segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9188: Documentos (12): Província da Guiné. Agência-Geral do Ultramar (Magalhães Ribeiro)



1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74, Mansoa - 1974:


Camaradas,

Para os interessados no conhecimento da documentação que circulava nos anos 70, relativa à Guiné, publica-se aqui um desdobrável da responsabilidade dos serviços técnicos da AGU (Agência-Geral do Ultramar), que penso ser oferecido pela TAP aos seus passageiros naquele tempo.

Integra alguns interessantes dados sobre o governo e administração, a economia, educação e ensino, saúde e assistência, história, geografia, fauna e flora, população, comunicações e um mapa à escala 1:1.000.000














Um abraço,
Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74

Documentos: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P9187: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (4) (José Martins)

1. Quarta parte do trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sugerindo razões para a construção de um Monumento aos Mortos na Guerra do Ultramar (1961/74) do então Concelho de Loures.

UM NOVO MONUMENTO AOS QUE TOMBARAM PELA PÁTRIA!

A Prestação de Honras Militares

Se o presente mais não é que a afirmação do passado e a projecção do futuro, devemos entregar a “Chama da Pátria” àqueles que, mercê da sua opção ou da sua idade, serão o nosso próprio futuro.

A representação da Pátria, através da Bandeira Nacional, deve ser atribuída ao Estandarte entregue à guarda da Liga dos Combatentes, e que ostenta as condecorações:
● Cruz de Guerra de 1ª classe,
● Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito,
● Comendador da Ordem de Benemerência,
● Placa de Honra da Cruz Vermelha,
● Membro Honorário da Ordem Infante D. Henrique


A Liga dos Combatentes da Grande Guerra, que nasceu da ideia de vários combatentes, dos quais se destacam o 2º Sargento miliciano licenciado, João Jayme de Faria Afonso; o 2º Tenente de Marinha, Horácio Faria Pereira; e o Tenente de Artilharia de Campanha, reformado, Joaquim de Figueiredo Ministro, a par da congregação das vontades então já reunidas nas Juntas Patrióticas, que de norte a sul do país iam tomando forma.

“O clima político que o País atravessou durante e após a Grande Guerra não permitiu oferecer aos valorosos combatentes portugueses, que entretanto regressaram de França, o acolhimento solidário e reconhecido que o seu sacrifício justificava. Este facto levou a que muitos dos combatentes, nomeadamente os feridos, mutilados, exaustos e deprimidos, que, ignorados pelo Estado, foram em muitos casos também hostilizados pelas próprias famílias, tentando aliviar dessa forma, a já depauperada e miserável situação em que já se encontravam.”

Foi assim, com o espírito acima referido e com o objectivo de:
• Promover a exaltação do amor à Pátria e dos Símbolos Nacionais,
• Promover internacionalmente o prestigio de Portugal,
• Promover a protecção e o auxilio mútuo dos antigos combatentes,
• Desenvolver actividades culturais e educacionais em benefício do país e dos antigos combatentes.

A Liga dos Combatentes da Grande Guerra, fundada em 1921 e oficializada em 29 de Janeiro de 1924, e actualmente designada Liga dos Combatentes, que prossegue os ideais dos seus fundadores, na perenidade da Pátria Portuguesa.
A Liga dos Combatentes ostenta a divisa “PATRIOTISMO E SOLIDARIEDADE”.

Para transportar o Estandarte Nacional e fazer a sua Escolta, sugere-se a convocação de alunos das Escolas de Ensino Militar, que se destinam à formação de Oficiais das Forças Armadas e de Segurança. São esses, hoje alunos e amanhã oficiais, que vão ter, no futuro a responsabilidade de dirigir as forças militares e de segurança nas missões que hoje têm e nas que lhes serão atribuídas, em terra, mar e ar, no espaço nacional ou no exterior.


Escola Naval – Destina-se à formação de Oficiais de Marinha. Teve o seu início na Escola de Sagres, criada por D, Henrique cerca de 1417 e na Aula do Cosmógrafo-Mor, fundada em 1559 sob a orientação do matemático Pedro Nunes. Em 1782 passa a denominar-se Academia Real de Guardas Marinhas, para formar oficiais da Armada Real. A Academia Real dos Guardas Matinhas passa, em 1845, a denominar-se Escola Naval sendo transferida em 1936 para o Alfeite.
A Escola Naval tem como divisa “TALANT DE BIEN FAIRE”.


Academia Militar – Destina-se à formação de Oficiais do Exército e da Guarda Nacional Republicana. É criada em 1641 a aula de Artilharia e Esquadria, por decreto de 13 de Maio de D. João IV e em 1790 a criação da Academia Real de Fortificação de Artilharia e Desenho que veio estabelecer uma escola de base verdadeiramente científica. Em 12 de Janeiro de 1837 passou a designar por Escola do Exército, por iniciativa de Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, o Marquês de Sá da Bandeira. Teve, ainda, as seguintes designações: Escola do Exército, de 1837 a 1910; Escola de Guerra, de 1911 a 1919; Escola Militar, de 1919 a 1938; novamente Escola do Exército, de 1938 a 1959 e Academia Militar, a partir de 1959. O aluno será um, dos futuros oficiais, da Guarda Nacional Republicana.
A Academia Militar ostenta como divisa “DVLCE ET DECORVM EST PRO PATRIA MORI”.


Academia da Força Aérea – Destina-se à formação de Oficiais da Força Aérea. Tem o sei inicio em 1 de Fevereiro de 1978, com os alunos do 3º ano do Curso de Aeronáutica Militar, vindos d Academia Militar onde eram, até então, formados os oficiais da Força Aérea. No ano escolar de 1991/1992 iniciam-se os cursos de Engenharia Aeronáutica, Engenharia de Aeródromos, Engenharia Electrotécnica e Administração Aeronáutica. Nesse mesmo ano é criada a Escola Superior de Tecnologias Militares Aeronáuticas, dependente do Comando da AFA, dando início à formação dos Oficiais Técnicos do QP da FAP, ministrando cursos politécnicos.
Ostenta a divisa “E NÃO MENOS POR ARMAS QUE POR LETRAS”.


Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna – Criada em 1982 sob a designação de Escola Superior de Policia, iniciou a sua actividade lectiva em Outubro de 1984. Em Fevereiro de 1999 tomou a designação actual e destina-se a formar oficiais de polícia e, posteriormente, a promover o seu aperfeiçoamento. Tem, também a missão de colaborar e coordenar projectos de investigação e desenvolvimento na área da segurança interna.
Ostenta como divisa “VICTORIA DISCENTIUM GLORIA DOCENTIUM” (a vitória dos alunos é a glória dos professores).

O Guião da Liga dos Combatentes, representando todos os Combatentes de Portugal e, muito especialmente, todos aqueles que caíram ao serviço da Pátria em todas as parcelas que formaram o Império, e ocupando um local de destaque na formatura, será transportada por um Instruendo Aluno da Escola de Sargentos do Exército.


Escola de Sargentos do Exército – A criação desta escola remonta a 01 de Junho de 1981. Em 1926, esta unidade ostentava a designação de Batalhão de Ciclistas nº 2, passando a ser denominada de Regimento de Infantaria nº 5 em 1927, tendo servido para a formação dos mancebos do 1º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos. Em 1975 e transformado em Centro de Instrução de Quadros de Complemento, tendo sido redenominada como Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, em 1975. Em 1993 pelo Dec-Lei n.º127/93 de 22 de Abril, a ESE é reorganizada e passa a ter o Estatuto de Estabelecimento Militar de Ensino Profissional com a missão de assegurar, através dos cursos nela ministrados, a preparação cultural, técnica e profissional-militar necessária ao ingresso e progressão na carreira de sargentos dos quadros permanentes. É Membro Honorário da Ordem da Liberdade, como reconhecimento do carácter eminentemente colectivo da acção realizada em “16Mar74”, sendo esta condecoração atribuída à ESE, enquanto herdeira e fiel depositária dos seus feitos e tradições, em cerimónia presidida por Sua Excelência o Presidente da República, em 24Abr94.
Ostenta como divisa “VONTADE E SABER”.

Os Estabelecimentos Militares de Ensino, apesar de dependerem do Estado-Maior do Exército, não se destinam, necessariamente, à formação de militares. Até há pouco tempo, no Corpo de Alunos destes institutos só existiam filhos de militares, quer do quadro de oficias quer do de sargentos, que, como nós, também suportaram a guerra e, quase todos em duas ou mais comissões de serviço.
Um desses rapazes, um “Pilão”, hoje já homem mais que feito e lançado na vida, falando para uma plateia, maioritariamente de antigos combatentes, “confidenciou” a angústia com que, à noite, depois do jantar e antes de recolherem para o descanso diário, como tremiam e tentavam tapar os ouvidos, quando se apercebiam que, através da instalação sonora algum dos alunos ia ser convocado para a portaria ou sala de visitas. Era quase certo que, o mensageiro, trazia uma notícia desagradável, vinda de além-mar.
É com base nestes casos, que decerto eram comuns em todos estas casas de ensino, que destinamos aos actuais alunos desses estabelecimentos, a formação da guarda de honra e prestação de honras militares durante a cerimónia.


Colégio Militar – O Colégio Militar nasceu em 3 de Março de 1803, por iniciativa do Marechal António Teixeira Rebelo, à altura com o posto de Coronel e Comandante do Regimento de Artilharia da Corte. Chamou-lhe Colégio de Educação do Regimento de Artilharia da Corte, e destinava-se à educação dos filhos dos elementos da sua guarnição e aos civis que o pretendessem, sendo os formadores elementos do próprio regimento. Em 1814 passa a ter a designação de Real Colégio Militar. Em 1910, após a implantação da república passa a designar-se por Colégio Militar. O seu Estandarte Nacional, atribuído em 1888, ostenta, entre outras, as seguintes condecorações: Grau de Cavalheiro da Ordem da Torre Espada de Valor, Lealdade e Mérito; Grã-Cruz da Ordem de Instrução Publica; Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo; Ordem de Mérito Militar dos Estados Unidos do Brasil; Ordem Militar de Sant’Iago da Espada; Medalha de Ouro de Serviços Distintos; Medalha Militar de Avis.
Tem como divisa “UM POR TODOS E TODOS POR UM”.


Instituto de Odivelas – o Instituto D. Afonso de Bragança foi criado em 14 de Janeiro de 1900, por iniciativa de alguns elementos das Forças Armadas, que pretendiam proporcionar às filhas dos Oficiais mortos em combate ou por doença, uma formação condigna, que lhes permitisse ingressar no mercado de trabalho. Desde o princípio o Instituto privilegiou os cursos de formação prática, que iam desde o Magistério Primário, aos de escrituração comercial, telefonista ou modista. Com a implantação da República passa a designar-se por Instituto da Torre e Espada e, em 1911, por Instituto de Educação e Trabalho. A reforma educativa, após a revolução de 1974, eliminou o ensino técnico-profissional. Para além dos planos oficiais de estudos, o Instituto continuou a proporcionar a oferta de um currículo próprio. Foram, também, introduzidas aulas facultativas de instrução militar no ensino secundário para permitir uma preparação para o acesso aos estabelecimentos de ensino superior militares. A actual designação, Instituto de Odivelas, é de 1942.
Ostenta como divisa “DUC IN ALTUM” (Cada vez Mais Alto).


Instituto Pupilos do Exercito – Por Decreto-Lei de 25 de Maio de 1911 e por inspiração do General António Xavier Correia Barreto, à época Coronel e Ministro da Guerra do 1º Governo da República, é criado o Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar dependente do Estado Maior do Exercito. A instituição já foi designada como Instituto Técnico Militar dos Pupilos do Exército e Instituto Militar dos Pupilos do Exército. O seu Estandarte Nacional ostenta as condecorações de Comendador da Ordem de Instrução Pública, Comendador da Ordem Militar de Cristo, Membro Honorário da Ordem Militar de Santiago da Espada, Membro Honorário da Ordem Militar de Avis, Medalha de Ouro dos Serviços Distintos e Ordem Nacional do Infante D. Henrique.
Tem como lema “QUERER É PODER”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9174: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (3) (José Martins)

Guiné 63/74 - P9186: Tabanca Grande (309): Fernandino Vigário, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Fernandino Vigário (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), dirigida ao Blogue através do nosso camarada Albino Silva:

Olá amigos, e camaradas!
Hoje decidi-me apresentar à Tabanca Grande, uma vez que só agora a descobri, e assim :

Sou o Fernandino Vigário, casado, tenho três filhos, sou reformado mas ocupado pois tenho uma loja de mobiliário “Móveis Ascenção”, natural e residente em Nogueira da Maia, Distrito do Porto.

Só muito recentemente, há três ou quatro meses, tive conhecimento da existência da Tabanca Grande na internet, através do meu amigo, vizinho e parente afastado Fernandino Leite. Fui convidado por este a ir à Tabanca Pequena a Matosinhos, não me foi possível aceitar o convite mas hei-de arranjar uma vaga para o fazer futuramente, embora saiba que não se trata da mesma Tabanca, já que uma é Grande e outra é Pequena, e sei que a Tabanca Grande já foi visitada por mais de 3 milhões de visitas.

Assentei praça no CICA 1 - Porto, primeiro turno de 1966, tirei Especialidade de Condutor Auto Rodas no Regimento de Infantaria 6 - Senhora da Hora - Matosinhos, onde me mantive até Janeiro de 1967, altura em que fui mobilizado para o Ultramar.

Apresentei-me em Tomar no RI 15 onde fiz parte do BCaç 1911. Pelo meio passei por Santa Margarida, Cavalaria 4, onde fiz instrução de condução naquela zona de altitude.

O Batalhão de Caçadores 1911 embarcou em Lisboa no dia 26 de Abril de 1967 com chegada a Bissau a 1 de Maio, e desembarcámos no dia 2. Ficámos instalados em Brá com a missão de reserva do Comando Chefe durante cerca de três meses.

Em Agosto partimos rumo a Teixeira Pinto numa (LDG)? (aqui tenho dúvidas que tipo de barco era), a viagem correu sem consequências, uma vez chegados, e após ter desembarcado, a primeira visão que me chamou atenção foram 5 ou 6 viaturas destruídas por rebentamento de minas. Eu era Soldado Condutor e pertencia à CCS. Esta que ficou em Teixeira Pinto, enquanto que a CCaç 1681 foi para a zona do Bachile e Cacheu, a CCaç 1682 para Có e Pelundo, e a CCaç 1683 foi para Jolmete.

Quando o Comando do Batalhão teve conhecimento no Quartel-General que ia seguir para o sector de Teixeira Pinto, foi-lhe prestada a seguinte informação: o Sector de Teixeira Pinto não é um sector de “Roncos”, é um Sector difícil e de importância capital, e se conseguirem evitar que o inimigo penetre e domine o sector será os maior ronco que possam fazer.

Em Maio 1968, concretamente no dia 7, o Batalhão foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2845, com a firme convicção de um dever cumprido, com honra e orgulho de não ter deixado que o inimigo penetrasse ou dominasse aquele T’chon Manjaco, e por termos deixado todo um itinerário aberto apesar de dificil.

Teixeira Pinto era um sector difícil para todos, e em particular para os condutores devido ao perigo e rebentamento de minas, a CCS tinha a missão de abastecer vários destacamentos, entre eles, Có, Jolmete, Pelundo, Caió, Bassarel e outros: portanto os Condutores, Sapadores, Pelotão de Reconhecimento e outros, estavam sempre alinhar nas escoltas, e colunas.

A minha guerra foi feita a conduzir um Unimog, fiz várias colunas de transporte de géneros a Jolmete e a Có, com passagem pelo Pelundo e outros locais que não me recordo os nomes excepto o “barril, “as colunas eram feitas em itinerários difíceis e perigosos, o inimigo colocava minas, armadilhas, fazia emboscadas em vários locais, só com o apoio da Força Aérea e das Panhards que seguiam nas colunas era possível às nossas forças resistir aos seus ataques, e chegar ao destino, o que não impediu de sofrermos várias baixas.

Eu como Soldado Condutor era dos últimos a saber que ia haver coluna, a informação chegava como um segredo, mas havia fuga de informação, o inimigo sabia sempre o nosso trajecto e aparecia para nos emboscar, e colocar minas anticarro principalmente nas colunas para Có.

Recordo com alguma dificuldade como era Jolmete, porque pouco tempo lá permanecia. Descarregados os géneros, era o regresso a Teixeira Pinto, tenho uma vaga ideia de uns abrigos subterrâneos e era aí que os soldados dormiam, peço desculpa se estiver enganado, já lá vão quarenta e quatro anos, foram os últimos meses de 67 e os primeiros de 68. Vem isto a propósito de imagens que vi na internet de Jolmete que não reconheci, estas eram bem melhores do que aquilo que eu vi, deve ter sido obra e um bom trabalho do BCaç 2845.

Fui dezenas de vezes à Ponte Alferes Nunes, a conduzir o Unimog levar camaradas, os meus anjos da guarda faziam o percurso a pé a picarem a estrada na detecção de minas, eu não desviava os olhos da estrada para ver se o piso tinha sido movido, seguia sempre os mesmos trilhos rodados mas nunca passei para o lado de lá da ponte, esta estava destruída e as viaturas não passavam.

Com a minha viatura percorri todo o sector de Teixeira Pinto, excepto Bachile e Cacheu, e a sua zona, foram centenas de quilómetros a conduzir apenas com meia dúzia de soldados em idas ao Pelundo, Ponte Alferes Nunes, Caió, Bassarel, e outras povoações de que não recordo os nomes, foram dezenas as viagens que fiz felizmente sem consequências graves.

Nestes últimos meses fiz várias visitas ao site dos camaradas, e fiquei sensibilizado, li vários depoimentos a elogiarem o alferes que tiveram no seu Pelotão, o Capitão amigo como Comandante de Companhia. Gostava e teria todo o prazer em fazer aqui o mesmo, mas não posso: o capitão da CCS do BCaç 1911, que por razões óbvias vou omitir o seu nome, era um indivíduo que não respeitava ninguém, principalmente os soldados, a malta dizia em tom de brincadeira: o capitão está apanhado pelo clima. Pessoalmente tinha medo dele, como tinha das minas, fugia dele como o diabo da cruz, por isso raramente tinha contactos com ele, nos poucos que tinha, ele só berrava, APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH. Não sabia dizer mais nada. Um capitão que se prezasse devia saber incutir respeito nos seus subordinados e não medo, foi uma triste figura que passou pela minha vida. Deu-me gozo e aos meus camaradas da CCS em o ver com as calças na mão em Teixeira Pinto num levantamento de rancho de uma Companhia de Comandos. Ou pára-quedistas? Não me recordo bem ao certo. Que estavam ali de passagem para operações na mata de Jol. Com estes ele meteu a viola no saco, nem dizia o que sabia, nem sabia o que dizia, só gaguejava, e toda a malta a rir às escondidas do espectáculo.

Nos dias de hoje, quarenta e três anos depois, nos meus sonhos de fantasmas de guerra ainda ouço aquela voz: APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH.

Nas minhas visitas ao site tenho procurado notícias do meu Batalhão “1911” e não encontrei nada, com pena minha, porque gostava de ler histórias dos meus antigos camaradas. Há sempre algo para contar, por isso faço aqui um convite, escrevam como sabem, a mais ninguém é obrigado, eu tenho a quarta classe, e escrevi como sei.

Fernandino Vigário

Da esquerda para a direita: Teixeira de (Ribeirão); Jaime, Escriturário (Porto); Fernandino Vigário; e Fernando Correia (Arcos de Valdevez)

Brá > Fernandino Vigário e Fernandino Leite

Fernandino Vigário; Barbosa (Póvoa); Francisco (Miranda do Corvo) e Ramos (Torres Novas)

Um forte Abraço para todos os camaradas.
Fernandino Vigário,
Ex-Soldado Condutor da
CCS/BCaç 1911
Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete


2. Comentário de CV:

Caro Fernandino, bem vindo à Tabanca Grande.
A tua entrada na tertúlia foi apadrinhada pelo nosso camarada Albino Silva pelo que não podias ter tido melhor apresentador. Ele é um dos nossos poetas, já com uma obra apreciável no nosso Blogue.

De ti, se não pudermos ter poemas, pelo menos esperamos pela tua prosa e por mais algumas fotos para publicarmos.

Na verdade tens razão quando dizes que não encontras registos do teu Batalhão. Por que és o primeiro representante do BCAÇ 1911 no nosso Blogue, ficas com a responsabilidade de contar a história da tua Unidade, tanto quanto te for possível e souberes.

Para que te possamos contactar directamente, precisamos que nos forneças o teu endereço de e-mail se o tiveres.

Passo a terminar, deixando-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9072: Tabanca Grande (308): Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Mansoa e Bissorã, 1965/66)

Guiné 63/74 - P9185: O nosso blogue em números (28): Tenho orgulho em visitar a Tabanca Grande (Albino Silva)

Teixeira Pinto > Enfermaria e Maternidade


1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 18 de Julho de 2011:

Boa Noite Carlos Vinhal
[...]
Juntamente envio aqui também em anexo este relatório de um também nosso camarada, que me pediu para enviar à Tabanca Grande, da qual quer agora fazer parte também, depois de recentemente a ter descoberto, e que se chama, Fernandino Vigário, esteve na Guiné, era da CCS do BCaç 1911, curiosamente foi a minha CCS/BCaç 2845 que os foi render em 7 de Maio de 1968 a Teixeira Pinto.
Recordo-me muito bem de terem sido eles a gozar connosco cantando: Periquito vai pró mato olé lé lé - velhice vai pra Bissau ó lé lé le lé...

Sobre este relato do novo camarada, eu já compus alguma coisa, deixando o resto para os Régulos.
Seguidamente o Fernandino vos enviará uma foto da época "Militar" já que eu num simples clic apaguei a que ele me enviou.

Estou super satisfeito com as visitas à Nossa Tabanca, e bem assim por a ver crescer cada vez mais.

Abraços para todos os Tertulianos e para quem gosta de nós, em especial para o Régulo Luís, e depois para todos os Chefes de Tabanca...

Sou o
Albino Silva


A NOSSA TABANCA GRANDE

Tenho orgulho em vir à Tabanca
a ler passo um bom bocado
relembrar o que passei
na Guiné como Soldado.

Camaradas como eu
pois por ela vão passando
e assim em pouco tempo
as visitas foram aumentado.

Hoje um dia muito especial
que pelas visitas constantes
A Tabanca Grande chegou hoje
AOS TRÊS MILHÕES DE VISITANTES.

Parabéns à Tabanca Grande
tudo o que vi e li não esqueço
TRÊS MILHÕES é muita gente
também um grande sucesso.

Parabéns Tabanca Grande
Tabanca de Portugal
todos nós te visitamos
sabendo que não há igual.

Aqui contamos nosso passado
e o passado de outros nós lemos
contamos assim ao País
tudo aquilo que sofremos.

Tertulianos e Tabanca Grande
Arquivo de nossa memória
que lembra a quem nada sabe
esta que é a nossa História.

Que bom é vir à Tabanca
o nosso passado escrever
mostrando a quem nada sabe
do que foi na guerra sofrer.

Três Milhões de Visitantes
a Tabanca Grande em festa
é um recorde imbatível
Pois Tabanca Grande só esta.

Façam todos como eu faço
venham à Tabanca escrever
e contando vosso passado
a Tabanca vais mais crescer.

Na Tabanca Grande se procura
Amigos famílias e camaradas
recebemos informações
e outras logo são dadas.

Aqui vêm Paras, vêm Comandos,
vêm Fusas e mais camaradas
Vêm aqueles que nos admiram
quando fomos Forças Armadas.

Parabéns Tabanca Grande
e a quem te visitou
ainda aos chefes e Régulos
também a quem te fundou.
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Notas de CV:

- Estes versos do nosso camarada Albino Silva, a propósito dos 3.000.000 de visitantes, não chegaram ao Blogue em tempo oportuno pelo que só agora são publicados.

(*) Vd. poste de 19 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8572: Blogpoesia (153): Na Guiné, com a minha bajuda (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9139: O nosso blogue em números (27): 73,3% das visitas são oriundas de Portugal, seguindo-se o Brasil (13%), os EUA (2,7%) e a França (2,1%)...

Guiné 63/74 - P9184: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte I) (Luís Gonçalves Vaz)


Guiné > Bissau > 1973 > O Coronel Henrique Vaz, de óculos, ao lado esquerdo do general Bethencourt Rodrigues (ao centro),  numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973.


1. Mensagem,de ontem,  de Luís Gonçalves Vaz [, foto à direita], dirigida ao Sousa de Castro, e com conhecimento aos nossos editores:

Leia [este texto em anexo] com cuidado,  por favor, e dê a ler ao editor-chefe [do Blogue Luís Graça & Camaradas da Gui´né], e em sintonia decidam se é ou não de publicar, já que nas notas pessoais, retiradas das agendas pessoais do meu falecido pai - e não censuradas por mim!!! – fala-se um pouco de alguns casos de indisciplina. Mas foi o que se passou (, muito embora possam ferir susceptibilidades).

Com mais ou menos "dignidade", o fim do Império Português teve episódios menos felizes.


A decisão é vossa, antigos combatentes e mentores destes blogues. Como tal aceito a decisão que for tomada, qualquer que ela seja, inclusive a sua publicação. Podem retirar algumas notas, se assim o entenderem.


Abraço, bom trabalho e bom fim de semana:
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz)


2. Resposta de LG:

Meus caros Sousa de Castro e Luis Vaz: As minhas melhores saudações para os dois. Muito obrigado pela confiança que em mim depositam, em mim e neste blogue que é de todos. Acabei de ler, na vertical, as notas pessoais do Cor Henrique Vaz. Julgo que são preciosas e publicáveis...É um bom serviço que o Luís presta à memória do pai e dos demais ex-combatentes no CTIG. Este período [, de Janeiro a Outubro de 1974,] foi doloroso para todos nós. Mas a sua gestão também foi inteligente e corajosa. Temos que saber todos, através do testemunho de atores como o pai do Luís, a importância e a delicadeza da missão... Vou publicar, mas antes vou apresentar o Luís à Tabanca Grande. Ele merece estar entre nós. Ele e a memória do seu pai. Um bom fim de semana. Luis Graça.

PS - Fico a aguardar a resposta explícita do Luís Gonçalvez Vaz, que - tanto quanto sei - viveu em Bissau com o pai e a restante família - este último ano de guerra e de paz, ao meu convite para ingressar na Tabanca Grande. Sentir-nos-emos honrados com a sua presença neste blogue que é de todos os camaradas e amigos da Guiné.

3.  Alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos,  do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, no ano de 1974, no Teatro de Operações da Guiné Portuguesa: 

Parte I: Jan/Fevereiro de 1974

Forto à esquerda: Cor CAv CEM Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74)


Nomeação de pessoal para o Ultramar:

"…Que, segundo a nota nº 015372 Pº 102.020 de 09MAI73 da RO/DSP/ME, por despacho de 18ABRIL de 1973, foi nomeado para servir no CTIG, por ESCOLHA, nos termos da alínea a) do nº1 do artº 20º do Dec. Lei 49107 de 1969, o Exmº Coronel do CEM HENRIQUE MANUEL GONÇALVES VAZ, Comandante deste Regimento de Cavalaria nº 6, para substituição do Exmº Coronel do CEM JOSÉ GONÇALVES DE MATOS DUQUE, nas Funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG …"

(In: O. S. nº119 de 21/05/1973,  do Regimento de Cavalaria nº 6)

Nota biográfica do Coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz (comissão na Guiné)

(i) Em 1973 é nomeado (Escolhido,  segundo a Ordem de Serviço nº119,  de 21/05/1973,  do Regimento de Cavalaria nº 6) para servir novamente no Ultramar;

(ii) Embarca em Lisboa, em 7 de Julho, com destino desta vez para o CTIG (Comando territorial independente da Guiné), onde é colocado como Chefe do Estado Maior, e sob o comando do General Spínola, posteriormente do General Bettencourt Rodrigues;

(iii) Esta missão, numa altura de grandes ofensivas do inimigo de então, o PAIGC,  é levada até ao 25 de Abril, com alguns incidentes, sempre ultrapassados com muito "Mérito Profissional", nomeadamente  "estadas forçadas" em aquartelamentos no teatro de operações, devido a ataques ou flagelações do Inimigo a essas pequenas unidades militares na altura em que o Coronel Vaz as visitava como Chefe do Estado-Maior; bem como a sobrevivência à explosão de uma bomba (22/02/1974) que colocaram no QG (Quartel General), tendo-lhe causado apenas pequenas escoriações;

(iv)  A partir desta data (25 de Abril), e como um dos militares (do Corpo do Estado-Maior) mais graduados do Exército Português, neste teatro de operações, leva outra missão até ao seu términus, a de em colaboração com as restantes autoridades civis e militares, entregar paulatinamente, os territórios até então sob a administração portuguesa, ao PAIGC: O Comodoro Almeida Brandão desempenhou as funções de comandante-chefe interino, o tenente-coronel (graduado em Brigadeiro) Carlos Fabião as de delegado da Junta de Salvação Nacional e de representante do Governo Português na Província da Guiné e o Brigadeiro Galvão de Figueiredo de Comandante Militar do CTIG;

(v) Também terá simultaneamente de acantonar e desmobilizar algumas das tropas portuguesas africanas e de implementar o regresso de milhares de soldados portugueses ao Continente:

(vi) Só regressará a Lisboa no dia 14 de Outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril;

(vii) Esta missão só será terminada na Comissão Liquidatária em Lisboa, onde permanecerá até Dezembro de 1976. (*)
 

Guiné > Chão Felupe > 1973 > O Coronel Henrique Vaz e o Brigadeiro Banazol (Comandante Militar do CTIG), durante uma cerimónia em Chão Felupe.


Guiné > Chão Manjaco > Pelundo > 1973 > O Coronel Henrique Vaz, Chefe do Estado-maior, comandando exercícios com fogos reais, na zona oeste da Guiné (Pelundo,1973).

Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.

Alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos,  do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, no ano de 1974, no Teatro de Operações da Guiné Portuguesa


Bissau, 6 de Janeiro de 1974

"...Às 16h 15m, houve uma reunião de análise operacional na Sala de Operações do CC (Comando Chefe). Decorreu bem. Foi a 1ª Operação planeada pelo nosso General (Bettencourt Rodrigues), seu Estado Maior e Estado-Maior do CTIG e demais ramos das Forças Armadas ... e nossa análise. No final, o General Comandante-chefe recordou-a com emoção!..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 7 de Janeiro de 1974

"... Soubemos hoje à noite, que em Canquelifá foram mortos,  em combate, 6 Cubanos e mais 6 Africanos do IN (inimigo). Uma equipa fotográfica do Batalhão Fotocine, seguiu de madrugada para lá, a fim de obter imagens. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Nota de LGV: Nesse combate morreu um militar das NT,  o Ranger Luís Filipe Pinto Soares (Furriel Miliciano de Operações Especiais), Companhia de Caçadores 3545.


Bissau, 28 de Janeiro de 1974

"... Visita a Bambadinca, voamos num Dornier 28 dos TAGP. Regressamos depois do almoço. De tarde visitou-se o Bat de Engenharia e o Bat de Serviços de Material na ... . Em seguida Briefing no CC (Comando Chefe)...."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 1 de Fevereiro de 1974

"... Às 07h30m estava no QG a preparar os despachos dos dois Brigadeiros. Às 19h50m, estava a sair do Quartel General. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 6 de Fevereiro de 1974

"... Em visita particular, vem ao QG o General Câmara Pina, antigo CEME. Foi recebido na Sala de Operações [...]. No final conversou no gabinete do Comandante do CTIG. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 22 de Fevereiro de 1974

"... Cerca das 19h e 10 m quando me encontrava na gabinete do brigadeiro Comandante Militar (Banazol), com este e com o Brigadeiro 2º Comandante (Figueiredo), rebentou um explosivo colocado na casa de banho que a destruiu, assim como algumas das dependências contíguas. A forte deslocação do ar rebentou a porta e os vidros que foram projectados em frente, onde se encontrava o Brigadeiro 2º Comandante, de pé, e que caiu na direcção onde eu me encontrava sentado. O Brigadeiro Comandante Militar sentado na minha frente ainda sofreu. O 2º Comandante foi levado para o Hospital de Bissau, visto sangrar bastante de uma ferida na parte posterior da cabeça. Eu tive leves arranhões, de que me tratei no posto de saúde da CCS (Comando da Companhia de Serviços). Estavam também presentes, no Gabinete Central, o Major Ferreira da Costa e o Tenente Abrantes. Também presentes, nos respectivos gabinetes, a minha ordenança (Ernesto), o Sambu J., 1º cabo e ordenança do 2º comandante e o Jaló (Djaló) meu condutor, estava também no meu gabinete.

Ninguém ficou ferido gravemente. Foi um verdadeiro milagre! ..." (**)

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


[Continua]
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Nota do editor:
 
(*) Dados Biográficos do Coronel Henrique Vaz

Henrique Vaz nasceu em Barcelos em 10 de Março de 1922, e faleceu em 26 de Agosto de 2001. Viveu nesta cidade até concluir os seus estudos secundários no Colégio Alcaides de Faria.

Depois de frequentar os preparatórios na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, ingressa na Escola do Exército. Em 1944 termina o Curso de Cavalaria na Escola do Exército enquanto na Europa decorria a guerra.

Toda a sua vida profissional foi dedicada ao Exército, e enquanto decorreu, o nosso país foi sujeito a grandes transformações políticas e sociais que alteraram definitivamente o rumo da sua história. Os militares foram protagonistas activos dessas alterações. A sua formação fica concluída depois de tirar o curso do Estado-Maior já com a patente de capitão. 

A carreira militar de Henrique Vaz, depois de concluir em 1959 o Curso Complementar do Estado-Maior, vai decorrer entre as ex-colónias e o Continente. Em 1963 tem início a sua comissão em Angola. Uma vez regressado, irá chefiar o Estado-Maior da Região Militar do Porto. Em 1972 está a comandar o Regimento de Cavalaria Nº6 (Dragões de Entre Douro e Minho) na cidade do Porto e no ano seguinte parte para Bissau onde é colocado como chefe do Estado Maior do Comando Territorial Independente da Guiné, sendo então Governador e Comandante-Chefe desta província o general Spínola.

As condecorações e louvores referentes a todo este período, atestam a envergadura profissional, a sua dedicação e o seu perfil de militar culto.

O 25 de Abril que traz consigo o final da guerra colonial, conflito que na Guiné se agudiza de forma particular, vai encontrar o coronel Henrique Vaz chefiando o Estado-Maior deste Comando Territorial, mas já com o general Spínola ausente. Apesar de não estar inicialmente ligado ao M.F.A., era considerado pelos seus camaradas como um oficial íntegro, competente e não afecto ao regime deposto. Será ele um dos militares responsável pela organização do acantonamento de milhares de soldados portugueses, pela desmobilização de parte dos soldados portugueses guineenses e pelo regresso ao Continente de milhares de soldados. 

O tenente-coronel Carlos Fabião, graduado em Brigadeiro,  assumirá entretanto as funções de Governador da Guiné. Passado seis meses do 25 de Abril, ambos embarcam em meados de Outubro rumo a Lisboa. A transferência de poder na Guiné-Bissau foi considerada exemplar, tendo cumprido, na íntegra, todos os prazos estipulados no acordo de Argel, transferência esta que ocorreu no dia 10 de Setembro de 1974.

Até ao ano da sua aposentação, em 1982, prestará serviço como juiz presidente, no 1º Tribunal Militar Territorial do Porto. Como Juiz Presidente deste tribunal, terá mais uma ocasião de demonstrar o seu sentido de justiça e imparcialidade no julgamento de muitos casos "difíceis" e polémicos, não pactuando com qualquer tipo de pressões.

Quando passou à reserva, no início dos anos oitenta, regressou definitivamente a Barcelos onde se instalou na sua casa de Levandeiras, rodeado dos seus livros, das suas árvores, muitas das quais ele próprio plantou, e da atenção da sua numerosa família.

 Os Filhos do Coronel Gonçalves Vaz
Levandeiras, Fevereiro de 2004


(**) Comentário que Luís Gonçalves vaz deixou no blogue Coisas da Guiné, do nosso camarada A. Marques Lopes, a propósito deste atentado:

Caro Editor: Gostava apenas de acrescentar ao seu texto, que considero interessante, de que me lembro como se fosse hoje!... Sim é verdade que " ...no dia 22 de Fevereiro de 1974 rebentou uma carga explosiva no QG de Bissau, ficando ferido o segundo-comandante...". Mas, além do 2º comandante, o Coronel Galvão de Figueiredo (o caso mais grave), também o Chefe do Estado Maior do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, sofreu algumas escoriações! Ainda me lembro de o ver a chegar a casa, com os óculos sem lentes, a cara cheia de vidros e algum sangue na zona dos ouvidos.... mas com um grande sorriso, a comunicar-nos (à família): "Estejam descansados que eu estou bem,ainda não foi desta ..." 

No dia seguinte estive a visitar a zona da explosão e ouvir alguns soldados que assistiram,  no momento da explosão, à projecção de portas e janelas pela parada fora..... Segundo esses testemunhos, o impacto foi deveras impressionante, nomeadamente a destruição dos gabinetes dos Oficiais do Estado Maior do CTIG, especialmente o do Chefe do Estado Maior, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, que ficou totalmente destruído.... 

Recentemente ouvi,  num programa da Televisão, os pormenores do transporte dos explosivos para "essa acção terrorista" no QG em Bissau, bem como o transporte dos detonadores... Foram transportados no interior de melões por militares portugueses, pertencentes às Brigadas do PRP [, Partido Revolucionário do Proletariado]..... Às horas da explosão, tudo indica que não teriam "intenção de matar militares", talvez apenas desmoralizar "as nossas forças" no Teatro de Operações da Guiné!

27 de Novembro de 2011
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz)


27 de Novembro de 2011 23:06

Guiné 63/74 - P9183: Notas de leitura (311): Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa, de António Mendes Corrêa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2011:

Queridos amigos,
Estas notas científicas não são tão palpitantes como as de Orlando Ribeiro mas é importante conhecê-las para se perceber o sem número de questões postos pela antropologia africana, ao tempo ainda sem respostas consistentes, na linguística, no estudo da religiosidade e da antropologia cultural. Dá para sentir como na governação de Sarmento Rodrigues há uma nova palpitação, uma curiosidade em conhecer a fauna, a doença, as potencialidades florestais, o estudo sobre a cultura de arroz e, evidentemente, o mosaico étnico, era essa a motriz da missão que delegaram em Mendes Corrêa e a que ele procurou dar uma resposta cabal, propondo mesmo um plano de trabalhos da missão antropológica na Guiné. É bom não esquecer que por este tempo alguns estudiosos que eram simultaneamente funcionários coloniais estavam a escrever monografias que se vieram a revelar importantes. Avelino Teixeira da Mota estava por detrás de muitos destes estudos.

Um abraço do
Mário


O antropólogo e etnólogo Mendes Correia, na Guiné, em 1946

Beja Santos

A governação de Sarmento Rodrigues introduziu um conjunto de preocupações científicas como nunca se vira na Guiné. Das missões do sono aos estudos florestais, da importantíssima missão geo-hidrográfica, que se prolongou até meados da década de 50 passando pela zoologia, orizicultura e geografia, alguns dos mais renomados cientistas portugueses aqui aportaram para lançar as bases do levantamento científico da colónia. Como, efectivamente, veio a acontecer. Importa não esquecer que em 1952 Amílcar Cabral chega com a incumbência de coordenar o recenseamento agrícola e que dos anos 40 para os anos 50 apareceu uma vastidão de publicações desde o inquérito à habitação até ao conhecimento das etnias, nos prismas mais diversificados.

António Mendes Corrêa é já um antropólogo com vasto currículo e autor de uma obra que teve grande acolhimento na época, “Raças do Império”. Conhece com uma certa superficialidade as etnias guineenses, visitou as exposições de 1934 e 1940, no Porto e em Lisboa, respectivamente. “Uma jornada científica na Guiné Portuguesa” é o documento da viagem que efectuou durante duas semanas (Agência Geral das Colónias, 1947), e que é credor da atenção dos estudiosos. Vai em primeiro lugar em missão de trabalho a Marrocos, daqui parte por avião para Dakar e novamente de avião para Ziguinchor. Está impaciente, quer começar a satisfazer a curiosidade imensa dos problemas bio-étnicos que lhe assaltam o espírito. Sem perda de tempo, dirige-se para Suzana, território Felupe, uma das populações que ele classifica como das mais interessantes da Guiné Superior. Ouvira falar em barbaridades e canibalismo, nada encontrou, a não ser hospitalidade e manifestações de filariose. Observou antropologicamente 25 felupes do sexo masculino e fez muitas fotografias. Impressiona-se quando vê um felupe que levava consigo o fogo numa porção de excremento de vaca a arder. Acha os felupes bons lutadores, generosos e dotados de uma grande coragem. Regista uma nota curiosa a seu respeito: há entre eles um chefe para as mulheres e os dois sexos não se guerreiam.

De automóvel seguiu de S. Domingos para Bissau. Não compreende como é que as crianças ficam aterradas quando vêem um branco. Acha Bissau uma cidadezinha colonial, com alguns edifícios de certo vulto, muitas casas comerciais, algumas vivendazinhas particulares, dois ou três modestos hotéis, hospital, quartel e mercado. É um grande acontecimento, a chegada de 40 em 40 dias do paquete Guiné. O Palácio do Governo e a Catedral estavam em construção. Uma parte importante da população de Bissau é constituída por cabo-verdianos. Procura esclarecer-se das relações entre os balantas e os papéis. No quartel da Amura recolheu os elementos antropométricos das inspecções militares de vários anos sucessivos. A missão vai prosseguir em Bolama e não esconde a suas críticas: “Creio que a importância comercial de Bissau não deveria ter bastado para arrancar a Bolama a sua categoria política e administrativa, e há uma razão histórica que tornaria profundamente dolorosa no ponto de vista nacional a consequente transformação de Bolama em uma verdadeira cidade morta: é que a soberania na ilha de Bolama constituiu objecto de discussão entre Portugal e Inglaterra, e foi uma nobilíssima sentença arbitral do presidente dos Estados Unidos, em 1870, a nosso favor. Fala do rei de Orango, D. Papo Seco, que anda de chapéu alto e pé descalço. No quartel observou Nalus, Beafadas e Bijagós. E depois partiram para a região dos Beafadas, Fulacunda. Deparasse-lhe muita miséria e muita doença. Recolheu vocábulos Beafadas e Mandingas, não lhes encontrou semelhanças. Apreciou as tatuagens abdominais das mulheres Beafadas e observa que os dois sexos têm mutilações dentárias.

A viagem prossegue para o Sul, Mendes Corrêa quer estudar os Nalus e os Sossos que, à semelhança dos Bagas, Landumãs e Cocolis, estão em regressão. Sente-se muito atraído pelos Nalus, acusados de antropofagia e de constituírem sociedades secretas. A viatura de vez em quando empana, mas tudo acaba bem. Agora a jornada inflecte para o Leste, o cientista quer ir ao chão dos Fulas, aprecia Bafatá, conversa com o régulo de Ganadu sobrinho de Bonco Sanha, régulo de Badora e depois vão até ao Gabu. Vale a pena ler o seu registo: “Uma primeira paragem na tabanca de Fulas pretos de Uacaba onde desfilam, para um rápido exame, diante dos nossos olhos 28 homens e 15 mulheres, que são fotografados num enorme grupo. Quase todos esguios, de saúde razoável e robustez regular (…) As doenças mais frequentes são boubas, lepra, bócio, não havendo mais do que alguns raros casos de doença do sono (…) Queremos levar amostras da rocha, depois de termos fotografado o acidente geológico perto de Canjadude. Mandámos alguém à aldeia próxima pedir que venha um homem com um machado, visto não termos connosco um martelo de colheitas geológicas. Apareceu-nos pouco depois uma multidão de Mandingas, armados, cada um com o seu machado de ferro”. Conversa com o filho do régulo de Madina de Boé, Mamadu Alfa Djaló. E depois discreteia sobre as missões e a delicadeza do seu trabalho em meio predominantemente islâmico. A propósito das centenas de idiomas africanos, faz o reparo das novas classificações. Até 1912 estabelecia-se uma distinção profunda entre as línguas sudaneses e as bantos. Nota que algumas línguas sudaneses e guineenses, como o Mandinga e o Sosso têm caracteres diferentes das bantos.

Mendes Corrêa é um apaixonado pela arte guineense, faz uma recolha de cachimbos em madeira ou argila, mas também de couro lavrado, armas, peças de prata filigranada e panos. A jornada prossegue para o noroeste da Guiné, o estudioso quer ir ver as tabancas de Banhuns e de Baiotes. Ainda visita os Cassangas e o Cobianas, núcleos étnicos muito reduzidos. E de S. Domingos parte para Ziguinchor.

A seguir a esta jornada científica, e ainda dentro do mesmo volume, consta a comunicação ao congresso do descobrimento da Guiné intitulada “Elementos para a classificação de raças e línguas da Guiné Portuguesa”, e um longo artigo intitulado “Movimento de populações na Guiné Portuguesa”.

Por último, o cientista espraia-se sobre as observações antropológicas da sua missão e fala dos projectos futuros. Convém recordar que a sua presença foi importante para a preparação da 2.ª Conferência Internacional de Africanistas Ocidentais que se veio a realizar em Bissau, em 1947.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 Guiné 63/74 - P9162: Notas de leitura (310): De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9182: Parabéns a você (351): Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/74)


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Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), dirigida ao nosso aniversariante:

Caro Luís Dias
Mal nos conhecemos na Guiné mercê da diferença hierárquica e facto de também sermos de Companhias diferentes.
Foram muitas as vezes que fui ao Dulombi, também fui dos ajudou a transferir a vossa Companhia para Galomaro e possivelmente também participei no transporte do teu pelotão para Nova Lamego, ou no regresso dele a Galomaro.
Enfim cruzámos-nos vezes sem conta, temos uma estória durante a nossa comissão mas foi aqui que acabei por te conhecer, saber dos teus anseios, preocupações e também nos tornamos amigos.
Aquele tempo e a memória dos lugares construiu algo que que se transformou num laço de união e amizade.

Para além do que passamos juntos há este caminho que fazemos agora, que nos dá a sensação de falarmos com alguém próximo, familiar que estimamos, com quem nos preocupamos se não temos notícias.
Assim tecemos uma malha de amizade que nos conforta e é em nome dessa amizade, que venho aqui hoje dar-te os parabéns, desejar que contes muitos anos de boa disposição, saúde, juntamente com quem mais amas.

Messe de Galomaro

Alf Mil Luís Dias

Galomaro > Monumento aos mortos

Muitos parabéns e um grande abraço do tamanho das tabancas de Galomaro.
Juvenal Amado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9173: Parabéns a você (350): Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9181: Troca dos últimos prisioneiros: 35 guerrilheiros do PAIGC e 7 militares portugueses (III Parte) (Luís Gonçalves Vaz)



Segunda via da caderneta militar do nosso camarigo António da Silva Baptista, emitida a 4 de Junho de 1987... Nascido a 15 de Março de 1950, na freguesia da Moreira, concelho da Maia, foi incorporado no RI 13 a 26 de Julho de 1971, tendo passado à disponibilidade em 25 de Novembro de 1974... 


O Batista fez parte do lote de 7 prisioneiros portugueses entregues pelo PAIGC às NT em 14 de Setembro de 1974, em Aldeia Formosa. O nosso camarada pertenceu à CCAÇ 3490 (Saltinho) do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) e é conhecido carinhosamente, na nossa Tabanca Grande, como o "morto-vivo do Quirafo".Imagem reproduzido, com a devida vénia, do blogue do nosso camarigo Sousa de Castro, CART 3494 & Camaradas da Guiné)...


1. Terceira e última parte do texto de Luís Gonçalves Vaz (*):

A troca dos trinta e cinco prisioneiros de guerra (guerrilheiros do PAIGC), em nosso poder,  e retidos na Ilha das Galinhas, pelos sete prisioneiros (já identificados anteriormente) das nossas tropas, e retidos pelo PAIGC na região do Boé, só veio finalmente a concretizar-se no dia 14 de Setembro de 1974, pelas onze horas, no aquartelamento de Aldeia Formosa.


Estiveram presentes nesse ato,  pelas nossas tropas, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela (Chefe da 2ª Rep. do QG), o Major de Artilharia Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Infantaria Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep./QG/CTIG). Por parte do PAIGC, estiveram presentes os seguintes elementos:  Manuel dos Santos (Subsecretário Informação/Turismo da GB), Carmen Pereira (Membro do Conselho de Estado/GB) e Iafai Camará (Comandante do Aquartelamento de Aldeia Formosa). 

Recebidos os prisioneiros das nossas tropas (sete militares) e depois de identificados, constatou-se que,  dos sete prisioneiros entregues, um era o soldado nº 10998071, António da Silva Baptista,  do Batalhão de Caçadores 3872 – não constava dos ficheiros de militares portugueses retidos pelo inimigo, ou desaparecidos em combate. Pelo que foi de imediato elaborada uma ficha, que foi entregue à 1ª Rep/QG, com a finalidade de "esclarecer a situação deste militar". 

Como já referi anteriormente, o soldado em questão, António Baptista foi dado (erradamente) como morto em 17 de Abril de 1972, numa emboscada em Madina-Buco, onde as nossas tropas sofreram 1 desaparecido e 10 mortos, 6 dos quais queimados na explosão da viatura em que seguiam. Foi este facto que levou a confundir um dos corpos queimados na referida emboscada, com este militar desaparecido, António da Silva Baptista,  do Batalhão de Caçadores 3872. 

Imediatamente após a "identificação oficial" pelas nossas tropas dos nossos militares prisioneiros, a comitiva regressou por via aérea, a Bissau onde desembarcaram cerca das 23 horas do dia 14 do mês de Setembro. Ficaram instalados no Hospital Militar de Bissau até às 04:30 horas do dia seguinte (15 de Setembro), data em que embarcaram por via aérea para Lisboa.

Luís Gonçalves Vaz

(filho do último Chefe de Estado-Maior do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz)

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Nota dos editores: