quinta-feira, 3 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures entre Iemberém e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > 2 de Março de 2008 > Visita, da parte da manhã, ao Acampamanto (Baraca) Osvaldo Vieira... O típico tarrafe (ou mangal) da Guiné, que nos infernalizava a vida, em patrulhamentos junto aos cursos de água... Nas fotos pode ver-se um das escapatórias dos guerrilheiros, em caso de ataque... Havia também pirogas, camufladas, que permitiam também a fuga organizada...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Cópia do Manual do Oficial Miliciano de que o A. Marques Lopes nos mandou uns excertos, como sugestão de leitura... natalícia. Edição do Ministério do Exército (!), Estado Maior do Exército, Rep Instrução... Não deixa de ser irónico: este manual do oficial miliciano foi um presente envenenado para muitos jovens portugueses que passaram pelo TO da Guiné e das outras frentes de guerra, com responsabilidades de comando de homens, mal preparados e mal equipados para uma guerra de contraguerrilha num meio - físico, simbólico e cultural - hostil para qualquer europeu... Basta só reparar num pormenor (hilariante) deste manual: o equipamento com que se partia inicialmente para o TO da Guiné (e antes disso Angola, e depois Moçambique) incluía o capacete de aço... Há, na nossa tertúlia, gente desse tempo... Mas também podíamos falar na total inadequação das nossas rações de combate, de grande parte do nosso armamento, etc. Tudo indica que este manual, editado em 1965, seja uma tradução, apressada e manhosa, de algum manual da infantaria americana da II Guerra Mundial... (LG)

Foto: ©
A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados


1. Texto enviado pelo A. Marques Lopes, com data de 11 de dezembro de 2007, como sugestão de leitura para a época natalícia...

Caros camaradas

Envio-vos o que vem no Manual do Oficial Miliciano, no seu 1.º Volume, Parte Geral, sobre o 'Combate na Selva'. Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume. Dá para ler nas férias de Natal... A. Marques Lopes


CAPÍTULO VII > O COMBATE NA SELVA

146. A GUERRA NA SELVA

a) Considerações gerais:

O termo «selva» a que nos queremos referir é aquela zona de terreno com densa vegetação tropical, com arbustos, árvores acácias, trepadeiras e fetos gigantes que se estende desde as praias e desde as baixas regiões das montanhas até aos cumes.

A vegetação varia em densidade de acordo com a quantidade de luz de sol que penetra através do emaranhado dos ramos das árvores. Nos locais onde a vegetação é espessa, a progressão é excessivamente vagarosa e laboriosa; em muitos casos as colunas de tropas estarão em grande perigo de serem atacadas de flanco ou isoladas e cercadas, pois somente cortando o mato com enorme dificuldade se consegue abrir um caminho.

Cursos de água, quer correndo à superfície quer encaixados, gargantas apertadas e ravinas estreitas, aumentam dificuldades àquelas que a selva já por si apresenta. Em terrenos montanhosos, ribeiros que têm normalmente pequeno volume de água podem tornar-se torrentes perigosas dentro de uma hora, depois de uma chuva abundante.

O terreno é quente e húmido e caracterizado por mudanças bruscas. Num período de alguns minutos o tempo claro e quente pode tornar-se numa chuva torrencial. Com igual rapidez a chuva pode cessar e o sol, incidindo na massa espessa da vegetação, produzirá uma humidade relativa máxima.

A vida desenvolve-se num ambiente de calor e humidade. O perigo dos animais ferozes que existem na selva é em grande parte uma criação da imaginação. Os animais são bastante abundantes nuns lugares e raros noutros, mas mesmo quando são abundantes, só raramente são vistos pelo homem. Muitos animais têm medo natural do homem e o seu instinto de conservação obriga-os a manterem-se escondidos. As cobras pouco se vêem na selva, embora possam ser abundantes. As cobras venenosas, embora muitas vezes não representem uma ameaça fatal, implicam a necessidade de precauções especiais.

Nalgumas regiões, os crocodilos são uma ameaça e habitam nos pântanos, lagoas, rios e ainda nas praias próximas da foz dos rios.

A importância militar da vida animal reside no facto de o movimento rápido de animais e aves poder alertar os exploradores, indicando-lhes a presença do homem. A identificação apropriada das plantas e animais é de um valor incalculável para as unidades e indivíduos que tenham os seus abastecimentos cortados e estejam na dependência das plantas e aniais que possam apanhar para a sua alimentação. Contudo é tão difícil entrar dentro da distância de tiro dos animais da selva que é melhor não contar com a caça como meio de obter alimentos; os frutos carnudos e as plantas são mais fáceis de obter.

Na guerra, na selva, o soldado combate dois Inimigos: o homem e a natureza. O soldado deve ser instruído não só para combater na selva, mas para ser capaz de viver nela e de a aproveitar no combate. A selva é todavia bastante exigente.

Se um indivíduo não se adaptar às condições que ela impõe não será capaz de viver nela muito tempo, mesmo que não exista mimigo humano.

b) Factores característicos da selva:

(1) Visão limitada

A visão é limitadíssima, resultando daí um limitado campo de tiro e alvos que desaparecem rapidamente—aspectos que têm as seguintes consequências:

(a) O constante uso de vários tipos de armas portáteis (a espingarda, a baioneta, a pistola, a pistola-metralhadora, a granada e o lança-chamas) pelo que o combatente deve estar apto a manejar todas igualmente e no momento mais apropriado, devendo sobretudo ser intenso o treino de granada de mão, em virtude de seu notável emprego.

(b) Falta de apoio das armas pesadas e muitas vezes tam bém dos morteiros, devido à dificuldade de observação.

(c) Dificuldades de sinalização à vista, de qualquer tipo, e consequentemente necessidade de nos servirmos do telefone, telefonia sem fios e dos estafetas para fins de intercomunicação.

(d) Necessidade de tomar especiais precauções .contra a surpresa numa emboscada ou várias formas de assalto imprevisto. Quer no ataque, na defensiva, ou na marcha, para qualquer lado que se "caminhe, há flancos descobertos que se podem atingir por caminhos perfeitamente cobertos ou cuja aproximação pode ser obtida a coberto, sofrendo no entanto, como é óbvio, o inimigo as mesmas dificuldades.

(e) Facilidade de envolvimento e infiltração, com notável vantagem para o assaltante.

(f) Necessidade de limpeza dos terrenos próximos quando se ocupa uma posição defensiva no interior da selva com o inconveniente de denunciar a posição à observaçâo aérea inimiga.


(2) Informação pelo som

Ainda que a visão seja má podemos utilizar o ouvido. Consequentemente:

(a) Os homens devem ser treinados para a escuta Devem conhecer todos os ruídos normais da selva, para que possam ser postos em alerta por um som não usual ou pela ausência de ruído. Devem compreender que o silêncio raramente reina na selva e quando a quietude prevalece, deve ser em regra causado pelo receio, despertado pelo homem ou pelo vaguear das feras. O homem deve mover-se silenciosamente.

(b) Devem do mesmo modo, ser treinados para cuidarem dos seus ouvidos. Devem procurar desenvolver o seu poder de audição para tirarem partido dele, no mais alto grau.

(c) Para as sentinelas e patrulhas a protecção é grande- mente facilitada, pois podem permanecer estacionadas e escondidas. Quanto ao inimigo, se avança, move-se ruidosamente, através de pequenos arbustos, sendo a sua presença prontamente assinalada e denunciada; as veredas que possam existir deverão ser guardadas e atravessadas com pequenos arames, minas, armadilhas ou emboscadas, para evitar que o inimigo se sirva delas de modo a obter a aproximação silenciosa.

(d) Quando um homem, individualmente, tenha de se apro- ximar de outro, o assaltante, se avança, não deve rastejar porque agindo assim faz pelo menos mais barulho do que se fosse caminhando direito, e, o que é importante, perde de vista, porventura para sempre, o seu inimigo. Por outro lado, num ataque por uma força militar, em que a direcção geral é fácil de manter, a acção de rastejar é recomendável nos terrenos desen fiados e também porque a tendência do defensor na luta da selva é fazer fogo alto.

(e) E, não somente devemos fazer o maior uso dos nossos ouvidos, mas- devemos também procurar interferir ou reduzir a capacidade inimiga para ouvir e distinguir

(3) Mobilidade restrita

O movimento é difícil e é principalmente limitado às veadas. Por consequência:

(a) Homens e animais têm de marchar, a menos que me- lhores caminhos tenham sido abertos e completados por eles, ao longo de caminhos estreitos e sinuosos, frequentemente em coluna por um. Desta restrição, resulta a marcha ou em colunas multo longas ou em formações de um grande número de pequenas colunas.

No primeiro caso, duas exigências são feitas; primeira, uma severa disciplina de marcha pois que, como tudo o que se estende, resultará num interminável e desalinhado alongamento; a segunda, é que a reparação dos caminhos tem que ser executada em cada sector, à medida que for necessário; de outro modo as tropas da retaguarda encontrarão o caminho impraticável. No caso de numerosas colunas, como os caminhos são raramente paralelos e os impedimentos ao movimento são abundantes e severos, o estabelecimento de ligações laterais apresenta problemas espinhosos. Por esta razão, os altos com o fim de ajustar a marcha têm de ser feitos a horas estabelecidas e feitas correcções, calculadas com grande meticulosidade, para que não haja avanço nem atraso.

(b) Com tais restrições, os movimentos nocturnos são de uma dificuldade extraordinária. Devem raramente ser feitos, porque como principal razão para o seu uso na guerra em campo aberto, é essencialmente, o perigo dum ataque aéreo a tropas marchando de dia, esse perigo dificilmente existe na selva.

(c) Como as reservas quer na sustentação dum avanço ou retirada, quer para apoiar um ataque ou defesa, são incapazes de se moverem livremente de um lado para outro, têm usualmente, ao invés de serem concentratradas, de serem distribuídas em grupos, próximo dos vários núcleos de tropas em primeiro escalão, que elas tenham necessidade de apoiar. Este procedimento acarreta uma indesejável dispersão das forças.

(d) Como os caminhos, raramente têm uma direcção que convém e como correm, no caso de serem para animais para as águas mais próximas e no caso de serem para homens para as aldeias ou terrenos de cultura mais próximos, por toda a parte serpenteando para adear os obstáculos, torna-se difícil manter a direcção que se pretenda e a avaliação das distâncias per- corridas.

(e) A facilidade de movimento depende do vestuário usado. E se alguém tiver alguma dúvida acerca desta verdade, percorra 25 km em calções e botas altas e repita a aventura em «Shorts» e sapatos e compare o resultado.

(4) Dificuldade de Reabastecimento

O reabastecimento dum exército moderno numa floresta tropical é o mais difícil dos problemas.

Quando as colunas estejam distribuídas em profundidade, ao longo de caminhos estreitos não se pode prover ao reabastecimento regular e periódico de grupos numerosos tais como unidades inteiras. Em primeiro lugar, os mantimentos tinham de ser transportados à retaguarda das tropas combatentes, caso contrário interferiam no dispositivo e nos movimentos tácticos. Em segundo lugar, se a testa da co luna chegasse ao acampamento escolhido ao escurecer, como sucede muitas vezes, os escalões de abastecimento teriam ainda uma longa caminhada para chegar às tropas. Em terceiro lugar, o piso, excepto em períodos muito secos, estraga-se devido à marcha dos elementos que seguem na frente, dificultando assim o movimento dos elementos da retaguarda. Finalmente, quando a perspectiva da luta é eminente, é aconselhável cessar o transporta de mantimentos, construir um abrigo e montar-lhe uma guarda, operação que mais uma vez contribuiria para a perda de tempo. Ainda, quando uma força considerada esteja em movimento, não há a certeza se as rações chegarão muito tarde ou mesmo no dia seguinte. Por estas razões e porque uma grande parte do trabalho da floresta é feito por homens aos pares, ou em pequenos grupos, será normalmente necessário entregar as rações individualmente.

A água é o requisito mais importante; porque, apesar de abundar nas florestas é facilmente expelida do corpo humano, devido à alta temperatura e humidade, tendo que ser substituida para o soldado se conservar activo. Deve, portanto, haver muito cuidado. A água deve ser servida purificada ou fervida.

Altemadamente deve-se misturá-la com pastilhas esterilizadoras que são fáceis de se transportar.

A seguir, em ordem de importância vêm as munições e o seu transporte. Condensado e pesado é um fardo considerável, especialmente quando., o que é frequente, as tropas têm de ser empregadas no seu transporte. Para isso as munições devem ser empregadas com muita economia.

Finalmente, porque no caso de emergência o homem pode viver sem comer durante alguns dias, vêm os alimentos.

A dificuldade de fornecimento de abastecimento e a irregularidade da sua distribuição, sugere que o soldado deve ser encorajado a ser frugal e a viver como for possível em qualquer região.

No reabastecimento de alimentos e munições, e, particularmente, em tempo oportuno, no de armas de fogo e outros materiais, as forças aéreas podem prestar incalculáveis auxílios. Para facilitar o lançamento de tais abastecimentos as colunas têm usualmente que fazer consideráveis clareiras. No entanto, as tropas, no terreno, devem estar sempre prontas para cobrir falhas ocasionais, cultivando a sua capacidade para viver da região.

(5) Perigos para a saúde

A selva é insalubre, quente e húmida e é, nas estações das chuvas, umaq região de chuva torrencial. Está impestada de cobras, sanguessugas, aranhas, mosquitos e muitas outras espécies peçonhentas. É o inimigo número dois, e na verdade, para tropas inexperientes, é muitas vezes nais perigosa do que o homem, que é o inimigo número um.

Os médicos e os enfermeiros nem sempre podem estar presentes num lugar onde as tropas marcham e às vezes não existem comunicações. Portanto, se quisermos reduzir as pesadas baixas por motivo de doença, o soldado deve saber alguma coisa de higiene pessoal. Ele deverá compreender, principalmente, a necessidade do banho, se não for possível todo o corpo, pelo menos os sovacos, as articulações e os pés. Ê absolutamente necessário que o soldado considere isto tão importante como o treino militar. Quase tão necessário é a noção do uso de antídotos e o tratamento de mordeduras.

Outros pontos principais são: o uso de latrinas à prova de moscas e pulverização nos pântanos próximos com matérias desinfectantes, a limpeza completa dos recipientes de alimentação antes e depois das refeições, enterrar os restos das cozinhas e latas de conservas vazias e a construção de chuveiros improvisados.

(6) Dificuldade de observação aérea

As acções na selva estão ao abrigo da observação aérea, por conseguinte uma superior força aérea pode prestar relativamente pequeno apoio às tropas por acção directa.

Pelas considerações atrás escritas vê-se perfeitamente que a guerra na selva é intensamente individual. Muitas vezes o soldado tem de atacar ou defender-se contando só consigo. Muitas vezes caminha isolado e se se, perde é o próprio provisor, cozinheiro, médico, carregando ele próprio as munições.

Tudo isto se impõe o sacrifício de um grande número de horas de treino individual com o fim de os princípios fundamentais, por constante repetição, se tornarem hábitos.

147. O SERVIÇO NA SELVA

a) A instrução para o serviço na selva

(1) Condições físicas


Durante a instrução para as operações na selva, deve ser dada especial importância às condições físicas. Nos períodos finais da instrução todo o trabalho deve ser no campo. Devem-se realizar frequentemente marchas difíceis e os exercícios tácticos devem ter lugar nos piores terrenos.

(2) Aclimatação

Antes de entrar nas áreas de combate da selva, as tropas oriundas dos climas temperados devem ser submetidas a um período especial de instrução, que irá aumentando gradual- mente em rudeza e dificuldades, numa zona de selva de clima e terreno semelhantes àqueles onde futuramente vão combater. Para as tropas experimentadas, um período de quatro semanas é suficiente. Períodos mais longos resultam em cansaço e diminuição de eficiência.

Nos trabalhos, de início, a exposição ao calor deve ser progressiva. O homem aclimatado mostra-se alegre e executa o seu trabalho energicamente e sem esforço. Em contraste, o homem não aclimatado, trabalhando ao calor, torna-se estúpido e apático, executa o trabalho em más condições e pode manifestar, em vários graus, os sintomas e sinais de exaustaçâo pelo calor.

(3) Necessidade de água

Na selva, onde a humidade é elevada, o suor não evapora mas corre pela pele, por isso o arrefecimento é menos eficiente e as perdas de água são elevadas.

Quando a temperatura é elevada, um homem em descanso pode perder, pelo suor, cerca de melo litro de água por hora; se trabalhar, as suas perdas de água aumentarão na razão directa da quantidade de trabalho realizado. O pessoal que executa trabalhos pesados, como os Sapadores, homens marchando a pé, necessitam cerca de 10 litros de água por dia. Qualquer restrição de água abaixo do nível necessário para um homem resultará numa rápida perda de eficiência, redução nas possibilidades de trabalho e abaixamento de moral. Os melhores resultados obtêm-se tomando a água em pequenas quantidades sempre que haja sede.

(4) Necessidade de sal

Em todas as circunstâncias, a perda pelo suor de um grande volume de água é associada a uma perda de sal. A quantidade de sal ingerido com a comida normal é o suficiente para restabelecer e recompletar o perdido, quando o total da água ingerida é inferior a 5 litros por dia. Acima desta quantidade é necessário adicionar sal, e a melhor forma de o ingerir é em solução na água que se bebe. Ë absolutamente necessário que se tome sal nos primeiros dias de exposição ao calor, uma vez que as perdas de sal são então maiores que depois da aclimatação.

Não é recomendável o consumo de tabletes ou comprimidos de sal sem serem dissolvidos em água.

(5) Insolação, exaustação e cãibras

As tropas em instrução ou em operações nos climas quentes podem sofrer efeitos de doenças devido à exposição a altas temperaturas. Este facto aumentará se houver, também, grande humidade. Três estados bem definidos se podem apresentar e que devem ser conhecidos de todos. São eles: a insolação, a exaustaçâo e as cãibras. As causas e os métodos de evitar estas doenças são semelhantes. Contudo produzem sinais distintos, e qualquer deve ser capaz de reconhecer imediatamente, por forma a ministrar os cuidados e atenções necessárias às vitimas:

— Insolação

Este estado, muitas vezes, aparece repentinamente. Dá dores de cabeça, tonturas, muitas vezes com náuseas e vómitos, dando então colapso, delírio e inconsciência. O primeiro sinal pode ser o colapso. É importante lembrar que a pele estará quente e seca. É devido a este facto que na insolação a temperatura sobe bastante (41 "C ou superior).

Tratamento de emergência: Fazer baixar rapidamente a temperatura do paciente. Quando no campo, não esperar por tratamento médico ou por ambulância, mas tirar imediatamente a roupa do paciente, excepto os calções, e, quanto possível, espargir o corpo com água. Ter alguns ajudantes friccionando energicamente os braços, pernas e tronco para aumentar a circulação do sangue na pele, enquanto outros o vão abanando (arejando) continuamente, a fim de aumentar a velocidade de evaporação da água e o seu correspondente efeito de refrigeração. Os cuidados médicos devem ser assegurados logo que possível e o paciente deve ser hospitalizado. Contudo, as medidas de arrefecimento do corpo devem continuar durante a transferência do paciente para o hospital.

— Exaustação

Este estado manifesta-se por dores de cabeça, adormecimento, extrema fraqueza, tonturas e incapacidade para andar. Poderá também ter cãibras. É importante lembrar que na exaustação a pele está húmida, fria e viscosa. Apesar de este estado se verificar com frequência, a percentagem de mortes é baixa.

Tratamento de emergência: Colocar o paciente num lugar fresco, onde possa descansar e tomar grandes quantidades de água salgada. Isto, normalmente, bastará para a recuperação. Contudo, não se deve tentar a sorte, mas sim assegurar os cuidados médicos ou hospitalizar o paciente.

— Cãibras

As cãibras são manifestadas por espasmos dolorosos dos músculos, com mais frequência nas pernas, braços e parede intestinal. Variam de simples aborrecimentos a severa e completa incapacidade.

Tratamento de emergência: Estes sintomas são directamente devidos à perda de sal do corpo. Desaparecem quando a perda do sal é recuperada. O tratamento consiste em beber livremente água salgada. Os casos graves devem ser hospitalizados e possivelmente tratados com Injecções de solução de sal, intravenosas.

(6) Instrução mental e psicológica

Os efeitos psicológicos da selva só podem ser totalmente vencidos pela experiência, se bem que as palestras sobre moral também sejam vantajosas. A instrução em áreas da selva é o melhor meio para os vencer. No combate da selva, como aliás em toda a espécie de combate, o treino mental e psicológico, a fim de acostumar a mente dos homens aos rigores do campo de batalha, é essencial. Exercícios de fogos reais, de explosivos, tiro por cima das nossas tropas e outros exercícios tendentes a darem a ideia real do campo da batalha, são de grande importância, porque a própria selva, só por si, é mais uma dificuldade a juntar às das outras áreas de combate.

b) Necessidades do serviço na selva

(1) Disciplina

Para o sucesso das operações na selva é absolutamente essencial um invulgar estado de disciplina—disciplina mental, disciplina de camuflagem, disciplina de fogo, disciplina de marcha, disciplina de luz. Todas as fases do combate devem ser norteadas por um estrito senso dos efeitos que uma acção individual possa ter na acção do conjunto. A disciplina, em todas as suas formas, deve ser inculcada na mente de todos, de forma que não só cada um se conduza convenientemente, como também saiba que os outros homens da unidade farão o mesmo sob as mesmas condições de incerteza e desânimo. Na selva, em todas as fases do combate, é essencial que os comandantes das unidades tenham uma grande noção da disciplina.

(2) Desconfiança

O combatente na selva deve desconfiar de tudo. O grau de ocultação que a selva oferece requer vagarosa e cuidada pesquisa do inimigo. Os elementos destacados em missão de segurança devem pesquisar todos os lugares de possível ocuitacão, a fim de evitar ultrapassar qualquer grupo de inimigos, que os poderão atacar de flanco ou pela retaguarda. Há sempre a possibilidade de observadores Inimigos estarem abrigados nas proximidades para descobrirem e relatarem os preparativos da nossa próxima operação. É preferível, pois, pensar que o inimigo está sempre próximo, observando e escutando. Na selva, a visibilidade limitada facilita a táctica da surpresa; uma surpresa engenhosa pode frequentemente permitir que uma pequena unidade vença outra de maior efectivo. Podem aplicar-se estratagemas de várias espécies. Demonstrações de força numa área, enquanto se ataca noutra; emboscadas e infiltrações para atacar postos de comando, postos de reabastecimentos ou comunicações; largo uso de atiradores especiais são formas de tácticas de surpresa que flagelam o inimigo e que se adaptam bem aos terrenos da selva. B preciso não esquecer que o inimigo também utiliza estratagemas e devemos estar prevenidos para não cairmos vitimas da surpresa.

(3) Paciência

Um dos principais requisitos das operações na selva é o segredo. Os movimentos furtivos requerem paciência. Da mesma forma é preciso paciência para deter os movimentos furtivos do inimigo. A paciência, embora não seja característica de todos os homens, pode ser aprendida e desenvolvida com a prática. E essencial no sucesso das operações na selva.

(4) Vedetas e patrulhas

As pequenas patrulhas de atiradores, quando bem treinadas, poderão mover-se através da selva, evitar os postos avançados nimigos, deslizar através das defesas inimigas e penetrar nas áreaa inimigas da retaguarda. Tais patrulhas, muitas vezes, constituem um dos mais importantes meios à disposição do comando para obter informações do inimigo.

A instrução especial dos elementos de tais patrulhas deve incluir grande número de conhecimentos sobre a selva, treino de ocultação, movimento, observação, conhecimentos característicos e hábitos do inimigo e ainda identificação das armas pelo som.

(5) Arte de comandar

As privações das operações da selva reclamam um bom comando. As dificuldades de controle obrigam a uma descentralização que resulta num importante aumento de acções elementares. Assim, os oficiais subalternos e os sargentos devem possuir extraordinária Iniciativa, bravura e decisão. Um importante objectivo da instrução é o desenvolvimento da confiança própria em todos os indivíduos.

c) Armamento, fardamento e equipamento

(1) Armamento

O armamento tem muitas vezes de- ser reduzido, tal como as munições, ao que possa ser transportado pelas próprias tropás ou nos limitados transportes capazes de as acompanharem. Isto, frequentemente, reduz o número de armas de apoio, requer que os planos tácticos sejam baseados fundamentalmente no uso de armas que possam ser transportadas à mão, que se não utilizem muitas munições e que estas não sejam muito pesadas. As ordens referentes à quantidade de munições, espécie de munições e armas que devem ser transportadas são decisões do comando, depois de cuidadosas considerações sobre as dificuldades de transporte e dos tipos de armas necessárias para cumprir a missão.

As armas mais convenientes para serem usadas na guerra da selva, onde a observação e o campo de tiro são muito limitados, são armas de curto alcance, de fácil remuniciamento e fácil transporte sobre terreno difícil. As armas que reúnem melhores condições são a espingarda, a baioneta, a espingarda-metralhadora, a pistola-metralhadora, a carabina, granadas de mão e de espingarda, a catana e a faca de mato.

Metralhadoras ligeiras, metralhadoras pesadas, os morteiros ligeiros e médios são armas menos manobráveis, menos convenientes para o emprego momentâneo e necessitam de munições mais difíceis de transportar; contudo, são de muito valor e podem ser transportadas em pequenos carros ou às costas dos homens. Os morteiros de 60 e 81 transportam-se mais facilmente e a sua eficiência na guerra da selva é igual à dos modelos mais pesados. Os lança-foguetes, utilizando munições carregadas com explosivos ou fósforo branco, são esplêndidas armas contra tropas abrigadas, em cavernas ou contra posições defensivas bem construídas; os lança-chamas são também eficientes contra tais posições.

(2) Fardamento e equipamento

Na selva, cada artigo de fardamento e equipamento deve ser considerado em função da sua necessidade e utilidade. A leveza é fundamental devido às dificuldades de transporte. Devem fazer-se todos os esforços para reduzir ao mínimo o equipamento, mas deve haver o máximo cuidado em não omitir equipamento essencial.

O fardamento justo e apertado não é conveniente pois torna-se quente e reduz os movimentos.
O calçado com sola, fornecido para a campanha, satisfaz em geral.

O capacete de aço pode ser facilmente camuflado, usando folhas e ramos que se seguram com a rede de camuflagem do capacete.

(Continua)

Guiné 63/74 - P2716: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (1): Inscrições, aceitam-se (Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do Carlos Vinhal, o co-editor do nosso blogue que foi mandatado pela equipa do blogue para coadjuvar o Joaquim Mexia Alves na organização do III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia, em Monte Real, Leiria:



Camaradas e amigos Tertulianos:

Não tem tido grande afluência de inscrições para o nosso III Encontro Nacional, em Monte Real, talvez pela indefinição da data. Resolvemos assim definir uma data concreta e definitiva. De entre os dias que estavam para votação, escolhemos o dia 17 de Maio, como podem constatar no anúncio já publicado na nossa página.

Estamos a ultimar o programa do dia, que contemplará um tempo para uma Assembleia Geral (curta e conclusiva), onde serão discutidos assuntos do maior interesse para o futuro do nosso Blogue. Brevemente será tornado público a Ordem de Trabalhos.

Haverá um tempo alargado para animação musical a cargo dos nossos privativos e conceituados artistas, que os temos e bons. Apareçam eles. O Joaquim Mexia Alves está a estudar a hipótese de organizar um passeio turístico, especialmente para as senhoras, ali pelas redondezas de Leiria que é uma zona muito bonita.

A todo o tempo haverá notícias dos custos do almoço, passeio turístico e dormidas.

Para que se possa começar a trabalhar, as pessoas interessadas no Encontro deverão enviar já as suas inscrições com indicação do número de acompanhantes e se pretendem alguma dormida na zona.

Um abraço para todos do vosso camarada e amigo

Carlos Vinhal

OBS:- QUEREMOS INSCRIÇÕES PARA COMEÇAR A TRABALHAR.



2. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, que é a alma (e o corpanzão!) deste III Encontro:

Caros amigos

Desculpem a insistência mas a verdade é que é mais fácil e melhor discutir preços com muita afluência de gente do que com pouca e se deixam tudo para o fim, deixam-me sem argumentos para discutir.

Além do mais os artistas são caros e só actuam para grande púlico!!!! E não acredito que não queiram ficar para a posteridade na apresentação mundial, ao vivo e a cores, do Fado da Guiné!!!

Vêm televisões de todo o mundo!

Ah, e podem usar telemóveis porque não admitimos cá professoras caretas... (Isto é a gozar...porque o assunto foi sério!).

Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Telef. 244619020

3. Lista de inscrições, até ao momento

Joaquim Mexia Alves
A. Marques Lopes, esposa e filho
António Santos e esposa Graciela Santos
Artur Manuel Soares
Carlos Esteves Vinhal e esposa Dina Vinhal
Carlos Marques Santos e esposa Teresa Marques Santos
Carlos Silva e esposa Maria Germana Silva
David Guimarães e esposa
Delfim Rodrigues
Fernando Franco e esposa Margarida Franco
Henrique Matos
José Armando Almeida e esposa Teresa Almeida
José Martins e esposa Maria Manuela
Leopoldo Amado
Luís Graça e esposa Maria Alice
Luís R. Moreira
Mário Fitas e Esposa
Maurício Esparteiro
Raúl Albino
Victor Alves
Virgínio Briote e esposa Maria Irene
Vitor Junqueira

Periodicamente iremos publicando a lista actualizada.

As inscrições deverão ser dirigidas para Joaquim Mexia Alves, com conhecimento a Carlos Vinhal.

Pedimos aos cavalheiros que se fazem acompanhar das suas bajudas que indiquem os nomes delas.

Como aconteceu em convívios anteriores, podem participar ex-militares combatentes da Guiné não Tertulianos, ou civis que tenham alguma afinidade com aquele maravilhoso País que é a Guiné-Bissau. Quem vier com um nosso amigo, nosso amigo é.

Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Restos do antigo aquartelamento das NT, abandonado em Janeiro de 1969... De quem seria estas inscrições no cimento dos abrigos ? Seguramento dos primitivos construtores: Barreto... Globe-Trotters...

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Hugo Guerra, dirigida ao José Teixeira, com conhecimento aos editores do blogue, com data de 30 de Março (1):


Zé Teixeira:

Como dizíamos na tropa estava à espera "que te apresentasses" (brincadeira, claro) para encetarmos este papo entre nós que começou nos idos de 1968.

Já hoje tinha andado a bisbilhotar o blogue para ver se estavas atento e, como respondeste para o mail da minha mulher, só agora te respondo. Vamos pôr as nossas memórias em dia, se possível (2):

(i) Cheguei à Aldeia Formosa de Helicóptero e saí para Gandembel também de Heli.

(ii) Era mesmo este sub-nutrido (54 kilos) que conheceste na Aldeia e vou contar-te porque fui parar a Mampatá. Nessa altura, Gandembel embrulhava todas as noites e, embora eu estivesse em trânsito para lá, houve uma noite que na hora de jantar começou o fogachal e o Major Azeredo mandou o Alferes Artilheiro mandar umas obuzadas para lá, para aliviar a pressão.Já era hábito para vocês mas para mim foi de tal maneira horrível que era aquilo que me esperava, que tive um ataque de choro que só acalmou quando o Médico me pôs a dormir.

(iii) No dia seguinte, mais calmo, fui eu que pedi ao Major que me deixasse ir dormir a Mampatá umas noites para me ambientar (e esconder a vergonha, claro).

(iv) Aí nos devemos ter encontrado, mas as minhas recordações são muito diluidas. Recordo-me que foi a minha primeira noite debaixo do chão no abrigo do Alferes que comandava o destacamento. Gandembel tornou a ser flagelada mas lá me aguentei e tomei a decisão de ir ter com o meu Pel Caç Nat 55 o mais rápido possível.

(v) Não fui, portanto, na coluna que referes, mas sim num heli que ali parou com destino a Gandembel e, como eu pesava pouco, deram-me boleia.

(vi) Quanto à Chamarra só não nos encontramos por dias, sei lá. Eu vinha de Ponte Balana na coluna de 19 de Janeiro [E 1969] e fomos descomprimir na Aldeia Formosa durante uns dias. Fui para a Chamarra substituir o Alferes Magro, com o meu Pel Caç Nat 55. A CCAÇ 2317 seguiu para Buba na mesma altura que tu, penso eu.

(viii) Fiquei na Chamarra até vir de férias ao Continente, em Junho ou Julho desse ano e depois.... Bem, é outra estória para outro dia.

Foi bonito o teu gesto carregado de simbolismo em Gandembel (3).

Tive muita pena de não poder ir mas o meu médico quebra-ossos desaconselhou-me de todo. É o Francisco Silva que foi com vocês.....Que raiva.

Para já um grande abraço
do Hugo Guerra
___________

Notas dos editores:

(1) O Hugo Guerra, hoje Cor DFA, comandou os Pel Caç Nat 55 (que esteve adstrito à CCAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra, 1968/69) e depois o Pel Caç Nat 50 (S. Domingos, 1969/70):


(2) Vd. postes de:






quarta-feira, 2 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)

Capa do livro de Manuel Dias Belchior, editado no início da década de 1960, A Grandeza Africana – Lendas da Guiné Portuguesa.

Foto: © Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Texto enviado pelo Torcato Mendonça, alentejano e algarvio, andarilho, cidadão do Fundão, cidadão do mundo, nosso querido amigo e camarada, ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69:



GRANDEZA AFRICANA > LENDAS DE FULAS E MANDINGAS


Em Julho de 1963, ofereceram-me alguns livros sobre África. Restam-me alguns, devido mais ao meu saltitar por vários poisos do que à voragem do tempo.

Foram trazidos agora á luz do dia, quando, talvez em Maio de 2006, senti vontade de falar de África apesar de, mentindo, mais a mim do que aos outros, ter dito: A guerra há muito acabou para mim… mas digo só que o Malan… foi o primeiro de demasiados escritos, ao longo destes quase dois anos.

Para melhor, não digo recordar, mas para ter mais a certeza do que escrevia, procurei certos livros, agendas e outro material. Lá estava este livro. Saiu portanto, do arquivo morto (onde já ouvi isto?!), A Grandeza Africana – Lendas da Guiné Portuguesa. Autor, o Dr. Manuel Dias Belchior, com muito belas ilustrações de José Antunes. O prefácio é do Major Carlos Gomes Bessa, (em 1961/63?), Comissário Nacional para o Ultramar da Mocidade Portuguesa.

Lembram-se da Mocidade Portuguesa? Óptimo. Camisa verde…cinto com fivela com S, de serviço… e lá vamos nós cantando e rindo.

No livro, além da beleza das ilustrações, temos, fruto da pesquisa do autor, quinze lendas de mandingas e fulas, desde o Século XIII até ao Século XIX; do Velho Mondem (foco original dos mandingas) ou no reino fula de Maciná – transcrição do livro, página 18. As últimas lendas já se passam na actual Guiné – Bissau.

Deve ser lido para assim melhor compreendermos o sentir e a cultura de outros Povos que connosco conviveram durante quase cinco séculos. A partir dos anos sessenta muitos de nós por lá andaram dois anos. Curiosamente, alguns tecem hoje rasgados elogios “ao bom povo… às boas gentes… que antes eram os sacanas dos turras e nharos de merda…e, porque não alguns, talvez devido ao excesso de sóis africanos, ainda dizem, hoje, que aquele povo não é capaz de"…

Não quero, ao escrever assim, ofender puristas ou anti-puristas. Colonialistas ou anti-colonialistas. Cada um é livre de sentir e viver como entende. Mas sejam frontais a bem da verdade. Compreende-se contudo certas tomadas de posição.

Este livro, estas lendas, abordam e mostram algo que merece relato, certamente propiciador de um maior e melhor conhecimento da cultura Africana e Guineense em particular.

Não comento o livro e menos ainda transcrevo qualquer lenda. Abordo muito ligeiramente o posfácio. Nele fala-se de um Homem Grande , nosso contemporâneo, a viver em Aldeia Formosa (hoje Quebo) e visitado pelo autor do livro. Esse Homem Grande era Cherno Rachide.

Ficou o autor encantado com o seu saber e simplicidade. Depois de conversarem e antes de se despedirem, Cherno Rachide, a pedido do autor, ofereceu-lhe escrito em árabe a sua canção – A Canção de Cherno Rachide, cantada diariamente pelos seus alunos.

O autor tentou, segundo diz, na transcrição para português, manter o ritmo e a musicalidade.

É essa canção que a seguir transcrevemos.

«Cherno Rachide mostra-se grato, pelo Governo da Província por haver possibilitado a realização do sonho de sua vida: a peregrinação a Meca». Transcrito do livro.

Se não for abuso talvez, um dia, se transcreva uma ou outra lenda. Talvez possa ter interesse, mais á cultura mandinga e fula ou Guineense.

Talvez…mas se tem para mim porque não para outros… Um dia…talvez!


Abril/08 TM
_______________________________

Canção do Cherno Rachide
tr e adapt. do árabe: Manuel Belchior

Filhos amados, vosso pai Rachide
Uma regra de vida vos vai dar,
Segui-a com rigor e não tereis
Nada que lastimar.
Raparigas sabei que um homem espera
Encontrar na mulher três qualidades:
Respeito aos seus segredos, ao leito
E a todas as vontades.
A vós rapazes dou-vos um conselho
Que todo o sábio para si tomou
De outro, ainda mais sábio, Logomane
Que outrora assim falou:

- «Deves ter fé em Deus que tudo vê
«E tudo pode acerca dos mortais
«Trabalha com ardor e serás útil
«A ti e aos demais.

- «Estuda e elevarás a tua alma
«Que os livros bons te podem ensinar
«Muitas coisas Formosas deste mundo
«E a Deus agradar.

- «A palavra, o alimento e o sono
«Como remédio deverás tomar:
«O bastante p’ra que o corpo não sofra
«Mas sem nunca abusar.

- «A boca é uma e as orelhas duas
«Isso te indica como proceder
«Usa o ouvido mais do que o falar
«E saberás viver.

- «Em três partes o estômago divide
«P’ra comida só uma reservar
«As outras hão-de ser bem necessárias
«P’ra água e para o ar.

- «A noite é grande e não deve ser gasta
«Do sol posto à manhã, toda a dormir,
«Destina parte dela à oração
«Terás feliz provir.

- «Deves casar p’ra nunca cobiçares
«Mulher doutro. Não nego, o casamento
«Traz desgosto profundo.
«Mas se a fêmea procuras fora dele,
«Em vez desse desgosto terás dois
«Neste e no outro mundo".

Meus filhos, quem seguir estes conselhos
No decurso da vida há-de contar
Satisfação a esmo.
E maiores triunfos que o atleta
Que vença toda a gente nos torneios,
Pois vence-se a si mesmo.

_____________

Notas de L.G.

(1) Referência bibliográfica constante da página
Memória de África, com a seguinte i

[190874]
BELCHIOR, Manuel
Grandeza africana : lendas da Guiné Portuguesa / Manuel Belchior ; capa e il. de José Antunes. - [S.l. : s.n., s.d.] (Lisboa : Oficinas de S. José : Edições O Mosquito. - 125 p., 23 p. il. ; 25 cm
Descritores: Artes Literatura Cultura regional Guiné
Cota: 2048/04AHSTP

Outras publicações referenciadas, de Manuel Dias Belchior ou Manuel Belchior:

Nas vésperas de um centenário : a grandeza de Mousinho / Manuel Dias Belchior In: Boletim da sociedade de geografia de Lisboa.- série 73, nº 1- 3 (Jan.- Mar. 1955), p. 47- 66.

Sobre a origem do termo Guiné / Manuel Dias Belchior.- In: Boletim Cultural da Guiné portuguesa / Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. - vol.XVII, nº 65 (Janeiro 1962), p.41-56.

Presença da Guiné / Manuel Belchior. In: Portugal em África. - Vol. 20 (1963), p. 240-250

Evolução política do ensino em Moçambique / Manuel Dias Belchior. - Lisboa : ISCSPU, 1965. - 42 p.

La actualidad social en las provincias portuguesas de Ultramar / Manuel Belchior. In: África. - Anõ 22, nº 282 (Jun 1965), Tercera epoca, p. 16-18

Fundamentos para uma política multicultural em Africa / Manuel Belchior. - [S.l. : s.n.], 1966. - 311 p.

O espírito ecuménico dos portugueses e seu valor gráfico actual / Manuel Belchior. In: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. - vol. XXII, nº 87-88 (Julho-Out. 1967), p. 293-308.

Para uma idade de ouro no ultramar português / Manuel Belchior. In: Permanência: revista mensal de actualidades ultramarinas. - ano 1, nº 6 (Out. 1970), p. 17, il..

Les congrés du peuple de la Guinée / Manuel Bechior. - Lisboa : Arcádia, 1973. - 126 p.


(2) Sobre o Cherno Rachide (ou Rachid), vd. posts de:

4 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)

18 de Abril de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)

16 de Dezembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).

Sobre o Islão e a Guiné Portuguesa, vd. também o texto de Francisco Garcia:

FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA > Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)

(...) "De acordo com o 'Relatório de Serviço' (...) , na antiga Província Portuguesa, de 16 de Junho de 1972, elaborado por Amaro Monteiro na sequência de missão determinada pelo Ministro do Ultramar, as linhas de articulação dos dignitários islâmicos, no âmbito interno e no contexto africano, eram:

(...) "2) No tocante à confraria Tidjanya, dizia a mesma fonte:

"Os dignitários islâmicos mais proeminentes eram Al-Hajj Cherno Rachid Djaló (futa-fula) de Aldeia Formosa (rebaptizada Quebo, após a independência), o Xerife Secuna Haydara (de linhagem xerifina) de Ingoré e, em Cambor, o Al-Hajj Cherno Mamagari Djaló (futa-fula).
"Cherno Rachid apresentava, como figura tutelar, seu irmão Al-Hajj Califa Mamadu Cabiro Djaló com posição prioritária honorífica e consultiva, embora o autêntico poder de accionamento fosse detido pelo Cherno Rachid. Articulava-se em consulta ao Califa Abdul Azis Sy (em Tivouane, a NE de Dakar) e, suplementarmente, a Al-Hajj Seydou Nourou Tal do mesmo país (em Dakar), conselheiro governamental e 'director de consciência' dos tidjanistas tocolores e guineenses. Exercia influência religiosa interna do tipo polarizante em todo o território, nomeadamente na áreas de Fulacunda e Gabú (postos não especificados) e, externa, como consultor, no Senegal (Casamansa), na República da Guiné (pontos não especificados) e no Mali (Bamako). Manifestava acatamento xerifino do tipo idêntico ao dos pólos de Jabicunda e Bijine tendo, também, feito a dádiva recomendável ao Xerife Yussuf Haydara" (...).

Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (11): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

Com o pedido de publicação, recebemos do Coronel M. Amaro Bernardo (1) o seguinte texto:

Resposta a um Combatente

(…) Foram centenas os fuzilados que este conjunto de papéis sob a forma de livro nada refere. Não se exalta o esforço dos “Comandos” esquecendo os outros. (…)
Mário Beja Santos, in site de Luís Graça, em Março de 2008 (2)

Este combatente que cumpriu uma comissão na Guiné em 1968-70, veio a público manifestar a sua opinião sobre o meu livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros. Guiné, 1970-1980, lançado em Novembro passado, na Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, onde foi apresentado pelo General Ricardo Durão (que já o prefaciara), oficial de operações do Comando-Chefe da Guiné e pelo Sargento guineense José Monteiro, Presidente da Associação dos Antigos Combatentes da Guiné.


A reportagem desta apresentação encontra-se num vídeo, que pode ser consultado num site independente de dois comandos, o “Passa-palavra”.
Como a crítica feita é a única excepção em relação aos comentários elogiosos que me chegaram dos mais diversos sectores, poderei deduzir tratar-se de um texto encomendado face a alguma possível solidariedade cívica, já que é do conhecimento geral que um dos oficiais posto em xeque neste livro pelo seu comportamento na Guiné, em 1970, pertence à maçonaria.

Assim, e dada a consideração que me merecem os leitores deste site de Luís Graça, venho esclarecer uma série de apreciações equívocas e falaciosas produzidas no seu texto. Parece-me que Beja Santos fez apenas uma leitura apressada e enviesada da obra em causa, pois surgiram afirmações que são completamente incompreensíveis.

1. É mentira que não me tenha referido às centenas de indivíduos fuzilados ao longo do consulado de Luís Cabral, e apenas aos 53 oficiais, sargentos e praças dos “Comandos” africanos. No anexo I ao Cap. VIII, que tem o título “Fuzilamentos Clandestinos na Matas da Guiné” (pp 135 a 138) são referidas nominalmente as 99 pessoas que o PAIGC de Nino Vieira, afirmou (no seu jornal oficial Nô Pintcha), terem sido fuzilados e enterrados em valas comuns em Cumeré, Portogole, Mansabá e Farim.


Nessa lista Beja Santos talvez possa encontrar algum dos homens que com ele serviram nas milícias. Aquele jornal declara terem sido referenciados 500 mortos em valas comuns de 35 a 38 pessoas, mas nas suas edições apenas indicou aqueles.

A seguir, no Anexo II, do mesmo capítulo (pp 139 a 141) são referidos também nominalmente 97 indivíduos, assim descriminados: um ex-deputado; 11 régulos; 6 sargentos, um 1.º cabo e 27 soldados da guarnição normal, 7 sargentos e 6 marinheiros fuzileiros especiais; 18 milícias (incluindo comandantes de Jabadá, Mansabá, Empada, Gampará, Jolmete e Bissorá); três cipaios; e mais 17 sem indicação das funções que desempenhavam. Também nesta lista poderá Beja Santos verificar se foram fuzilados os homens que serviram sob as suas ordens.
Não se consegue bem definir se apenas foram aquelas cinco centenas os fuzilados pelo PAIGC. Segundo o Marechal António de Spínola terão sido milhares (pp. 130) e de acordo com o Sargento Julde Jaquité Semedo, que se exilou no Senegal, foram mais de mil pessoas, entre “comandos”, fuzileiros, milícias, caçadores nativos, régulos e chefes de tabancas, incluindo os que foram obrigados a regressar daquele país (ao abrigo de acordo existente) e foram mortos em Cuntima e Cumeré. (pp. 350/351).

2. Quanto ao restante conteúdo do livro que este combatente considera mal estruturado, sem lógica sequencial e ”afundado num mar de equívocos e contradições”, aconselho a atentar na cronologia feita desde Abril de 1969 a Janeiro de 1981 (pp. 363 a 377) e na sequência temporal dos textos, desde o cap. II, com a operação da invasão de Conakry (1970) até ao capitulo VII intitulado a “Transição da Guiné-Bissau para a Independência” (1974).

Beja Santos não queria que eu investigasse apenas o período de 1970 a 1980. Não sei porquê, pois foi esse decénio que me propus fazê-lo. Devo chamar a atenção dos leitores para o facto de não me considerar historiador, mas apenas um investigador de História Contemporânea.
Repare-se que, no final da Introdução, afirmo: “Espero que as pistas deixadas neste livro, em relação a década tão conturbada da vida da Guiné-Bissau, possam ter alguma utilidade para a análise histórica posterior”.


Também se nota que não lhe agrada a figura de António de Spínola, que poderá ter sido um fraco político no pós-25 de Abril, mas que foi considerado um grande cabo de guerra, a par de Costa Gomes (Moçambique e Angola), Bettencourt Rodrigues (Angola e Guiné) e, para alguns, Kaúlza de Arriaga (Moçambique).

Claro que, segundo alguns analistas, também terá praticado alguns erros na Guiné, como terá sido a retirada de Madina do Boé, “permitindo assim que o corredor de Guilege fosse uma grande ameaça para nós” (Salifo Djau, pp. 353/354).

Quando diz que “em 1972 o PAIGC já tinha conseguido acantonar as forças armadas portuguesas nos quartéis” e que “a partir de 1973 a “guerra estava irremediavelmente perdida”, na minha opinião, tal não corresponde à verdade. Não foi isso que afirmaram os vários oficiais que prestaram depoimento, como Almeida Bruno, Alpoim Calvão, Marcelino da Mata, Raul Folques e Manuel Ferreira da Silva (pp. 213 a 309).

Também a versão do PAIGC através de um dos seus principais dirigentes (Aristides Pereira) era de que “por altura do 25 de Abril, este partido não teria maior capacidade militar que as tropas coloniais, na medida que estas estavam bem apetrechadas, tinham uma logística mais bem montada e um número superior em efectivos” (pp. 248/249).

3. Também não é verdade que Marcello Caetano tenha mandado fazer propostas em negociações secretas em 1973. Elas apenas foram iniciadas em Londres, um mês antes do golpe militar de Abril de 1974: 25/26 de Março. O encontro de 5 de Maio que se seguiria, já não ocorreu, por o regime ter sido derrubado.

Quando as FA ainda se encontravam em posição de maior força militar, na Guiné, decorreu em Maio de 1972, um encontro entre o Presidente Senghor do Senegal e o então General Spínola, com vista ao cessar-fogo. Tal não teve seguimento, devido à proibição de Marcello Caetano, que temia o “efeito dominó” em Angola e Moçambique. Essas diligências frustradas foram salientadas no capitulo III, “1972 – A Última Oportunidade Perdida” (pp 45 a 54).

A certa altura Beja Santos afirma que o General Spínola não sensibilizou Lisboa para haver um reforço das companhias de quadrícula, alimentando mais a “panaceia das forças especiais”.
Tal também não corresponde à verdade. Se for consultado o tomo II do 7.º. volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), referente às fichas da Unidades, na Guiné, verifica-se que o Batalhão de Comandos da Guiné apenas foi constituído em Novembro de 1972, depois da criação da 3.ª companhia de Comandos Africanos, em Abril desse ano. Entretanto foram criadas três Companhias de Caçadores: a n.º 19, em Dezembro de 1971, com quadros metropolitanos e as n.ºs 20 e 21, em Junho de 1973, já com quadros guineenses, e cujos oficiais seriam oriundos dos comandos africanos (Amadu Bailo Djaló, pp 343/ 346). Tudo isto ocorreu enquanto o General Spínola era Governador e Comandante-Chefe da Guiné, pois o seu sucessor, General Bettencourt Rodrigues apenas tomou posse em 21 de Setembro de 1973.

4. Posso aceitar que este meu trabalho tem falhas e que não tenha agradado a determinadas pessoas. Agora não aceito críticas deturpadas e baseadas em dados falsos, quando Beja Santos faz perguntas como esta: “Só foram perseguidos os comandos, não foram perseguidos militares provenientes da infantaria ou da marinha?"

Julgo que o atrás salientado nos três anexos, com os nomes dos militares do Exército e da Marinha, e dos civis (milícias, cipaios, régulos, etc) fuzilados clandestinamente, responde cabalmente a esta questão. Também basta ver a quem é dedicado o livro:


A todos os Militares Combatentes na Guiné, destacando os que lá perderam a vida pela Pátria Portuguesa.
Para os Militares guineenses e especialmente aos graduados do Batalhão de Comandos da Guiné, que se empenharam esforçada e valorosamente em combate e que, depois, na grande maioria, seriam clandestinamente fuzilados.

Para o Coronel José Pais (*), o grande Militar e Combatente, que sempre se empenhou nas causas nobres de defesa dos desprotegidos e das vítimas das injustiças praticadas em Portugal e nos territórios ultramarinos, com a nossa eterna saudade.

O MNE e de Estado, Luís Amado, no lançamento do livro do General Loureiro dos Santos sobre o Iraque, em Lisboa, afirmou ontem que “a ambiguidade é utilizada pelos políticos em situações mais complicadas, enquanto os estrategas/militares usam mais a frontalidade” (ou algo semelhante). De facto, devido à minha formação militar, costumo ser frontal e directo na resposta a algumas críticas infundadas…

2 de Abril de 2008

Coronel Manuel Amaro Bernardo


(*) Foi comandante da CCAÇ 14, na Guiné, tendo ficado muito ferido na detonação de uma mina anti-pessoal.
__________

Notas de vb: edição da responsabilidade do co-editor Virgínio Briote
(1) O Coronel, na situação de refoma, Manuel Amaro Bernardo cumpriu quatro comissões em Angola e Moçambique. Em 25 de Abril de 1974 encontrava-se colocado na Academia Militar. Na altura do 25 de Novembro de 1975, então no Regimento de Comandos, fez parte do Posto de Comando que coordenou as acções militares.

Diplomado com o Curso de Ciências da Informação pela Universidade Católica, tem publicadas numerosas obras que versam na quase totalidade questões de natureza militar nos tempos antes e pós 25 de Abril.

(2) Artigos relacionados com estes tópicos:
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

Guiné 63/74 - P2712: O Nosso Livro de Visitas (9): Picada Mansambo-Xitole: a emboscada do PAIGC, em 15 de Maio de 1974 (Renato Adrião, Austrália)

1. Merece o devido destaque o comentário de Renato Adrião, Ex-Alf Mil Op Esp, ao poste P2565, de 20 de Fevereiro de 2008 (1). O Renato Adrião vive hoje na Austrália, tendo sido camarada do José Zeferino, ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole1973/74), membro recente da nossa Tabanca Grande:

Peço desculpa mas é preciso algumas correcções ao sr. Abreu dos Santos que parece ter uma boa fonte de informação (a que eu gostaria de ter accesso) (2):


Entretanto no centro-sudeste da Guiné uma patrulha motorizada do BCAÇ 4616, desde há cerca de 4 meses estacionado em Bambadinca sob comando do tenente-coronel do MFA Luís Ataíde Banazol, procura contactos com o PAIGC para conversações sobre o cessar-fogo (...) .


Se isso é verdade, não era essa a razão da missão do Xitole, talvez fosse um dos objectivos da 1ª/BCAÇ, possivelmente só o comandante da 1ª/BCAÇ nos poderia dizer...

(...) Em deslocação para sul, a coluna é alvejada (quando as duas forças se encontraram no limite das suas zonas) na picada Mansambo-Xitole por disparos (de armas ligeiras e de RPG) longínquos (longínquos? ... Concerteza suficientemente perto para atingir o soldado oom um RPG no peito).

Os militares saltam apressadamente (apressadamente? ... Queria que ficassem à espera que fizessem tiro ao alvo?!) das viaturas, provocando a deflagração de minas que causam 2 mortos, 4 feridos graves e 14 feridos ligeiros. (Note-se que esta área tinha sido armadilhada e minada recentemente).

Foram mortes em combate, por muito estúpido que tenha sido. Não interessa negar, esquecer ou responssabilizar quem quer que seja.

Um grande abraço da AUSTRÁLIA para ti, Zeferino, e todos os camaradas que me leiam.

__________

Notas dos editores:

(1) 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)

(2) Vd. postes de:


21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2568: Historiografia de uma guerra (2): Maio de 1974, Sector L1 (Bambadinca): Os nossos quatro últimos mortos (Abreu dos Santos)


27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)

Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (11): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

Mensagem do Mário Fitas, comentando a nota do Mário Beja Santos sobre o livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, Guiné, 1970/1980, de Manuel Amaro Bernardo

Aos editores da Tabanca Grande, com o pedido de publicação no Blogue
__________

P2706 do Mário Beja Santos

A ignomínia dos Comandos Guineenses Fuzilados

Sobre o livro do Coronel Manuel Amaro Bernardo, fundamentou o nosso camarada Tertuliano Mário Beja Santos determinadas opiniões com as quais estou em desacordo, tendo a sensação até, que determinadas afirmações serão fracturantes e desprestigiantes para o Blogue, bem como desvirtuam a História em vez de a enriquecerem.

Passemos então aos pontos que me causaram dúvidas:

Será o Blogue o local certo, para se produzirem guerrilhas sobre um documento com o qual não há ligação directa? Ou não existirão outros locais próprios, para os escritores debaterem os seus diferenciados pontos de vista "político-militares”?

Desconexão sobre o lançamento de Spínola na ribalta, solução político-militar sem descrever a sua herança, ascensão e consolidação do PAIGC, referenciando sub-repticiamente a fraca prestação das Forças Armadas Portuguesas? Será que estas só cumpriram após 1968? Fracturante e contraditório!

O desastre foi de facto não encontrar uma saída política. As Forças Armadas Portuguesas estavam no terreno após Spínola. Só depois do livro Portugal e o Futuro, e após o Povo e o MFA deporem o regime político vigente, em 25 de Abril de 1974, as Forças Armadas Portuguesas, foram substituídas pelas forças do PAIGC. Estarei errado?

Voltando a 1963/1968: Spínola não pode ser dissociado desse anterior! Como é? Ou estava ou não estava!... Contraditório!... Porquê não voltar a António Teixeira Pinto? Os Fulas, Futa-Fulas, Balantas, Papéis e Grumetes do Cacheu? Assim, a geografia étnica, teria de ir ao Chão Felupe: São Domingos, Varela etc, etc…. a verdade é que nunca houve um lado só! Vale a pena ouvir o Cor. Gertrudes.

Comandos Africanos: é absolutamente verdade, não foram só eles. Se estou a escrever neste momento, agradeço a homens a quem foram cortadas as mãos e outros que fugiram da sua terra, como o pessoal do João Bacar Djaló e os exemplos do Carlos Quêba, Gibi Balde e o Braima que encontrou no bondoso Hugo Ferreira mais que um irmão, um amigo.

Confrontemos datas e depoimentos do Cor. Florindo Morais e ver:

P2313……(Virgínio Briote)
P2308……(Jorge Santos)
P886……..(João Parreira)
DCCCXXII(João Parreira)
DCCCVI….(João Parreira)
DCCCIV….(João Parreira)
DCIX…….. (José Martins)


Como simples Fur. Mil. de Op Especiais fiz a Guerra e a Paz nas margens do mítico Cumbijã em 1965/1966 como um dos elementos da CCAÇ 763, portanto antes de 1968, assim seremos todos responsáveis da situação-contradição, recebida por Spínola.


Mas, com toda a franqueza, conhecendo como conheci todos os elementos da CCAÇ 763, que em 26/11/66 desembarcaram do N/M “NIASSA”, com 7 mortos e 53 feridos em combate, agiriam de idêntica forma em 1968/1969 na terra dos Soncó, ou acompanhariam em 1973 o Coronel Costa Campos a caminho de Guidage.

Recusando a fracturação! Meu caro Mário, se o receber…

O velho Abraço do tamanho do Cumbijã.

Mário Fitas

__________

Nota de vb: edição da responsabilidade do co-editos.

artigos relacionados em

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2710: Os filhos dos que lutaram ao nosso lado (José Teixeira)

Uma Guerra que ainda não terminou, a dos filhos e netos dos que combateram do nosso lado

Não falei com o José Teixeira nem conheço a história do Candé. Através destas mensagens que transcrevo abaixo, presumo (o José Teixeira que me corrija, se alguma imprecisão houver) que conheceu a Candi Candé na romagem que acaba de fazer a Guiledge, Gandembel, Iemberém, ao Quebo, a Mampatá...

Para além de todas as ideologias e das guerras que as suportaram (que, permitam-me hoje esta imposição, neste artigo não têm tempo nem lugar de as aqui defender), o que não deixa de nos tocar é o saldo líquido, o que ficou desta tremenda Guerra que, ainda hoje é considerada como a mais violenta luta que se travou pelas Independências das Áfricas.
vb
__________

1.Mensagem do José Teixeira para a Cadi Candé, a filha de um antigo Camarada de armas, que com muitos de nós andou pelos mesmos caminhos à procura do então IN:

Cadi,

Sou para ti um branco estranho e estrangeiro que em Guiledje descobriu a filha do Candé - guerrilheiro terrível que assustava o Inimigo e dava confiança a todos os que a seu lado caminhavam nas picadas do Tombali.

Pelo Mudé Embaló (que também já faleceu, segundo soube pela sua família na Chamarra), soube há muitos anos, que morreu de forma inglória e injusta.
Ele era como todos os que para aí foram combater, uma vítima do sistema político existente em Portugal continental. Merecia melhor sorte.

Agora tive a feliz sorte de conhecer a sua linda filha.

Foi muito bom para mim, conhecer-te. E foi muito bom para mim voltar a Quebo, a Manpatá, a Chamarra e sobretudo ver Gandembel, Guiledje e Imberém, num programa montado com a tua participação activa.


Gostei imenso de te conhecer. Bonita como todas as Mandingas? Ou fulas ? Creio que Mandinga. Activa, empenhada, alegre. Muito obrigado Cadi.

Em breve voltarei a escrever, pois quero continuar a alimentar a parte do meu coração que ficou na Guiné.

Um beijinho fraterno

2.Mensagem da Cadi Candé, de 28 de Março de 2008

Oi José!

Fiquei muita satisfeita por ter recebido a tua mensagem e por outro lado sinto-me muito feliz de encontrar um tio como senhor. Gostaria que o senhor me ajudasse a encontrar os documentos do meu pai para que eu possa fazer a papelada para a reforma.


Também gostaria que o senhor me arranjasse o número de telefone do Matos (Cor Matos Gomes). Gostei muito de te conhecer e espero que nos vamos continuar a corresponder, meu tio querido.

Receba um forte abraço da tua sobrinha,
Cadi

3.Mensagem do José Teixeira enviada ao Luís Graça, em 31/03/08:

Para poder ajudar a Cadi Candé, será possível arranjar-me o nº de Telefone do coronel Matos Gomes?


Quanto às outras questões que a Cadi me põe, creio que vai ser muito difícil senão impossível ajudá-la.

O Pai em 1968 era o Comandante (alferes de 2º linha) de um pelotão de nativos especial (uma espécie de comandos), sediado em Quebo. Soube agora que depois foi Sargento na CCAÇ18.
Vou tentar saber por onde andou depois que passou para a CCAÇ 18 para tentar, pelo menos, ordenar no tempo a sua história até à morte violenta com uma cavilha na cabeça, como confirmei na Chamarra, junto da família Embaló, ainda aparentada.

Um abraço fraternal.
J.Teixeira

Guiné 63/74 - P2709: Convívios (46): CART 2339, 24 de Maio em Penafiel (Carlos Marques Santos)


CART 2339
Guiné/Fá/Mansambo
1968/69


ANA MAFALDA
14 / Janeiro/1968 / Partida de ÉVORA - 40 anos


Contactos:
Carlos Marques dos Santos – Telm 91 921 21 13
Rua Gago Coutinho, 17A-6.º A 3030 – 326 Coimbra

Cardoso Pinto – Telm – 96 901 06 36

Zeferino – Telm – 96 649 57 67

17.º CONVÍVIO
Coimbra/ Março de 2008

Companheiros:
Com um grande abraço, lembramos que se aproxima o dia do Convívio e Almoço anuais.
Conforme combinado no ano anterior no Porto, o nosso Encontro e Almoço, realizar-se-á em Penafiel, na Casa d’ Outeiro, Outeiro – Duas Igrejas, com o telefone 255 712 337.

Informamos ainda que:

O Almoço/Convívio realizar-se-á a 24 de Maio, pelas 13.00 horas.

Antes e pelas 10,30 horas todos devem concentrar-se no Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos (Sameiro) em Penafiel, onde será rezada Missa às 11 horas.

Este local é amplo e fica perto do lugar onde se realizará o Almoço.

A ementa terá o preço final de 25,00 €. Crianças até 10 anos 12,50 €

Constará de:
Entradas – rissóis, moelas, bolinhos de bacalhau, camarão e pataniscas.
Canja.
Anho assado em forno de lenha
Lombo assado com ananás natural.
Vitela à moda da casa.
Sobremesas – bolos variados, sopas secas.
Frutas laminadas.
Vinhos da região, águas e sumos.
Café e digestivos.

NOTA:
É importante, urgente e necessário saber quem e quantos somos, incluindo os acompanhantes.

A resposta (via postal, telefónica ou e-mail: carlosmarkes@hotmail.com) deve ser transmitida para Carlos Marques dos Santos, sem falta até ao dia 15 de Maio, pois o Restaurante precisa de programar compras.

Portanto não esqueças. INSCREVE-TE COM TEMPO e passa palavra para que ninguém falte.
Um grande abraço,
Cardoso Pinto
Zeferino Ribeiro
Marques dos Santos

Local de Encontro e Missa 10,30 horas


Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos (Sameiro)

Proeminente sobre a cidade e o Vale do Sousa, foi construído nos finais do séc. XIX, início do séc. XX, aquando da construção do Santuário a Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, o Parque Zeferino de Oliveira, mais conhecido por Jardim do Sameiro.

Como chegar a partir do Porto/ Maia (zona do aeroporto):
Coordenadas GPS – Lat N 41º 12’ 31.3’’ e Long W 8º 16’ 31.1’’

A41/A42 - Felgueiras (sem portagens) – saída Lousada Oeste (EN106) - Penafiel
ou
Pela A4 - (portagens) até saída Penafiel.

Guíné 63/74 - P2708: Construtores de Gandembel / Balana (5): Ponte Balana não era dos piores sítios do Tombali... (Idálio Reis)

Guiné > Região de Tombali > Pontão de Balanazinha > 1968 O Alf Mil Idálio Reis, da CCAÇ 2317, junto ao março onde se podia ler o ano da construção da obra: 1946

Foto: © Idálio Reis (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Destacamento de Ponte Balana > A praia fluvial...

Foto: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem, com data de 30 de Março, enviada pelo Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317 (Gandembel / Balana, Abril de 1968 / Janeiro de 1969):


Luís, com o teu profundo sentimento de conciliar emoções, por vezes, tão difíceis de superar, fizeste bem em publicar o poste da responsabilidade do Hugo Guerra. De todo, também a mim, tenho interesse apagar esta acha, apesar de considerar que, por vezes, há fogueiras que é melhor deixá-las manter acesas.

Como reconheces, tenho uma imensa dificuldade em escrever o que quer que seja sobre o Hugo Guerra, que muito jovem, em terras da Guiné, esteve às portas da morte quando se feriu gravemente, pois quanto sei, perdeu num dos lados a visão e audição. Só vim a saber deste desenlace, muito anos depois, num comboio Lisboa-Coimbra, onde vinha a visitar os seus filhos.

De todo o modo, a bem da verdade, sobre o que ele narra, direi:

(i) O destacamento de Ponte Balana tinha um efectivo a nível de grupo de combate. Como constataste, situava-se a poucas centenas de metros de Gandembel;

(ii) Todos os grupos de combate da minha Companhia [, a CCAÇ 2317, ]estiveram em Ponte Balana. E estar aqui 'abivacado', não era motivo para se lastimar, pois a vida aqui era mais facilitada; o nosso elo de ligação quotidiano era ir buscar o pão, que geralmente se fazia junto ao pontão do Balanazinha.

(iii) Fazes-me uma pergunta quanto às datas de construção das pontes; pois em anexo, envio-te uma fotografia com a minha pessoa junto aos restos deste pontão, onde se pode verificar a data de 1946).

(iv) As flagelações a Ponte Balana foram muito poucas, dado que os rios eram naturais elementos de valia na sua protecção e as armas de defesa de maior calibre localizados em Gandembel eram sinal de grande perigo.

(v) Ainda hoje recorri ao meu homem que continua a relembrar os factos por que passámos (como o grande Rodrigues me costuma dizer, lembra-se de tudo o que passou em Gandembel como os nomes dos seus 6 filhos), onde nada se sumiu, que aquando da retirada era o seu grupo que estava em Ponte Balana.

(vi) O Pel Caç Nat 55 sempre esteve connosco. O Hugo Guerra chega a Gandembel em fins de Agosto, e o seu grupo ia tendo a particularidade de reforçar os pelotões da Companhia que minguavam. E daí, surge o nome do alferes Barge, que chegou em rendição individual, já quase no fim de Gandembel, e que também estaria integrado com o seu grupo na data da retirada.

(vii) As afirmações que se têm feito para o Blogue, são da responsabilidade de quem as faz, ficma com quem as profere. Mas, quem não esteve por lá, há-de pensar que 120 dias em Ponte Balana foi um degredo....Não foi verdade. A fotografia que te enviei do pessoal a banhar-se no Balana, estava nesse sítio, e há ali estampada uma enorme alegria.

(viii) Já li o poste do Nuno Rubim (2), que amavelmente já me enviara as fotografias, exceptuando a do Google Earth. É esta a grande ferramenta que me falta, e que um dia haverá de surgir para actualizar estes meus antiquados equipamentos informáticos...
A imagem do Google é excepcional, e lá se distingue ainda o caminho de ligação Gandembel-Ponte Balana, notoriamente a parte a norte do rio.

Um caloroso abraço
do Idálio Reis

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

(2) Vd. poste de 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2703: Memórias dos lugares (8): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2707: Convívios (45): CCS/BART 2917, dia 26 de Abril de 2008 em Mangualde (Benjamim Durães)

ACESSOS A VISEU


ACESSOS A VISEU

AMIGO, COMPANHEIRO E EX-CAMARADA DE ARMAS,

VAMOS REALIZAR O 2º ENCONTRO-CONVÍVO DA CCS/BART 2917 E DAS UNIDADES SUAS AGREGADAS, PARA COMEMORAR O 36º ANO DA PARTIDA PARA A GUINÉ (17 DE MAIO DE 1970) E O 34º ANO DO REGRESSO (27 DE MARÇO DE 1972).

ESTE ANO A CONCENTRAÇÃO DO 2º ENCONTRO-CONVÍVIO SERÁ PELAS 10 HORAS EM MANGUALDE NO DIA 26 DE ABRIL PRÓXIMO, TENDO COMO LOCAL O HOTEL ONIX, SITUADO NA VIA CAÇADOR - EN 16 - VISEU.

QUEM QUISER PERNOITAR EM VISEU, PODE RESERVAR O ALOJAMENTO NO HOTEL ÓNIX PELO

TELEFONE 232 479 243,
FAX 232 478 744 ou por
E-Mail hotelonix@hotelonix.pt,

OU AINDA PELA INTERNET NO SITIO http://www.hotelonix.pt/reservas.html.

A EMENTA CONSISTE DE ALMOÇO E LANCHE AJANTARADO E IMPORTA 35 €UROS POR PESSOA, SENDO QUE AS CRIANÇAS ATÉ AOS 6 ANOS NÃO PAGAM E DOS 6 AOS 12 ANOS PAGAM METADE.

NO VERSO, DAMOS OS GRÁFICOS PARA CHEGARES AO HOTEL.

PARA QUEM VEM PELA A1 A MELHOR OPÇÃO É SAIR EM TROUXEMIL, VISEU, IP3 COIMBRA NORTE E VIR ATÉ VISEU PELA IP3 E ENTRAR NA A25 EM DIRECÇÃO GUARDA, ESPANHA E SAIR NA SAÍDA VISEU ESTE, HOSPITAL, SAÍDA Nº20 E SEGUIR CENTRO DA CIDADE ESTAMOS A 1KM DA SAÍDA.

ASSIM, AGRADEÇO QUE EFECTUEM A VOSSA MARCAÇÃO ATÉ AO PRÓXIMO DIA 15 DE ABRIL, A FIM DE SE PODER INFORMAR O HOTEL PARA A MARCAÇÃO DA SALA CONSOANTE AS PRESENÇAS.

CONTACTOS:
BENJAMIM DURÃES
TELEMÓVEL - 939393315 OU 939393939
E-MAIL’S - benjamimdurães@hotmail.com ou

AINDA bart2917.ccs@hotmail.com, e
MORADA: - RUA FLORBELA ESPANCA, Nº 10 - CP 2950 - 296 PALMELA,

OU PARA:

ÁLVARO GOMES SANTOS - CASAL DIZ 3500 - MANGUALDE,
TELEMÓVEL - 968635665
TELEFONE - 232641470

DAQUI VAI A NOSSA HOMENAGEM AOS QUE JÁ SÓ PODEM ESTAR PRESENTES EM ESPÍRITO E VOTOS DE SAÚDE PARA OS QUE NÃO PUDEREM COMPARECER.

UM ABRAÇO
DURÃES

Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (10): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)


Artigo que o Mário Beja Santos nos enviou há quase quatro meses (já refilou e com toda a razão...), depois de ter lido o livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, Guiné, 1970/1980, de Manuel Amaro Bernardo. (vb).


Capa do livro. Editorial Prefácio, Lisboa, 2007.

A Ignomínia dos Comandos guineenses fuzilados
por Beja Santos

(i) Um relato descosido que não serve a História de dois países.

O coronel Manuel Amaro Bernardo, autor de vários livros onde se versam as nossas Forças Armadas, a descolonização, a guerra colonial e o período revolucionário que vivemos entre 1974 e 1975, afoitou-se agora a contar num trabalho que classifica “de natureza histórica”, a guerra da Guiné, o papel do marechal Spínola na evolução desses acontecimentos e o fuzilamento de Comandos guineenses que tinham servido nas tropas portuguesas (“Guerra, paz e fuzilamento dos guerreiros, Guiné, 1970-1980”, Prefácio, Lisboa 2007).
É raro encontrar um livro tão descosido, tão mal estruturado, ainda por cima contando com um acervo de depoimentos que podiam ter contribuído para iluminar e estabelecer um juízo fundamentado sobre um dos períodos mais conturbados da guerra que vivemos em África e as sequelas da transição para a independência. Importa exemplificar.
Ao encetar o relato com António de Spínola em 1968, na Guiné, colocando-o como o promotor de um projecto que parecia levar a prazo aquela terra martirizada a uma autonomia gradual e à reconciliação de todos os guineenses, referindo seguidamente, sem lógica sequencial para explicar o papel dos Comandos, a inviabilidade da solução militar, a invasão de Conakry, o assassinato de Amílcar Cabral e o esforço de guerra desenvolvido em 1973, tudo se afunda num mar de equívocos e contradições.
Como é que é possível lançar na ribalta Spínola, fazendo dele a grande esperança numa solução político-militar, sem descrever, pelo menos em termos gerais o que ele herdou, a ascensão e a consolidação do PAIGC dentro e fora do território da Guiné, e dar a conhecer a resposta das forças armadas portuguesas em 5 anos de sublevação?
Sim, que Guiné encontrou Spínola em 1968? Qual o sucesso de Cabral e os seus companheiros para mobilizar as populações? Porque é que se discute a contabilidade das populações dentro e fora de controlo quando hoje se sabe que uma grande parte das populações, por razões familiares, não podia radicalizar e viver num quadro de ruptura?
Há uma clara vontade do autor em transformar Spínola no protagonista maior, clarividente e imaculado, fazendo recair sobre Marcello Caetano a responsabilidade do desastre, por não ter encontrado uma decisão política adequada e oportuna.
Em termos de investigação histórica, compulsados os elementos disponíveis e sem perder de vista que se desconhecem ainda as propostas que Marcello Caetano terá mandado apresentar nas conversações secretas com o PAIGC que decorreram de 1973 para 1974, temos aqui um mar de equívocos e falácias, incompatíveis com quem se diz à procura do rigor e da objectividade.
Spínola, que não pode aparecer dissociado do que foi anteriormente a luta entre 1963 e 1968, procurou uma solução militar e uma reorganização das populações que levassem a um claríssimo apoio ao seu projecto Por uma Guiné melhor. É escusado especular se trabalhou com o rasgo necessário e teve do seu lado a sorte indispensável. Até se pode contraditar: abandonou posições militares que provocaram um vácuo catastrófico; promoveu operações dispendiosas e inúteis, como a Lança Afiada, que acabaram por motivar a capacidade de guerrilha; não sensibilizou Lisboa para a constituição precoce de forças armadas regionais, isto quando na Guiné já havia forças de milícias e de caçadores nativos e depois companhias de caçadores, que deviam ter sido naturalmente organizações de quadrícula a sofrer um largo impulso, gerando confiança aos naturais na sua própria defesa, dando a imagem que as forças especiais era a panaceia da guerra. Estas são algumas acusações que poderiam impender sobre a obra de Spínola, argumentação igualmente de valor discutível.
A reunião de Spínola com Senghor, em 1972, em que o governador da Guiné propõe uma autonomia a dez anos, tem que ser encarada como uma proposta que seria liminarmente rejeitada, isto quando o PAIGC já tinha conseguido acantonar as forças armadas portuguesas nos quartéis, reduzindo-lhes drasticamente o espaço de manobra. Acresce que o autor refere os acontecimentos de 1973 e 1974, quando a força aérea perdeu capacidade de actuação com a chegada dos mísseis terra-ar e o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o Norte e o Leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry. Ou seja, o PAIGC ganhara uma capacidade ofensiva indiscutível, as nossas forças podiam ir esporadicamente às suas bases e acampamentos, havia mortes e feridos, mas logo tudo ficava na mesma. A partir de 1973, a solução militar estava irremediavelmente perdida.
Depois, o autor descreve o nascimento do movimento dos capitães, temos a seguir a transição para a independência e chegamos mais tarde aos fuzilamentos dos Comandos africanos. Será que o rigor histórico não exigiria que se explicasse o aparecimento destas forças que surgem neste livro imprevistamente?
O autor recheia o seu relato de anexos com os fuzilados, refere a lei de justiça militar do PAIGC de 1973, os militares exilados no Senegal, somos obrigados a apanhar uma polémica entre o autor e o Dr. Almeida Santos, depois vem a laude a vários amigos do autor e até se fala do distúrbio pós-traumático do stress, e temos em metade do livro relatos de vários protagonistas, alguns deles retirados de livros, outros entrevistados pelo autor.
É raro fechar-se uma obra com o sentimento de decepção e de frustração, como se passou comigo.

(ii) Uma história da Guiné ainda por esclarecer


Posso admitir que o autor tenha pretendido chamar a atenção para um punhado de militares, alguns deles altamente condecorados, barbaramente fuzilados e muitos deles a aguardar justiça e o direito à memória. Se era essa a homenagem que pretendia, falhou redondamente. Não se tira da indignidade do esquecimento estes fuzilados sem um relato histórico apropriado, clarificador, sem cedências à emoção.

Como é que apareceram estes Comandos guineenses que começaram a ser formados a partir de Fevereiro de 1970? Quais as queixas demonstradas que sobre eles recaíram, dos tão propalados crimes que lhes foram atribuídos pelo PAIGC?
Durante a fase de transição para a independência, os representantes das forças armadas portuguesas tudo fizeram, ou não, para os dissuadir a partir, quando se sabia que seriam inevitáveis os confrontos, os ajustes e vinganças, as explosões de ódio? Mas, indo mais a atrás, agiu-se bem na formação das tropas africanas, e se não o que é que falhou para garantir confiança às populações autóctones, de 1963 a 1970? Só foram perseguidos Comandos, não foram perseguidos militares provenientes da infantaria ou da marinha?
Está hoje demonstrada alguma relação causa-efeito entre o golpe de Malam Sanhá e os Comandos africanos refugiados no Senegal com os fuzilamentos realizados em Novembro de 1978?
Os relatos históricos não se fazem juntando uns papéis atabalhoadamente, mesmo que o pretexto seja o descerramento de duas placas com os 53 Comandos fuzilados na Guiné. Afinal, foram centenas os fuzilados que este conjunto de papéis sob a forma de livro nada refere. Não se exalta o esforço dos Comandos esquecendo os outros.
Vamos confiar que um dia se escreverá um verdadeiro relato histórico sobre quem combateu, foi ludibriado e injustamente tratado. Os combatentes da Guiné merecem-no. Os militares que comigo combateram e morreram no pelotão de fuzilamento, viveram o cárcere ou exílio nessa Guiné têm direito à clara certidão da verdade.
__________

Notas de Vb: Arranjo do texto da responsabilidade do co-editor.

(1) Com a devida vénia ao Cor Amaro Bernardo, transcrevo abaixo uma parte do depoimento do Cor Florindo Morais:

Uma oferta demasiado tentadora
(......) Eis senão quando, em meados de Agosto, a notícia surge como uma bomba: o Comandante-Chefe oferece a pronto e desde já, quatro meses de vencimento, mais o subsídio de Natal a quem quiser passar à disponibilidade. Assim lá se foi a lista dos interessados em vir para a Metrópole, continuando no serviço militar (refere-se aqui à grande maioria dos Cmds Africanos, que antes desta oferta se tinham inscrito para virem para Portugal) ...Esgotaram-se em Bissau os frigoríficos, as ventoinhas e demais electrodomésticos, a par das motorizadas. Ainda tentei que percebessem o que estava em causa, mas em vão. Os oficiais declaravam querer permanecer na Guiné, que era a sua Terra, e ser seu dever continuar a lutar pelo seu Povo. (...)
O então Maj Cmd Florindo Morais foi nomeado para a Guiné, já depois de Abril de 1974, para render o também então Maj Raul Folques no comando do Bat Cmds Africano.
(2) Sobre este assunto, ver artigos de
30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)
19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)
23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

Guiné 63/74 - P2705: As memórias e os arquivos oficiais (Carlos Marques Santos)



Carlos Marques Santos
ex-Fur Mil
CART 2339
Fá Mandinga e Mansambo
1968/69




Foto 1> Guiné> Sare Gana, 1968> Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339

Foto 2> Minas A/P levantadas durante a Operação Nada Consta


Foto 3> Mina A/C levantada na mesma Operação

Fotos: © Carlos Marques Santos (2008). Direitos reservados.

1. No passado dia 26 de Março recebemos do nosso camarada Carlos Marques Santos esta mensagem

Em Anexo nota sobre o Post do Felício de hoje.
Um Abraço
CMS

2. Ao lêr o Post do Felício (P2683) (1) de hoje, rememorei uma série de situações:
- Estadia em Galomaro e Dulombi em reforço.
- As notícias por vestígios no terreno que davam conta da passagem do IN, quer nessa zona quer na de Mansambo.
- O Malan Mané, os Páras, O Mamadu Indjai, etc. .

Estas lembranças levaram-me a reler a História e as minhas notas pessoais, confrontando-as com a “História da Companhia 2339”

Todos sabemos que aquilo que está nas histórias das companhias e nos arquivos oficiais não é suficiente:

Assim:
Malan Mané, Mamadu Indjai, Nada Consta, Rio Biessa, etc.
São memórias de vivências por nós no terreno.

Em relação ao prisioneiro Malan Mané já o Torcato deu achegas e agora o Felício, recordando o Jorge Félix.

Operações Gancho I, II e III

“História da Companhia”
Entre 06 e 17 de Agosto de 1969 realizaram-se estas Operações com a finalidade de montar emboscadas e detectar vestígios IN na região de Samaro–Cuntim e imediações de Candamã.

As minhas notas referem emboscadas sucessivas e de 24 horas.

- A 10 de Agosto 1969 detectámos trilho IN de 3/4 dias. O 4.º Pelotão detectou uma mina na estrada de Candamã.

- Dia 11 foi-se rebentar a mina e Candamã foi flagelada pelo IN cerca das 20,00 horas.

- A 15 regressou a Candamã o meu Pelotão (3.º) vindo de reforço a Galomaro.
No mesmo dia, quando GC da 2339 saíam para Bambadinca, cerca das 05,00 horas, ouvem-se rebentamentos para os lados de Afia, onde está uma nossa Secção.
Ataque IN com 3 mortos civis e 2 evacuados da população.

O 2.º Pelotão regressa a Candamã para efectuar uma Operação na zona.
A ponte de passagem para Mansambo cai e voltamos para trás para Candamã onde dormimos totalmente encharcados.

- Dia 16 conseguimos ir para Mansambo pela estrada do Xitole.

- Dia 17 fomos à ponte levar géneros à nossa malta que estava do outro lado do rio.
Sem contacto, mas detectado um acampamento IN na região do Rio Biessa.
A nossa Companhia detectou, na zona, o IN. Cerca de 150 segundo análise dos vestígios
Parece que vai haver Operação em grande.

- Dia 18 de Agosto de 1969 / História da CART 2339


Operação Nada Consta

Operação de 1 dia para destruir acampamento IN do rio Biessa.
Forças envolvidas:
COP 7 (Zona Leste, Bafatá) - CCP 123 a 2 GC e CCP 122 a 1 GC
Sector L1 (Bambadinca) - CART 2339 a 4 GC, CCAÇ 2590 a 3 GC e PEL CAÇ NAT 53

Enquanto as forças helitransportadas actuavam sobre o acampamento IN detectado, as forças da CART 2339 mantinham-se emboscadas na bolanha do Biessa e outras estavam na estrada Mansambo-Xitole, sobre o trilho detectado na Operação Belo Dia.
Neste percurso foram detectadas minas A/C e pessoais.

Pelas 15,45 horas, surgiu um grupo IN não estimado, vindo de Leste e que concerteza fugia da zona de acção dos Páras. Aberto fogo, causaram-se 2 baixas ao IN e confirmaram-se feridos graves e ligeiros.
Notícias posteriores refere que um dos feridos graves é Mamadu Indjai, Comandante do Sector 2.
Os GC da CART 2339 retiraram para Mansambo e Candamã. Na retirada foram detectadas mais 12 minas junto à ponte do Jacarajá.

Nas minhas notas escrevi:

Saímos de manhã para uma emboscada na zona do Jagarajá. Cerca das 15,40 horas dois elementos IN aproximaram-se do meio da emboscada. Tiroteio.
Eu estava atento atrás de um baga-baga e vejo, para grande espanto, dois batedores IN a cerca de 20m.
Eu comandava a Seccão de Bazzooca e dada ordem de fogo, o Moreira, exímio atirador desta arma, disparou para um suposto percurso da coluna IN.
Foi ferido o Mamadu Indjai.
Grande ronco.

O Malan Mané foi capturado do outro lado da guerra.
Foi transportado quase de certeza pelo Félix, para Mansambo para ser ouvido e servir de guia, episódios já contados pelo Torcato.
Estávamos já nessa altura à espera de ser rendidos para descansar e regressar à Metrópole.

Mas afinal houve mais meses.
CMS

3. Saudações especiais para o nosso camarada Carlos, que nos veio contar mais um pouco das suas memórias.
Vamos ter a esperança de que este regresso dê continuidade a uma participação regular, interrompida há já algum tempo.
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 26 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro