quarta-feira, 22 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19814: (De)Caras (130): João Crisóstomo, o luso-americano que vem de propósito de Nova Iorque para estar com os seus antigos camaradas de armas, em Monte Real, no dia 25, sábado... Entretanto, tarda o reconhecimento, público, do seu país de origem, pela seu ativismo cívico e social na diáspora lusitana...

João Crisóstomo, Porto das Barcas, Lourinhã, 2017.
Foto: Luís Graça
1. Está de visita a Portugal, mais uma vez, por uns breves dias, o nosso camarada e amigo, o luso-americano João Crisóstomo, acompanhado da esposa, a eslovena Vilma. 

Participou, sábado passado, na Ericeira, no convívio do pessoal que passou pelo Enxalé, em 1965/67, na qualidade de ex-alf mil inf da CCAÇ 1439, e vai estar connosco em Monte Real, pela primeira vez, por ocasião do XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande,  sábado, dia 25 de maio de 2019.

Todas as vezes que ele cá vem, à sua terra de origem, há sempre alguém, do círculo das nossas relações sociais, que me pergunta, com admiração e incredulidade:

"Mas este país, à beira mar plantado,  terra de santos, heróis e comendadores, ainda não reconheceu, publicamente, a ação cívica e o ativismo social deste homem, um dos seus ilustres filhos,  lídimo representante da diáspora lusitana nos EUA e da lusofonia,  que se bateu galhardamente, por exemplo, com outros luso-americanos e outros portugueses, por causas nobres e patrióticas, como  a salvaguarda da arte rupreste de Foz Coa, a autodetermiação de Timor Leste, a reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes ou a libertação do refém luso-americano Marc Gonsalves,detido na Colômbia pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)?!"... 

É uma pergunta legítima. Para quem não o conhece, na Tabanca Grande, aqui fica uma pequena nota biográfica.

2. João Crisóstomo - Nota biográfica (**)

Natural de Torres Vedras, João Crisóstomo acabou por se tornar cidadão do mundo anos antes de se fixar na metrópole que reinvindica ser a sua capital, a cidade de Nova Iorque.
Depois de passar pela África nos anos 1960 e ganhar uma cruz de guerra de 4ª classe na Guiné-Bissau [, como alf mil inf, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67[, trabalhou e estudou em Londres (1968-1969), em Paris (1970), em Ludwigsburg (Estugarda) (1971,  antes de frequentar cadeiras de gestão hoteleira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e de trabalhar no Leme Palace Hotel dessa cidade.

Chegou aos Estados Unidos em 1975, exercendo a sua profissão, primeiro, como mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis (1975-1979), e, depois, como gerente proprietário do restaurante nova-iorquino Cuisine du Coeur (1979-1982) e, novamente (1982-2015), como despenseiro de diversas famílias da alta sociedade nova-iorquina.

Foi nos salões da alta sociedade onde conquistou a amizade das pessoas que servia e o privilégio de manter a sua amizade e a sua abertura a muitas causas a que já dedicava energia ou a que se iria entregar: 


(i) a defesa das gravuras de Foz Coa com o “Save the Coa Site Movement  ” (1995); 

(ii) a divulgação da acção humanitária, durante a II Guerra Mundial, dos diplomatas portugueses Aristides Sousa Mendes, Carlos Sampaio Garrido e Carlos de Liz Teixeira Branquinho e dos diplomatas brasileiros Sousa Dantas e Rosa Guimarães (1996 e seguintes); 

(iii) o lançamento de iniciativas em defesa da independência de Timor-Leste através da LAMETA (1996- 2002); 

(iv) diligências públicas em 2008 para a libertação do refém luso-americano Marc Gonsalves, então detido na Colômbia pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), desde 2003; 

(v) um movimento comunitário para garantir a continuidade em Nova Iorque do Consulado de Portugal (2007),ameaçado de extinção;

(vi) e outras iniciativas de menor impacto público.

No percurso, recolheu algum reconhecimento pelas suas acções: 

(a) International Rock Art Congress Award (USA), 1998; 

(b) Angelo Roncalli Medal, IRWF, 2001;

(c)  Outstanding Service to Society Award, Edison State College, 2001; 

(d) Visas for Life Award, 2002;

(e)  Aristides Sousa Mendes Medal da International Raoul Wallenberg Foundation (IRWF), 2004; 

(f) Luis Martins de Sousa Dantas Medal, IRWF, 2005; 

(g) Recognition Certificate, Government of Canada, 2005;

(h) etc., etc.


Afirma, contudo, que nenhum reconhecimento o marcou tão profundamente como o recebido telefonicamente de Xanana Gusmão na noite de 23 para 24 de Setembro de 1999 - o mês em que o líder timorense saiu da prisão indonésia - a propósito da longa e algumas vezes renhida luta da LAMETA pela independência de Timor-Leste: “Nós estamos muito reconhecidos por tudo quanto fizeram”.(***)

O João Crisóstomo integra a nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010, sentando-se à sombra do nosso poilão sob o nº 432.


______________

Notas de leitura:

(*) Vd. poste de 13 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19010: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte IV: O papel da Organização das Nações Unidas... Homenagem a Kofi Annan (1938-2018)




1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Alguém se lembra desta campanha, em que esteve envolvido o nosso João Crisóstomo ?

Aqui vai uma notícia da LUSA / TVI

Refém luso-americano: apelo chega a Sócrates
Associações Portuguesas escrevem carta por luso-americano refém das FARC

2008-03-24 17:16

https://tvi24.iol.pt/sociedade/hugo-chavez/refem-luso-americano-apelo-chega-a-socrates



Dezenas de associações portuguesas, de diversos estados americanos, estão a subscrever uma carta a José Sócrates pedindo-lhe que sensibilize Hugo Chávez para a situação do luso-americano Marc Gonsalves, refém das FARC na Colômbia, noticia a agência Lusa.

O primeiro-ministro português deverá visitar a Venezuela em meados de Abril, para se encontrar com o Presidente Hugo Chávez, uma das pessoas com mais influência junto das FARC.

Segundo o jornal Luso-Americano, de Newark, a campanha foi lançada junto das comunidades por João Crisóstomo, um activista português dos direitos cívicos. A carta, assinada pelas associações portuguesas, será entregue ao embaixador de Portugal em Washington, João de Vallera, durante uma cerimónia que terá lugar no dia 3 de Abril no Sport Clube Português de Newark.

Marc Gonsalves, filho de Josephine Rosano e do luso-descendente George Gonsalves, é refém das FARC desde 13 de Fevereiro de 2003.

Foi feito prisioneiro quando se encontrava ao serviço da companhia americana Northrop Grumman, durante uma operação de vigilância ao cultivo de coca, na província colombiana de Caquetá.

«Na nossa qualidade de dirigentes associativos portugueses nos Estados Unidos, sabemos quanto o Presidente Hugo Chavez aprecia o contributo dos luso-venezuelanos para o progresso do seu país e acreditamos que em homenagem a eles esteja predisposto a mais uma diligência para libertar esse refém das FARC», escrevem os dirigentes associativos na carta que vai ser enviada ao primeiro-ministro José Sócrates.

«O nosso óbvio desejo é que sejam libertados simultaneamente todos os reféns em poder das FARC - lembramos especialmente os americanos Keith Stansell e Thomas Howes - e todos os combatentes das FARC em poder da Colômbia e dos Estados Unidos», salienta ainda o apelo.