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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23995: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (15): Humilhados e ofendidos... (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 / BCP 12, 1972/74, natural de Águeda)


Victor Tavares

1. O Victor Tavares, natural de Águeda, conterrâmeo e amigo do nosso Paulo Santiago (outro dos nossos "históricos"),  antigo presidente da junta de freguesia de Recardães, sua terra natal, não foi um "tipo qualquer"... Foi um grande combatente e um dos melhores do melhores: ex-1.º cabo paraquedista, da CCP 121 / BCP 12 (Bissalanca, 1972/74),  Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. Integra a Tabanca Grande desde 6 de outubro de 2006. É, portanto, um dos nossos "veteranos".

Justifica-se, por muitas razões,  a reprodução deste excerto de um poste já muito antigo (*): o Victor dá-nos aqui o retrato do abandono e da humilhação, a que foram sujeitos, em Cacine, os militares que, sob as ordens do comandante do COP 5, major Coutinho e Lima (1945-2022), abandondaram Guileje, em 22 de Maio de 1973, chegando a Gadamael, também fortemente atacada pelo PAIGC, a seguir a Guileje, e salva pelos pára-quedistas e a Marinha -, refugiando-se depois em Cacine. 

A "batalha dos 3 G" foi há 50 anos  (**)... Ainda há gente que se lembra, e participou nos acontecimentos, em Guidaje, em Guileje, em Gadamael... O Vitor Tavares esteve lá,  em todas... Este texto, que voltamos a reproduzir, é também uma forma de ele "fazer a prova de vida"... Andou há tempos atrapalhado com sérios problemas de saúde... Felizmente, superou-os, está melhor, já voltou ao seu Facebook... 

Um abraço fraterno para ele. LG


Gadamel Porto, o outro inferno a sul

por Victor Tavares



Depois de regressada do inferno de Guidaje (***), a Companhia de Caçadores Paraquedista (CCP) 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca [Base Aérea n.º 12], gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.

Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.

Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, onde chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.

Foi então, logo na primeira abordagem da lancha, que me apercebi que na mesma estava um indivíduo que pela cara me pareceu familiar. No entanto, como o mesmo se encontrava vestido à civil,  calções, camisa aos quadradinhos toda colorida e sandálias de plástico transparente - pensei ser porventura algum civil que andaria por ali no meio da tropa, o que seria natural e podia eu estar errado.

Depois de toda a tropa estar desembarcada, indicaram-nos o local onde iríamos ficar, num terreno frente ao quartel de Cacine. Instalámo-nos e de seguida fomos dar uma volta pelas redondezas, até que no regresso deparo com a mesma criatura, sentada no cais com ar triste e pensativo, típico da pessoa a quem a vida não corre bem. 

Eu vinha acompanhado do paraquedista Vela, meu conterrâneo – e hoje meu compadre. Perguntei-lhe:

Ouve lá, aquele tipo ali não é nosso conterrâneo?

Responde ele:

− Sei lá, pá, isto é só homens.

 "Gadamael ?!... Vocês vão lá morrer todos!"

Por ali estivemos na conversa mais algum tempo, até que tomei a iniciativa de me dirigir ao fulano uma vez que ele continuava no mesmo sítio. Acercando-me dele, perguntei-lhe:

  
 Diz-me lá, camarada, por acaso tu não és de Águeda ?

Responde-me ele:

 −  Sou.
E pergunta-me de seguida:

 E, você, não é de Recardães?

Digo-lhe que sim, cumprimentamo-nos e vai daí perguntei-lhe o que é que ele estava ali a fazer, porque de militar não tinha nada. Respondeu-me que não sabia o que estava ali a fazer, de uma forma triste e ao mesmo tempo em tom desesperado e desanimado.

Entretanto com o desenrolar da conversa, ele perguntou o que estávamos ali a fazer, eu respondi que na madrugada seguinte íamos para Gadamael Porto... Qual não é o meu espanto quando ele põe as mãos à cabeça, desesperado e desorientado, e me diz:

− Não vão, porque vocês morrem lá todos!

Tentei acalmá-lo, dizendo-lhe para estar descansado que nada de grave ia acontecer, pedi-lhe para me contar o que se passava, vai daí, começa ele a relatar o que tinha passado em Guileje e Gadamael até chegar a Cacine. Na verdade depois de o ouvir, não me restaram dúvidas que ele tinha mais do que sobejas razões para estar no estado psicológico aterrador em que se encontrava .


Os militares portugueses que abandonaram Guileje, 
foram tratados como desertores e traidores à Pátria

Entretanto, informa-me da sua situação militar daquele momento tal como a de outros camaradas que abandonaram Guileje. Neste grupo estava também outro meu conterrâneo, que o primeiro foi chamar, vindo este a confirmar tudo.

O que mais me chocou foi a forma desumana como estes militares foram tratados, depois da sua chegada a Cacine, sendo considerados como desertores e cobardes, quando, em meu entender, se alguém tinha que assumir a responsabilidade dessa situação, seriam os seus superiores e nunca por nunca os soldados.

Estes homens foram humilhados por muitos dos nossos superiores  
 que eram uns grandes heróis de secretária!  , foram proibidos de entrar no aquartelamento, não lhes davam alimentação, o que comiam era nas Tabancas junto com a população. 

As primeiras refeições quentes que já há longos dias não tomavam, foram feitas por estes dois homens juntamente com os paraquedistas, porque o solicitei junto do meu Comandante de Companhia, capitão paraquedista Almeida Martins – hoje tenente general na reserva   ao qual apresentei os dois camaradas do exército que lhe contaram tudo por que passaram.


Os dois desgraçados de Guileje eram meu conterrâneos: 
o Carlos e o Victor Correia

Solicitei ao meu comandante para eles fazerem as refeições junto com o nosso pessoal, prontificando-me eu a pagar as suas diárias, se fosse necessário. Ele autorizou os mesmos a fazerem as refeições connosco enquanto não tivessem a sua situação resolvida e a nossa cozinha que dava apoio ao bigrupo que estava de reserva, ali se mantivesse.

O meu comandante expôs o problema destes homens ao comandante do aquartelamento do exército, solicitando que o mesmo fosse resolvido com o máximo de brevidade uma vez que a situação não era nada dignificante para a instituição militar.

É de salientar que estes dois homens já não escreviam aos seus familiares há mais de um mês, porque não tinham nada com que o fazer. Fui eu que lhes dei aerogramas para o fazerem e os obriguei a escrever, porque o seu moral estava de rastos e a vida daqueles militares já não fazia sentido. Dormiam debaixo dos avançados das Tabancas enrolados em mantas de cor verde, não tendo mais nada para vestir a não ser o camuflado.

Estes meus dois conterrâneos que atrás refiro eram o Carlos (que infelizmente já faleceu, natural do lugar de Perrães, Oliveira do Bairro) e o Victor Correia (de Aguada de Baixo, Águeda, e que hoje sofre imenso de stresse pós-traumático de guerra) (****)

[ Selecção / Revisão e fixação de texto / Substítulos / Parênteses retos / Negritos, para efeitos de edição deste poste: LG]
_____________

Notas dos editores:

(*) Vd. postes de:


(**) Ultimo poste da série > 21 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23903: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (14): "Cobarde num dia, herói no outro" (João Seabra, ex-alf mil, CCav 8350, 1972/74)

(***) Vd. postes de:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(****) Estes camaradas devem ter pertencido à CCAV 8350 (ou a subunidades adidas, os "Piratas de Guileje" foram os últimos a deixar Guileje, por ordem do comandante do COP 5, o então major Coutinho e Lima (*****).  

Recorde-se que, de 18 a 22 de Maio de 1973, o aquartelamento de Guileje foi cercado pelas forças do PAIGC (Op Amílcar Cabral), obrigando as NT a abandoná-lo (juntamente com algumas centenas de civis)

(i) 2 grupos de combate da CCAÇ 4743 (unidade de quadrícula de Gadamael) (incluindo o seu comandante); 

(ii) CCAV 8350 (unidade de quadrícula de Guileje) (incluindo o comandate do COP 5, major Coutinho e Lima);

(iii) Pelotão de Artilharia, comandado pelo Al Mil Pinto dos Santos (já falecido); 

(iv) Pel Cav Reconhecimento Fox (reduzido, havendo apenas duas Fox); e

(v) Pelotão de milícias local...

 A Companhia Independente de Cavalaria 8350/72 foi a unidade de quadrícula de Guileje entre outubro de 1972 e maio de 1973. Viu morrer em combate nove dos seus homens, entre algumas dezenas de feridos. Foi seu Comandante o Cap Mil Abel dos Santos Quelhas Quintas,  também ferido.

sábado, 29 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23746: In Memoriam (458): Manuel Alberto da Costa Marinho (1950-2022), ex-1.º cabo, 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Nema / Farim e Binta, 1972/74)




Manuel Aberto da Costa Marinho (1950-2022)

1. Mensagem de Maria João Ferreira, sobrinha do nosso camarada Manuel Marinho, membro desde 15/9/2009 da nossa Tabanca Grande (*), entretanto falecido há três meses, notícia que acabámos de saber e nos deixa desolados:

Data - quinta, 27/10, 22:05/2022
Assunto - Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74),

Boa Noite,  

Não sei se posso enviar por aqui mas sei que muitos dos seus camaradas não sabem e pedia se podiam publicar este meu testemunho no vosso blogue sobre o meu tio Alberto Marinho que, depois das doenças que lhe diagnosticaram,  afastou-se de várias áreas da sua vida.

O meu nome é Maria João da Costa Marinho Ferreira. Sou licenciada em História e Mestre em História e Património.

O caminho que segui não foi por acaso. Sou sobrinha do ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), Manuel Aberto da Costa Marinho. O meu tio (como um segundo pai) sempre me contou as suas histórias que passou durante a guerra e isso inspirou-me a seguir o caminho da história e contar a história daqueles que já cá não estavam e que mereciam ser homenageados.

É isto que me traz aqui hoje.

O meu tio faleceu a 22 de Julho deste ano e está sepultado no cemitério de Agramonte, Porto (**)

Depois de alguns meses ainda sinto de luto, talvez porque não me despedi como deveria. No final da sua vida,  o meu tio escolheu a amargura da doença que o atacou e preferiu não ver a sua família ou amigos. Algo que hoje me arrependo de não ter forçado a minha visita.

Encontrei novamente o blogue que lhe apresentei anos atrás (*) e descobri a sua primeira mensagem no qual ele me menciona sem saber o quanto me inspirou:

"Apresenta-se o ex-1.º Cabo Manuel Alberto Costa Marinho, do 1.º GComb/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, comissão em Nema/Farim, Binta, em 1972/74.

É com enorme sentido de gratidão, extensível aos restantes colaboradores do blogue e a todos os tertulianos da Tabanca Grande, que me dirijo, pela primeira vez. Mais vale tarde que nunca.

Como ex-combatente da Guiné, não posso ficar indiferente ao que de melhor temos neste País para testemunhar o que foi a Guerra Colonial, mais concretamente a da Guiné, vivida e contada pelos seus protagonistas, por isso mais uma vez, um muito obrigado pelo excelente trabalho que podemos testemunhar.

E antes de mais peço a admissão na “Tabanca”, certo que já o poderia ter feito, mas só agora julgo oportuno, pelo facto (se calhar egoísta) de estar a ajudar uma sobrinha a fazer um trabalho sobre a Guerra Colonial, foi a miúda, que me incentivou a contar as minhas vivências na Guiné, depois de consultar muitas vezes o blogue, e sabendo que estive no inferno de Guidaje, praticamente em todas as suas incidências.

Como muitos de nós já o disseram, é penoso lembrar o que já estava na penumbra da memória, mas acho valer a pena este esforço, porque entendo que uma parte muito importante das nossas vidas ficou para sempre na Guiné, numa Guerra da qual eu não me envergonho de ter participado, e sou dos que sabiam minimamente para o que iam.

Depois porque ao longo destes anos (e já são 35), somos vergonhosamente ostracizados por todos os poderes instituídos neste País, que foram coniventes com o apagar da memória colectiva, de tudo o que diga respeito à Guerra Colonial, e mais grave do que isso, transformando os que por razões várias desertaram, em heróis, e nós que combatemos, só nos falta pedir desculpas por ainda estarmos vivos a contar (dissecar) esta guerra.

Pessoalmente, sinto-me ofendido com a imagem redutora que tem sido dada às gerações que se seguiram, não quero louvores, mas exijo respeito pelos que morreram, e por todos os que ficaram marcados por ela para sempre.

Desculpa, camarada Luís, este desabafo, corta tudo o que achares necessário, porque sinto esta revolta surda sempre que abordo esta questão.

Quero saudar muito especialmente os camaradas Amílcar Mendes (*) da 38.ª de Comandos, Victor Tavares,  da 121 dos “Páras”,  e o Albano M. Costa,  da CCAÇ 4150, os dois primeiros que descrevem operações de combate e o Albano que me fez rever Binta, peço desculpas ao omitir mais camaradas, sei que os há que viveram Guidaje e escreveram sobre esse fatídico mês, os Fuzileiros por exemplo.

Como também não desejo que outros contem a Guerra por mim, vou descrever o ataque à primeira coluna para Guidaje, que como é sabido não chegou ao destino.”


A vida são dois dias e por vezes amarguras indispensáveis levam-nos ao afastamento dos nossos entre queridos.

Pretendo honrar o meu tio em um livro. Contarei as suas memórias que ele me deixou e precisava de comentários ou conhecer o batalhão que ele fez parte.

Sendo assim, presto a homenagem ao meu tio Manuel Alberto Marinho e imploro que de vocês entre em contacto comigo para falarmos sobre as memórias de Guiné e Guidaje e memórias de Manuel Marinho.

2. Comentário do editor LG:

O Manuel Marinho tem 37 referências no nosso blogue. Fazia anos a 11 de abril. Deixou de fazer prova de vida. A últíma vez que lhe publicámos um poste de parabéns foi em 2020. Temos a agora, com um atraso de 3 meses,  a funesta notícia da sua morte, dado pela sua querida sobrinha Maria Ferreira, cujas palavras nos comovem.

Vamos, naturalmente, ajudá-la a completar a escrita do seu livro com as memórias do seu querido tio e nosso já saudoso camarada que, conforme podemos verificar pelos postes que aqui publicou, era um apaixonado sobre tudo o dizia respeito a Guidaje e os duros combates que lá se travaram e os exemplos de abnegação e coragem que ele lá viveu, em maio de 1973 (****).  
Acho que podíamos publicitar aqui o endereço de email da Maria Ferreira, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande e, de algum modo, suprir a falta que o Manuel Marinho nos faz, De qualquer modo, aguardamos que ela nos autorize a divulgar o seu endereço de email, se achar conveniente e necessário,  para troca de informações com os camaradas do Manuel Marinho, do BCAÇ 4512. E que, na volta do correio, nos diga se aceita o nosso convite. 

Sabemos que em 28/4/2013, o Manuel Marinho estava "a ultimar um trabalho sobre Guidaje, tentando sistematizar tudo o que se passou", mas acrescentando: "não sei se terei fôlego para chegar ao fim" (***)

Temos cerca de seis dezenas de referências ao BCAÇ 4512. Vamos partilhar essa informação com a Maria Ferreira.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

(**) Último poste da série > 19 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23720: In Memoriam (457): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74): A minha homenagem ao amigo Xico Allen, como sempre o tratei (Albano Costa)

(***) Vd. poste de 28 de abril de  2013 > Guiné 63/74 - P11491: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (31): Respostas (nº 58 e 59) de Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512 (Nema e Binta, 1972/74) e José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Xitole, 1970/72)

(...) Gosto das estórias que vou lendo sobre a nossa presença na Guiné, e tenho a impressão que já conhecia muitos destes camaradas, é uma aprendizagem constante, de facto este Blogue é um caso único de afectos e camaradagem. (...)

(...) No Blogue, não gosto de escritos que nada têm a ver com a Guiné, não gosto de ver fotos de camaradas nossos aos abraços com elementos do PAIGC, não gosto de escritos sobre quem nos traiu, estou a referir-me a desertores, (o lugar deles não é neste Blogue), não gosto de elogios ao PAIGC, porque não lhes devo nada, e não gosto da ficção de muitas das estórias contadas, devemos fazer um esforço para escrever (contar), com os nossos 20 anos de então, e não com os olhos e a experiência de hoje.

(****) Vd. por exeplos postes de:

7 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)

7 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23633: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (13): Cumbamori, uma das mais violentas acções das NT em território estrangeiro e um dos maiores desaires do PAIGC... Mas falta-nos a versão do outro lado...


 
Batalhão de Comandos da Guiné (1972/74): Guião



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a menos de um  ano, em maio e junho de 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ? De modo nenhum,  e sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e  junho de 1973 (e que se prolongam até julho, no caso de Gadamael), continuamos a querer saber mais,,, 

Foram dos combates mais violentos que se travaram em toda a guerra, desde o início de 1963, a par da Op Tridente (1964) e da Op Mar Verde (1970)... A batalha dos 3 G  (há quem não goste da designação)  não se pode resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). E menos ainda aos "roncos" como a destruição de material fornecido pelos russos e outros ao PAIGC. No balanço dos ganhos e perdas, o PAIGC, apesar da destruição (parcial) da base de Cumbamori,  é capaz de ter marcado pontos ao nível político e diplomático, junto da OUA (Organização de Unidade Africana) e países do bloco soviético e até de alguns dos nossos amigos nórdicos, com o seu cerco a Guidaje (e depois Guileje e Gadamael). Deixemos esse balanço para os historiadores.

Passados 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje ou Guidage (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), parece-nos que continua a ser oportuno e importante, para os nossos leitores,  repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informação de sinopse dos acontecimentos  

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (*).

É uma pena que os camaradas ainda vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael, não escrevam, ou já não escrevam ou ainda não tenham escrito tudo sobre o assunto.  Infelizmente, há outros que a morte já levou, sem que tenham sequer passado ao papel as suas memórias: é o caso, se não erramos, do próprio comandante da Op Ametista Real, o então major Almeida Bruno, 1º cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné,  recentemente desaparecido...Enfim, ficou pelo menos o relatório da Op Ametista Real, que será da sua autoria (...) (**) 

Do lado do PAIGC,  já não temos grande esperança de ainda podermos conhecer a versão dos seus combatentes, "na primeira pessoa do singular". Do lado das NT, republicamos mais um resumo sobre a Op Ametista Real, em que foi invadido o território do Senegal para destruir ou neutralizar a base de Cumbamori (ou Kumbamory) e aliviar a pressão sobre o nosso aquartelamento fronteiriço de Guidaje.

Infelizmente, também está pouco ou nada documentada, em termos de imagens, esta operação em que os nossos bravos comandos pagaram uma "fatura elevada", em "sangue, suor e lágrimas". Como já aqui temos comentado, não sabemos por andaram os fotocines do exército durante a guerra do ultramar / guerra colonial. E o arquivo da RTP, sobre esta matéria, é de um pobreza franciscana...

Por outro lado, já chamámos a atenção para o facto de, em duas das maiores (e mais temerárias, do ponto de vista político e militar) operações terrestres em território estrangeiro, a Op Mar Verde (Guiné-Conacri, 22 novembro 70) e a Op Ametista Real (Senegal. 19-20 mai 73), Spínola não ter arriscado o envio de tropas metropolitanas (páras e comandos, por exemplo). Foram os comandos africanos  (1ª, 2ª e 3ª CCmds Africanos, do Batalhão de Comandos da Guiné) que deram o corpo ao manifesto (para além dos nossos pilotos da FAP: os bombardeamentos aéreos de Cumbamori foram decisivos, como é público e notório,  no desfecho da Op Ametistra Real). 

O risco era menor, de todos os pontos de vista... Mas os comandos africanos acabaram por ser "usados e abusados" (se nos é permitida a expressão)  e em Cumbamori enfrentaram não só os combatentes do PAIGC como inclusive tropas paraquedistas senegalesas... Vale a pena reflectir sobre isto... Em todo o caso, é bom lembrar que o  BCP 12 também participou nesta operação, mas do lado de cá da fronteira. Releia-se o precioso e dramático testemunho do nosso querido amigo e camarada Victor Tavares, no poste P1316, de 26/11/2006: 

(...) "A 17 de Maio de 1973, a Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 recebe ordem para se integrar na operação acima referida [,a Op Ametista Real] , tendo-lhe sido atribuída a missão de garantir a segurança de um corredor entre Ujeque e Guidaje, através do qual se processaria a retirada dos Comandos Africanos. (...) (**)


17 de Maio de 1973: início da Op Amestista Real  (***)


Início da Operação Ametista Real, em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Cumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal

A operação destinava-se a aliviar o cerco do PAIGC a Guidage e a permitir o reabastecimento daquela guarnição.

Só a destruição da base de Cumbamori, a grande base do PAIGC no Senegal, na península de Casamança, permitiria pôr fim ao cerco a Guidage. A operação era difícil e de resultados imprevisíveis. O ataque ao Senegal foi atribuído ao Batalhão de Comandos Afruicanos  [ou melhor, da Guiné, constituído pela 1ª, 2ª e 3ª CComds Africanos]
, comandado pelo major Almeida Bruno – que tinha por hábito atribuir às acções militares o nome de pedras preciosas: esta ficou Operação Amestista Real.

Na tarde de 19 de Maio de 1973, uma sexta-feira , 450 homens do Batalhão de Comandos Africanos embarcavam, em lanchas da Marinha e subiram o rio Cacheu até Bigene onde chegaram ao pôr-do-sol. À meia noite a força de ataque seguiu dividida em três grupos de combate:
  • o Agrupamento Bombox, comandado pelo Capitão Matos Gomes;
  • o Agrupamento Centauro, sob o comando do Cap Raul Folques;
  •  e o Agrupamento Romeu, comandando pelo capitão paraquedista António Ramos.

O Comandante da operação, Almeida Bruno seguiu integrado no Agrupamento Romeu, que levava um grupo especial comandando por Marcelino da Mata. Avançaram, durante a madrugada e pisaram território senegalês, cerca das seis da manhã do dia 20, sábado.

Às oito horas, uma esquadrilha de aviões Fiat iniciou pesado bombardeamento da zona. Os pilotos atacaram um pouco às cegas, porque a axacta localização da base da guerrilha não era conhecida. Mas por sorte as bombas da avião acertaram, em cheio nos paióis. 

Mal cessou o ataque aéreo , que não terá demorado mais do que dez minutos, os grupos comandados por Matos Gomes e Raul Folques lançaram-se ao assalto, enquanto o Agrupamento Romeu, comandado por António Ramos, e onde seguia o comandante da operação, Almeida Bruno, tomava posição como força de reserva. Os três agrupamentos envolveram-se em duros combates: “Os soldados de ambos os lados estavam tão próximos uns dos outros que era impossível delimitar uma frente”.

O combate foi corpo a corpo e desenrolou-se até às 14h10, quando Almeida Bruno deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as forças do Batalhão de Comandos e as do PAIGC. O Agrupamento Bombox estava praticamente sem munições e o Agrupamento Centauro substituiu-o no contacto. Entretanto, Raul Folques, o comandante do Agrupamento Centauro, apesar de gravemente ferido numa perna, conseguiu a ruptuta do combate. A marcha do Batalhão de Comandos em direcção a Guidage foi lenta e com várias emboscadas pelo meio.

Resultados

Pelas 16 horas cessaram os combates e às 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começaram a chegar a Guidage. Tinham sido destruídos:

  • 22 depósitos de material de guerra;
  • duas metralhadoras antiaéreas;
  • 50 mil munições de armas ligeiras;
  • 300 espingardas Kalashikov;
  • 112 pistoals PPSH
  • 560 granadas de mão;
  • 400 minas antipessoal:
  • 100 morteiros 60;
  • 11 morteiros 82;
  • 138 RPG7:
  • 450 RPG2;
  • 21 rampas de foguetões 122.

O PAIG sofreu 67 mortos entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos, enquanto os Comandos sofreram dez mortos, dos quais dois oficiais, 23 feridos graves (três oficiais e sete sargentos) e três desaparecidos.

Uma nova coluna de reabastecimento ficou retida em Farim, por ter sido atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram, no terreno, tendo as forças portuguesas sofrido quatro mortos e 16 feridos, dos quais nove graves.

Na luta por Guidage o PAIGC utililizou a sua infantaria apoiada por artilharia pesada e ligeira, além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento utilizou foguetões de 122 mm, morteiro 120 e 82 mm, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5 cm, RPG2 , RPG7, armamento ligeiro e mísseis Strela. (...)

Fonte: Excerto de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973: Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: Quidnovi, 2009, pp. 41-45. (Com a devida vénia..)

[Seleção / revisão / fixação de texto,  para efeitos de edição deste poste: LG. ]
_________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de setembro de  2022 > Guné 61/74 - P23625: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (12): A Op Ametista Real: o batalhão de comandos em Cumbamori, no Senegal, 19 de maio de 1973 (Amadu Bailo Djaló, alf graduado 'comando', 1940-2015)


(***) Vd. informação mais detalhada no poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal

Vd. também o testemunho, na primeira pessoa, de Amadu Djaló (1940-2015):

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19026: In Memoriam (322): Manuel Maria Veira Carneiro (27 jan 1952 - 11 set 2018), natural do Marco de Canaveses, ex-sold paraquedista, CCP 121 /BCP 12 (Bissalanca, 1972/74)... Nosso grã-tabanqueiro, a título póstumo, nº 777.


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Festa de Nossa Senhora do Socorro >  27 de julho de 2008 >    Manuel Carneiro, membro da Tabanca de Candoz e,  agora, a título póstumo, da Tabanca Grande, com o nº 777.





Tancos > Regimento de Caçadores Paraquedistas > BCP 12 > CCP 121 > 1971 > O Manuel Carneiro é o terceiro a contar da esquerda para a direita. Nascido em 1952, ainda não tinha 20 anos nesta data... Foto do Para Dias  Dias (o quarto), com a devida vénia).  [Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Soube, através da Alice Carneiro, que morreu no passado dia 11 o nosso camarada Manuel Maria Vieira Carneiro, que pertencia à Tabanca de Candoz... Fiquei triste. Falei com ele uma meia dúzia de vezes,  se tanto. E tem duas ou três referências no nosso blogue (*). Era amigo e camarada do Victor Tavares, de Águeda, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora.

O funeral foi a 12 do corrente, às 18h30, na igreja de Nª Senhora do Socorro, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses- Os seus restos mortais repousam agora no cemitério local, a última (e eterna) morada também dos meus sogros, José Carneiro e Maria Ferreira, fundadores da nossa Quinta de Candoz, pais da Alice Carneiro.

À esposa do nosso já saudoso camarada Manuel Carneiro, às suas filhas e aos seus netos, aos seus amigos e aos seus/nossos camaradas da CCP 121 / BCP 12, os editores deste blogue e os demais membros da Tabanca Grande manifestam a sua solidariedade na dor por esta perda precoce, aos 68 anos,  de mais um dos bravos da Guiné.



2. "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande": foi a expressão que  usei quando encontrei e conheci, pela primeira vez,  o Manuel Carneiro, ex-paraquedista da CCP 121/BCP 12, que esteve na Guiné entre 1972 e 1974.

Quem, primeiro, me tinha falado dele  fora o Victor Tavares, à mesa do Restaurante Vidal, em Aguada de Cima, Águeda, em 2 de março de 2007, tendo a nosso lado o Paulo Santiago, os dois membros, da primeira hora, da nossa Tabanca Grande.

Como então tive ocasião de escrever, o Victor Tavares é "um digno representante dessa escola de virtudes humanas e militares que foram (e são) os paraquedistas".

Valoroso elemento da CCP 121 /BCP 12, na Guiné, entre 1972 e 1974, 1º cabo, famoso apomtador da MG42, sofreu nove baixas mortais: seis na Operação Pato Azul (Gampará, Março de 1972) e três na heroica 5ª coluna que, entre 23 e 29 de maio de 1973, rompeu o cerco a Guidaje. Estes episódios já aqui foram evocados pelo Victor, com dramatismo, autenticidade e rigor (*).

À mesa, na conversa que tive com o Victor, ao almoço, à volta de um delicioso leitão,  deu também para perceber que ele é também um grande homem, um grande português e um grande camarada, que foi um notável operacional mas que não se envaidecia pelo seu brilhante currículo como combatente e pelo facto de ainda hoje privar com os seus antigos oficiais, incluindo aquele que foi seu comandante e que atingiu o posto de tenente-general (Manuel Bação da Costa Lemos, hoje na reforma, condecorado com a Medalha de Valor Militar, grau Prata com Palma), posto esse que é dificilmente alcançável entre as tropas paraquedistas...

O Victor, que tem conhecido as agruras da doença, foi e continua a ser muito respeitado pela família paraquedista, camaradas e superiores hierárquicos... Por isso, a  sua presença, na nossa Tabanca Grande, desde longa data,  só nos pode honrar, sobretudo pela sua grande experiência, camaradagem e lealdade. Não sei se ele já foi, entretanto, informado do camarada Manuel Carneiro.

3. Foi também nessa ocasião, em março de 2007, que eu vim a saber que um grande camarada e amigo do Victor era um tal Manuel Carneiro, conterrâneo e vizinho da minha mulher, Maria Alice Ferreira Carneiro, natural de Paredes de Viadores, concelho do Marco de Canaveses… Não têm, porém,  qualquer parentesco, conhecido,  entre si, apesar do apelido Carneiro…

No dia 2 de Setembro de 2007, seis meses depois, acabei por conhecer, em carne e osso, o Manuel Carneiro. Estava eu a acabar as minhas férias de Verão, passando os últimos dias na pacatez e frescura da nossa Quinta de Candoz, com vista para a albufeira da barragem do Carrapatelo… No dia 2 era a festa do São Romão, orago da freguesia, Paredes de Viadores. Por volta das 16h, decidimos ir dar uma volta até ao sítio onde se realizava a festa do São Romão que não se compara, nem de longe nem de perto, com a grande festa anual da freguesia e do concelho, que é a Senhora do Socorro, na última semana do mês de Junho de cada ano…

São Romão resume-se, em boa verdade, a um pequena procissão e pouco mais. Mas nesse dia actuava o Rancho Folclórico da Associação Juvenil de Paredes de Viadores… Assisti à (e filmei a) segunda parte deste simpático e jovem rancho, fundado em 1997. No final, entendi dever dar uma palavrinha reconhecimento e de estímulo ao respectivo director, que eu não sabia quem era…

Levaram-me até ele e, qual não é a minha surpresa, quando, lá chegado, ele dispara, rápido, a seguinte exclamação:
- Mas... é o Dr. Luís Graça!
- Já nos conhecemos de algum lado?
- Do blogue, pois, claro! Do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné! Sou camarada do Victor Tavares, paraquedista da 121…
- Podes então dispensar o doutor!… Dá-me cá um abraço, que os camaradas da Guiné tratam-se todos por tu!

Fiquei então a saber que o Manuel Carneiro, na altura com 55 anos, pai de três filhas, era nosso vizinho, conhecia muito bem a família da minha mulher, os Carneiro de Candoz, que era reformado da CP- Camainhos de Ferro, que residia no Juncal, mesmo junto à estação do Juncal (Linha do Douro, entre Marco de Canaveses e Mosteiró) e que assumira há pouco tempo funções de director do Rancho Folclórico da Associação Juvenil de Paredes de Viadores

A conversa inevitavelmente foi parar ao blogue, à Guiné e aos paraquedistas. O Manuel Carneiro estava amiudadas vezes com o Victor, nos convívios periódicos da Companhia (CCP 121) e do Batalhão (BCP 12), nomeadamente em Tancos.

Prometi-lhe, logo ali,  apadrinhar a sua entrada na nossa Tabanca Grande. Disse-me que ainda não tinha endereço de email mas que ia com frequência visitar o nosso blogue, a partir do computador da filha mais nova.

Prometi-lhe também divulgar o rancho (por quem ele mostrava muito amor e carinho e a que dedicava um boa parte do seu tempo), tanto no nosso blogue como no blogue da Tabanca de Candoz, a Nossa Quinta de Candoz…

Um mês depois, hoje, cumpri uma parte do prometido…Carreguei, no You Toube, o vídeo que tinha gravado na festa de São. Romão  [Vd. A Nossa Quinta de Candoz, poste de 7 de outubro de 2007]... é A voz que, entretanto, se ouve no vídeo é a do Manuel Carneiro a quem eu saudei logo, na altura, como "novo membro da nossa tertúlia".

Na realidade, o Manuel Carneiro nunca chegou a ingressar, formalmente, na nossa Tabanca Grande, por falta de endereço de email e da foto da praxe, do tempo da CCP 121 / BCP 12 e da Guiné (1972/74), mais a história que faz parte da "joia de entrada"...

Infelizmente, esse lapso não foi corrigido "em vida"... Ao longo destes anos, fui vendo.o, mas com irregularidade, "lá na terra", na festa de Nª Sra. do Socorro ou no dia de finados...

Onze anos depois, e a agora que ele "da lei da morte já se libertou", o Manuel Carneiro entra diretamente para a nossa Tabanca Grande. É a nossa pequena homenagem a este homem,  bom e simples, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada. (**)

 O Manuel Carneiro, cuja campa irei visitar na  próxima oportunidade,  não ficará, assim, na "vala comum do esquecimento". (***)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

6 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17939: Manuscrito(s) (Luís Graça) (127): O Dia de Fiéis Defuntos na Tabanca de Candoz: aqui a tradição ainda é o que era..

21 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10702: Tabanca de Candoz: Há a bazuca e a... mazurca; ou aqui não há festa sem música, sem dança no terreiro, sem contradança, valsa, fado, baile mandado..., ou seja, sem as velhas, novas, tunas rurais de Entre Douro e Minho...

(**) Último poste da série de 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18982: In Memoriam (321): Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018): dois poemas, um de Josema (José Manuel Lopes) e outro, de Luís Graça

(***)  Último poste da série > 2 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16019: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (2): Dez comentários aos primeiros 1500 postes



Guiné-Bissau > Maqué > 2006 > " O mais belo poilão que conheço da Guiné" (Paulo Salgado) [. na foto, o Paulo Salgado, sentado, e Moura Marques, de pé, ambos antigos militares da  CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72].

Foto (e legenda); © Paulo & Conceição Salgado (2006). Todos os direitos reseravdos


1. Na festa dos 12 do nosso blogue (*), fizemos uma seleção (rápida de 10 comentários aos primeiros 1500 postes de um total de 16 mil já publicados desde 23/4/2004. Atenção, que passámos a ter comentários escritos a partir de  25/9/20054, ao poste P188:






Dunyazade disse...

Fiquei parva com esta história - de link em link cá cheguei. Está lá o coração todo.  E mais parva fiquei por este post não ter comentários. Os portugueses ignoram aquilo que não querem saber? Parece-me o caso. 

[20/1/2006]

4 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P399: Pensando... A Guiné que eu (vi)vi (1968/70) (José Teixeira)

Anamargens disse...

Eu tive um tio na Guiné, marido e cunhado em Angola, irmão em Moçambique, na(s) Guerra(s). Nunca vi nada. Pouco ouvi de relatos. Não esqueci. E continuo a achar que não pode ser esquecido.
Aprecio que quem viveu deixe o seu testemunho. 

[6/1/2006].

Manuel Araújo disse...

Parabéns e obrigado, por despertar em mim a saudade e vontade crescente de voltar ao Olossato antes de morrer.

Regressei no dia 14 de Outubro de 1974, eram 11:45 da noite e, desde o regresso, nunca encontrei nenhum camarada do BCAV 8320/73 (2ª CCav)

Coloquei estas fotos no meu blog, para ver se "aparece" alguém:

http://manuelaraujo.blogspot.com/1999/09/guin-olossato_24.html
http://manuelaraujo.blogspot.com/1999/09/guin-olossato.html

Se alguém se reconhecer aí, entre em contacto comigo por favor...

Um abraço ao mentor deste espaço e muito obrigado.

Araújo 
(o Braga das Transmissões) 
[16/1/2007]


17 de maio de  2006 > Guiné 63/74 - P765: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira)

adavid disse...

Também estive em Mansoa (Janeiro de 1971-Janeiro de 1973) e a visualização da foto que ilustra este post não pode deixar de me comover. Ainda por cima servindo de suporte a um texto (magnífico) do padre Mário, por quem tenho grande apreço. É a primeira vez que passo por aqui. Irei continuar.

Um abraço. [21/5/2006].


28 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P810: Barro e Guidage, no tempo da CART 2412 (Afonso M.F. Sousa)

daniel matos disse...

Como estive 22 dias cercado em Guidage (Maio/Junho de 1973) gostaria de deixar também um testemunho. Tal como o posto de transmissões, nas fotos referidas também não aparece o abrigo do obus, destruído a 25 de Maio, onde me encontrava no momento do rebentamento da morteirada, com mais 15 camaradas, metade dos quais que ali se refugiaram durante um ataque do IN. Desses, morreram logo 6 (que dias mais tarde fui incumbido de enterrar nas imediações) e apenas eu não fui ferido (todos os outros se feriram com diferentes gravidades). A maioria pertencia à minha companhia (CCAÇ Ind 3518, Marados de Gadamael), que ali viu retidos 2 pelotões durante um abastecimento de cibe vindo de Bissau, fazendo segurança à coluna que inicialmente se destinava apenas a Farim. Não percebo por que razão esta Companhia nunca aparece referenciada nos acontecimentos de Guidage e nos efectivos que lá permaneceram nesses dias fatídicos. Aliás, o número de mortos em combate que muitas vezes é mencionado, parece-me incorrecto. Lembro-me de enterrar camaradas envoltos em lençois, por já se terem esgotado os caixões... Cordiais saudações

Daniel de Matos (ex-Furriel Miliciano) [23/8/2006]



7 de setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1055: Estórias do Zé Teixeira (12): O Balanta que fugia do enfermeiro

Anónimo disse...

Os jornalistas perguntaram a Holden Robertode Angola (fnla), logo a seguir ao 25 Abril de 1974, porque ao fim de 13 anos de luta de libertação, as populações quase nunca aderiram: Ele, que tinha sido educado numa missão protestante americana, respondeu: "Parecem coisas diabólicas, difíceis de explica"... 
Como eu vivi o antes, durante e depois da guerra quase sempre em África, (tenho quase 70 anos), faço como que um passatempo, tentar compreender como aguentámos 13 anos aquela guerra, e como o Holden Roberto, quase digo que são coisas diabólicas...Mas não digo: (Atenção que há 30 anos as minhas leituras são quase só referentes ao assunto), o que digo é que o "sucesso" se deveu aos milicianos e rasos, que foram "os senhores da não guerra" (e o Salazar sabia disso) e aos comerciantes que não arredavam pé...E ao inssucesso de todas as "falsas independências africanas" então, que vemos agora o resultado com os milhões de africanos a fugir para as Canárias. 

António Esteves Rosinha, Alverca [7/9/2006]


17 de setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1082: Notícias da CCAÇ 2402 e do BCAÇ 2851 (Raul Albino)

João Gomes disse...

Em primeiro lugar desejo saudar todos os que tem visitado e deixado impressões sobre a Guerra do Ultramar, em especial da Guiné-Bissau. O meu nome é João Gomes Bonifácio e fui Furriel Miliciano do SAM e pertenci à CCAÇ  2402 / BCAÇ 2851. Desejo enviar os meus parabéns ao ex-alferes Miliciano Raul Albino, e dizer-lhe que tenho tentado ler este magnífico blogue, mas muito devagar. Tambem eu gostaria de participar, mas a verdade é que por razões que ignoro, vejo muitos oficiais e poucos sargentos a enviar fotos e a comentarem. Espero que mais apareçam e falem das suas "guerras" para que todos saibamos como passaram a comissão de serviço, e ao mesmo tempo aprender mais sobre nós próprios, já que somos os únicos que compreendemos os nossos sacrificios passados em Có, Mansabá ou Bafatá.
Estou motivado para participar, tal como estou a fazê-lo na edição do segundo livro sobre a CCAÇ 2402, que será uma amostra não so desta Companhia, mas que também pode ser de qualquer outra Companhia e de qualquer ramo das FA.
Atualmente vivo no Canadá, numa cidade a cerca de 60 kms de Toronto.
Os meus cumprimentos para todos vós, em especial para o Autor deste blogue. Alguém tinha de fazer algo de bom. Parabéns. 

[24/11/2006]

5 de outubro de 2006 >  Guiné 63/74 - P1152: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (3): Braimadicô, o prisioneiro que veio do céu

Seringas do Jol disse...

Olá amigos!
Hoje 5 de Outubro, lá estive e pela 1ª vez, na  Mealhada,  no almoço anual da malta ! Correu muito bem e o "leitão" estava uma delícia !

Parabéns por este blog.
[5/10/2016]

António Ramos de CARVALHO - Lousã/Coimbra
(Furriel Enfermeiro 70/72 em Jolmete - Pelundo)


7 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1570: Convívios: Almoço-convívio de camaradas de Matosinhos (Albano Costa / Carlos Vinhal)


Cada vez que aqui venho, entre o muito que aprendo e o muito que me emociono, fico sempre com uma certeza outra: a da imensa dignidade da vossa camaradagem e da vossa ausência de ressentimento.
Aqui se destaca com grande evidência a generosidade, a sabedoria e a inteligência do papel das Forças Armadas...
Infelizmente... os mandantes de hoje parecem sofrer todos de memória de grilo!

Os melhores cumprimentos, Senhor e Senhores 


[7/3/2007]

8 de março 2007 > Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)

Osvaldo Tavares disse...

Para dedicar ao meu pai, Victor Tavares

A presença remota do passado, 
Nos sentidos, ainda tão vibrante, 
Questiona o que se tem apressado 
E contido neste peito infante! 

O passado é potencial tão presente 
Mas passível de transformação, 
Naquilo que hoje se sente 
Bem no fundo do coração! 

Num desenrolar de emoções 
Vão passando como um filme na mente 
As lembranças que fazem reviver 
A ascenção de uma vida tão ardente 

São belas recordações que inundam 
Com miragem o poder da fantasia 
As saudades de um tempo que não volta 
Mas invadem a alma de alegria 

Lembranças que abrem o caminho 
Como luzes que brilham com ardor 
E acalentam um grande sonho 
De viver um futuro com amor

 [18/3/2007]

________________________
Nota do editor:

(*) Último poste da série > 26 de abril de 2016 >  Guiné 63/74 - P16018: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (1): Heróis de uma guerra que nunca existiu e que por isso, vão não ficar para a história: o Paranhos, o Pimentel, o Peniche, o Pinto e eu (Luís Graça)


(...) 12 (doze!) anos é idade maior na Net (que nasceu no início dos anos 90 do século passado). Com menos disso, já muitos blogues morreram.

12 (doze!) anos é "manga de tempo", dava para fazer 6 (seis!) comissões na Guiné, desde o princípio ao fim da guerra (1961/74).

12 (doze!) anos é cerca de um sétimo da esperança de vida (média) de alguém como eu que, nascido em 1947, tinha aos 65 anos em 2012...

Camaradas (e amigos/as): 12 (doze!) anos é "manga de tempo"!... Por isso, o 12º aniversário do nosso blogue merece ser comemorado, por muito cansados que estejamos da guerra e da vida!... (...)

domingo, 2 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11663: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Faltam três dias para fechar as inscrições... E já somos 123 à mesa!


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Mensagem da Comissão Organizadora do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande:

Prazo limite para inscrições - 4 de Junho

Aceitam-se desistências até ao dia limite das inscrições.

Fora desse prazo os inscritos faltosos serão responsabilizados pelas despesas imputadas à sua não comparência.

P'la Organização do Encontro,
Carlos Vinhal

2. Até 1 de junho, a 3 dias de fechar as inscrições, tínhamos já 123 tabanqueiros (incluindo acompanhantes) inscritos no nosso próximo convívio anual que vai ser, como é sabido, em Monte Real, no próximo dia 8, sábado (*).  

A todos/as, estamos muito obrigados pela amizade e camaradagem com que nos honram, aceitando o nosso convite para a festa  da nossa Tabanca, pelo oitavo ano consecutivo (o I Encontro Nacional realizou-se na Ameira, Montemor-O-Novo, em 2006). 

Como se pode ver pela figura acima, a proveniência geográfica dos inscritos é sensivelmente igual à dos anos anteriores, com destaque para a malta que vem da Grande Lisboa, do Grande Porto e da Região Centro (cerca de 85% do total). Temos gente de todo o país, de norte a sul, de leste a oeste. Pena é que as regiões autónomas dos Açores e da Madeira não estejam representadas, desta vez. (O que não é bem assim: temos o Henrique Matos que representa duas regiôes, a de nascimento, os Açores; e a de adoção, o Algarve, o sul...).

Em contrapartida, vamos ter connosco o Manuel Dias Pinheiro (, nosso tabanqueiro desde 22/8/2012)
e a esposa, a viverem atualmente em Madrid. São os nosso dignos representantes da "diáspora".

E, também como acontece todos os anos, temos camaradas, "piras", que vêm ao nosso encontro pela primeira vez. Cite-se por exemplo o  João Martins ( e a esposa Graça Maria). Vamos ter ainda, como já é habitual, também os nossos escritores que vão lançar os seus últimos livros, da parte da tarde. É o caso,  este ano,  do Manuel Maia e o José Saúde...

Como acontece todos os anos também, há camaradas
que não podem vir, por razões de calendário ou
outras, de força maior, e nomeadamente de saúde. Muito nos alegra saber que, mesmo convalescentes, acabados de superar uma situação delicada de saúde, há camaradas que arranjaram força e coragem para se juntar ao resto do pessoal!...

Foi o caso, por exemplo, do Victor Tavares (um dos nossos heróis de Guidaje, ex-1º cabo paraquedista, CCAÇ 121/BCP 12, BA 12, 1972/74). Foi o Paulo Santiago que nos deu a feliz notícia, anteontem, dia 31: "Boa Tarde Vinhal, Miguel... Podem inscrever o Victor Tavares,acabei de almoçar com ele e mais dois Páras. Está a recuperar bem. Miguel: Não é necessário crachá para o Victor. Manipulei o meu e fiz outro com o nome dele. Recebam um abraço. P. Santiago".

Não poderia esquecer os "repetentes", os "fidelíssimos"... Alguns, como o António Santos, são tão fãs do Encontro Nacional da Tabanca Grande que até trazem a família completa: mulher, filhos e netos... É de se lhes tirar o quico!

Até Monte Real., dia 8. Um fraterno Alfa Bravo. L.G.
_________________


LISTA DOS 123 MAGNÍFICOS, QUE ATÉ 1/6/2013 DISSERAM QUE VÃO ESTAR EM MONTE REAL, EM 8 DE JUNHO DE 2013, NO NOSSO VIII ENCONTRO NACIONAL

Agostinho Gaspar - Leiria (C)
Alberto Branquinho - Lisboa (GL)
Alcídio Marinho e Rosa - Porto (P)
Alvaro Vasconcelos e Lourdes - Baião (N)
António Augusto Proença, Beatriz e Sofia - Covilhã (C)
António da Costa Moitas e Maria dos Anjos - Grijó / V. N. de Gaia (GP)
António Estácio - Lisboa (GL)
António Fernando Marques e Gina - Cascais (GL)
António Garcez Costa - Lisboa (GL)
António José Pereira da Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra (GL)
António Manuel Sucena Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro (C)
António Maria Silva - Sintra (GL)
António Martins de Matos - Lisboa (GL)
António Pimentel e acompanhante - Figueira da Foz (C)
António Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos (GP)
António Santos, Graciela, filhos e netos - Caneças / Odivelas (GL)
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho (C)
Arlindo Farinha - Almoster Avz / Alvaiázere (C)
Augusto Pacheco - Maia (GP)

C. Martins - Penamacor (C)
Carlos Paulo e Lourdes - Coimbra (C)
Carlos Pinheiro e Maria Manuela - Torres Novas (C)
Carlos Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora (GL)
Carlos Vinhal e Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos (GP)

David Guimarães e Lígia - Espinho (GP)
Delfim Rodrigues - Coimbra (C)

Eduardo Campos - Maia (GP)
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto (GP)
Eduardo Moreno - Vila Real (N)
Ernestino Caniço - Tomar (C)

Fernandino Leite - Maia (GP)
Fernando Súcio - Vila Real (N)

Henrique Matos - Olhão (S)
Hugo Eugénio Reis Borges - Lisboa (GL)
Humberto Reis e Joana - Alfragide / Amadora (GL)

João Alves Martins e Graça Maria - Lisboa (GL)
João Marcelino - Lourinhã (S)
João Santos - Porto (GP)
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel (GP)
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria (C)
Joaquim Nunes Sequeira e Mariete - Colares / Sintra (GL)
Joaquim Sabido e Albertina - Évora (S)
Jorge Araújo e Maria João - Almada (S)
Jorge Cabral - Lisboa (GL)
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras (GL)
Jorge Loureiro Pinto - Sintra (GL)
Jorge Picado - Ílhavo (C)
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais (GL)
José Araújo dos Santos - Figueira da Foz (C)
José Armando F. Almeida - Albergaria-a-Velha (C)
José Augusto Ribeiro - Condeixa (C)
José Barros Rocha - Penafiel (GP)
José Casimiro Carvalho - Maia (GP)
José Eduardo Oliveira - Alcobaça (C)
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos (C)
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel (GP)
José Manuel Lopes e Luísa - Régua (N)
José Ramos Romão e Emília - Alcobaça (C)
José Saúde - Beja (S)
José Zeferino - Chamusca (C)
Juvenal Amado - Fátima / Ourém (C)

Luís Graça e Alice - Alfragide / Amadora (GL)
Luís R. Moreira - Cacém / Sintra (GL)

Manuel Carmelita e Joaquina - Vila do Conde (GP)
Manuel Dias Pinheiro e Maria Inicia - Madrid / Espanha (Estrang)
Manuel Domingos Santos - Leiria (C)
Manuel Gonçalves e Maria de Fátima - Carcavelos / Cascais (GL)
Manuel Joaquim e Deonilde - Agualva Cacém / Sintra (GL)
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu (C)
Manuel Maia - Moreira / Maia (GP)
Manuel Vaz - Beiriz / Póvoa de Varzim (GP)
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa (GL)

Paulo Santiago - Aguada de Cima / Águeda (C)

Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal (S)
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos (GP)
Ricardo Sousa e Georgina Cruz - Lisboa (GL)
Rui Silva e Regina Teresa - Sta. Maria da Feira (N)
Rui Trindade Doutel Guerra Ribeiro - Lisboa (Gl)

Simeão Ferreira - Monte Real / Leiria (C)

Victor Tavares - Recardães / Águeda (C)
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de maio de 2013 >  Guiné 63/74 - P11629: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Estamos a poucos dias de fechar as inscrições

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11079: Álbum fotográfico do Delgadinho Rodrigues (cap pára ref, CCP123/BCP 12, Bissalanca, 1972/74): Gadamael, junho de 1973 (Manuel Peredo, ex-fur mil, CCP 122, 1972/74, hoje a viver em França)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-B


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3-A

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Fotos do álbum do  Rodrigues Delgadinho, na altura fur mil pára, da CCP 123/BCP 12, força de elite que conseguiu travar a ofensiva do PAIGC contra aquele aquartelamento de fronteira. Gadamael faz parte dos três famosos G - Guidaje, Guileje, Gadamael...

Fotos: ©  Delgadinho Rodrigues / Manuel Peredo (2013). Todos os direitos reservados [Editadas por L.G.]


1. Mensagem, com data de 4 do corrente, enviada pelo nosso camarada Manuel Peredo (ex-Fur Mil Paraquedista (CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74) [, foto à esquerda: é o primeiro lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122]

Caro Luis Graça, aqui vão três fotos de Gadamael que me foram oferecidas pelo Delgadinho Rodrigues, capitão pára na reforma e furriel em Junho de 73. Sei que há elementos do blogue que já não suportam ouvir falar em Gadamael, mas esses certamente não estavam lá naqueles dias difíceis. (*)

Um abraço, Manuel Peredo [, foto atual à direita]

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Manel, sê bem aparecido. Julgo que ainda estás por França, não ? E,  se sim, tencionas voltar ? Espero bem que sim, afinal esta é a Pátria pela qual já verteste sangue, suor e lágrimas.

Obrigado, antes de mais pelas fotos, de Gadamael.  A preto e branco, e em dia de céu carregado, e com vestígios,  bem evidentes, dos ataques do PAIGC(que começaram em finais de maio de 1973), elas conseguem transmitir-nos  o dramatismo desses dias que lá vivestes, com os teus valorosos camaradas da CCP 122 e da CCP 123, até ao dia 10 de junho, em que foste ferido.

Agradece, por todos nós, ao Joaquim Manuel Delgadinho Rodrigues, o ter-te facultado estas fotos e, através de ti, tê-las feito chegar ao nosso blogue (que está aberto a todos os camaradas da Guiné, como sabes). Diz-lhe (, no caso de ele não ler esta mensagem, ) que a sua presença, na nossa Tabanca Grande, nos honraria muito, a todos, e seria também uma forma de homenagear os mortos e os feridos da batalha de Gadamael. Ele só precisa de nos mandar as duas fotos da praxe, e escrever meia dúzia de linhas sobre as férias que ele passou nesse paraíso tropical chamado Guiné... Podes (e queres) ser o padrinho dele ?

 Quanto a Gadamael, nunca será demais falar... E continuaremos a falar, de Gadamael,  "ad nauseam"... Temos já cerca de 200 referências a esse lugar, que ficará na história desta guerra e deste país pelo patriotismo, coragem, abnegação e camaradagem de homens como tu, o Carmo Vicente (CCP 122),  o Manuel Rebocho (CCP 123), o Victor Tavares (CCP 121), o J. Casimiro Carvalho (CCAV 8350) e tantos outros. Desejo-te boa saúde e longa vida. Vai aparecendo.

Parafraseando o Virgínio Briote, no seu poste sobre o livro do Carmo Vicente ("Gadamael"), "foi a Guerra que vivemos (é sempre assim em todas, em poucos minutos, horas ou dias, somos capazes do melhor e do pior")... Em 26 de junho de 1975, o nosso grã-tabanqueiro J. Casimiro  Carvalho podia escrever â mãe, com os dizeres , em caixa alta, "Now we have peace" [, Finalmente temos paz].




Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / BlogueLuís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Excerto de uma das cartas enviadas de Gadamael. Na resenha biográfica do J. Casimiro Carvalho, não há grande precisão nas datas,   no que diz respeito ao período em que esteve em Gadamael. O BCP nº 12, a duas companhias (CCP 122 e CCP 123) é enviado para Gadamael a 2 de Junho, seguindo-se a 13 a CCP 121, do Victor Tavares. Regressa a Bissau a 7 de Julho (as CCP 122 e 123) e a 17 de Julho (a CCP 121). Os páras conseguirão travar a ofensiva do PAIGC a partir do momento em que se instalam em Gadamael. 

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(...) Já agora vou descrever um pouco por alto aquilo que ainda está gravado na minha memória. Quando nos disseram em Bissau que íamos para Gadamael, informaram-nos que a situação era muito grave e que não valia a pena irmos carregados, só o necessário para três ou quatro dias. Quando nos aproximávamos de Gadamael, recordo-me muito bem de ver muita tropa à beira do rio, com uma expressão de terror na cara.

Alguns dizem que desembarcámos em botes, mas eu quase afirmava que foi de LDM e era capaz de jurar que só a minha companhia, a [CCP] 122, é que desembarcou nesse dia e não me lembro de estarem lá duas companhias de páras ao mesmo tempo. Penso que a 123 nos foi render para a 122 poder descansar uns dias em Cacine.

Mal chegámos a Gadamael, dois pelotões foram logo para a mata, onde passaram a noite. Em Gadamael apenas se encontravam lá uns quinze ou vinte homens, o resto tinha fugido. Recordo-me que veio logo uma Berliet conduzida por um açoriano muito destemido para evacuar os mortos e feridos. Soube pelo blogue que o José Casimiro Carvalho também fazia parte dos que não fugiram. 

O meu pelotão, o quarto, fazia parte do bigrupo que passou a primeira noite no mato e, quando estávamos a regressar ao quartel, este foi fortemente bombardeado, originando a morte de alguns soldados do exército que tentaram fazer fogo com o obus 140, salvo erro. Estivemos à espera que os rebentamentos acabassem para poder entrar no quartel.

Um dia ou dois mais tarde morreram mais três soldados e um alferes miliciano, vítimas duma emboscada, muito próximo do quartel. Alguém devia ter um grande peso na consciência por ter mandado para o mato um grupo de apenas duas dezenas de militares, se tanto. Este ataque já foi contado pelo José Casimiro e pelo [Carmo] Vicente.

Aqui o Vicente deve estar enganado. Quem foi primeiro recuperar os corpos foi outro pelotão, o nosso pelotão foi enviado em reforço porque tínhamos acabado de chegar do mato. Encontrámo-nos a meio caminho e demos uma ajuda a transportar os corpos que estavam muito mal tratados : tinham o corpo queimado e ferimentos causados pelas balas. O alferes tinha um grande buraco na cara derivado a uma rajada e um soldado nem calças trazia vendo-se bem o efeito das chamas.

Quando chegámos ao quartel, os colegas dos militares mortos estavam no cais à espera e houve um pormenor que me deixou surpreendido e até chocado. Nenhum deles teve a coragem de nos ajudar a carregar os mortos para a Berliet. Os corpos eram postos no chão e o pessoal ia para as valas. Eu próprio os carreguei com a ajuda de colegas. 

Quando estávamos com este trabalho, o IN lançou novo ataque e eu só tive tempo de saltar do paredão do cais para me proteger. Foi a minha salvação pois uma granada caiu no local que tinha deixado. Escapei à uma morte certa por décimos de segundo.

Outro pormenor que me surpreendeu : quando íamos resgatar os corpos, um dos soldados que tinha fugido da emboscada dirigiu-se a mim, suplicando-me por,  tudo quanto me era sagrado, que tentasse recuperar uma medalha ou um fio que a mãe lhe tinha dado. Essa medalha ou fio devia estar no casaco que ele largou durante a fuga. Os ataques iam-se sucedendo e talvez mais espaçados e a tropa que tinha fugido ia regressando ao quartel talvez por se sentirem mais seguros com a nossa presença.

No dia dez de Junho (ninguém no mundo me convencerá que não foi neste dia ) sofremos então uma emboscada que deixou a 122 muito debilitada. Pela manhã fomos montar uma emboscada um pouco distante do quartel. Nada se passou de anormal a não ser uma tentativa do IN em abater um Fiat que voava bem lá no alto:  distinguia-se perfeitamente o fumo do míssil que tinha rebentado.

A meio da tarde, iniciámos o regresso ao quartel. Estava previsto o meu pelotão e mais um pernoitarem na mata, já muito próximo do quartel e estávamos já nesses preparativos, quando se deu a emboscada. Os dois pelotões que lá deviam pernoitar encontravam-se já na mata e os outros dois seguiam pelo caminho que dava acesso ao quartel. Os dois bigrupos encontravam-se em posição paralela,  o que podia ter custado muito caro. 

Claro que foi um erro de quem dirigiu a manobra. Os dois pelotões que iam para o quartel é que deviam ir na frente. Eu por acaso apercebi-me do erro e disse aos meus homens para não dar fogo. Aquilo nunca mais acabava. Quando os caças Fiat vieram em nosso auxílio ainda o combate não tinha acabado. Não havia árvores de grande porte para nos protegermos. O meu colega do lado esquerdo tentava proteger-se atrás dum arbusto que foi ceifado por uma granada logo por cima da cabeça. O que estava do meu lado direito foi levantado pelo sopro duma granada.  possivelmemte dum RPG 7. 

Acreditem que foi verdade,  pois vi com os meus próprios olhos. Há minutos na vida que duram uma eternidade. Resultado da brincadeira :17 feridos, todos causados por estilhaços,  fazendo eu parte desse grupo com um ferimento na cabeça.

Por absurdo que pareça eu fiquei bem disposto e até brinquei com os meus colegas. Quando estes me viram a sangrar da cabeça disseram-me : "Ó meu furriel já pode estar descansado, já acabou a comissão". Mal eles imaginavam que passados oito ou dez dias estava de novo junto deles. Claro que o ferimento não era grave e, derivado ao medo que os médicos tinham do comandante, eu próprio pedi para voltar à minha companhia. 

Quando voltei, já a 122 estava a descansar em Cacine e mal cheguei lá fui presenteado com um ataque de paludismo. Veio logo o capitão Terras Marques dizer-me que tinha que recuperar depressa pois precisava de mim para irmos fazer uma operação à fronteira da República da Guiné.

Voltando um pouco atrás. Fomos então evacuados para Cacine em dois botes que iam superlotados e de Cacine seguimos de helicóptero para Bissau. Quando eu estava no hospital a aguardar transporte para Bissalanca, chegou o homem do monóculo [, o gen Spínola,]  para ver como estavam os feridos. O médico que o acompanhava apontou para mim e disse-lhe que eu era um dos feridos. Dirigiu-se a mim e perguntou-me como se tinha passado. Quando lhe disse que foi no regresso, logo me perguntou se vínhamos pelo mesmo caminho. Pensei logo que estava ali uma armadilha e lá lhe enfiei o barrete. (...)