segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24969: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (5): Angola, Companhia do Amboim: a roça "Ajuda e Amparo"... E propaganda da Guiné, por Armando Cortesão: "Ainda há 10 anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha e ai do europeu que dela se atrevesse a afastar-se umas centenas de metros"...

 

Angola - Um trecho da roça "Ajuda e Amparo",  da Companhia do Amboim 

Fonte: Gazeta das Colónias: quinzenário de propaganda e defesa das colónias, Ano I, nº 25, Lisboa, 19 de setembro de 1925 (Cortesia da Hemeroteca Digital de Lisboa...)


Amboim fica na província do Cuanza Sul, uma região cafeeira por excelência, "Em 1922 eram já dignas de relevo as plantações da Companhia de Amboim, Marques Seixas & Companhia, Companhia do Cuanza Sul, além da Horta & Companhia. Também, tendo chegado a Angola em 1893, constituiu Bernardino Correia, em 1922, a Companhia Agrícola de Angola (C.A.D.A.), que foi o maior conjunto cafeeiro do território."


Gazeta das Colónias: quinzenário de propaganda e defesa das colónias, Ano I, nº 25, Lisboa, 19 de setembro de 1925. Diretor: Leite de Magalhães; editor: Joaquim Araújo; propriedade da Empresa de Publicidade Colonial, Lda. (O diretor, António Leite de Magalhães, era major do exército, e será governador da Guiné, no período de 1917 a 1931, tendo sucedido ao coronel Velez Caroço (1921.1926),


1. Nos 38 números da "Gazeta das Colónias", publicados (entre 19/6/1924 e 25/11/1926) e disponíveis em formato html e pdf na Hemeroteca Digital de Lisboa, não encontrámos nenhum cuja capa exibisse um motivo guineense (monumento, topónimo, paisagem, etnia...).   As estrelas do império eram, sem dúvida, Angola, seguida de Moçambique, duas colónias que despertavam a cobiça dos nossos rivais. ;Mesmo depois da I Grande Guerra, e da criação da Sociedade das Nações, a soberania portuguesa sobre estes territórios estava longe de estar acautelada. 

Muito esporadicamente surge, na "Gazeta das Colónias", uma pequeno artigo sobre a colónia da Guiné, como é o caso deste que reproduzimos a seguir, na íntegra. Trata-se de um resumo de uma conferência realizada na Sociedade das Ciências Agronómicas, em Lisboa, pelo engº agrónomo Armando Cortesão, já nosso  conhecido, o primeiro Agente Geral das Colónias, e diretor do respetivo boletim, entre 1925 e 1932.

O conferencista, conhecedor do terreno, e grande patriota, enaltece as potencialidades agrícolas, pecuárias e silvícolas do território. E passa uma mensagem de tranquilidade para o seu auditório: 

"Ainda há 10 anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha e ai do europeu que dela se atrevesse a afastar-se umas centenas de metros"... 

Não é surpreendente  a sua observação: 

"Embora perdêssemos quase toda a costa ocidental de África,que descobrimos até ao Equador, sempre ficámos com o melhor que ela tinha, ou seja, a atual Guiné Portuguesa!" (...).

E não poupa "a falta de coragem e a inabilidade de alguns diplomatas nossos" que permitiram que os franceses nos tivessem arrancado "Ziguinbchor, que representa uma verdadeira preciosidade"...

Não tem dúvidas, por fim, em antever um futuro próspero para a Guiné... Anti-salazarista, Armando Cortesão (Coimbra, 1891 -  Lisboa, 1977)  parte para o exílio em 1932 e só volta a Portugal vinte anos depois,  dedicando-se  ao ensino e à investigação da história e da cartografia.

Diz um seu biógrafo,Rui S. Andadre, no Dicionário de Historiadores Portugueses

(...) "No início de 1932 é afastado por motivos políticos das altas funções que exerce, vindo a ocupar-se da redação das suas investigações históricas iniciando então um período em que se desdobra em conferências sobre Cartografia antiga e temas históricos, como a questão colombina. 

"Cortesão, enquanto funcionário colonial insere-se num grupo de quadros científicos e técnicos, indissociável da política ultramarina seguida pelo Estado na primeira metade do século XX. A questão do regime político era relativamente secundária, uma vez que, o chamado Ultramar era considerado uma questão nacional, em torno da qual alinhavam diferentes posições políticas e ideológicas, desde o republicanismo liberal e democrático ao nacionalismo retórico do Estado Novo". (...)







Fonte: Gazeta das Colónias, Lisboa, Ano 1, nº 2, Lisboa, 10 de julho de 1924, pp. 7/9. 

(Seleção, recotes, notas: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24965: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (4): Uma plantação de cana de açúcar,em Guara-Guara, Manica e Sofala, Moçambique... e um elogio ao governador da Guiné, Velez Caroço (1921-1926)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Máquinas agrícolas no início dos anos 20, durante o "consulado" de Velez Caroço, já a era obra!... E plantava-se cana de açúcar!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Talvez esta cena se passe na Granja de Pessubé, não ?!... Não sei a que ano remonta a criação da Granja, mas é capaz de ser obra da República, tal como o plano urbanístico de Bissau, e a rede estradas, pontes e telégrafo,,,

O Estado Novo denegriu muito a República, mas nos escassos 16 anos em que vigorou, a República olhou para as colónias e, positivista como era, interessou-se pelo seu progresso material, enfim fez o que pôde... Mesmo com imensa falta de recursos humanos e financeiros, e numa conjuntura económica internacional muito difícil, o do pós-guerra...

É interessante explorar estes velhos jornais e revistas, já esquecidos (a não ser dos "ratos de biblioteca").

Joaquim Luis Fernandes disse...

Interessante artigo de Propaganda da Guiné, na Gazeta das Colónias, pelo Eng, Agrónomo Armando Cortesão,com uma visão muito positiva sobre as possibilidades do desenvolvimento da Colónia.

É frequente ler-se sobre o pouco empenhamento de Portugal no desenvolvimento da Colónia da Guiné.
E os fatos o atestam, podendo afirmar-se que o esforço de colonização da Guiné, não terá ido além de um século, se tanto.
Porém, neste 1º quarto do século XX, fez-se obra! Que se prolongou até à década de 60. Depois, tudo o que se fez foi subordinado e condicionado aos objetivos da Guerra e por ela condicionados.

Um dia, em 1973, visitei a Ilha de Pecixe, a sul do Chão Manjaco. Fiquei deveras surpreendido, ao encontrar ladeando a picada que nos levava à tabanca a visitar, aquilo que fora no passado (recente ?) uma industria de descasque de coconote, ainda com alguns equipamentos obsoletos, enferrujados e abandonados.

E hoje, que vestígios ainda existem desse esforço de desenvolvimento agro-industrial?
Em Janeiro de 2016 visitei a Guiné-Bissau. Do que vi, que me remontou a esse tempo antes da guerra, com raízes nesse esforço de desenvolvimento, talvez a cerâmica de Bafatá e, na fazenda do senhor Carlos Capé, próximo de Bafatá,a sua destilaria de cana do açúcar.

Mas admito que haja muito mais vestígios desse esforço de desenvolvimento agro-industrial. Eu é que o não sei. E quem souber que me diga.

Antº Rosinha disse...

A Guiné foi imensas desvantagens, uma como dizem os guineenses para chatear, não somos franceses, outra foi só em 1941 que saímos de Bolama, devagarinho, assim era dificil "pacificar"-

Outra desvantagem, abdicar nos caboverdianos, em que o idioma foi substituído pelo crioulo.

E por fim, Amílcar Cabral que virou o mundo contra nós que atrofiou qualquer desenvolvimento, ao contrário do que aconteceu em Angola e Moçambique que durante a guerra aquilo se desenvolveu imenso.

E que até os caboverdeanos gozaram de uma qualidade de vida em Angola, Guiné, Moçambique e Metrópole, e embarcadiços nos navios da CUF, que ficaram com o mundo a seus pés.

Aquilo é que foi vida!

Mas antes da guerra, a Guiné não estava mais abandonada do que por exemplo Angola.

Angola tinha aquele litoral maravilhoso com cidades lindíssimas, mas o interior eram imensas guinés, milhares e milhares de quilómetros onde nem estradas nem "pacificação" chegou a haver, porque nenhum branco lá tinha posto os pés.

Luís Graça, essa da cana do açúcar deve ter sido porque os caboverdianos tinham e têm uma certa preferência pelo "grogue".

A cana ia, toda para alambiques para destilar.


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, tudo o mundo (cristãos e animistas) adoravam a "cachaça". Em Bambadinca havia pelo menos três alambiques, depois com uma guerra restou apenas o do velho Brandão, Pêro de Fa Mandinga, a Tabanca do "alfero Cabral"... Em Enxalé havia o do Pereira, pai da nossa Helena do Enxale. Havia também em Jugudul...