segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

1. Mensagem de Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)]:


Data: 24 de julho de 2016 às 21:18
Assunto: A minha faca de mato.


A minha faca era igual a todas as outras, servia para tudo e mais alguma coisa, como todos nós que por lá andamos, sabemos. Teve muito uso e útil. 

No entanto a minha teve uma utilização muito critica e dolorosa. Quando no dia 20 de Julho de 1970, como já referi neste blog, o  meu Grupo de Combate teve que ir em socorro de uma Tabanca, atacada e incendiada pelo PAIGC, e o soldado da minha Secção Aladje Silá accionou uma mina antipessoal, e veio a falecer em resultado deste triste acontecimento. (*)

Quando os ânimos se acalmaram um pouco, depois de explosão, do pó e confusão de fogo cruzado, e se verificou  que o Aladje estava caído e a lamentar-se das sequelas da explosão, o Cabo Enfermeiro, depois de me avisar que eu estava todo chamuscado, pediu-me para abrir as calças do Aladje, o que eu fiz com a minha faca de mato, mas ao tentar usá-la, quando peguei no seu pé, fiquei com o mesmo na mão, pois o mesmo se tinha separado da respectiva perna. 

Quando comecei a rasgar a calça do camuflado, foi  quando me apercebi da desgraça, que vinha a caminho. Assim a minha faca de mato ficou associada a um muito triste acontecimento, que ain
da hoje me persegue e nunca consigo esquecer. (**)

Abílio Duarte
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Notas do editor:

1 comentário:

Valdemar Silva disse...

É verdade, Duarte.
A faca de mato também serviu, servia, para ser utilizada nessa situação.
Infelizmente.
Abraço
Queiroz