1. Mensagem, de 16 do corrente, do José Ferraz de Carvalho (ou simplesmente J. de Ferraz, ou ainda mais simplesmente Zé, como ele gosta que o tratem), aceitando o nosso convite para a ingressar na Tabanca Grande, o que muito nos honra [; ele vive nos EUA, há mais de 40 anos, e continua orgulhosamente a ser cidadão português e a sentir-se patrioticamente português]
Companheiro e camarada Luís:
(i) Ser o nº 527 é uma honra. Obrigado. Para mim é uma honra juntar-me à Tabanca [Grande]. As histórias, como dizes, já as tens.
Quanto às fotos... tinha uma quantidade delas, dos meus tempos na Guiné, infelizmente no transcurso da minha vida, aqui nas Américas, não sei onde estão.
Foi formidável, o companheiro e camarada Manuel Moreira enviou-me um e-mail dizendo que se lembrava muito bem de mim; enviou-me também uma foto tirada no Xime quando, para descarga da infinita espera, decidimos fundar a Rádio Televisão do Xime.
Por curiosidade o homem à minha direita, de tanga, era o famoso Júlio que bebia 2 garrafas de Sagres grandes como pequeno almoço e foi o protagonista da coluna a Bambadinca onde se cortou o corpo inteiro [sic].
Lisboa > Lyceu Central de Pedro Nunes, no tempo da 1ª República... Foto: Cortesia do blogue De Rerum Natura > 17 de Setembro de 2010 > Os liceus na 1º República.
(ii) Nasci por acidente em Ponta Delgada, Açores, em 20 de março de 1945, quando meu pai como oficial da marinha aí estava destacado num dos nossos submarinos.
Com 15 dias voltei a Lisboa com a mãe e, depois de viver com os avós paternos, mudámo-nos para casa dos avós maternos e em 1948 os meus pais finalmente encontraram casa própria, em Carcavelos, onde me criei.
Estive no liceu de Oeiras, depois no Pedro Nunes onde me envolvi nos movimentos de estudantes dessa época e finalmente fiz o terceiro ciclo nos Salesianos do Estoril.
Em 1965 o pai foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute, mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação. Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].
2. Comentário de L.G.:
Zé, para refrescar a tua memória: A CART 1746 eve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz. O destacamento da Ponta do Inglês, onde esteve o Moreira, foi desativado ao Novembro de 1968. Tudo indica que tenhas chegado ao Xime, em janeiro ou fevereiro de 1969, um ou dois meses do início da Op Lança Afiada. Eu, periquito, quando desembarquei no Xime, em 2 de junho de 1969, ainda estavas lá tu.
Depois foste para Bissau, para o QG, onde ficaste os "últimos meses" da tua comissão e regressaste a Lisboa já em 1970. Deves ter chegado à Guiné, com a 16ª Ccmds, meados ou finais de 1968... É isso ? É o que deduzo do que escreveste no primeiro poste (*):
(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, não dizes em que mês]. No fim da fase operacional [, IAO,] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão Vaz me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).
O Torcato Mendonça acrescenta o seguinte:
"A Companhia do Xime era a Cart 1746, comandada pelo Cap Mil Vaz e pertencente ao Bart 1904. Os Alferes eram o [Gilberto ]Madaíl; um de Évora (Montes? creio que não, talvez Mata); um que foi evacuado para a metrópole em meados de 68 (estive com ele em Agosto de 68 na minha vinda de férias, acompanhado com o Cap Vaz); e um outro que era, salvo erro, de Angola. Não recordo o nome".
Antes da CART 1746, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70) (que veio comigo na LDG), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...
Há cinco anos atrás, recebemos aqui um comentário do António Vaz:
(...) Chamo-me Antonio Vaz, tenho 73 anos e fui capitão miliciano, comandante da CART 1746, no Xime, de Janeiro 1968 até ao fim da comissão, em Junho de 1969.
Como companhia independente, conheci vários comandantes de batalhão: primeiro os de Bula e depois de Bambadinca. Dos que me recordo melhor foram o Cmdt do BCAÇ 1904, Ten Cor Branco, o Fontoura e o Pimentel Bastos. Todos diferentes, todos iguais. Do Pimentel Bastos recordo com saudade o espírito, a cultura e a simpatia ingénua de um homem que não nascera para aquilo. Nas muitas conversas que tive com ele compreendi o seu drama. Eu estimei-o. António Vaz (...)
[Vd. poste de 4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça) ]
Zé, camarada, senta-se aqui ao pé de nós, sob o poilão, frondoso, secular, mágico, fraterno, inspirador, protetor, da Tabanca Grande (**), e deixa fluir (e partilha connosco) os teus pensamentos, memórias, emoções... Estou a acompanhar os teus comentários com muito interesse. Vou aproveitar alguns, para os editar em poste. Manda-me (ou tu, o Manuel Moreira) a tua a que te referes acima, e explica-me o que se passou na tal coluna Xime-Bambadinca em que o Júlio "se cortou o corpo inteiro". Vejo, por outro lado, que és um cidadão do mundo, mas intrinsecamente português. Para quem não escrevia em português há muitos anos, estás muito bem. Recebe um grande Alfa Bravo, querido camarada do Xime!... Meu, dos demais editores e do resto da Tabanca Grande. LG
PS - Vou pôr-te na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande (constante da coluna do lado esquerdo) como José Ferraz de Carvalho, se achares bem. Ou só José de Ferraz, se achares melhor.
______________
Notas do editor:
(*) 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA
(**) Último poste da série > 16 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 19 de novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9064: Parabéns a você (342): Jacinto Cristina, ex-Sold, CCAÇ 3546, Piche e Caium (1972/74), alentejano, padeiro, reformado, 62 anos, feitos a 14 deste mês...
Fez anos, 62, a 14 deste mês (*)... Por lapso, estávamos para cantar-lhe os parabéns a 20 (**)... Ontem, a falar ao telefone com o seu genro, o meu amigo Dr. Rui Silva, que vive no Funchal, é que me apercebi que ele já tinha feito anos, na segunda feira passada...
Mas não é tarde, para lhe mandar aqui um abraço do tamanho da Ponte Caium, onde ele aguentou, de pé firme, mais de um ano... Este ano não deu para ir a Figueira dos Cavaleiros, em Ferreira do Alentejo... Sei que entretanto se reformou, por incapacidade, da sua profissão de padeiro... Mas nem por isso tem mais descanso, segundo me conta o genro...
Como já em tempos escrevi, a história deste homem é paradigmática, é também a história de vida de muitos jovens da sua, nossa geração: (i) nasce no campo, de pai pequeno agricultor que precisa de alugar terras para viabilizar a sua exploração; (ii) irmão mais velho de cinco, trabalha no duro "para o pai patrão", até ao dia em que, antes da tropa, constitui a sua própria família; (iii) casado, pai de uma filha, a nossa amiga Cristina, é mobilizado, parte para a Guiné, deixando um pequeno pecúlio para a mulher e a família...
E se acontece alguma coisa ? Era a angústia de muitos jovens, já casados. Felizmente tudo correu bem pelo seu lado...Volta ao Alentejo e à terra, conheceu as misérias e as grandezas da reforma agrária, até se estabelecer por sua conta... Voltou à arte que aprendeu na Ponte Caium, a arte de fazer o pão (a partir do saber, antigo, transmitido pela sua mãe...).
Foi, é (e continua a ser) um exemplo de tenacidade, trabalho, amor à família. Um grande abraço para os meus amigos Jacinto Cristina e Rui Silva. Bj para a Goreti e a sua filha Cristina. Muita saúde, longa vida. LG
________________
Notas do editor:
(*) 20 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7312: Parabéns a você (176): Soldado Cristina, padeiro, municiador de morteiro e bravo do pelotão da Ponte de Caium
(**) Último poste da série > 19 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9062: Parabéns a você (341): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Bambadinca e Saltinho, 1970/72)
Guiné 63/74 - P9063: O nosso blogue em números (19): A propósito dos 3 milhões de visitas... Bom mesmo é termos um espaço onde, cada um à sua maneira, diga a verdade da sua vida e da dos seus na mata da Guiné, no respeito e conservando a amizade que aqui se cultiva (José Brás)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outubro de 2010 > Posto de sentinela junto ao porto
Foto (e legenda): © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 18 de Novembro de 2011:
Meu amigo Carlos
Aqui te envio um texto na sequência de outro que li, ambos sob o tema do título deste.
Um forte abraço para ti
José Brás
TRÊS MILHÕES DE VISITANTES
Cito apenas na parte que me foi dado ver, o desabafo de Armando Fonseca(**), a propósito dos três milhões de visitas ao blogue, "(...) Estou inteiramente de acordo com os comentários do camarigo Manuel Marinho. Eu próprio não enviei o resto da minha história por me parecer que estaria fora de contexto visto que o que tem aparecido ultimamente - e visito o blogue todos os dias - são textos escritos por intelectuais da escrita e não as simples descrições das situações vividas na guerra. Com um abraço (...)".
E é este pensamento, não direi a regra geral porque nunca fui muito de passar rasoira sobre o alqueire e deixar a superfície do milho idealmente plana, nem bago a mais, nem bago a menos em toda a largura dos treze litros, é este pensamento, redigo, que mais vai na alma da maioria dos camaradas perante o prato forte da Tabanca, isto é, o testemunho escrito e fotografado da sua passagem pela Guiné nos anos entre 63 e 74.
Nada tenho contra este pensamento e devo mesmo relembrar que aqui já disse antes da compreensão de um fenómeno que, na diferença de ferramentas, de estilo e de formas que cada um tem para se expressar, pode criar-se uma espécie de inibição em grande parte da camarigagem, levando-os a uma postura que pode apresentar um dos dois aspectos (ou os dois juntos) A contenção ou a reclamação.
Se o segundo caso pode assumir, até, a face de alguma riqueza na troca do correio, e nesse caso, assumido o respeito mútuo, poder recriar e recriar-se nos conteúdos do blogue, o primeiro caso poderá trazer verdadeiro prejuízo aos propósitos e objectivos da sua criação e às funções que, na dinâmica que todos os fenómenos sociais possuem em si mesmos e no contacto com o mundo, este espaço tem vindo a preencher na alma de milhares de cidadãos e na divulgação de verdades que, sem isto, continuariam escamoteadas ao juízo da sociedade mais alargada do País.
Então, quando se juntam os dois casos, ou a contenção exagerada pode dar azo a uma reclamação também exagerada, ou a reclamação pode reforçar e alargar ainda mais a contenção.
Devo dizer que não me parece ser este o caso do camarada Armando Fonseca, pelo menos na parte que me foi dado ler e entender apenas como lamento porque "o que tem aparecido ultimamente - e visito o blogue todos os dias - são textos escritos por intelectuais da escrita e não as simples descrições das situações vividas na guerra".
Mas na verdade já assistimos aqui à expressão de verdadeiras revoltas na explosão de camaradas profundamente agastados contra o espaço ocupado por esses alegados "intelectuais", mas mesmo contra a expressão mais elaborada do relato, do sentimento, da opinião que julgam não corresponderem a verdades verdadeiras mas a outras, produtos de criação fantasiosa de prosápias individuais que, por isso, não deviam ter lugar neste seu espaço.
Não sei, talvez que tenham razão, pelo menos na reclamação sobre o espaço ocupado, perigosamente substituindo o relato raso de coisas que aconteceram e que aqui podem e devem vir assim mesmo, sem mais indagações, bala é bala, granada é granada, pronto... por falas escritas que poderão não ser mais que especulação manienta de quem se julga capaz de descobrir mais sobre quem disparou a bala ou despoletou e atirou a granada. E também sobre quem recebeu a bala no peito, ou se estraçalhou na explosão da granada.
Quem eram ambos de um lado e do outro, e o quem eram deve incluir logo, não apenas a sua fotografia, ainda que emocionada ao lançar a granada ou a retalhar-se na sua explosão, mas também como nasceu, como cresceu, como se fez gente, onde aprendeu que era seu dever atirar balas ou granadas ou delas morrer, onde ganhou ódios e amores e coragens e medos... e causas que valham a sua morte.
Há duas coisas que aqui tenho defendido.
Uma, é que a verdade não é apenas a da fotografia que, bem ou mal tirada, desde logo capta ou esconde a pessoa que tem aquela cara. A verdade nunca é apenas a leitura imediata e visível em dado momento, mesmo que na morte de homem, mas um conjunto de outras verdades e mesmo de algumas mentiras que se somam para nos dar a ver uma superfície apenas nas causas que despoletam.
E é obrigação de quem tem ferramentas para cavar na busca mais aprofundada desse novelo, que busque ou que tente buscar as ligações e os porquês do vigamento do edifício que se vê, ainda que para isso tenha de "inventar" de supor, de recriar os antes, os agoras e os depois, os possíveis seres que justificam possíveis actos, possíveis lugares e tempos, não menos reais do que os que foram vividos em cada segundo do respirar dos personagens.
Noam Chomsky, célebre linguista americano, professor em Harvard e no famoso "Massachusetts Institut of Tecnology", diz em "O Poder Americano" que..."existe uma minoria privilegiada a quem as democracias ocidentais concedem ócios, facilidades e a educação necessária para buscarem a verdade por detrás da camada deformadora da ideologia dominante que cobre a nossa visão da história em curso". "Cabe aos intelectuais dizer a verdade e denunciar as mentiras". Mais à frente questiona-se ele próprio reconhecendo que "Martin Heidegger escreve numa declaração de 1933 em prol de Hitler que "«a verdade constitui a revelação daquilo que torna um povo seguro, lúcido e forte nas acções e no entendimento das coisas»".
Poderá parecer que tais citações nada têm a ver com esta racha entre camaradas que se sentem prejudicados pela escrita mais elaborada sobre a realidade que apreenderam na sua vivência na Guiné, e aqueles que o fazem desse modo. Como dizia o outro, na verdade está tudo ligado.
Agora, naturalmente, quem navega nessa experiência, o faz sempre, ou deve fazer, a partir de realidades vividas, por ele ou por outros que lhas contam, juntando muitas vezes em cada personagem recriada, não apenas aquilo que ela terá sido realmente, mas o pensar de outros, os actos de outros, as ânsias de outros, as sortes e os azares de outros, igualmente vivos ou sugeridos pela capacidade especulativa do criador, mas também não menos possivelmente reais.
E pode ser dessa aproximação da recriação à realidade ou a realidades, que se constrói a qualidade da ficção, estando o criador seguro que, acontecimento relatado terá mesmo acontecido no espaço e no tempo que se contêm no relato, porque as condições da realidade relatada impõem tais resultados.
E quase poderei afirmar que o que aqui têm escrito os acusados de "intelectuais", nem são mentiras e invenções, nem menos ou mais importantes do que o que escrevem os que se queixam e preferem a "simplicidade " rasa do relato hoje, que julgam tão fiel quanto o foi no local e no centro do acontecimento, há quarenta anos.
Aliás, a mentira pode até ser maior no relatório sobre uma emboscada sofrida, do que na ficção que a recriou mais tarde. Todos nós conhecemos casos destes, e, de facto, quem escreve hoje numa perspectiva ficcional, fez as mesmas ou piores picadas do que os que, com a sua simplicidade honesta, mostram fotos com ou sem macacos e dão vazão à sua alegria por poderem aqui estar em convívio, contando as suas "aventuras".
Eu fiz 12 meses de Medjo, Guiledje, Balana, Gadamael Porto e só pisei Bissau para vir uma vez de férias com as mãos queimadas pelos canos de várias G3 que utilizei em Medjo na véspera, e para apanhar o Niassa de volta ao puto.
E o camarada Armando Fonseca, por onde andou?
Bom mesmo, e isso tem que ser entendido assim, é termos um espaço onde, cada um à sua maneira, diga a verdade da sua vida e da dos seus na mata sub-tropical da Guiné, no respeito e conservando a amizade que aqui se cultiva.
E quem diz que a inibição que prende a vontade de falar aos que se julgam menos capazes ou mais verdadeiros, não poderá inibir também os outros, os que poderão sentir-se também "fora do contexto", para usar as palavras do Armando?
Num caso ou no outro, quem perderá sempre é a verdade que o blogue busca em permanência.
E também o abraço, diga-se, para ser verdadeiro.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9036: (Ex)citações (155): Em louvor de Mário Fitas e da sua Pami Na Dondo: Deus é apenas um horizonte nos nossos esforços a caminho da perfeição (José Brás)
(**) Vd. poste de 17 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9055: O nosso blogue em números (17): A propósito da sondagem dos 3 milhões... Comentários de Armando Fonseca / José Nunes / Manuel Bastos / Rui Silva.... Foto de Guileje, de Abílio Pimentel
Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9058: O nosso blogue em números (18): A propósito dos 3 milhões de visitas... Comentário de Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil, 2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74)
Guiné 63/74 - P9062: Parabéns a você (341): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Bambadinca e Saltinho, 1970/72)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9049: Parabéns a você (340): António Inverno (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CART do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos -, 1972/74
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9049: Parabéns a você (340): António Inverno (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CART do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos -, 1972/74
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9061: Convívios (387): Almoço de Natal da Tabanca dos Melros, dia 10 de Dezembro de 2011 em Fânzeres, Gondomar (Carlos Silva)
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), com data de 18 de Novembro de 2011:
Meus Caros Amigos & Camaradas
Junto envio o Cartaz/Convite para o almoço de Natal que a Tabanca dos Melros leva a efeito no dia 10-12-2011 no Restaurante do Choupal dos Melros em Fânzeres Gondomar.
Teremos muito gosto na vossa presença.
Localização, poderão ver o site
http://www.quintadoschoupos.com/
http://www.tabancadosmelros.blogspot.com/
http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/
Com um abraço amigo
Carlos Silva
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9030: Convívios (379): Último Encontro de 2011 da Tabanca do Centro, dia 30 de Novembro de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Meus Caros Amigos & Camaradas
Junto envio o Cartaz/Convite para o almoço de Natal que a Tabanca dos Melros leva a efeito no dia 10-12-2011 no Restaurante do Choupal dos Melros em Fânzeres Gondomar.
Teremos muito gosto na vossa presença.
Localização, poderão ver o site
http://www.quintadoschoupos.com/
http://www.tabancadosmelros.blogspot.com/
http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/
Com um abraço amigo
Carlos Silva
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9030: Convívios (379): Último Encontro de 2011 da Tabanca do Centro, dia 30 de Novembro de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P9060: Blogoterapia (192): Em dia dos meus anos, na medieva Ucanha, lembrando tantos e bons amigos, incluindo o malogrado soldado Napoleão, da minha companhia, a CART 6250, Mampatá, 1972/74 (José Manuel Lopes)
Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados
1. Texto de José Manuel Lopes, poeta, vitivinicultor da Região Demarcada do Douro, ex-Fur Mil da CCAÇ 6250, Mampatá, 1972/74:
Domingo, 13 de Novembro de 2011, um dia como outro qualquer, só um pouco diferente para mim e meus familiares porque faço 61 anos. Tenho em casa um amigo muito especial, o António Pimentel, com ele uma pessoa também especial a Lurdes e mais quatro novos amigos que eles trouxeram da Figueira, aquela terra simpática que fica mesmo paredes meias com Buarcos. Não é, Vasco da Gama?
No sábado fomos a um almoço organizado pelos "Viciados do Douro", ao qual eu não pertenço, mas fui convidado, na terra de Miguel Torga, São Martinho de Anta. E fiquei contente com o que vi e ouvi de gente boa e bonita por dentro e por fora. O almoço correu muito bem, tudo estava bom e o magusto que se seguiu no meio da Praça da Aldeia ainda melhor.
No dia seguinte, 13 de Novembro fomos logo pela manhã a S. Leonardo de Galafura, encher a vista e a alma daquela deslumbrante paisagem do Douro e ler os poemas de Torga sobre o seu o nosso Douro sublimado. Depois rumamos à Ponte do Ucanha, monumento do Sec. XI, testemunha da grandeza da nossa história e de tempos passados que pelo que vou vendo à minha volta nunca mais atingirão tamanha dimensão.
Depois da visita à Ponte, já não havia tempo de ir ao Mosteiro de Salzedas e ao Bairro Judeu, pois a fome apertava e a paciência daquela gente não dava mais para fazer esperar os petiscos da Tasquinha do outro lado da Ponte de Ucanha. [, Foto à esquerda, Abrild e 2004, cortesia de Wikipédia].
Éramos 9 para almoçar e já passava das duas. Entramos na Tasquinha [do Matias], mesas postas com deliciosas entradas e ainda não tínhamos ocupado os nossos lugares, rebenta a emboscada, mas os sons eram outros, saídos de 19 gargantas bem afinadas, que entravam pelas traseiras do Restaurante. O António Carvalho, o Zé Pedro Rosa, o Zé Cancela, o Peixoto (sem o Frade), o Silva, o Carmelita, o Rodrigues, o Jaime Machado e respectivas companheiras.
Confesso que a operação foi muito bem preparada e melhor executada. A minha surpresa foi tal e a minha expressão tão surpreendente que soltou as gargalhadas de todos. Não hove baixas, apenas eu fiquei ainda mais prisioneiro daqueles amigos até ao limite.
Depois na hora de "botar faladura", lembrei-me do Napoleão, soldado da minha Companhia que era dos mais fieis aos nossos encontros anuais. Faltou em 2010, uma doença fatal o levou, mas no seu lugar apareceu a mulher e a filha com uma mensagem sua, um postal com a sua foto, onde agradecia o ter-nos tido como amigos.
Em 2011 a CART 6250, "Os Unidos", homenageou-o s com uma lápide que dizia o seguinte:
"A verdadeira coragem
está na nobreza dos gestos e pensamentos,
a tua mensagem num momento tão difícil
foi um hino à amizade
e caiu bem fundo dentro de nós,
naquelas picadas nunca caminhávamos sós,
o nosso olhar guardava aquele que nos precedia
e as nossas costas protegidas
pelo camarada que ia mais atrás;
assim…
nasceram amizades que não têm fim,
todos nós, da Companhia dos UNIDOS,
estamos orgulhosos por te termos tido
como camarada e amigo,
obrigado Napoleão."
Sim, tenho a certeza, de que não há amizades tão profundas e duradouras como as que nasceram entre os ex-combatentes.
Obrigado a todos
josé manuel
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9012: Blogoterapia (191): Na varanda e a Guiné-Bissau (Carlos Filipe)
Guiné 63/74 - P9059: Memória dos lugares (163): Mampatá saúda Mampatá (António Carvalho / José Câmara / José Eduardo Alves / Mário Pinto)
Região de Tombali > Mampatá > Uma foto aérea de povoação e aquartelamento.
Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados .Comentários deixados no Poste 9052*, referente à apresentação à tertúlia do nosso novo camarada José Santos que foi 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro na CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1071/73:
1. Do nosso camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto foi Fur Mil At Art na CART 2519 (Os Morcegos de Mampatá), Buba, Aldeia Formosa e Mampatá,1969 a 1971:
Caro José Santos
Em meu nome e da Cart 2519, Os Morcegos de Mampatá, dou-te as boas vindas ao nosso convívio.
Como deves estar lembrado a CCAÇ 3326, foi a Companhia que rendeu a minha em Fevereiro de 1971. Nesse altura metade da minha Companhia seguiu para Bissau via Buba, através de LDG, ficando 2 Gr Comb em Mampatá, um dos quais o meu.
Na primeira saída que fiz com vocês para o corredor de Missirá, tiveram o vosso baptismo de fogo num forte contacto e onde a CCAÇ 3326 teve os primeiros feridos e o IN 2 mortos e algumas baixas. Como resultado, vocês tiveram o o vosso primeiro material capturado (ronco).
Mampatá encontra-se no Blog, bem documentada, em períodos distintos conforme as unidades que por lá passaram sendo o período com menos informação o ocupado pela CCAÇ 3326 (1971/72). Convido-te [para o fazer], se puderes e estiveres interessado, para assim conseguirmos fechar o círculo das unidades instaladas em Mampatá.
Um abraço
Mário Pinto
ex-Fur Mil CART 2519
2. Do nosso camarada António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250, Mampatá, 1972/74:
Caro José Santos:
Também te saúdo de forma muito especial porque também sou de Mampatá. Fui Fur Mil Enf da CART 6250 que vos foi render, no fim de Julho de 72. Só me lembro do Real e do vosso capitão que nunca mais encontrei.
Devo dizer-te que passámos a comissão a proteger os trabalhos de abertura e asfaltagem de duas estradas: uma entre Aldeia e Buba com passagem por Mampatá e Nhala, e outra ligando Mampatá a Colibuía, Cumbidjã e Nhacobá.
Um abraço
António Carvalho
Do nosso camarada José Eduardo Alves, ex-Condutor da Cart 6250, Mampatá, 1972/74:
Camarada e amigo José Santos,
Em primeiro deixa-me dar-te as boas vindas ao blogue. Eu, José Eduardo Alves, fui condutor da CART 6250 que vos foi render a Mampatá. Estou contente por saber que estás com ideias em ir ajudar aquela gente para o hospital da Comura, pois eu indiretamente estou ligado à gente que faz lá serviço de voluntariado.
Já fui 3 anos seguidos à Guiné-Bissau, claro visitar a gente de Mampatá onde tenho bons amigos. Fui com a minha esposa, e no próximo ano talvez volte lá.
Um abraço, depois falamos.
José Eduardo Alves
4. Finalmente, do lado de lá do Atlântico, do nosso camarada José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73, estes dois comentários:
Bem-vindo ao Blogue. Em tempos estive em contacto com o Brum. Por aqui, no estado de Massachusetts, conheço o Soldado Condutor Auto Manuel Fortuna, natural do Faial. Vive em Taunton. Também tenho os contactos dos Fur Mil José Bendito e Fernando Portugal.
Se estiveres interessado no meu contacto, podes pedi-lo aos editores.
Já agora, tal como o Luís Graça, gostaria de saber de onde veio essa história dos “Jovens Assassinos de Mampatá”. Tenho alguma dificuldade em aceitar que o vosso Cap Paula de Carvalho, um Comandante muito austero, permitisse o nome de guerra “Jovens Assassinos de Mampatá”. Mesmo assim tudo é possível.
Eu tenho um crachá da vossa companhia, “Os Sempre Operacionais”. Foi este crachá que esteve presente no último convívio da CCaç 3327 e para o qual foram convidadas as CCaçs 3326 e 3328.
Um abraço,
José Câmara
CCaç 3327
5. Ainda do camarada José da Câmara:
Caros amigos,
Decidi prosseguir um pouco mais com o meu comentário anterior por ter sentido que o nome de guerra "Jovens Assassinos" não se coadunava com a docilidade do soldado açoriano. Também não é menos verdade que conheci muitos dos militares que compunham a CCaç 3326, com os seus graduados e mantenho correspondência com alguns. Foi a um desses graduados que me dirigi para aclarar um pouco sobre aquele nome de guerra.
Tal como deixara antever antes, nunca houve nome de guerra Jovens Assassinos de Mampatá, mas uma alcunha feita por forças exteriores à Companhia.
Por ter entendido que essa alcunha não orgulhava o meu correspondente, camarada e amigo, pedi-lhe e foi-me concedida a devida autorização para usar as suas próprias palavras na explicação do que então aconteceu.
Com a devida vénia:
“Quando chegámos a Mampatá entrámos a "matar" naquela zona em que praticamente se havia perdido o controle e rapidamente o reconquistamos .
Foram uns primeiros 7 ou 8 meses verdadeiramente infernais. Mas atenção:
NÃO FOMOS NÓS QUE NOS BAPTIZÁMOS COMO "JOVENS ASSASINOS DE MAMPATÁ"
Nós fomos baptizados assim pelo PAIGC e por outras Companhias que souberam do nosso percurso ao fazermos a "limpeza" da zona.
Não tenho orgulho nisso, por que as guerras têm sempre o lado injusto. Mas era a lei da sobrevivência. Eram eles ou nós.”
De notar que o grande e único juízo de valor que esse nosso camarada faz, que importa realçar, é a sua afirmação “Não tenho orgulho nisso”, nesse nome, acrescento. Nas mesmas circunstâncias, como filho dos Açores e de Portugal, eu também não teria, nem tenho.
Um abraço amigo,
José Câmara
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)
Vd. último poste da série de 9 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9016: Memória dos lugares (162): Farim do Cantanhez e suas gentes... (João Graça)
Guiné 63/74 - P9058: O nosso blogue em números (18): A propósito dos 3 milhões de visitas... Comentário de Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil, 2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74)
Lisboa > Margem direita do estuário do Tejo, na zona de Belém > 15 de Outubro de 2011... A ponte suspensa sob a nossa cabeça... Uma parte de nós passou sob ela, duas vezes, na ida para (e na vinda de) a Guiné, que foi o nosso fado... Na época ia-se de barco, e só para o fim, de avião... A ponte começou a ser construída em 1962 e foi inaugurada em 1966... Continua a ser uma das mais belas do mundo... (LG)
Foto : © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada, portuense, de Cedofeita, Ricardo Figueiredo [ , ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74), ], que entrou entrou para a Tabanca Grande em 19 de janeiro de 2011, com o nº 472.
Meus Caros Camaradas Luis Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,
Os três milhões de visitantes demonstram, à saciedade, a importância e o interesse que este blogue desperta, não só nos ex-combatentes, como também em alguns, muitos dos seus familiares, amigos e estudiosos do fenómeno da guerra colonial que a todos nos envolveu.
As intervenções que nele são espelhadas, demonstram bem quão vivos estão o espírito de corpo e de camaradagem, que então nos ensinaram e abraçámos na nossa juventude e que deixámos de alguma forma salpicados por toda a Guiné.
Os exemplos desse espírito são tantos, que seria fastidioso, aqui e agora, enumerá-los, mas não posso deixar de chamar à colação a solidariedade que diariamente nos é transmitida por muitas das intervenções, quer nos pequenos quer nos grandes acontecimentos que testemunhamos.
A manta de recordações de que é feita este Blogue, que nos dá alegrias, nos traz a nostalgia, a saudade, às vezes a tristeza, ao tomarmos conhecimento da partida de um camarada, mas também a felicidade de bebermos uma taça na comemoração de mais um aniversário natalício de um outro camarada é feita, dizia eu, diariamente por camaradas que abnegadamente, utilizando as suas horas de descanso, de ócio ou de convívio
com a família, nos proporcionaram a possibilidade de atingirmos este maravilhoso marco dos Três Milhões de visitantes.
Para vós, camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro, na qualidade de Editor e co-Editores, sem menosprezo de tantos outros camaradas que dão necessariamente o seu melhor, permitam-me que vos apresente os meus melhores agradecimentos por todo o trabalho desenvolvido, pela postura manifestada em circunstâncias por vezes adversas e pelo saber conciliatório com que têm contornado situações muitas vezes explosivas.
Continuem a divulgar com a mesma seriedade e transparência, a narrativa, a vossa e a nossa, que foi a Guerra Colonial, sobretudo a da Guiné.
Ricardo Figueiredo
__________________
Nota do editor:
Ultimo poste da série > 17 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9055: O nosso blogue em números (17): A propósito da sondagem dos 3 milhões... Comentários de Armando Fonseca / José Nunes / Manuel Bastos / Rui Silva.... Foto de Guileje, de Abílio Pimentel
Foto : © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada, portuense, de Cedofeita, Ricardo Figueiredo [ , ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74), ], que entrou entrou para a Tabanca Grande em 19 de janeiro de 2011, com o nº 472.
Meus Caros Camaradas Luis Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,
Os três milhões de visitantes demonstram, à saciedade, a importância e o interesse que este blogue desperta, não só nos ex-combatentes, como também em alguns, muitos dos seus familiares, amigos e estudiosos do fenómeno da guerra colonial que a todos nos envolveu.
As intervenções que nele são espelhadas, demonstram bem quão vivos estão o espírito de corpo e de camaradagem, que então nos ensinaram e abraçámos na nossa juventude e que deixámos de alguma forma salpicados por toda a Guiné.
Os exemplos desse espírito são tantos, que seria fastidioso, aqui e agora, enumerá-los, mas não posso deixar de chamar à colação a solidariedade que diariamente nos é transmitida por muitas das intervenções, quer nos pequenos quer nos grandes acontecimentos que testemunhamos.
A manta de recordações de que é feita este Blogue, que nos dá alegrias, nos traz a nostalgia, a saudade, às vezes a tristeza, ao tomarmos conhecimento da partida de um camarada, mas também a felicidade de bebermos uma taça na comemoração de mais um aniversário natalício de um outro camarada é feita, dizia eu, diariamente por camaradas que abnegadamente, utilizando as suas horas de descanso, de ócio ou de convívio
com a família, nos proporcionaram a possibilidade de atingirmos este maravilhoso marco dos Três Milhões de visitantes.
Para vós, camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro, na qualidade de Editor e co-Editores, sem menosprezo de tantos outros camaradas que dão necessariamente o seu melhor, permitam-me que vos apresente os meus melhores agradecimentos por todo o trabalho desenvolvido, pela postura manifestada em circunstâncias por vezes adversas e pelo saber conciliatório com que têm contornado situações muitas vezes explosivas.
Continuem a divulgar com a mesma seriedade e transparência, a narrativa, a vossa e a nossa, que foi a Guerra Colonial, sobretudo a da Guiné.
Ricardo Figueiredo
__________________
Nota do editor:
Ultimo poste da série > 17 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9055: O nosso blogue em números (17): A propósito da sondagem dos 3 milhões... Comentários de Armando Fonseca / José Nunes / Manuel Bastos / Rui Silva.... Foto de Guileje, de Abílio Pimentel
Guiné 63/74 - P9057: Notas de leitura (303): Amílcar Cabral Filho de África, de Oleg Ignatiev (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2011:
Queridos amigos,
Nada a opor às reedições, com averbamentos e polimento. Haja a decência de avisar que se trata de produto retocado. No afã de juntar o maior número possível de peças para esta babilónica bibliografia que também engrandece o blogue, deparei-me com dois títulos aparentemente diferentes e no fundo iguais.
Oleg Ignatiev entendeu em momentos diferentes publicar o mesmo conteúdo com novo visual. Não é curial este procedimento, é um logro para o leitor. Não se faz. Amílcar Cabral não merecia esta mascarada.
Um abraço do
Mário
Amílcar Cabral, uma outra biografia de Oleg Ignatiev (?!)
Beja Santos
Oleg Ignatiev, o jornalista que porventura mais vezes visitou a Guiné-Bissau, e que estabeleceu uma relação profunda com Amílcar Cabral, é autor de uma biografia datada de 1975 pelas Edições Progresso e que foi traduzida para português em 1984. Esta recensão já foi publicada no blogue*.
Qual não foi a minha surpresa quando encontrei uma tradução intitulada “Amílcar Cabral, filho de África”, da Prelo Editora, 1975. Comecei a ler e senti-me desorientado, tinha lido, algures, aquela prosa.
Depois foi uma questão de comparar os índices. Na edição de Moscovo de 1984, Ignatiev dá-nos um capítulo inicial sobre Juvenal Cabral, pai de Amílcar, logo a seguir introduz a Casa dos Estudantes do Império, o espaço em que Amílcar Cabral estabeleceu convivência com Marcelino dos Santos, Agostinho Neto e Vasco Cabral, entre outros. Iniludivelmente, o jornalista soviético fez copy/paste da primeira edição, adicionando-lhe o referido capítulo sobre Juvenal Cabral, desdobrou o capítulo referente à presença de Amílcar na Guiné, a partir de 1952 e forjou uma conversa de conteúdo duvidoso com o Governador Melo e Alvim. Igualmente mais adiante desdobra a descrição do Congresso de Cassacá, juntando pormenores referentes à luta de libertação.
Aqui fica o alerta para os estudiosos: a leitura de uma narrativa biográfica é substituível pela outra. É desconcertante como um autor não é capaz de explicar aos leitores que o novo título não passa de uma versão corrigida e aumentada. Paciência, também assim alguns escritores vêem crescer os estipêndios com os seus direitos autorais e a notoriedade nos escaparates, impingindo gato por lebre. Aqui fica o aviso à navegação.
____________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
4 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8995: Notas de leitura (299): Amílcar Cabral, por Oleg Ignátiev (1) (Mário Beja Santos)
e
7 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9006: Notas de leitura (300): Amílcar Cabral, por Oleg Ignátiev (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9039: Notas de leitura (302): Terra Ardente - Narrativas da Guiné, de Norberto Lopes (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Nada a opor às reedições, com averbamentos e polimento. Haja a decência de avisar que se trata de produto retocado. No afã de juntar o maior número possível de peças para esta babilónica bibliografia que também engrandece o blogue, deparei-me com dois títulos aparentemente diferentes e no fundo iguais.
Oleg Ignatiev entendeu em momentos diferentes publicar o mesmo conteúdo com novo visual. Não é curial este procedimento, é um logro para o leitor. Não se faz. Amílcar Cabral não merecia esta mascarada.
Um abraço do
Mário
Amílcar Cabral, uma outra biografia de Oleg Ignatiev (?!)
Beja Santos
Oleg Ignatiev, o jornalista que porventura mais vezes visitou a Guiné-Bissau, e que estabeleceu uma relação profunda com Amílcar Cabral, é autor de uma biografia datada de 1975 pelas Edições Progresso e que foi traduzida para português em 1984. Esta recensão já foi publicada no blogue*.
Qual não foi a minha surpresa quando encontrei uma tradução intitulada “Amílcar Cabral, filho de África”, da Prelo Editora, 1975. Comecei a ler e senti-me desorientado, tinha lido, algures, aquela prosa.
Depois foi uma questão de comparar os índices. Na edição de Moscovo de 1984, Ignatiev dá-nos um capítulo inicial sobre Juvenal Cabral, pai de Amílcar, logo a seguir introduz a Casa dos Estudantes do Império, o espaço em que Amílcar Cabral estabeleceu convivência com Marcelino dos Santos, Agostinho Neto e Vasco Cabral, entre outros. Iniludivelmente, o jornalista soviético fez copy/paste da primeira edição, adicionando-lhe o referido capítulo sobre Juvenal Cabral, desdobrou o capítulo referente à presença de Amílcar na Guiné, a partir de 1952 e forjou uma conversa de conteúdo duvidoso com o Governador Melo e Alvim. Igualmente mais adiante desdobra a descrição do Congresso de Cassacá, juntando pormenores referentes à luta de libertação.
Aqui fica o alerta para os estudiosos: a leitura de uma narrativa biográfica é substituível pela outra. É desconcertante como um autor não é capaz de explicar aos leitores que o novo título não passa de uma versão corrigida e aumentada. Paciência, também assim alguns escritores vêem crescer os estipêndios com os seus direitos autorais e a notoriedade nos escaparates, impingindo gato por lebre. Aqui fica o aviso à navegação.
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Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
4 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8995: Notas de leitura (299): Amílcar Cabral, por Oleg Ignátiev (1) (Mário Beja Santos)
e
7 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9006: Notas de leitura (300): Amílcar Cabral, por Oleg Ignátiev (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9039: Notas de leitura (302): Terra Ardente - Narrativas da Guiné, de Norberto Lopes (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9056: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): O grande choque (2)
1. Em mensagem do dia 17 de Novembro de 2011, o nosso camarada José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta menos boa memória da sua guerra.
Outras memorias da minha guerra (10)
O grande choque II
Ainda atordoado com tantas mudanças repentinas (relatadas no post P8466 - O grande choque) e já experimentava novas mazelas.
Em Fá (Bambadinca), logo de início, o nosso Capitão (oficial de carreira) mostrou bem o seu profissionalismo. Procurou dar trabalho a toda a gente e segurar bem o grupo no aspecto disciplinar, ainda que cedendo um ou outro maço de cigarros aos revolucionários de referência. E logo se preocupou em obrigar a malta a andar limpa e asseada e até com as botas engraxadas (conforme formaturas efectuadas para o efeito).
Tudo bem, mas a situação já não era a mesma da Metrópole. As saudades, o calor, os mosquitos, o isolamento e as primeiras saídas, não nos davam disposição para mais sacrifícios desnecessários. Por outro lado, não aceitávamos a falta de bebida fresca naquele “forno de Maio”. Quanto ao afastamento do grupo de oficiais (técnica do “manter as distâncias”) relativamente aos furriéis, durou pouco tempo. O próprio Capitão (quando “elas” começaram a doer) chegou cedo à conclusão que era essencial contar com aquele bom grupo de furriéis. Porém, foram ainda umas semanas para ele ceder.
Entretanto, recordo:
Dia 6 de Maio de 1967
Recebo a primeira informação sobre o ferimento em combate (tiro na coluna vertebral) na noite de 29/4, do meu maior amigo José Ribeiro, na véspera de se deslocar de Empada para Bissau (onde supostamente nos iríamos encontrar) e vir de férias para casar neste mesmo dia 6, em Santa Maria da Feira. Encontrava-se agora em coma no Hospital Militar de Lisboa. Fiquei ainda mais destroçado.
Nestes dias de calor infernal, iniciámos os patrulhamentos e uns treinos operacionais para os lados de Xime e Enxalé.
Entre 15 e 20 de Maio, fomos para Enxalé fazer treino operacional. Para além dos medos que nos metiam, o que mais recordo foi o ambiente festivo em que a tropa lá sediada festejava os seus 4 meses de Guiné. Para nós, aqueles 4 meses, já eram uma barreira difícil de vencer. E faziam-no com tanto fervor e tanta exuberância que nos amesquinhavam e diminuíam. Não esqueço aquela formatura de despedida, em que vários dos nossos militares foram descalços para a formatura por terem desaparecido as botas, enquanto que a tropa local gozava à gargalhada, misturada com “elogios” aos periquitos.
Uns dias depois (22/24 de Maio), numa noite dessa “iniciação ao teatro de guerra”, estando eu, no Xime, a dormitar ao ar livre e ao sabor dos mosquitos, ouvi uns gritos enormes de homem. Quando perguntei o que se passava, disseram-me para ter calma, porque era o cozinheiro (tido como um valentão daquela Companhia) que estava a “fritar os pés de um turra”.
Ainda fizemos uma Operação (“Governar”), sem contacto com o inimigo. Numa destas Oerações de treino, a frente da nossa Companhia avistou um grupo de “turras” em movimento e como ainda não se havia disparado um tiro em combate, esperou-se a indicação do Capitão que, não autorizou o ataque. Justificou com problemas de consciência, o que, conforme se constou, lhe veio a trazer observações de chacota, por parte dos seus pares (e superiores) no Comando de Bafatá.
Sempre que eu podia, ia de boleia até Bafatá, na viatura de apoio ao Vagomestre. Mal chegava a Bafatá, metia-me logo na piscina, bebia umas cervejas geladas e pedia frango de churrasco picante, para o regresso. Eram estas escassas horitas de “grandes prazeres” que nos fizeram iniciar da melhor forma a “resistência” àquela guerra maldita.
Numa dessas deslocações, o motorista “Coimbra” teve um acidente, no centro de Bafatá. Quando seguíamos a uma velocidade normal, fomos embatidos do lado esquerdo, junto do depósito do combustível do Unimog, por uma moto com dois jovens locais. Como ficaram bastante feridos, tiveram que ser evacuados de avião para Bissau e o Comando de Sector tomou conta da ocorrência. Tratava-se de jovens muito populares em Bafatá, o que nos atirou logo para a condição de culpados. Acresce dizer que nos valeu um Capitão Guimarães (?), que nos acalmou e muito especialmente ao motorista, que não parava de chorar.
Logo que o nosso Capitão veio de Bafatá, onde fora tratar dos seus assuntos militares, alertou-me para o facto de eu ser o responsável no acidente. Alegava ele que a viatura militar era tida como culpada e que sendo eu o mais antigo dos graduados que lá seguiam, incluindo o Vagomestre, seria responsabilizado pelo acidente. Ainda lhe disse que fora de boleia e que nem sequer seguia na frente da viatura, pois que estava sentado atrás, de costas para o movimento, mas ele não queria saber. Além disso, eu não via motivos para que se pudesse considerar a viatura militar como culpada. Prometeu que iria preparar o processo e interceder por nós, mas para eu me preparar para o pior.
Não sei bem porquê, mas tive sempre a impressão de que o Capitão não simpatizava comigo (ao contrário de outros) e que apenas me foi suportando porque precisava da minha contribuição militar.
Poucos dias depois fomos lançados para Oio, a partir de Banjara, tendo-nos sido infligido um violento ataque, como baptismo de fogo, seguido de outros contactos que, a par da nossa desorientação e cansaço, nos deixou de rastos, conforme descrição nos Post P7004 e P7159, tendo, até, havido casos de militares que tiveram que beber urina. Passara-se apenas um mês e pouco desde a chegada à Guiné e já havia uma grande quantidade de situações tão surpreendentes quanto anormais, que me puseram em “stress” permanente.
Já se bebia demais, a fim de se esquecer a situação em que estávamos metidos. Os sonhos de amor e amizade tornaram-se inatingíveis. Eram agora pesadelos horríveis. Quantas vezes me “via” junto dos amigos, da namorada e, desesperadamente, não conseguia contactá-los. Gritava-lhes e eles não me respondiam. Acordava, aflito, e enfrentava de novo, em catadupa, um montão de coisas más que estavam a acontecer. E eu, impotente, nada podia fazer.
Tentava controlar-me para não fazer algo de irremediável e confiar que teria que melhorar.
Silva da Cart 1689
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8909: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (9): Oficial não Cavalheiro
Outras memorias da minha guerra (10)
O grande choque II
Ainda atordoado com tantas mudanças repentinas (relatadas no post P8466 - O grande choque) e já experimentava novas mazelas.
Em Fá (Bambadinca), logo de início, o nosso Capitão (oficial de carreira) mostrou bem o seu profissionalismo. Procurou dar trabalho a toda a gente e segurar bem o grupo no aspecto disciplinar, ainda que cedendo um ou outro maço de cigarros aos revolucionários de referência. E logo se preocupou em obrigar a malta a andar limpa e asseada e até com as botas engraxadas (conforme formaturas efectuadas para o efeito).
Tudo bem, mas a situação já não era a mesma da Metrópole. As saudades, o calor, os mosquitos, o isolamento e as primeiras saídas, não nos davam disposição para mais sacrifícios desnecessários. Por outro lado, não aceitávamos a falta de bebida fresca naquele “forno de Maio”. Quanto ao afastamento do grupo de oficiais (técnica do “manter as distâncias”) relativamente aos furriéis, durou pouco tempo. O próprio Capitão (quando “elas” começaram a doer) chegou cedo à conclusão que era essencial contar com aquele bom grupo de furriéis. Porém, foram ainda umas semanas para ele ceder.
Entretanto, recordo:
Dia 6 de Maio de 1967
Recebo a primeira informação sobre o ferimento em combate (tiro na coluna vertebral) na noite de 29/4, do meu maior amigo José Ribeiro, na véspera de se deslocar de Empada para Bissau (onde supostamente nos iríamos encontrar) e vir de férias para casar neste mesmo dia 6, em Santa Maria da Feira. Encontrava-se agora em coma no Hospital Militar de Lisboa. Fiquei ainda mais destroçado.
Nestes dias de calor infernal, iniciámos os patrulhamentos e uns treinos operacionais para os lados de Xime e Enxalé.
Entre 15 e 20 de Maio, fomos para Enxalé fazer treino operacional. Para além dos medos que nos metiam, o que mais recordo foi o ambiente festivo em que a tropa lá sediada festejava os seus 4 meses de Guiné. Para nós, aqueles 4 meses, já eram uma barreira difícil de vencer. E faziam-no com tanto fervor e tanta exuberância que nos amesquinhavam e diminuíam. Não esqueço aquela formatura de despedida, em que vários dos nossos militares foram descalços para a formatura por terem desaparecido as botas, enquanto que a tropa local gozava à gargalhada, misturada com “elogios” aos periquitos.
Uns dias depois (22/24 de Maio), numa noite dessa “iniciação ao teatro de guerra”, estando eu, no Xime, a dormitar ao ar livre e ao sabor dos mosquitos, ouvi uns gritos enormes de homem. Quando perguntei o que se passava, disseram-me para ter calma, porque era o cozinheiro (tido como um valentão daquela Companhia) que estava a “fritar os pés de um turra”.
Ainda fizemos uma Operação (“Governar”), sem contacto com o inimigo. Numa destas Oerações de treino, a frente da nossa Companhia avistou um grupo de “turras” em movimento e como ainda não se havia disparado um tiro em combate, esperou-se a indicação do Capitão que, não autorizou o ataque. Justificou com problemas de consciência, o que, conforme se constou, lhe veio a trazer observações de chacota, por parte dos seus pares (e superiores) no Comando de Bafatá.
Sempre que eu podia, ia de boleia até Bafatá, na viatura de apoio ao Vagomestre. Mal chegava a Bafatá, metia-me logo na piscina, bebia umas cervejas geladas e pedia frango de churrasco picante, para o regresso. Eram estas escassas horitas de “grandes prazeres” que nos fizeram iniciar da melhor forma a “resistência” àquela guerra maldita.
Numa dessas deslocações, o motorista “Coimbra” teve um acidente, no centro de Bafatá. Quando seguíamos a uma velocidade normal, fomos embatidos do lado esquerdo, junto do depósito do combustível do Unimog, por uma moto com dois jovens locais. Como ficaram bastante feridos, tiveram que ser evacuados de avião para Bissau e o Comando de Sector tomou conta da ocorrência. Tratava-se de jovens muito populares em Bafatá, o que nos atirou logo para a condição de culpados. Acresce dizer que nos valeu um Capitão Guimarães (?), que nos acalmou e muito especialmente ao motorista, que não parava de chorar.
Logo que o nosso Capitão veio de Bafatá, onde fora tratar dos seus assuntos militares, alertou-me para o facto de eu ser o responsável no acidente. Alegava ele que a viatura militar era tida como culpada e que sendo eu o mais antigo dos graduados que lá seguiam, incluindo o Vagomestre, seria responsabilizado pelo acidente. Ainda lhe disse que fora de boleia e que nem sequer seguia na frente da viatura, pois que estava sentado atrás, de costas para o movimento, mas ele não queria saber. Além disso, eu não via motivos para que se pudesse considerar a viatura militar como culpada. Prometeu que iria preparar o processo e interceder por nós, mas para eu me preparar para o pior.
Não sei bem porquê, mas tive sempre a impressão de que o Capitão não simpatizava comigo (ao contrário de outros) e que apenas me foi suportando porque precisava da minha contribuição militar.
Poucos dias depois fomos lançados para Oio, a partir de Banjara, tendo-nos sido infligido um violento ataque, como baptismo de fogo, seguido de outros contactos que, a par da nossa desorientação e cansaço, nos deixou de rastos, conforme descrição nos Post P7004 e P7159, tendo, até, havido casos de militares que tiveram que beber urina. Passara-se apenas um mês e pouco desde a chegada à Guiné e já havia uma grande quantidade de situações tão surpreendentes quanto anormais, que me puseram em “stress” permanente.
Já se bebia demais, a fim de se esquecer a situação em que estávamos metidos. Os sonhos de amor e amizade tornaram-se inatingíveis. Eram agora pesadelos horríveis. Quantas vezes me “via” junto dos amigos, da namorada e, desesperadamente, não conseguia contactá-los. Gritava-lhes e eles não me respondiam. Acordava, aflito, e enfrentava de novo, em catadupa, um montão de coisas más que estavam a acontecer. E eu, impotente, nada podia fazer.
Tentava controlar-me para não fazer algo de irremediável e confiar que teria que melhorar.
Silva da Cart 1689
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8909: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (9): Oficial não Cavalheiro
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Outras memórias da minha guerra
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9055: O nosso blogue em números (17): A propósito da sondagem dos 3 milhões... Comentários de Armando Fonseca / José Nunes / Manuel Bastos / Rui Silva.... Foto de Guileje, de Abílio Pimentel
Foto : © Abílio Pimentel / AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados. (Editada por L.G. Reprodução com a devida vénia...)
1. Manuel Bastos (17/11/2011)
Camaradas,
Venho responder ao desafio, quanto a justificar a minha classificação (de "muito melhor") [ na respoosta à sondagem].
De um blog, era costume esperar-se algo despretensioso e casual, mas este é um dos casos em que o interesse dos conteúdos, a exigência dos visitantes e a resposta dos administradores elevaram o blog a um patamar difícil de imaginar inicialmente.
É seguramente o espaço da Internet por excelência no âmbito da Guerra Colonial Portuguesa, mas essa excelência começa a ser o seu problema porque extravasa as limitações e o conceito da plataforma, i. e. os conteúdos pela sua diversidade e quantidade já precisavam de uma poderosa base de dados on-line.
Julgo que se deveriam conjugar os diversos meios hoje disponíveis, para em torno do blog, que jamais deverá ser posto em causa, se oferecer todo o acervo já existente de uma forma ágil, enquanto se usasse uma rede social para troca de informações rápidas e casuais e um espaço de debate num fórum, mantendo o blog como interface desta rede e onde se fossem publicando os artigos habituais.Falar é fácil, eu sei, mas foi assim que nasceu o blog, porque não usar o mesmo método? Ir caminhando e inventando o caminho.
Um abraço.
Manuel Bastos
2. Rui Silva (16/112011):
Votei e sem vacilar em "muito melhor", e porquê ? Porque acho que está cada vez melhor:_ mais camaradas aderentes, mas abrangente, e até mais espalhado no mundo.
Até acho que algumas discrepâncias têm lugar, porque isto não deve ser "amen e sim senhor". E, caramba, nós até somos dessa casta: Amigos mas irreverentes.
Eu sou daqueles que foi educado [num época] em que as ações ficam com quem as pratica.
O Blogue está como o vinho do porto: Quanto mais velho (mais velhos) melhor (melhores).
Aproveito para enviar um grande abraço ao Luís, ao Vinhal, ao Magalhães Ribeiro e a outros co-editores e colaboradores. Que grande família eu arranjei depois de "velho"! Ponho velho entre aspas porque, se o BI aponta para aí, ainda nos sentimos novos olhando ao que estamos a dar e ao ainda para dar.
Bem hajam e Viva o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
3. José Nunes (16/11/2011)
(...) Camaradas, a descoberta do blogue foi para mim um tónico, durante muitos anos nunca falei de Guiné nem queria saber de nada acerca do tempo de serviço militar, era algo que não me satisfazia recordar.
Sabendo que fiz 12 meses de assistência ao mato e o resto 12 meses em Bissau, até tive uma Comissão muito boa, por onde andei sempre fui bem tratado pelos camaradas operacionais, posso dizer que tive comissão tranquila, trabalhei muito em Bissau, ganhei muito dinheiro que me permitiu alguns devaneios, com fazer as refeições nos restaurantes, quarto particular em Bissau, e amealhar algum para regressar de avião derivado ao embarque estar previsto para 2 meses depois de terminar a comissão. Portanto fui um privilegiado.
O blogue foi um ponto de viragem da minha maneira de estar e sentir a Guiné, e verifiquei a forma carinhosa e de sã Camaradagem que tive o privilégio de assistir no 10 de Junho, sendo que o blogue me liga a todos Vós, diariamente aqui venho às vezes mais de uma vez sempre na ânsia de encontrar mais um escrito.
Sendo eu o único representante da Engenharia, tive sempre alguma relutância em apresentar-me... Em boa hora o fiz, pois aqui encontrei uma sombra frondosa e amizade que sei sincera.
Hoje sou um propagandista deste Blogue faço saber da sua existência e instigo os Camaradas a fazerem uma visita.
Hoje que somos um Batalhão, decerto não deixaremos ficar mal o nosso Comandante e demais Oficiais do Comando.
Para todos vós o meu sincero agradecimento pelo trabalho que vos dignifica, e a nós enche de orgulho de estar nesta Tabanca.
José Silvério Correia Nunes
1ªCabo Mec Elect Centrais
447 Brá 68/70
(...) Estou inteiramente de acordo com os comentários do camarigo Manuel Marinho. Eu próprio não enviei o resto da minha história por me parecer que estaria fora de contexto visto que o que tem aparecido ultimamente - e visito o blogue totos os dias - são textos escritos por intelectuais da escrita e não as simples descrições das situações vividas na guerra. Com um abraço (...)
_________________
Nota do editor
Último poste da série > 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9042: O nosso blogue em números (16): A propósito dos 3 milhões de visitas... Nem só mel nem só castanha amarga (J. L. Mendes Gomes) / Fotos de Catió, 1967, de Benito Neves
Guiné 63/74 - P9054: In memoriam (96): Dia 17 de Novembro de 1967, data tão distante, ainda hoje lembrada (Felismina Costa)
Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa*:
Caro Editor e Amigo Carlos Vinhal
Acometida pela nostalgia, escrevi as palavras que lhe envio, que sem pretenderem ser uma homenagem são acima de tudo, a minha saudade dum passado, que pese embora difícil e pobre, foi muito rico de valores e que gostaria de ver perpetuados por todas as gerações vindouras.
Sei, que sai do âmbito do blogue, mas, se aí permaneço e a minha vivência não foi a da guerra, que vivi à distância, apenas posso falar do que vivi, que também já é História, uma história feliz, na pacatez da minha condição, mas rica, muito rica no que confere aos valores que me fizeram crescer agradecida à vida, por tudo o que me deu em criança.
Um abraço fraterno
Felismina Costa
É Outono!
Por que razão me terei lembrado hoje, de um dia tão distante?
Era 17 de Novembro de 1967.
O dia, muito nublado, já bastante frio, pedia a sementeira de favas e ervilhas e o avô Carlos, à rabiça do arado lavrava a terra, onde a mãe ia deixando cair as favas secas e depois as ervilhas.
A mãe, fazia anos nesse dia, dia sem festa, sem bolos, sem convidados. Fazia anos e pronto. Nós dávamos-lhes os parabéns e a vida continuava sem alterações. A mesma roupa para trabalhar a terra, para nesse dia semear as favas e as ervilhas e fazer um sem numero de trabalhos, como todos os dias. A refeição, também não sofria alterações, aliás, a mãe não ligava muito à cozinha, porque lhe roubava muito tempo ao trabalho, que urgia fazer. O pai, muitas vezes, é que nos brindava com os seus acepipes, sempre caprichados, sempre carinhosos. A mãe acarinhava-nos constantemente, mas, não havia tempo para parar junto ao fogão, enquanto lá fora havia tanta coisa à espera dela. As favas e as ervilhas nasciam e tinham de ser cavadas, mondadas, a seguir o trigo, e todo o ano o trabalho na quinta era um sem cessar de urgências; couves, pimentos, tomates, cebolas, feijão verde, milho, feijão e outras leguminosas, exigiam tratamento e rega, para que os seus curtos braços eram pequenos. Nos grandes dias de verão, lavava-se no tanque a roupa, à hora do calor e, era ainda nessas horas que se limpava e arrumava a casa, para depois, pela frescura da tarde, voltar novamente ao labor infindável do trabalho agrícola. A seu lado escutava atenta, as suas conversas intencionalmente formativas, num desejo manifesto de criar em nós uma consciência o mais possível, de acordo com o seu carácter bem formado.
A noite, sem portas, como ela dizia, permitia que se fizesse serão até às duas da manhã, costurando e engomando a roupa, que os filhos levariam para a escola no dia seguinte. Caía, depois, exausta sobre o leito, e durante quatro ou cinco horas descansava, para novamente se erguer e de novo recomeçar a sua rotina, que diga-se, a bem da verdade, a encantava. A terra para ela era uma mãe abençoada. Eu via nos seus olhos a alegria de ver a semente transformar-se em flor e fruto, em pão. A enxada era uma ferramenta que manuseava com destreza. Plantar, arranjar, num brio perfeccionista, era seu apanágio.
Metro e meio de altura de capacidades infindáveis, de sentimentos, de dádiva.
Foi assim até 27 de Julho de 1981, data em que nos deixou sós, tristes e saudosos, recordando para sempre a sua actividade, as suas palavras, os seus sentimentos, o seu carinho, tão grande como o seu coração, que não lhe cabia no peito e por isso a levou para outra dimensão, para outras paragens, desconhecidas para os que por cá continuamos.
Descobri então, porque recordo aquele dia tão distante de 17 de Novembro de 1967!
Eu era jovem e tinha uma mãe jovem, tão jovem e tão madura, tão belamente formada, no trabalho, no conhecimento das gentes, no respeito e na coragem para enfrentar dificuldades, que nos transmitia toda a confiança no mundo, desde que nos dispuséssemos a trabalhar como ela.
A cultura encantava-a, e, muito à frente do seu tempo, ela interessava-se por tudo, em todas as áreas. Desde a literatura à ciência, ela demonstrava o seu interesse profundo, com uma avidez de conhecimento extraordinária, que alimentava mentalmente, ao mesmo tempo que desenvolvia o seu trabalho no sector primário.
E, tenho saudades, muitas saudades, da sua voz, da sua coragem, do seu exemplo, do seu carinho e por conseguinte, da minha infância e Juventude.
Faria agora 87 anos, mas há já 30 anos que a não vejo!
“Saudade”
Há sempre no fundo do meu ser
Uma saudade do passado!
Saudade de uma voz.
De um corpo querido
Que há muito partiu
e nos deixou sós!
Uma voz estridente!
Bem timbrada!
Inteligente!
Forte!
Calma!
Uma voz que me enche a alma
e me acalma…
A voz da minha mãe!..
Felismina Costa
Agualva, 26 de Março de 2006
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8847: Notas de leitura (280): As Mulheres nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9031: In Memoriam (95): Zé Santos, da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, capturado e assassinado pelo PAIGC (Manuel Maia)
Gravura retirada de http://prenoviciadosdb.blogspot.com/, com a devida vénia
Caro Editor e Amigo Carlos Vinhal
Acometida pela nostalgia, escrevi as palavras que lhe envio, que sem pretenderem ser uma homenagem são acima de tudo, a minha saudade dum passado, que pese embora difícil e pobre, foi muito rico de valores e que gostaria de ver perpetuados por todas as gerações vindouras.
Sei, que sai do âmbito do blogue, mas, se aí permaneço e a minha vivência não foi a da guerra, que vivi à distância, apenas posso falar do que vivi, que também já é História, uma história feliz, na pacatez da minha condição, mas rica, muito rica no que confere aos valores que me fizeram crescer agradecida à vida, por tudo o que me deu em criança.
Um abraço fraterno
Felismina Costa
É Outono!
Por que razão me terei lembrado hoje, de um dia tão distante?
Era 17 de Novembro de 1967.
O dia, muito nublado, já bastante frio, pedia a sementeira de favas e ervilhas e o avô Carlos, à rabiça do arado lavrava a terra, onde a mãe ia deixando cair as favas secas e depois as ervilhas.
A mãe, fazia anos nesse dia, dia sem festa, sem bolos, sem convidados. Fazia anos e pronto. Nós dávamos-lhes os parabéns e a vida continuava sem alterações. A mesma roupa para trabalhar a terra, para nesse dia semear as favas e as ervilhas e fazer um sem numero de trabalhos, como todos os dias. A refeição, também não sofria alterações, aliás, a mãe não ligava muito à cozinha, porque lhe roubava muito tempo ao trabalho, que urgia fazer. O pai, muitas vezes, é que nos brindava com os seus acepipes, sempre caprichados, sempre carinhosos. A mãe acarinhava-nos constantemente, mas, não havia tempo para parar junto ao fogão, enquanto lá fora havia tanta coisa à espera dela. As favas e as ervilhas nasciam e tinham de ser cavadas, mondadas, a seguir o trigo, e todo o ano o trabalho na quinta era um sem cessar de urgências; couves, pimentos, tomates, cebolas, feijão verde, milho, feijão e outras leguminosas, exigiam tratamento e rega, para que os seus curtos braços eram pequenos. Nos grandes dias de verão, lavava-se no tanque a roupa, à hora do calor e, era ainda nessas horas que se limpava e arrumava a casa, para depois, pela frescura da tarde, voltar novamente ao labor infindável do trabalho agrícola. A seu lado escutava atenta, as suas conversas intencionalmente formativas, num desejo manifesto de criar em nós uma consciência o mais possível, de acordo com o seu carácter bem formado.
A noite, sem portas, como ela dizia, permitia que se fizesse serão até às duas da manhã, costurando e engomando a roupa, que os filhos levariam para a escola no dia seguinte. Caía, depois, exausta sobre o leito, e durante quatro ou cinco horas descansava, para novamente se erguer e de novo recomeçar a sua rotina, que diga-se, a bem da verdade, a encantava. A terra para ela era uma mãe abençoada. Eu via nos seus olhos a alegria de ver a semente transformar-se em flor e fruto, em pão. A enxada era uma ferramenta que manuseava com destreza. Plantar, arranjar, num brio perfeccionista, era seu apanágio.
Metro e meio de altura de capacidades infindáveis, de sentimentos, de dádiva.
Foi assim até 27 de Julho de 1981, data em que nos deixou sós, tristes e saudosos, recordando para sempre a sua actividade, as suas palavras, os seus sentimentos, o seu carinho, tão grande como o seu coração, que não lhe cabia no peito e por isso a levou para outra dimensão, para outras paragens, desconhecidas para os que por cá continuamos.
Descobri então, porque recordo aquele dia tão distante de 17 de Novembro de 1967!
Eu era jovem e tinha uma mãe jovem, tão jovem e tão madura, tão belamente formada, no trabalho, no conhecimento das gentes, no respeito e na coragem para enfrentar dificuldades, que nos transmitia toda a confiança no mundo, desde que nos dispuséssemos a trabalhar como ela.
A cultura encantava-a, e, muito à frente do seu tempo, ela interessava-se por tudo, em todas as áreas. Desde a literatura à ciência, ela demonstrava o seu interesse profundo, com uma avidez de conhecimento extraordinária, que alimentava mentalmente, ao mesmo tempo que desenvolvia o seu trabalho no sector primário.
E, tenho saudades, muitas saudades, da sua voz, da sua coragem, do seu exemplo, do seu carinho e por conseguinte, da minha infância e Juventude.
Faria agora 87 anos, mas há já 30 anos que a não vejo!
“Saudade”
Há sempre no fundo do meu ser
Uma saudade do passado!
Saudade de uma voz.
De um corpo querido
Que há muito partiu
e nos deixou sós!
Uma voz estridente!
Bem timbrada!
Inteligente!
Forte!
Calma!
Uma voz que me enche a alma
e me acalma…
A voz da minha mãe!..
Felismina Costa
Agualva, 26 de Março de 2006
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8847: Notas de leitura (280): As Mulheres nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9031: In Memoriam (95): Zé Santos, da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, capturado e assassinado pelo PAIGC (Manuel Maia)
Gravura retirada de http://prenoviciadosdb.blogspot.com/, com a devida vénia
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9053: Blogpoesia (169): Sopa quente, depois de três noites de relento (Manuel Maia)
1. Em mensagem do dia 13 de Novembro de 2011, o nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviou-nos este poema intitulado Sopa quente.
SOPA QUENTE
Três noites de relento e me marimbo,
p`ras frias madrugadas de cacimbo,
que a aragem "curte" o corpo e até conserva...
Estou farto é de enlatados, de rações,
três dias sempre as mesmas refeições,
sardinha, atum, dobrada, que já enerva...
A sede é implacável, marca pontos,
desfalecidos, quase, e sempre prontos,
p`ra mais um gole d`água que não há...
No charco vislumbrado por alguém,
cantil é atestado, vejam bem,
com líquido amarelo, cor de chá...
Pastilhas despejadas modificam
o visual nojento e "pacificam"
as consciências pela ingestão...
Brutal desinteria acometeu,
o cabo Pinto que desfaleceu
levando a antecipar regresso então...
Chegados ao quartel, nem sopa quente,
iria ser servida àquela gente,
para um "lavar de tripas", de conforto...
De pronto me insurgi p`la afirmação
de estarmos abonados de ração,
ouviu-me o vaguemestre a "falar torto"...
Casqueiro com fiambre e sopa quente,
decide o capitão, que num repente,
firmeza quis mostrar na decisão...
Cem anos qu`inda dure, não olvido,
o ar do velho Ginja, algo aturdido,
p`la força que emprestei p`ràquela acção...
Manuel Maia
____________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9031: Blopoesia (168): Chamava-se Zé Santos (Manuel Maia)
SOPA QUENTE
Três noites de relento e me marimbo,
p`ras frias madrugadas de cacimbo,
que a aragem "curte" o corpo e até conserva...
Estou farto é de enlatados, de rações,
três dias sempre as mesmas refeições,
sardinha, atum, dobrada, que já enerva...
A sede é implacável, marca pontos,
desfalecidos, quase, e sempre prontos,
p`ra mais um gole d`água que não há...
No charco vislumbrado por alguém,
cantil é atestado, vejam bem,
com líquido amarelo, cor de chá...
Pastilhas despejadas modificam
o visual nojento e "pacificam"
as consciências pela ingestão...
Brutal desinteria acometeu,
o cabo Pinto que desfaleceu
levando a antecipar regresso então...
Chegados ao quartel, nem sopa quente,
iria ser servida àquela gente,
para um "lavar de tripas", de conforto...
De pronto me insurgi p`la afirmação
de estarmos abonados de ração,
ouviu-me o vaguemestre a "falar torto"...
Casqueiro com fiambre e sopa quente,
decide o capitão, que num repente,
firmeza quis mostrar na decisão...
Cem anos qu`inda dure, não olvido,
o ar do velho Ginja, algo aturdido,
p`la força que emprestei p`ràquela acção...
Manuel Maia
____________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9031: Blopoesia (168): Chamava-se Zé Santos (Manuel Maia)
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