quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23025: Blogoterapia (301): E a montanha pariu um rato... (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 22 de Fevereiro de 2022:


E A MONTANHA PARIU UM RATO

Caros camaradas já recebi o tão esperado cartão.

Gostei de receber a medalha, o cartão e também já cá canta a insígnia. Não quero que me julguem um ingrato.

Que desculpem, mas não vejo para que serve na verdade, por enquanto, a menos que esteja mal informado.

Os combatentes de África, não estão todos no mesmo patamar económico e assim, há os muito necessitados e os que não precisam dos benefícios do cartão para nada a não ser, como prova de que lá estiveram e que aqueles tempos foram duros também para eles.

A titulo e exemplo falaremos dos que auferem reformas de muitos milhares e dos têm uma reforma de poucas centenas euros.

A diferença é tão grande como os que sempre andaram de autocarro, metro ou eléctrico, e os que nunca andaram nem precisam, até embirram com esses meios populares de transporte onde se pode usar o dito cartão.

A diferença é entre os que têm acesso a tratamentos de saúde privados, quando e onde querem e os que só têm direito quando têm sorte, após por vezes esperem pela sua vez, independentemente da gravidade da sua doença.

Quantos milhares de combatentes não têm reformas dignas?

Quantos precisam de ajuda na verdade, porque vivem abaixo do limiar da pobreza?

Tendo em conta a nossa idade, quantos podem recorrer a tratamentos de um fisioterapeuta? (que até me dava jeito por causa da ciática que me aflige há quase dois meses) à falta dos ditos ando carregado de anti-inflamatórios e também por cá passaram 12 injecções de Relmus e Voltaren.

Quantos podem usar dos benefícios de umas termas, que as há óptimas para quase todas as maleitas dos portugueses?

Quantos podem ir ao dentista a não ser quando é para arrancar um malvado que os não deixa dormir?

Quantos não estão nas listas de espera para realizar as tão necessárias cirurgias?
Quantos vivem sozinhos num total abandono?

Quantos vivem na rua?

Ora criaram um cartão como se todos tivessem reformas ao nível dos que não precisam dele para nada.

Podem sempre dizer que é um cartão democrático pois é igual para todos, mas nós não somos todos iguais na vida nem na morte, atendendo à qualidade do caixão que nos está destinado.
Agradeço pela luta encetada por milhares de camaradas pelo reconhecimento do nosso papel no passado, mas quanto ao presente seria de esperar que os mais necessitados tivessem apoio, que não fosse caridade, mas direito como cidadãos de pleno direito, pelos serviços prestados como povo fardado, bem com uma vida inteira de trabalho em prol desta nossa Pátria que não é justa para todos.

Desculpem o desabafo enquanto rufam novamente os tambores da guerra, mas quanto ao assunto, esperarei sentado.

Um abraço a todos camaradas
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22939: Blogoterapia (300): O tempo passa, mas as suas marcas ficam (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)

6 comentários:

Valdemar Silva disse...

Juvenal
Em tempos houve, um ministro foi fazer uma inauguração e a seguir botou um discurso, e até teve direito a palmas e tudo, incluindo uma exclamação ruidosa 'é assim mesmo que fala ministro dum cabrão'.
Mal comparado, por a tua blogoterapia ser em todos os aspectos muito superior ao discurso do ministro, é caso para exclamar com o ruído que cada um queira dar:
É ASSIM MESMO QUE SE FALA JUVENAL DO CARAÇAS

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Que me desculpe o Juvenal Amado e outros antigos combatentes que, como ele, querem um estatuto social especial, diferente dos demais cidadãos portugueses.
A posição que sempre defendi é que os camaradas que hoje sofrem de mazelas causadas ou adquiridas em campanha, devem ser tratados a expensas do Estado/SNS, a 100%, até ao último dia das suas vidas, sendo que nos casos em que a doença interfira com a capacidade de angariar meios de subsistência, devem ser devidamente compensados.
Aqueles que foram fisicamente diminuídos em combate deveriam auferir pensões dignas, independentemente do posto militar que tiveram ou da sua condição social e material.
Que todos nós, antigos combatentes, devíamos ter acesso aos Hospitais Militares, ajudando assim a aliviar as urgências e as camas dos hospitais civis.
Quanto ao resto:
Ao Juvenal não devia interessar se alguém tem cartão que lhe permite usar gratuitamente os transportes públicos, não o fazendo por comodismo e/ou maior poder económico. Conheço muitos “pobres” que andam de carro diariamente e muitos “ricos” a utilizar transportes públicos.
Falar aqui dos valores das nossas pensões de reforma e de quem tem acesso à saúde privada versus SNS, é irrelevante. Eu normalmente recorro a um hospital privado mas para tal pago mensalmente uma cota à ADSE e, quando sou sujeito a um internamento ou intervenção cirúrgica, tenho de pagar 25% de todas as despesas.
Os antigos combatentes que vivem na rua têm tanto direito a uma casa como qualquer outro cidadão português na mesma situação. A sociedade civil tem de estar atenta a todos sem excepção.
Contudo, os Núcleos da Liga dos Combatentes têm programas de auxílio aos antigos combatentes das suas áreas, em condições de precaridade ou doença, encaminhando-os por vezes para a Acção Social das Autarquias. Independentemente de serem ou não sócios.
Caro Juvenal, as tuas melhoras, eu também tenho uma doença autoimune desde os meus 26 anos, não tão grave como a tua, mas dou algum valor àquilo por que estás a passar.
Um abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Eduardo Estrela disse...

" a sociedade civil tem de estar atenta a todos sem excepção"
Essa é uma grande verdade e o caminho para o respeito pela dignidade do Homem.
Mas nós sabemos, porque os calos que temos no cú assim nos ensinaram, que essa atenção desgraçadamente e muitas vezes não funciona. Quando li as palavras do Juvenal não as interpretei como o espelho do sentir dos antigos combatentes, mas sim como a realidade da sociedade portuguesa actual.
Para ele, para o Carlos Vinhal e para todos os camaradas/companheiros muita saúde e um abraço fraterno.
Eduardo Estrela

Manuel Mendes disse...

Subscrevo o que diz o Camarada Carlos Vinhal, porque é o que defendo, contrariando a discriminação positiva pretendida por muitos ex-combatentes, relativamente aos outros cidadãos e contribuintes, nomeadamente no que se refere a (aumento de) pensões e outras regalias em termos de condições de vida. Acho que esta reivindicação não faz sentido.

Juvenal Amado disse...

O meu poste refere-se às expectativas criadas, no entanto talvez se têm sido feito o levantamento poderia sido para ali canalizado muito das verbas gastas num cartão que na maioria vamos exibir no Facebook e nossos encontros de veteranos. O estado social de certo agradecia.

Abilio Duarte disse...

Pois...Pois

É sempre o mesmo.
Quando alguns andaram a perder tempo, e lutar por algum reconhecimento aos antigos combatentes,
na altura e até hoje, nunca vi ninguém a denegrir o seu trabalho.
Mas tá bem, nunca é bom, nunca chega, e quando vem ... vem tarde.
Sejam felizes, mas para mim o trabalho daqueles que perderam tempo da sua vida a tentar alguma coisa, seja o reconhecimento, seja o que foi, o tal desgraçado cartão, têm o meu obrigado.

Pode ser que o novo deputado, que prometeu 300,00 euros a cada combatente, seja mais feliz, e tenha o vosso reconhecimento.
Abílio Duarte