Prezado Luís Graça:
Naquele tempo também eu me habituei a gostar de Whisky, misturado com a água Perrier.
A bebedeira era, em certos casos, um problema complicado, quer entre os soldados, quer entre os graduados.
Envio a descrição sumária de uma bebedeira, a que chamo quase colectiva, que teve lugar em Bissau, na breve passagem da Companhia pela cidade, por alturas do NATAL DE 1967.
Um abraço amigo para todos
Domingos Gonçalves
Bissau, 20/12/1967
À noite, o pessoal quase todo, fez um assalto ao bar do Zé D'Amura. A intenção era esgotar-lhe todas as bebidas finas que ele tivesse no estabelecimento.
Os empregados foram trazendo para as mesas marisco, passarinhos fritos, cerveja fresca ....
E tudo foi acabando...
Depois, foi a vez do whisky, do gin, dos brandys ...
Experimentou-se de tudo quanto o estabelecimento possuía, para vender. No fim, compraram-se as últimas garrafas, ou o que delas restava, para beber no quartel, em ambiente esfuziante, todos aqueles líquidos que transportam as pessoas para outros mundos. Para um estado de espírito onde tudo quanto é mau se esquece.
Onde a vida parece que fica pintada cor de rosa.
É a paixão da bebedeira. Talvez a tentativa de esquecer a realidade que circunda a vida de cada um de nós.
Mas é só uma libertação momentânea, e passageira. A realidade nunca tarda a aparecer de novo.
E uns de cada vez iniciámos o regresso ao aquartelamento, que ficava a poucas dezenas de metros.
Os mais embriagados, sem que os empregados a tal se opusessem, talvez por receio, foram levando as cadeiras em que estavam sentados, e a que se agarravam para não cair.
Mas, uma após outra, foram-nas abandonando, ao longo da rua, pois, apesar de serem leves, já não podiam com elas.
E ainda há quem afirme que as bebidas alcoólicas dão força!
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2. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 11 de Março de 2016:
Luís e Carlos.
Junto uma estória verdadeira que como vosso desafio veio ao de cima no sótão da minha memória.
Abraços.
Zé Teixeira
Vinho do Porto em Domingo de Ramos
Numa bela tarde de Domingo, no domingo de Ramos de 1969, estava em Buba a saborear uns bons copos (não havia cálices) de vinho do Porto, na companhia de dois conterrâneos. O saboroso néctar tinha sido levado por um deles no regresso de férias à Guiné.
Passou por nós o “jeová”, um soldado da minha Companhia que, alegando que a sua religião não o permitia, se recusava a usar a G3. Era um tipo muito esquisito este “jeová”. Muito fechado em si. Não bebia qualquer tipo de bebidas alcoólicas, quase não comunicava com os colegas e não reagia às provocações mais ou menos atrevidas e “ofensivas” de alguns camaradas, por ser um dos elos mais fraco da Companhia.
Era contido na comida e ninguém lhe conhecia amizades junto da população.
Ofereci-lhe um copo e ele desdenhosamente respondeu:
- Na minha terra lavamos os pés com essa “surrapa” - e foi-se embora.
Pareceu ao grupo que o “jeová” merecia uma lição e fui encarregado de o trazer até ao cantinho onde costumávamos acoitar, dentro da arrecadação para saborear uns petiscos cozinhados por um de nós – o Mário.
Ao fim da noite apareci com ele e logo lhe foi oferecido um copo de vinho do Porto que ele acabou por aceitar e gostou. Pediu outro e outro... e outro e nós a vermos a garrafa a ficar vazia.
Levantou-se de repente e foi embora a cambalear, notando à distância que não ia sozinho.
No outro dia de manhã, o cozinheiro foi procurar-me à enfermaria. O “jeová” estava a dormir num banco da cozinha, onde era auxiliar, e dormia tão profundamente que ninguém o conseguia acordar. Apenas eu e os meus dois amigos de outra Companhia, sabíamos o que lhe tinha acontecido.
Fiquei preocupado ao verificar que e o "jeová” estava no sono de Baco, ou seja, em coma alcoólico e ali ficou “dormindo” o dia inteiro, a noite seguinte e só “acordou” já o sol ia alto no terceiro dia.
Ninguém ousou pensar que estava sobre o efeito de álcool, pois sempre tinha sido abstémio. Confesso que estava a entrar em pânico e já estava a pensar em tentar dar-lhe um reconstituinte alimentar à colher, quando ele felizmente “acordou” pediu um copo de água e adormeceu, agora um sono verdadeiro que durou pouco tempo.
Quando acordou, levantou-se e foi à vida dele.
Calou-se para sempre sobre os copos de vinho do Porto que bebeu e continuou abstémio, que eu saiba, até ao fim da comissão. E o segredo ficou entre nós...
Não sei se chegou aos ouvidos de algum superior, mas se chegou, ninguém se preocupou.
Zé Teixeira
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Nota do editor:
Último poste da série de 17 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15869: Inquérito 'on line' (47): Apanhei um "pifo de caixão à cova", uma, duas, três ou mais vezes... confessam 65 em 100! (Resultados finais)
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