Foto nº 1 > O António Rodrigues, em tromco nu, à esquerda, no porto fluvial de Bissá,na margem direita do Rio Geba, durante um reabastecimento; Bissá era alvez um dos piores destacamentos que existiam na Guiné, principalmente nos períodos das chuvas, na opinião do autor das fotos;
Foto nº 2 > O António Rodrigues em Bissá, junto do monumento da CART 2411 [Enxalé, Porto Gole e Bissá, 1968/70), subunidade de que não temos qualquer representant no nosso blogue;
Fotos (e legendas): © António Rodrigues (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Carta de Fulacunda (1955) > Escala 1/50 mil > Pormenor: posição relativa de Porto Gole e Bissá, e de outras povoações na margem direita do rio Geba, abandonadas com a guerra, e que o nosso camarada João Crisóstomo, alf mil da CCAÇ 1439, bem calcorreou, "em perigos e guerras esforçado"...
A CCAÇ 1439 teve como unidade mobilizadora o BII 19 (Funchal), partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967, tendo passado por Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá, Fá Mandinga. O comandante era o cap mil inf Amândio Manuel Pires, já falecido. Alferes (milicianos): Freitas (Funchal, Madeira), Crisóstomo (Torres Vedras, hoje a viver em Nova Iorque), Sousa (Vila Nova de Famalicão), Zagalo (Lisboa, ator de teatro, já falecido).
Desde o início do ano de 1967 até ao final da comissão da CCAÇ 1439 em princípios de Abril, a história da unidade (ou o relatório do capitão, a que tenho acesso), enumera um grande número de operações, sem sofrermos mais baixas e sem haver também grandes resultados contra o IN.
Tomei parte em várias destas operações aqui mencionadas e, salvo o contínuo cansaço pelo grande esforço que isso impunha a todos, uma vez que não tivemos baixas, nada me causou suficiente trauma para me lembrar de pormenores e por isso pouco lembro já destas operações.
Mas para que conste vou mencioná-las todas, as operações mencionadas no relatório, fazendo um resumo tão sucinto quanto possa, dando destaque a alguma coisa que mereça especial atenção e que não deve ficar em completo esquecimento.
Dia 9 de Janeiro de 1967
Realizou a Operação Hipnose. Patrulha de reconhecimento e combate à região de Madina / Belel e picada para Queba Gila. As NT accionaram uma armadilha anti-pessoal que só funcionou parcialmente e o IN disparou de longe, mas furtou-se ao contacto.
Dia 5 de Fevereiro de 1967
Efectuou-se a Op Hóstia em Chubi para exploração immediata duma informação recebida. Realizado um golpe de mão, foram capturados dois homens e uma bajuda. Esta foi entregue ao chefe da tabamca e os prisioneiros entregues no batalhão.
Dia 17 a 25 de Fevereiro de 1967
Embora sem grandes acontecimentos de destaque, dada a dimensão desta operação, copio na íntegra o que consta:
(...) " A CCaç 1439 com um efectivo de três grupos de combate participou na Op Farejar 2 sob o commando do Exmo 2º comandante do BCaç 1888, desenrolada na região de Sarauolo e Mantem,
Em 17 e 18 concentração das NF em Porto Gole.
Em 19 aproximação para a 1ª base de patrulhas, seguindo o itinerário de Porto Gole, Bessunha, Cãmanadu, picada para Naté Vale de Mansoa-Vale de Mansoa para Oeste até S de Mantem.
Em 20 patrulha de reconhecimento à região de Mantem.
Em 21 transferência de base de patrulhas para Mantem.
Em 22 reconhecimento à zona de Sarauolo.
Em 23 transferência da base de patrulhas de Mantem para a região vizinhança de Vale de Mansoa.
Em 24 emboscada na região de Mantem.
Em 25 regresso ao quartel.
Resultados obtidos –Baixas infligidas ao IN . Confirmadas: Uma
Baixas prováveis não confirmadas; Três
Destruição de 6 acampamentos do IN abandonados.
Destruidos cerca de 12,5 toneladas de arroz, além de vários objectos de uso normal domésticos e três canhangulos.
Verificou-se que os acampamentos IN tinham abrigos subterrâneos,bastante profundos e vários espaldões.
O IN flagelou por duas vezes as bases de patrulha. Não houve baixas na CCaç 1439.
Referência elogiosa do Ex.mo brigadeiro Comandante Militar
“ Comunico a V.Excia. que deve ser transmitida às Forças que intervieram na Op Farejar 2” o seu agrado pela determinação e entusiasmo com que executaram uma área totalmente desconhecida e aonde embora não não tivesse ( havido) contacto, se obtiveram muitos e bons resultados.” (...)
Em 5 de Março de 1967
A CCAÇ 1439 realizou a Op Haraquiri, no Chão Balanta, que foi praticamente uma repetição da que teve lugar a 17 de Dezembro de 1966.
Em 8 de Março de 1967
Efectuou-se a Op Horizonte a qual consistiu num cerco e batida na tabanca de Colicunda,…
(...) "Resultados obtidos: foram capturados três elementos clandestinos desarmados em Colicunda que tinham cambado o Geba e que foram entregues no BCaç 1888. Foi capturada uma canoa contendo 300 kg de arroz os quais ficaram à guarda do Capitão Ebna Na Onça, também participante na operação, a fim de serem entregues à Administração.
"Referência elogiosa do Agrupamento no 1980: sobre as Op Haraquiri e a Op Horizonte pelos resultados obtidos”. (...)
No dia 21 de Março de 1967
A CCAÇ 1439 realizou a Op Heureca. Mais ou menos como as anteriores, IN detectou a aproximaçnão das NF, acampamento abandonado e flagelações.
Resultados: Capturadas duas granadas de mão ofensivs; baixas infligidas ao IN em número não estimado. ão houve baixas nas NT.
Dia 31 de Março de 1967: Ultima operação da CCAÇ 1439 na Guiné
Lembro esta operação por uma razão simples:
Eu e o meu pelotão estávamos em Missirá e pouco tempo depois foi de Missirá que o meu pelotão saiu para, juntamente com o resto da Companhia, irmos para Fá e daí para Bissau para o navio que nos levaria de regresso. Já não esperávamos mais saídas para nós.
Eu e o pessoal do meu pelotão que teve de participar nesta saida, ficámos surpreendidos pois “nas nossas contas”-- em que os pelotões em princípio “se revezavam nas saídas ao mato” “não era a nossa vez de sair”.
Por isso esta saida/surpresa não foi bem recebida por ninguém do meu pelotão. A mim pessoalmente custou-me pois me lembrava estar a chegar o dia do aniversário do meu pai. Eu, que desde o primeiro dia que cheguei à Guiné disse para mim mesmo que não valia a pena ter medos pois não dependia de nós o que nos ia suceder ou não, nesse dia senti receio de que agora nos últimos dias me sucedesse alguma coisa.
Mais confuso fiquei quando “foi sugerido” que a nossa companhia se ofereceu (o que duvido muito…) para fazer esta operação de última hora. Mas que podia fazer? Fui obrigado a “defender-me” dizendo que em tempo de guerra seguem-se as ordens sem as discutir, mesmo que não concordemos com elas; e que simplemente haveriam razões que eu desconhecia.
Copio na íntegra o que consta no resumo do capitão sobre este dia:
(...) "No dia 31 de Março de 1967 realizou a CCAÇ 1439 sua última operação denominada Hipoteca que consistiu num cerco e limpeza à tabanca de Bissá a fim de explorar uma notícia do BCAÇ 1888, que refere realizar-se uma festa em Bissá onde comparecerão provavelmente elementos IN.
Feito o cerco e limpesa não foram encontrados quaisquer elementos IN. Informações da população referiram que havia estado em Bissá nesse mesmo dia um grupo de 20 homens armados vindos da região de Mansoa, mas que os mesmos só demoraram o tempo necessário para comer.
Durante o regresso a Porto Gole através da picada de Sée e Chubi foi referenciado por um grupo de exploração que ia à frente, um grupo de dois elementos IN armados de P.M., os quais, mal se aperceberam da presença das NT, puseram-se em fuga disparando algumas rajadas de PM,
O grupo de exploração sem se importar com os disparos IN seguiu em perseguição dos mesmos tendo atingido um dos elementos.
Resultados obtidos -Baixas infligidas ao IN: Um morto confirmado
Material capturado: 1 Pistola Metralhadora Thompson nº 69565 | 1 carregador c/ 19 cartuchos PM.
Não houve baixas nas NT.
Foi distinguido nesta acção o soldado nº 6/65, Abel Fernandes Vieira de Jesus." (...)
(Continua)
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3 comentários:
Aquela foto do António Rodrigues, a nº 3, é e arrepiar... Com 4 granadas de morteiro 60 aos ombros e, pelo menos, seis granadas de mão à cintura (ofensivas e defensivas), se ele tem o usar de pisar uma mina A/P, ficava sem cabeça, sem pernas nem braços, só com o tronco... Rebentavam tudo por simpatia...Vi assim, cortado ao meio, o primeiro morto, um furriel, da 1º Companhia de Comandos Africanos, na capela de Bambadinca (que servia de capela mortuária).
O que será feito do António ? O César Dias é capaz de ter notícias dele.
Queria dizer: "é de arrepiar"...
Diz-nos o César Dias, na página do Facebook da Tabanca Grande:
O António Rodrigues é o administrador da página do BCAÇ2885, ainda vive em Coimbra.
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