Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 12 de março de 2017
Guiné 61/74 - P17129: Blogpoesia (498): "Nomes e verbos..."; "Cabeleira farta de prata..." e "Nem a carvão... nem a gasolina...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Nomes e verbos...
Entrei pelo dicionário dentro.
Como se entra num museu.
Tantas galerias.
Tantas estantes bem ordenadas.
Repletas.
Peguei num verbo.
O verbo amar.
Pus-me a conjugá-lo.
Em todos os tempos e suas formas.
Foi no infinito que eu fiquei.
Como um apaixonado.
Agarrado ao chão.
Segui adiante.
Aos substantivos.
Que grande jardim.
Tantas flores.
Parei nos cravos.
Ó que cheirinho!
E as rosas, de tantas cores.
Que perfume!
E fui ao sótão.
Dos adjectivos.
Todos em cestos.
Como as sementes.
Tão variados.
De tantas espécies.
Que maravilha!
Davam para tudo.
Pelo corredor fora fui dar à cozinha.
Era a sala das interjeições!
Ferviam panelas.
Soltavam odores.
Ó que regalo!
Tanta panela.
Sem cozinheira.
E depois um salão.
Dos advérbios.
Todos janotas.
Lá estavam os de tempo.
Todos sem uso.
Intemporais.
Depois os de modo.
Todos pedantes.
Muito formais...
E mesmo no fim,
Uns caixotões.
Abri-lhes a tampa.
Quase morria.
Eram os assentos,
Pontos e vírgulas...
Tanta ferrugem!...
Fora de uso.
Bar "Caracol" 12 de Março de 2016
10h21m
sábado de sol
JLMG
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Cabeleira farta de prata...
Escorre da cabeça pianista
uma cabeleira farta, de prata.
Seu rosto enrugado, sereno,...
se fixa no piano calado.
Seus dedos avançam-lhe ávidos de sons.
Poisam nas teclas. Saltitam frementes.
Sobem acordes de pautas,
volutas de tons,
em cascatas acesas, raiadas de luz.
A sala se enche com ondas
duma maré, prenhe, do mar.
Esvai-se o tempo fluente de cor
Enquanto o piano entoa e encanta
uma sala de gente faminta de paz e harmonia...
Ouvindo Beethoven, concerto nº 1, por Martha Argerich
Mafra, 6 de Março de 2017
21h28m
Jlmg
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Nem a carvão... nem a gasolina...
tenho um coração de carne.
igual ao de toda a gente.
sessenta badaladas por minuto.
se cansa e arfa.
sofre e ama.
me serve fiel,
desde o começo.
sem nada exigir.
sempre pronto.
nunca se negou a trabalhar.
por isso o guardo bem dentro,
lugar seguro.
seu alimento vem-lhe da alma.
e do Sol aceso
que me alumia...
Berlin, 11 de Março de 2015
16h24m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17117: Blogpoesia (497): Neste dia da Mulher, um poema de Juvenal Amado, dedicado à sua companheira de sempre
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