Dessas só os grandes fotojornalistas nos conseguem dar conta... Quando falemos de sofrimento, dores, maleitas, tens razão, tinha razão o avô do Vasco Pires: "Cada um sabe das suas"...

Um abração. Luis

Luís Graça disse...

Camarada Manuel Reis, às vezes fazemos humor com coisas que doem aos outros... É cruel...

Na realidade, a destruição, física, material, exterior, da guerra, visível nas fotos dos nossos aquartelamentos, destacamentos, tabancas (ou, as do outro lado, que numa guerra há sempre dois contendores, no mínimo) não nos pode fazer esquecer a violência, interior, psicológica, escondida, que afeta os combatentes e as populações.... Dessas só os grandes fotojornalistas nos conseguem dar conta...

Quando falarmmos do sofrimento, dores, maleitas, etc. dos outros, é bom ter sempre presente o aforismo do avô do Vasco Pires: "Cada um sabe das suas"...

Um abração. Luis

Anónimo disse...

Caro Manuel Augusto,
Espero que as caçoilas ( e a Chanfana)estejam prontas quando eu for aí.
Grande abraço
Vasco Pires

Anónimo disse...

FOTO--1

Escola e moranças militares

FOTO--2

Traseiras das transmissões e um paiol

FOTO--3

Esquina do edifício da messe de oficiais e sargentos e instalações da "ferrugem".

Com o respeito devido às opiniões dos camaradas quero mais uma vez realçar que não foi verdade que apenas se encontrassem 15 ou 20 militares dentro do aquartelamento.
Aplicar o termo "fugir", na minha modesta opinião,é abusivo.

Uma grande parte das granadas caídas dentro do aquartelamento eram incendiárias e felizmente muitas delas não explodiram.

O único obus 14 operacional e com o espaldão construído ficou inop devido a ter caído um granada de morteiro 82 à frente do obus tendo destruído as rodas e o aparelho de pontaria deste e da guarnição constituída por 14 homens três morreram e onze ficaram feridos.

Gadamael foi o aquartelamento de todos os TOs o que mais flagelações sofreu e que mais mortos e feridos teve.
Após a saída do batalhão de "PÁRAS",perante o qual todos os "gadamaelistas" da altura ficamos eternamente agradecidos,continuou a sofrer flagelações quase diárias..só que nessa altura já estávamos preparados tanto em material como infraestruturas e dotação de pessoal.

Até ao fim da guerra foi o maior "buraco" da Guiné.

Gadamael não foi reduzida a cinzas..o que quer que isso seja..mas uma grande parte das moranças ficaram inabitáveis..muitas foram destruídas e outras reconstruídas com mini-abrigos no interior.

Já aqui referi várias vezes que tenho inveja..inveja mesmo..genuinamente inveja..de todos os camaradas que não estiveram lá.

Com um alfa bravo para todos

C.Martins

Anónimo disse...

O que se sente quando uma granada cai perto...

VVVRRRRREEEEE....PLAFFKKK...VÊ-SE UMA LUZ COMO SE FOSSE UM FLASH..ACORDA-SE ESTENDIDO NO CHÃO COBERTO DE PÓ E EMPAPADO NUM LIQUIDO VISCOSO..ESTÁ-SE COMPLETAMENTE SURDO E COM A SENSAÇÃO DE TER LEVADO UMA MARTELADA NA CABEÇA..OIMM-OOIMMMM..NÃO SE SENTE QUALQUER DOR..DEPOIS PARECE QUE NOS ESTÃO A QUEIMAR AS PERNAS..NÃO SE SABE MUITO BEM ONDE ESTAMOS NEM O QUE NOS ACONTECEU..SÓ PASSADO ALGUM TEMPO COMEÇA A SURGIR UMA DOR MUITO INTENSA COMO SE ALGUÉM NOS ESTIVESSE A TENTAR FAZER EM CARNE PICADA ..DEPOIS..BEM.. DEPOIS DESMAIA-SE..E E ..DEPOIS DISSERAM-ME QUE SE NÃO FOSSE UM ANJO VESTIDO DE ENFERMEIRA PÁRA-QUEDISTA ..TINHA MORRIDO DEVIDO AO "SHOK" HIPOVOLÉMICO (HEMORRAGIA ABUNDANTE).

Esta "treta" não é nada como se vê nos filmes.

C.Martins

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Outro conjunto de fotos impressionantes.
Dá para ver, imaginando, o que os 'inquilinos' dessas instalações passaram.
E nunca, mas nunca mesmo, é 'demais' falar de Gadamael, assim como de Guidaje e outros locais, pois eles foram sítios onde os homens tiveram que se superar e isso não é coisa de somenos.

Aproveito para enviar um abraço ao C. Martins cujo relato, meio a brincar, como é seu timbre, meio a sério, dos momentos em que é atingido é também deveras impressionante. Ainda bem que haviam esses 'anjos'...

Hélder S.

Luís Graça disse...

Querido amigo e camarada Manuel Reis, que eu muito prezo:

Escrevi: (...)"às vezes fazemos humor com coisas que doem aos outros... É cruel..."

O português é tramado, ou somos nós que não somos capazes de sre claro, concisos e precisos... Manel, o que escrevi é um "autocrítica"...De modo nenhum, é dirigida a ti... O próprio alvo sou eu que escrevi, com alguma ligeireza:

(...) "Pelas imagens que temos publicado (tanto as do Delgadinho Rodrigues como as do Jorge Canhão) os artilheiros do PAIGC fizeram estragos (consideráveis) mas não se pode dizer, por mor da verdade, que tenham reduzido Gadamael a cinzas...

"É caso para dizer, parafraseando Mark Twain, que a notícia da destruição de Gadamael, em junho de 1973, foi deveras exagerada"...

Quis a seguir emendar a mão, com o segundo comentário:

(...) "Na realidade, a destruição, física, material, exterior, da guerra, visível nas fotos dos nossos aquartelamentos, destacamentos, tabancas (ou, as do outro lado, que numa guerra há sempre dois contendores, no mínimo) não nos pode fazer esquecer a violência, interior, psicológica, escondida, que afeta os combatentes e as populações.... Dessas só os grandes fotojornalistas nos conseguem dar conta... Quando falemos de sofrimento, dores, maleitas, tens razão, tinha razão o avô do Vasco Pires: Cada um sabe das suas" (...)

Como sabes, Manel Reis, eu não tenho incentivado no blogue comparações do género "A minha guerra foi maior ou pior do que a tua"... Todos nós, que tivemos a sorte regressar vivos, "sãos e salvos", trouxemos connosco, nos nossos "arquivos secretos", o suficiente para contar a filhos e netos... è por isso que estamos aqui, há 9 anos, a blogar, e a evocar estranhos nomes da geografia da guerra: Nhabijões, Ponta do Inglês, Xime, Xitole, Fiofioli, Darsalame, Buba, Mampatá, Gandembel, Guileje, Gadamael, Cachil, Madina do Boé, Buruntuma, Caium, Piche, Madina/Belel, Jugudul, Mansoa, Bissorã, Olossate, Choquemone, Oio, Farim, Fajonquito, Guidaje, Rio Geba, Rio Corubal, Rio Cumbijã, Rio Cacine....

Um grande xicoração para ti

Luís Graça disse...

Querido amigo e camarada Manuel Reis, que eu muito prezo:

Escrevi: (...)"às vezes fazemos humor com coisas que doem aos outros... É cruel..."

O português é tramado, ou somos nós que não somos capazes de ser claros, concisos e precisos... Manel, o que escrevi é um "autocrítica"...De modo nenhum, é dirigida a ti... O próprio alvo sou eu, que escrevi, com alguma ligeireza, com humor (negro) de caserna:

(...) "Pelas imagens que temos publicado (tanto as do Delgadinho Rodrigues como as do Jorge Canhão) os artilheiros do PAIGC fizeram estragos (consideráveis) mas não se pode dizer, por mor da verdade, que tenham reduzido Gadamael a cinzas...

"É caso para dizer, parafraseando Mark Twain, que a notícia da destruição de Gadamael, em junho de 1973, foi deveras exagerada"...

Quis a seguir emendar a mão, com o segundo comentário:

(...) "Na realidade, a destruição, física, material, exterior, da guerra, visível nas fotos dos nossos aquartelamentos, destacamentos, tabancas (ou, as do outro lado, que numa guerra há sempre dois contendores, no mínimo) não nos pode fazer esquecer a violência, interior, psicológica, escondida, que afeta os combatentes e as populações.... Dessas só os grandes fotojornalistas nos conseguem dar conta... Quando falemos de sofrimento, dores, maleitas, tens razão, tinha razão o avô do Vasco Pires: Cada um sabe das suas" (...)

Tu bem sabes, camarada Manuel Reis, que não gosto de fazer (nem o tenho incentivado) comparações, aqui no blogue, do género "A minha guerra foi maior ou pior do que a tua"...

Todos nós, que tivemos a sorte regressar vivos, "sãos e salvos", trouxemos connosco, nos nossos "arquivos secretos", o suficiente para contar a filhos e netos... É por isso que estamos aqui, há 9 anos, a blogar, e a evocar (e repisar) estranhos nomes da geografia da guerra: Nhabijões, Ponta do Inglês, Xime, Xitole, Fiofioli, Darsalame, Buba, Mampatá, Gandembel, Guileje, Gadamael, Cachil, Como, Madina do Boé, Buruntuma, Caium, Piche, Madina/Belel, Jugudul, Mansoa, Bissorã, Olossate, Choquemone, Oio, Farim, Fajonquito, Guidaje, Rio Geba, Rio Corubal, Rio Cumbijã, Rio Cacine...e por aí fora, que a lista é extensissima...

Um grande xicoração para ti

Anónimo disse...

Caro camarada Luís Graça

Pessoalmente não levo nada a mal qualquer comentário que faças e julgo que o Manuel Reis também não,porque sei que não é mal intencionado.
Muita coisa se disse e diz que não corresponde à verdade, ou pelo menos à nossa verdade.
Como sabes cada um vive os mesmos acontecimentos de forma diferente.
Concretamente sobre Gadamael, mesmo aqueles que lá estiveram nos dias de "brasa",contam aquilo que viveram e sofreram, mas é sempre uma verdade parcial..falo por mim.
Quando se enviou a mensagem desesperada "gadamael destruída..coiso e tal",é preciso recordar que esta foi enviada traduzindo o estado de ânimo no momento e além disso tinha uma visão parcial dos acontecimentos.
Quanto à "reduzida a cinzas", claro que é uma metáfora, nem Hiroshima ficou completamente reduzida a cinzas e levou com uma bomba atómica de 20 megatoneladas em cima.

Um grande abraço

C.Martins

Anónimo disse...

Mais uma vez, o meu (nosso) reconhecimento aos Páras,Força Aérea e N.S.Fátima... tão bem retratado pelo post do Victor.

"Guiné 63/74 - P2729: Estórias de Guileje (10): os trânsfugas de Guileje, humilhados e ofendidos (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)"
Bernardo

Armando Ribeiro disse...

Deixo o meu abraço ao todos aqueles que estes planícies calcaram.
àqueles que, pela força da circunstância, estiveram envolvidos
neste ataque de guerra. Pois, era a guerra e guerra é mesmo assim.
Uns tombaram (de ambos os lados) outros, feridos ou mal-tratados, saíram deste triste enlace, restando-nos as memórias que em nós ficam, para sempre gravadas.
A. Ribeiro da 122