Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > 15 de junho de 1970 > Foto (modificada) do "artista quando jovem", tirada no quartel velho de "com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas" (na "estância de repouso do Gabu"),,,
Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. É uma pequena história, que merece ser compilada na série "Humor de caserna"... O contista é o Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] que, no HM 241, onde esteve internadom passava por um herói da 4ª Rep que tinha apanhado com uma "bala no cu" e sobrevivido...
Infelizmente, por estes dias de sol de inverno, está em casa, trancado, só e acamado, a lutar contra o raio da sua DPOC de estimação... Um abraço solidário para ele, que ainda consegue sorrir com meia-cara... e pedir desculpa por não poder "blogar" como ele queria...
Humor de caserna > Evacuado com ‘um tiro no cu’
por Valdemar Queiroz
Desde criança que sofro com problemas de frúnculos [ou furúnculos, frunchos, fruncos...].
Começaram por aparecer em sítios complicados: na dobra das pernas, nas axilas dos braços e na barriga. Os mais complicados, por terem sido dolorosos, foram os na dobra das pernas, que me dificultavam o andar e terem aparecido na idade 8-9 anos. Não me recordo como estes foram tratados, mas tenho grandes cicatrizes por detrás dos joelhos que sinalizam o sofrimento.
Com o tempo, houve um período sem grande ‘erupção cutâneo’, aparecendo apenas o vulgar pelo encravado da barba no pescoço, mas, no meu caso, sempre com necessidade de uma intervenção muito para além da pinça-saca-pelos: cheguei a sacar pelos encravados com mais de três centímetros.
Na Guiné, também, apareceu um frúnculo, e que frúnculo. Apareceu numa nádega, localizado na parte interior perto do recto. Tentei rebentá-lo espremendo, mas ou por isso ou por outra razão criou uma grande inflamação. Não foi possível tratá-lo com pomadas ou injeções contra inflamações e o oficial médico de Nova Lamego foi de opinião da evacuação para intervenção cirúrgica em Bissau.
Com o tempo, houve um período sem grande ‘erupção cutâneo’, aparecendo apenas o vulgar pelo encravado da barba no pescoço, mas, no meu caso, sempre com necessidade de uma intervenção muito para além da pinça-saca-pelos: cheguei a sacar pelos encravados com mais de três centímetros.
Na Guiné, também, apareceu um frúnculo, e que frúnculo. Apareceu numa nádega, localizado na parte interior perto do recto. Tentei rebentá-lo espremendo, mas ou por isso ou por outra razão criou uma grande inflamação. Não foi possível tratá-lo com pomadas ou injeções contra inflamações e o oficial médico de Nova Lamego foi de opinião da evacuação para intervenção cirúrgica em Bissau.
O fur mil enf Edmond, da minha CART 11, tratou de toda a papelada e lá fui evacuado em DO 27 para o Hospital Militar de Bissau [HM 241], com um grande hematoma e 40 graus de febre.
Não me lembro de mais pormenores, só me lembro de, depois da intervenção cirúrgica, acordar na Enfermaria Geral, rodeado de vários doentes carentes de saber o meu nome, em que sítio foi o ataque e como tinha sido ferido.
Não me lembro de mais pormenores, só me lembro de, depois da intervenção cirúrgica, acordar na Enfermaria Geral, rodeado de vários doentes carentes de saber o meu nome, em que sítio foi o ataque e como tinha sido ferido.
Depois, apareceu um Sargento Enfermeiro a perguntar quem era o Queiroz. "É este aqui que foi evacuado com um tiro no cu", disseram uns que já tinham ‘arranjado’ uma história, daquelas idealizadas à ‘5ª. Rep’[o Café Bento].
Tive que mudar para o piso superior do Hospital, para uma das Enfermarias de Oficiais e Sargentos ficando num quarto com mais quatro doentes, que eram todos Oficiais, um deles tinha a cara toda ferida de estilhaços e outro muito magricelas e já tinham recebido a habitual visita do Spínola.
Uma semana depois, lá regressei a Nova Lamego, com o ‘assunto’ tratado, mas com o aviso do médico cirurgião de que, mais mês menos mês, voltaria a infetar/rebentar outra vez.
E assim aconteceu, o ‘tiro no cu’ deu-me grandes chatices depois de sair da tropa, com infeções, hematomas, rebentamentos, melhoras/pioras durante mais de dois anos, só ficando totalmente curado em maio de 1973 com uma operação na Clínica St. António, na Amadora.
Ainda agora, quando calha em conversa sobre mortos e feridos na guerra na Guiné, eu comento que, pessoalmente, a não ser ter sido evacuado com um problema dum frúnculo numa nádega, não tive problemas, há sempre alguém que diz: "pois, tá bem, desculpas de quem foi evacuado com um tiro no cu".
Anexo uma foto tirada no nosso Quartel, em Nova Lamego, com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas, que, não fora ser vista a vala e os abrigos dos cunhetes de munições, parecia uma estância de férias.
Tive que mudar para o piso superior do Hospital, para uma das Enfermarias de Oficiais e Sargentos ficando num quarto com mais quatro doentes, que eram todos Oficiais, um deles tinha a cara toda ferida de estilhaços e outro muito magricelas e já tinham recebido a habitual visita do Spínola.
Uma semana depois, lá regressei a Nova Lamego, com o ‘assunto’ tratado, mas com o aviso do médico cirurgião de que, mais mês menos mês, voltaria a infetar/rebentar outra vez.
E assim aconteceu, o ‘tiro no cu’ deu-me grandes chatices depois de sair da tropa, com infeções, hematomas, rebentamentos, melhoras/pioras durante mais de dois anos, só ficando totalmente curado em maio de 1973 com uma operação na Clínica St. António, na Amadora.
Ainda agora, quando calha em conversa sobre mortos e feridos na guerra na Guiné, eu comento que, pessoalmente, a não ser ter sido evacuado com um problema dum frúnculo numa nádega, não tive problemas, há sempre alguém que diz: "pois, tá bem, desculpas de quem foi evacuado com um tiro no cu".
Anexo uma foto tirada no nosso Quartel, em Nova Lamego, com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas, que, não fora ser vista a vala e os abrigos dos cunhetes de munições, parecia uma estância de férias.
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Último poste da série > 20 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26403: Humor de caserna (98): Quando o IN... jabadava!... Até que o goês e pacato alferes Basílio dos morteiros quis saber porquê... (Rui A. Ferreira, Sá da Bandeira, 1943 - Viseu, 2022)
8 comentários:
Valdemar camarada, companheiro e amigo!!
Não foste o unico com problemas resultantes de furúnculos.
Tive em Cuntima uma crise de tal ordem, que me apareciam furúnculos nas coxas, nos testículos e sei lá eu onde. Cheguei a ter 4 e 5 ao mesmo tempo e só se resolveu o problema com umas injecções vindas da Alemanha. De modo a purgar a infecção, era lancetado praticamente sem anestesia e tinham que me segurar mais de 4 pois as dores eram muito grandes. O Vivaldi Messias da minha companhia teve o mesmo problema na mesma altura.
Vê lá se recuperas. A malta precisa das tuas observações cirúrgicas e já temos saudades.
Abraço fraterno e..... " Saúde da boa "
Eduardo Estrela
Melhoras para o Valdemar Queiroz. Um tiro no cu matou um oficial superior do Exército um Angola- A bala atravessou a fuselagem do avião e atingiu-lhe os intestinos. António Costa
Cá estou eu, acamado e nem sequer posso utilizar o meu computador utilizando o smartphone fatela. Julgo que o “ferido com um tiro no cu” chegou à “5a.Rep.” e muito provavelmente teria havido desabafos de ‘mais um traidor que a fugir levou um tiro no cu’. Abraço e saúde da boa Valdemar Queiroz
Valdemar, desculpa a citação desta pequena passagem do meu Livro “Memórias de Guerra de um Tigre Azul – O Furriel pequenina” lembrando o meu irmão Avelino: “Uma vez caiu da bicicleta e chegou a casa a queixar-se, logo a mãe Gracinda aqueceu água e começou a colocar pensos de água quente (contraproducente, mas aliviava! - “gelo” só nos galos na cabeça com papel mata borrão embebido em aguardente) perguntando: é aqui que dói filho? Não mãe é mais acima, logo se ouvindo as vozes dos irmãos no quarto ao lado: ai que dores Sr. doutor, deste lado Dr. Machado, desta banda Dr. Miranda, aqui no C* Dr. Larú.
Aquele abraço com aquele cheirinho ao sargaço da praia de Afife, um dos berços do grande Poeta, e meu professor, Pedro Homem de Melo.
Joaquim Costa
Furúnculos, na infância sim... Na Guiné, não me lembro, era frequente apanharmos a famigerada "flor do Congo", ou micose da virilha... Bastava um gajo andar dois ou três dias no mato, com a roupa molhada, dormindo à noite no chão, palmilhando quilómetros e quilómetros, com os contrapesos todos em cima, desidratado, perdendo 3 ou 4 quilo,s suando que nem um cavalo, esfomeado, e debaixo da tensão própria de um operação com elevado risco de contacto... Além disso, contagiosa como o caraças...
https://www.canesten.com.br/area-aprendizagem/o-que-e-micose-de-virilha
O traseiro da malta, infetada com a flor do Congo, parecia a cauda de um pavão!... Dava uma comichão do caraças. A nicose era tratado com uma mistura à base de mercurocromo (proibido desde 2001 por conter mercúrio)... Doía que se fartava... Enfim, tudo por amor da Pátria... e para nada!
Furunculos Não sei, mas comichão no olho do dito sim. Muito tempo a usar umas pomadas para o efeito de aliviar mas não curar.
Depois passou não me lembro como..
Pior sim foi o meu irmão já falecido.
Mas penso que ele era hemorroides.
Foi muitas vezes intrrvencionsdo nos hospitais cá do Porto
Tinha grande sofrimento que só eu sei pois era o seu confidente.
Não sei distinguir furunculos de hemorróidas.
Não trouxe nada disso mas sim uma gaita de uma micose no pé que nunca passou apesar de toneladas de cortisona ao longo de décadas. Era Cutivate, receitado por um médico especialista que regressou ao mesmo tempo que eu, mas não o conhecia antes 7.
Vt
Antes de mais nada, os meus desejos de melhoras para o camarada Valdemar, um verdadeiro resistente. Um forte abraço para ele.
Eu não sei se na Guiné chamavam "flor do Congo" a qualquer micose na virilha ou a uma só em especial. Em Angola, chamavam "flor do Congo" a uma micose levada de seiscentos diabos, que tinha uma orla muito bem definida e que parecia uma flor. Daí o nome. Eu não tive, mas vários camaradas meus tiveram, sobretudo na face interior da coxa junto aos testículos, e sofriam terrivelmente com o raio da micose, que lhes dava uma comichão danada. Se bem me lembro, ela era tratada com cremes antimicóticos e com pó de talco para absorver a humidade. Ao fim de poucas semanas, a micose desaparecia.
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