Camarada/s:
Faz tempo que não encontrava o vosso contacto e até pensei o pior, dado que não obtive resposta a um mail que enviei há bastante tempo até que hoje resolvi colocar na janela de pesquisa google "Caboxanque", e eis que me aparece o vosso novo contacto, não me fiz rogado e aqui estou!
Estive em comissão na Guiné de 1963 a 1965, fui Alferes Miliciano e o meu serviço foi... Bedanda 4.ª CCAÇ (guarnição normal), e depois Bolama com uma passagem por Fulacunda (10 dias).
Tenho muitas recordações, boas e más, mas são recordações que ninguém mas tira, e tenho felizmente uma memória excelente!
Voltarei um dia para partilhar, e tentar o contacto de qualquer um que se lembre de mim e que ainda se arraste por este mundo, lembro dos alferes: Gonçalves, Grilo, Gouveia, Ribeiro, Teixeira Barata e o outro Barata; entre sargentos: Lopes Pereira, Lopes Junior, Centeio, Esturrica Lopes, e muitos outros que de momento estão envolvidos pela neblina das bolanhas.
16 de Dezembro de 2009 (vão 44 anos)
Rui Santis
2. Segunda mensagem do nosso novo camarada Rui Santos, com data de 22 deste mês de Dezembro de 2009:
Boas noites amigos:
Tudo me tem corrido mal com este meu novo equipamento, este é o terceiro mail que escrevo hoje, espero que vos leve a minha gratidão por me terem comunicado!
Nos outros mails alonguei-me em demasia e não consegui inserir as fotos, mas sou velho e penso que não sou burro, lá consegui!
Num pequeno resumo
Fui incorporado em Agosto de 1962 e fiz o COM em Mafra. Daí fui para o RI15 (velho) em Tomar onde fui nomeado pelo Cap Coutinho, voluntário à força, para o 1.º Curso de Rangers (diziam) no CMEFED em Mafra. Uns dias em Lamego, pois fui mobilizado e mandaram-me regressar à unidade, com umas grandes peripécias, vindo no mesmo dia a Mafra, Tomar, Abrantes onde estava a minha Companhia. Logo o Capitão me mandou para Tancos tirar o Curso de Minas e Armadilhas, estas viagens todas no mesmo dia.
Depois do Curso e quando regressei a Abrantes, ainda hoje estou para perceber, tinham partido sem mim, assim voltei a Tomar a aguardar ordens, e eis que cerca de 10 a 12 dias depois soube que o meu destino seria Guiné!!
Neste pequeno relato se passaram 13 meses e meio.
Embarcaram-me num cacilheiro de nome "Manuel Alfredo" no dia 10/9 e depois de um periodo de navegação pela mesa das refeições e das cartas, estamos no Pidjiguiti no dia 20/9/63.
Após um periodo de 10 dias em Bissau, onde pensei que os terroristas tinham feito desembarcar vários batalhões de melgas e mosquitos e atacaram com tal gana as tenras carnes do maçarico, que me vacinaram e ainda hoje se algum desses bichos me morde cai logo morto!!
Mais 10 dias de incubação psicológica, e levaram-me a Bissalanca onde me esperava um mini-constelation "Auster" de três lugares, o Furriel Piloto, o moi, e o sargento vaguemestre da 4.ª Companhia da Guarnição Normal de Bedanda.
No ar, tudo verde lá em baixo, até que 45 a 50 minutos depois o piloto começou a tirar motor, acenei só com a cabeça, pois o barulho dos 4 motores era muito, e ele sorridente, disse:
- B E D A N D A!!!
Aqueles penduricalhos não me cairam ao chão porque estava sentado, mas caí eu em mim... DOIS ANOS!
Bom, espero não estar a aborrecer, mas havemos de falar e recordar, a gente nova não gosta que os velhos recordem, mas foi a nossa vida...
Desculpem o modo de escrever mas o facto é que sempre fui descontraído quer debaixo de fogo, quer ao lado do fogo (lareira)!
De qualquer modo, um (ou dois) abraços e espero não gastar mais papel mas sim saliva.
Lisboa, 22 de Dezembro de 2009
Rui Santos
Na "estrada" de Bolama para a ilha das Cobras ao volante do velho jeepão brasileiro, com o Cabo Enfermeiro
No Quartel de Bedanda, a bordo do jeep que me foi alugado no "Bedanda Rent a car".
3. Comentário de CV
Caro Rui Santos, bem-vindo.
Entra, acomoda-te, e fica desde já a saber que não és dos menos novos cá na caserna. Temos por companheiros alguns jovens já na casa dos setenta e com grande pedalada. Vais conhecê-los aos poucos, porque esperamos da tua parte uma colaboração activa.
Palavra, puxa palavra e assim contamos as nossas peripécias. Como escreves nas entrelinhas, este é o local ideal para descarregarmos as nossas recordações, sem vermos os filhos e os netos a olhar para o cão, como que a dizer: - O cota é mesmo chato, não achas Boby?
Temos já uns quantos camaradas do início da guerra na Guiné, mas não tantos que possamos dispensar mais um que nos ajude a montar o cantinho do puzzl correspondente ao início dos anos 60.
A esmagadora maioria é de meio e fim da guerra. Vê tu que o nosso camarada Pedro Neves tem o descaramento de completar hoje uma porcaria de 58 anos de idade. Até podíamos considerar um insulto, mas a gente perdoa-lhe porque isto com o tempo passa-lhe.
Caro Rui, a partir de hoje tens mais, quase, 400 amigos com os quais poderás interagir, trocando impressões, fazendo comentários, etc. Contamos contigo no próximo Encontro Nacional da Tertúlia, onde poderás ver em carne e ossso estes teus novos amigos, para já virtuais.
Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia.
Manda as tuas histórias e fotos (devidamente legendadas), para o endereço do blogue: luis.graca.prof@gmail.com e em redundância para um dos editores, que posso ser eu ou o nosso MR, Magalhães Ribeiro, o mais famoso periquito da Guiné. Assim terás a certeza de que um de nós não vai perder de vista a tua mensagem.
CV
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5535: Tabanca Grande (196): José Corceiro, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (Canjadude, 1969/71)