Guiné > Bissau > 1967 > O alferes miliciano comando Briote (ao meio), em final de comissão, com os alferes comandos Sampaio Faria e Ovídio (do lado esquerdo) na receção da 5.ª Companhia de Comandos, do cap Albuquerque Gonçalves (à direita).
Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário de Virgínio Briote ao poste P19106 (*)
Virgínio Briote, ex-alf mil cav, CCAV 489 (Cuntima e alf mil comando, cmdt do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67); frequentou a Academia Militar nos anos letivos de 1962/63 e 1963/64; coeditor jubilado do nosso blogue
Crónica de uma mobilização
Set. 1964.
Embarcaram no N/M Carvalho Araújo cerca de 18 aspirantes milicianos, com destino ao BI 18, S. Miguel, e ao BII 17, Angra do Heroísmo, Terceira [, Açores].
Quando, um dia pela manhã, o navio aportou a Angra, algumas viaturas transportaram-nos até à Fortaleza de S. João Baptista, no Monte Brasil.
Recebidos pelo cmdt, tenente coronel Garrido Borges, depois das boas-vindas e de algumas informações gerais, um capitão comunicou a alguns dos recém-chegados que não valia a pena desfazerem as malas porque regressariam ao continente no próximo transporte, uma vez que tinham sido mobilizados para o Ultramar.
Recebidos pelo cmdt, tenente coronel Garrido Borges, depois das boas-vindas e de algumas informações gerais, um capitão comunicou a alguns dos recém-chegados que não valia a pena desfazerem as malas porque regressariam ao continente no próximo transporte, uma vez que tinham sido mobilizados para o Ultramar.
Depois, quase todas as semanas um era mobilizados.
Fui, que me lembre, o último a ser mobilizado, no início da 2ª quinzena de dezembro [de 1964]. Tinha começado por ser cmdt de um pelotão e acabei por ser cmdt interino de uma companhia, director da carreira do tiro, da secção técnica e certamente de mais qualquer departamento, uma vez que os únicos oficiais que lá se encontravam era o cmdt da unidade e um capitão com mais de uma dezena de anos no posto.
Quando entrei no gabinete do cmdt, o tenente coronel [, de infantaria, Fernando Manuel] Garrido Borges, sorridente, comunicou-me que tinha chegado a minha vez. Mobilizado para Cabo Verde...
− Nada mau, aspirante Briote! Parabéns! Prepare-se, deixe tudo em ordem, ainda deve ir passar o Natal com a família.
Dia seguinte, a meio da manhã, chamada para ir ao gabinete do cmdt...
− Chegou novo rádio a comunicar que tinha havido erro na mensagem. O nosso aspirante foi mobilizado
para a Guiné.
− Chegou novo rádio a comunicar que tinha havido erro na mensagem. O nosso aspirante foi mobilizado
Desci as escadas e fui até ao bar do cabo João. (**)
V Briote
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)
(**) Último poste da série > 17 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19108: 'Então, e depois ? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (1): Valdemar Queiroz (ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
2 comentários:
Obrigado, Virgínio pelo teu depoimento... São estes "pequenos segredos" que merecem ser partilhados pela Tabanca Grande...Quem foi parar a Cabo Verde, ou quem nem sequer foi mobilizado para o ultramar, no tempo da guerra colonial (1961/74), por "sorte", por "mérito" ou por "cunha", não irá aparecer aqui a contar a sua história... Ou quem foi foi refractário ou até desertor. também não vem ao "confessionário"... O que é pena... Mas era interessante sobretudo saber até que ponto funcionava o famoso factor C, a "cunha"... Claro que havia cunhas grandes, médias e pequenas...
Em matérias "delicadas" como esta (as relações clientelares que de há séculos os portugueses estabelecem entre si...), há sempre o risco da "generalziação abusiva"... A verdade é que, na grande maioria dos casos, não houve "cunhas", até porque alguém tinha que fazer a guerra: tu, eu, todos nós, que aqui estamos reunidos no poilão da Tabanca Grande...
Mas tu, que andaste na Academia Militar, e tens camaradas desse tempo que chegaram a generais, tens seguramente uma "visão" mais extensa e profunda, e penso que "objetiva", deste problema... Ou não ? Afinal, também te passaram a perna lá nos Açores... Cabo Verde sempre era melhor do que a Guiné...
Aquele abraço, Luís
Caro Briote
Sem dúvida uma sequência bastante esclarecedora de como as coisas funcionaram.
Podemos apreciar a "subtileza" de como as "cunhas" se faziam sentir e as consequências das mesmas aplicadas a 'terceiros'.
Abraço
Hélder Sousa
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