sábado, 1 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23660: In Memoriam (453): Júlio Martins Pereira (1944-2022), ex-sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67)... Natural de Paredes, vivia em Valongo... Nosso grã-tabanqueiro nº 653... Nascemos no mesmo dia, 12/6/1944 e conhecemos as mesmas estações do inferno (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Júlio Martins Pereira (1944-2022), ex-sold trms, CCAÇ 1439
(Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67). Foto: blogue A Minha Vida..



Torres Vedras > A dos Cunhados > Paradas > Associação de Desenvolvimento de Paradas >    15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné. Na foto, do Júlio Martins Pereira, soldado de transmissões da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): camarada de armas do João Crisóstomo, veio propositadamemte do Norte com a esposa, Elisa, para lhe dar um abraço de parabéns e recordar os tempos de Guiné... Há quase 50 anos que não se viam... 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439 (1965/69 (vive em Nova Iorque desde 1977):

Data - 1 out 2022, 06:24
Assunto - Lembrando o Julio Pereira (*)

Caro Luís Graça, e caros camaradas amigos, especialmente da CCAÇ 1439, 

A Vilma acaba de ver no Facebook que o Júlio Pereira nos deixou. Segundo depreendo foi ontem mesmo (30 de setembro).

Nem sei o que dizer, mas sabes bem como é, que ainda há dois dias estive a enviar-te os meus sentimentos pelo teu cunhado que era também um amigo muito especial para ti.

O Júlio e eu ficámos irmanados no momento do nosso dia de nascimento. Uma irmandade que ia durar até ao seu último momento e que para mim de alguma maneira vai continuar.

Nascemos no mesmo dia, 22 de Junho de 1944 e durante 20 anos não sabíamos sequer um do outro até que nos encontramos na Guiné. Que fez de nós mais irmãos ainda.

Partilhamos muitos dias difíceis, como foi o dia terrível em que a nossa companhia sofreu duas minas, a primeira das quais numa coluna comandada pelo alferes Zagalo que vinha de Missirá a Enxalé  e que ocasionou vários feridos e a morte do furriel Mano. E quando eu fui com o meu pelotão e outros que se ofereceram para ir connosco, a socorrê-los , acabámos por cair noutra mina que levou o Manuel Pacheco, o “Açoreano". 

Foi neste dia trágico, 6 de outubro de 1966, que o Júlio mostrou o que era, correndo muitos quilómetros sozinho a corta-mato até Finete e depois, já acompanhado com alguns nativos, passou o Geba e foi a Bambadinca alertar do acontecido e pedir heicópteros de evacuação a Bissau.

Depois do regresso ficamos muito tempo sem nos vermos até que soube dos vários “encontros”. E cedo reencontramo-nos. Haviam passado 43 anos. Mas a partir desse momento cultivámos uma amizade grande, que não acabou mais, alimentada não só em encontros de camaradas da Guiné, como em visitas pessoais. 

A última vez que o vi foi em sua casa, depois de ele ter sofrido um AVC. Verifiquei a sua coragem e vontade extraordinária de não se desencorajar. Teve nessa fase da sua vida a sorte de ter uma esposa e uma família formidável (quem sai aos seus não degenera! E ao fim e ao cabo, crédito ao Júlio, que se eles eram assim eles eram aquilo que ele fez deles) que lhe davam um carinho, ternura e apoio sem limites. Era comovente mesmo. 

Entre outras coisas fico-lhe muito grato também pela inspiração e exemplo que nesses momentos senti e experimentei.

Adeus, meu caro Júlio. Que o senhor recompense a tua amizade e a tua bondade; uma amizade e bondade que não vamos esquecer mais.

João e Vilma

PS - Fotos: vd. postes P22558, P12456, P12460, P15998…
 

2. Comentário do editor LG:

João, é com grande tristeza que vimos partir mais um dos nossos bravos.  O Júlio Martins Pereira, natural de Recarei, Paredes, vivia em Campo, Valongo. Apreciei muito o gesto, nobre, de vir à tua festa, em 2013, em Paradas. Foi lá que o conheci, um homem simples, afável, solidário. Infelizmente não voltei a vê-lo. 

Sei que há uns largos anos teve uns sérios problemas de saúde. Recordo que ele entrou para a Tabanca Grande em 16/12/2013, sendo o nº 635. É justo lembrar que foi condecorado com a Cruz de Guerra de 4.ª classe, no dia 10 de junho de 1968, na Avenida dos Aliados, no Porto. Com a sua morte, ficas tu como único representante da CCAÇ 1439 na Tabanca Grande. Somos cada vez menos.  

Registo a tua comovedora homenagem a este teu "mano", pela data de nascimento e pela camaradagem na CCAÇ 1439. Obrigado por me teres alertado por email e, logo a seguir, telefonado. 

Nesta hora, que é sempre difícil para todos, envio em meu nome pessoal e do resto da Tabanca Grande os meus votos de pesar pela sua perda, à esposa Elisa, aos filhos e netos, demais família e amigos e camaradas do peito, em especial os da CCAÇ 1439.

PS - A CCAÇ 1439 teve como unidade mobilizadora o BII 19 (Funchal), partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967, tendo passado por Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá, Fá Mandinga. O comandante era o cap mil inf Amândio Manuel Pires, já falecido. Alferes (milicianos): Freitas (Funchal, Madeira), João Crisóstomo (Torres Vedras, hoje a viver em Nova Iorque), Sousa (Vila Nova de Famalicão), Luís  Zagalo (Lisboa, ator de teatro, já falecido). 
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1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João: lamento muito. Conheci o Júlio na tua festa dos Crisóstomos e Crispins, em 2013. Era membro da nossa Tabanca Grande. Este "In Memoriam" é a nossa pequena homenagem. Um grande abraço, mano. Luis

PS - Obrigado pelos teus votos de pesar pela morte do meu cunhado Mário Rui Anastácio (que também passou pelo BII 19, Funchal, mas já depois do 25 de Abril).