terça-feira, 13 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15245: Inquérito "on line" (7): Estava em Bissau quando em 7 de maio de 1974 chegou o TCor graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião, esse sim o último Com-Chefe. Conheci também o Schulz, o Spínola e o Bettencourt Rodrigues (António Dâmaso, SMor PQ ref, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Aqui na foto ainda capitão e depois major,  comandante do Comando Geral de Milícias (1971-973), ao tempo de Spínola... 

Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia.
In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335. 


1. Mensagem de hoje do António Dâmaso [srg mor PQ ref, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74]

Assunto - Governadores da Guiné

No vosso inquérito, a meu ver, parece-me que se esqueceram de mais um governador.

Vejamos, eu fui contemporâneo de quatro Governadores e Comandantes-chefes da Guiné.

Quando em 17NOV66 a 17ABI68, fui colocado na BA12 e seguidamente no BCP12, era o Comandante-chefe o General Arnaldo Schulz.

Reportando a governação deste à época, tenho a dizer que houve uma grande atividade operacional por parte do BCP 12 que lhe deu direito à medalha de Cruz de Guerra de 1.ª Classe.

Quando lá apareceu o Brigadeiro Spínola, eu já não lá estava.

"Levei" com ele nas duas comissões seguintes: 20MAR69 a 10JUN70 e 18NOV72 a 30AGO74. Este militar, apesar de ter alguma preferência pelos oficiais de Cavalaria, esteve muito tempo dentro do teatro de operações e conseguiu implantar a “psico” de juntar as Populações perto de Aquartelamentos, construir moranças e criar legislação que protegia os indígenas de maus tratos por parte de militares metropolitanos.

Assisti mais de uma vez a palestras de receção a militares, em que este dizia aos militares aquilo que gostavam de ouvir de um chefe militar, por outro lado era a sua postura nas visitas aos Aquartelamentos e teatros de Operações... Sempre gostou de arriscar e teve sorte, morreu de velho.

Quando em 1961declinei a oferta de ir para a PM {, Polícia Militar], quis o destino que não o tivesse tido por 2.º Comandante, fui para Lanceiros 1

Depois havia a sua habilidade de convivência com as Populações, que era muito boa e era considerado o Homem Grande. Depois desta convivência e análise politica e militar, previu que a guerra não era ganha militarmente.

Para muitos, foi um Cabo de Guerra, mais tarde no 11MAR75, assisti "in loco",  na BA3, à sua partida [para o exílio], num  Heli que o levou à Base de Talavera de la Frontera.

Também lá estava quando fui comandar um Pelotão, integrado na CCP 121, para fazer guarda de honra na receção ao general Bettencourt Rodrigues quando este foi substituir o General Spínola, na minha modesta opinião não tenho conhecimentos para avaliar o desempenho deste senhor general, apenas sempre admirei a sua verticalidade de não alinhar com os revoltosos quando em 26ABI74, invadiram o seu gabinete. E como não alinhava com eles, deram-lhe voz de prisão e recambiaram-no para cá.

Este militar teve muita sorte na sua recusa, porque não passou pela vergonha de ter entregado a Guiné ao PAIGCV.

Imediatamente a seguir a 25 de Abril, vi muitos Periquitos posicionados nas esquinas das ruas de Bissau

Ainda lá estava quando em 07MAI74, chegou o TCor graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião, que este sim foi fazer a transferência.

Lembro-me que quando este senhor lá chegou, se preocupou com a sua segurança e a do palácio, recebi ordem para ir levantar 20 Jeeps ao Exército, estas viaturas depois, algumas equipadas com canhões sem recuo, serviam de equipamento para uma CCP fazer a segurança ao palácio.

Por último, tenho dúvidas se Arnado Schulz e Spínola, participaram na guerra civil de Espanha.


PS - Caros camaradas, apesar de tudo, e do comentário acima,  sou um spínolista.   Um grande abraço do Dâmaso.

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Nota do editor:

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